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ISTO NÃO ESTÁ NADA FÁCIL

por falcao, em 09.08.24

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O TURISMO - Uma coisa que me deixa sempre espantado é o facto de muitos políticos em geral, e vários autarcas em particular, não serem capazes de ver a realidade do que se passa à sua volta. Nas últimas semanas tem crescido o desagrado contra a invasão desregulada de turistas e tudo o que arrastam atrás de si:  especulação imobiliária, sobrecarga nos transportes e serviços públicos, descaracterização dos locais, falta de limpeza nas ruas e incómodos para os residentes habituais, além de excesso de tuk tuks e TVDEs, provocando o caos no trânsito. Os responsáveis do Porto, Lisboa e Sintra só acordaram para o problema e anunciaram querer tomar medidas depois de um crescendo de protestos. Agora falam, finalmente e com atraso, em limitar o acesso a certas zonas das cidades e regulamentar algumas actividades. Sinceramente não percebo como não viram o que estava à frente dos seus olhos e porque não actuaram antes de os protestos os incomodarem. O que se passou em Sintra é exemplar: um grupo de cidadãos organizou-se, pagou do seu bolso a impressão de materiais visíveis por toda a cidade em português e inglês e conseguiu atenção mediática. Num recente artigo o economista Ricardo Paes Mamede recorda que o anterior Presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, dizia não saber “o que é ter turistas a mais” - pensamento que infelizmente continua a ser seguido por muita gente que devia ter outra sensibilidade. Centrar uma cidade no turismo equivale a só ter em conta o presente e esquecer o futuro, equivale a não ter uma estratégia de bem estar para os residentes, e ter apenas como objectivo a cobrança de impostos, taxas e taxinhas. Termino com a pergunta que é o título do artigo de Ricardo Paes Mamede: Quando vamos assumir que o turismo se tornou um problema?

 

SEMANADA - As queixas sobre comunicações eletrónicas e serviços postais cresceram 39% no primeiro semestre do ano; a dívida dos bingos ao Estado já ultrapassou os 6,1 milhões de euros; numa década o número de doutorados em Portugal cresceu 73% e existem agora mais de 43.000; mais de 16% dos professores querem a reforma antecipada;  as queixas por violência doméstica apresentadas à PSP no primeiro semestre totalizando 7706 casos, dos quais mais de três mil foram de homens; este ano já morreram vítimas de violência doméstica 10 mulheres e dois homens; o lucro semestral das empresas cotadas na Bolsa portuguesa é o maior de sempre; o número de trabalhadores em lay-off  em Junho deste ano aumentou 63% face ao mesmo mês do ano passado; segundo o INE o rendimento líquido médio do contribuinte português é de cerca de 890 euros por mês; o custo do arrendamento de uma casa em Lisboa e Porto já é superior ao de Madrid; 665 médicos reformados estão a trabalhar no SNS; em dois meses o SNS já transferiu 42 grávidas para unidades privadas; as grávidas de Leiria têm que fazer 200 kms até ao Potto para terem assistência ao parto num hospital público;  no início da semana o Hospital das Caldas da Rainha tinha a urgência fechada e uma grávida que sofreu aborto espontâneo e tinha uma hemorragia teve de esperar à porta pelos bombeiros, já que o hospital não a queria admitir.

 

O ARCO DA VELHA - Até final de 2025 cerca de 1500 edifícios públicos deviam ter obras para garantir a acessibilidade de pessoas com deficiências ou incapacidade, estão inscritos 53 milhões de euros do PRR para esta acção, mas os trabalhos foram concluídos até agora em apenas seis edifícios.

 

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UMA VISITA À GULBENKIAN - Com grande parte das galerias privadas de arte contemporânea encerradas em Agosto esta é uma boa oportunidade para visitar a Gulbenkian, enquanto não abre o novo jardim e o remodelado Centro de Arte Moderna.. Mas no edifício principal há muito para ver, a começar pela colecção privada de Calouste Gulbenkian que abrange pintura, escultura e artes decorativas, desde o Antigo Egito até à Arte Nova. Na Galeria de exposições temporárias continua até 26 de agosto “Siza”, uma exposição dedicada à obra de um dos grandes nomes vivos da arquitetura e urbanismo mundiais, Álvaro Siza Vieira, que reúne material original dos seus arquivos, bem como uma série de obras de referência para o seu trabalho. Outra exposição mostra obras de autores representados na sua coleção de livros europeus, centrada em dois pioneiros do Humanismo italiano: Francesco Petrarca e Giovanni Boccaccio. Apresentada em duas vitrinas do Museu, esta exposição constitui-se como uma ocasião para refletir sobre a forma como as obras de Petrarca e Boccaccio foram consideradas e ilustradas em dois períodos históricos: no Renascimento, época de transição do manuscrito iluminado para o livro impresso; e no século XVIII, marcado pelo imaginário da libertinagem e da festa galante (na imagem) . E até 9 de Setembro poderá ainda ver  o retrato de Filipe IV, por Diego Velázquez, cedido pela Frick Collection de Nova Iorque.

 

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ROTEIRO -  Na galeria This Is Not A White Cube ( Rua da Emenda 72) Susana Cereja apresenta até 14 de Setembro  17 obras, na maior parte inéditas, sob o título “Matriz” (na imagem). Até 6 de outubro o Centro Cultural de Cascais, em parceria com a zet gallery de braga, apresenta a exposição “A Geography of Mysteries”, dedicada à obra de Volker Schnüttgen artista alemão radicado em Portugal desde a década de 1990.  Em Coimbra, no antigo refeitório do Museu de Santa Cruz, decorre até 26 de Outubro uma exposição organizada pela Underdogs, que apresenta obras de onze artistas convidados que apresentam trabalhos em torno da comida e das refeições. Em Serralves, com curadoria de Inês Grosso, Sara Bichão apresenta até 3 de Novembro a exposição Lightless (quando não há luz). A exposição reúne um grupo de trabalhos produzidos durante uma série de residências realizadas ao longo de mais de um ano e a artista, com o apoio da equipa do museu e do parque, transformou uma pequena sala localizada na quinta da Fundação de Serralves num atelier onde mostra como se  adaptou ao ambiente do museu e às mudanças sazonais que marcam o  quotidiano da natureza.

 

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O ESTOICISMO  - Este tempo estival é bom para descobrir a História. Talvez seja boa ocasião para descobrir o mundo do imperador romando Marco Aurélio e a filosofia estóica que o inspirou. Marco Aurélio governou o Império Romano de 161 a 180 D.C, mas foi pelo seu caderno de notas pessoais, escrito para si mesmo, que ficou conhecido. Esse caderno tornou-se um clássico sob o nome “Meditações”, e reúne um conjunto de ensinamentos baseados na filosofia estóica, que defende a necessidade de «viver em acordo com a Natureza», isto é, de viver racionalmente e que pode ser um exemplo para os nossos tempos. Para o imperador, o Estoicismo, uma corrente filosófica com origem na Grécia que se tornou muito popular em Roma, não era apenas um interesse intelectual, mas uma forma de estar, que influenciava todos os aspetos da sua vida, incluindo o seu papel enquanto chefe máximo do maior império do Ocidente. Donald J. Robertson é um psicoterapeuta cognitivo-comportamental, autor de “Stoicism And The Art of  Happiness” e o seu mais recente livro,  “Marco Aurélio - O Imperador Estóico”, editado originalmente este ano pela Yale University Press, parte da leitura de “Meditações” para se desenvolver como  uma novela biográfica do imperador, baseada em fontes antigas, como a História Romana, de Dião Cássio, e as cartas trocadas entre o governante e o seu tutor de retórica, Marco Cornélio Frontão, para revelar «Marco Aurélio, o homem» e mostrar como este aplicou a filosofia estóica que familiares e tutores lhe ensinaram aos desafios que teve de enfrentar enquanto imperador. Edição Temas e Debates.

 

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O DISCO ESQUECIDO  - Em 1985 Nina Simone atravessava uma fase complicada da sua carreira. Apesar de ter nessa altura quase 30 álbuns editados, de tocar em todo o mundo sempre com grande audiência, no seu próprio país ainda não tinha alcançado um disco de ouro e as vendas dos seus álbuns eram reduzidas. Desde o início dos anos 50, quando deixou de ser apenas uma pianista de jazz e se assumiu como cantora, Nina teve uma carreira com várias fases, passou por numerosas editoras e a partir de meados dos anos 70 viveu fora dos Estados Unidos e em diversos países até estabilizar em França, onde morreu em 2003. A edição original de “Nina’s Back” tinha na capa uma fotografia sua tirada junto a um lago, fotografada de costas. O álbum, gravado em 1985 com o produtor Eddie Singleton, tem 8 temas, num total de  35 minutos, e foi agora reeditado com uma nova capa, mas mantendo o alinhamento original. Mostra uma Nina Simone disposta a conquistar uma audiência mais alargada, adoptando o estilo musical da época, com arranjos baseados na soul e nos R&B. No disco Nina Simone tocou piano e cantou, os coros foram da Waters Family, e a acompanhá-la estavam o guitarrista de blues Arthur Adams, o percussionista Luke Metoyer e um trio de metais com Ray Brown no trompete, Alan Barnes no saxofone e George Bohanon no trombone. Na época o álbum teve pouca divulgação e passou quase despercebido. Agora a Verve resolveu reeditar esta preciosidade,  que inclui novas versões de temas anteriormente gravados, como “I Sing Just To Know That I’m Alive”, “Fodder On Her Wings” ou um notável “For A While”. A nível vocal há também diferenças e a sua forma de cantar em “You Must Have Another Lover”, a faixa final, abre novos caminhos que ela foi seguindo. Disponível nas plataformas de streaming.

 

WEEKEND - Eis o romance policial deste  verão, o novo livro  da islandesa Yrsa Sigurdardóttir, “A Consequência”, já editado pela Quetzal. Vale a pena o novo disco do guitarrista Pat Metheny, a solo, “Moon Dial”,  uma mistura de temas originais e de versões de canções de nomes como Chick Corea, Lennon e McCartney e uma incursão em West Side Story, disponível em streaming. A terminar, um petisco: tomate do bom em rodelas grossas, temperado com azeite e sal marinho e com anchovas e boquerones por cima, mais umas azeitonas verdes das bem gordas. Acompanha com o melhor pão que conseguirem encontrar e um verde branco - pode ser o alvarinho Deu La Deu, que nunca desilude.

 

DIXIT - “O turismo pode desempenhar um papel fundamental na promoção do desenvolvimento económico, mas os seus impactos são muitas vezes económica, social e ambientalmente desequilibrados, e os benefícios nem sempre revertem a favor das comunidades locais” - relatório da OCDE

 

BACK TO BASICS - “Aqueles que são eleitos para governar cidades e vilas não se deviam esquecer que os votos das eleições locais vêm dos residentes e não dos visitantes” - anónimo 



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