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JUNTAR FORÇAS, FAZER, MUDAR

por falcao, em 30.05.25

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O VERDADEIRO PODER - O mundo está difícil, o nosso rectângulo à beira-mar plantado vai pelo mesmo caminho e no entanto há políticos com um persistente sorriso Colgate como se tudo estivesse bem. Infelizmente não é nada disso que se passa. Depois das recentes eleições a situação política tende a radicalizar-se, mesmo que finalmente o bom senso impere e se consiga um acordo parlamentar que garanta alguma estabilidade. Mas para isso é preciso que o PS e o PSD aceitem não debater egos dos respectivos líderes e pensar primeiro no país, ou seja, ir além de manter o poder, e mostrar que governar passa por resolver problemas das pessoas e não das respectivas tribos partidárias, e que estejam dispostos a mudar o que tem de ser mudado, a começar na justiça. Estava eu a pensar nestas coisas quando dei com um artigo escrito para a edição de Junho da revista “Monocle” por Joseph S. Nye, que entretanto morreu na semana passada aos 88 anos, um professor de Harvard, conselheiro de vários presidentes norte-americanos e que foi o criador do termo “soft power” - a capacidade de conseguir acordos com base no diálogo em vez da força. Para Nye o soft power de um país vem de três fontes principais: a cultura capaz de atrair outros; a forma como vive e assume os seus princípios democráticos e defesa dos direitos humanos e a liberdade individual e de expressão; e as políticas democráticas e de  desenvolvimento que os governos e políticos assumem e concretizam. Tudo isto pode influenciar outros políticos e servir de exemplo e base de entendimento. O soft power é esta capacidade de influência e exemplo que os líderes partidários portugueses bem podiam praticar entre si. Podia ser que o ambiente político nacional ficasse menos fétido.

 

SEMANADA -  Em 2024 cerca de 1600 enfermeiros pediram declaração para emigrar; nos últimos três anos mais de 2700 médicos pediram à Ordem certidões para exercer no estrangeiro; em 2024 a unidade especial de combate a carteiristas da PSP registou 5762 ocorrências e deteve 149 suspeitos; 25% dos alunos do ensino secundário estão em estabelecimentos de ensino privados; Portugal produziu 177 mil toneladas de azeite em 2024/2025, mais 10% que na época anterior, e as exportações cresceram 46%; há 60 mil hectares com amendoal em Portugal e nos últimos três anos a área de cultivo de frutos secos aumentou 50%; Portugal é um dos países europeus com menos pensões de reforma complementares  acordadas entre trabalhadores e as empresas; Portugal é o terceiro país na zona euro para o qual a Comissão Europeia está a antecipar que ocorra um maior desvio relativamente ao compromisso assumido do cumprimento das regras orçamentais; quase 25% dos bebés nascidos em Portugal nos últimos seis anos são de ascendência estrangeira e Índia e Bangladesh já integram o top 10 das nacionalidades; um relatório do Conselho da Europa afirma que o sistema judicial é o ponto fraco no combate à violência contra mulheres e recomenda que se combatam “as atitudes patriarcais que permanecem entre alguns membros do sistema judicial”.

 

O ARCO DA VELHA - O inquérito que visava o presidente da Câmara Municipal de Vizela, Victor Hugo Salgado, por uma queixa de violência doméstica  foi arquivado, apesar de os registos clínicos do Hospital de Guimarães, onde sua mulher foi assistida, revelarem uma fratura no nariz, uma escoriação e várias equimoses.  A procuradora encarregue da investigação concluiu que aqueles elementos eram insuficientes e o autarca não foi interrogado pela magistrada nem constituído arguido.

 

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AS MUDANÇAS DA VIDA - O escritor inglês  Julian Barnes, agora com 79 anos, é um dos mais notáveis autores da sua geração, vencedor do Booker Prize, em 2011 e autor de 14 livros que se tornaram clássicos, como “O Papagaio de Flaubert”, “O Sentido do Fim”, “O Homem do Casaco Vermelho” ou “Elisabeth Finch”, entre outros. A estes junta-se agora “Mudar de Ideias”,  que reúne cinco ensaios originalmente escritos há cerca de uma década para um programa de rádio e que foram este ano editados em livro pela primeira vez no Reino Unido. A tradução portuguesa, muito boa, é de Salvato Teles de Menezes, e foi agora publicada. Nestes cinco curtos ensaios o autor defende que uma pessoa inteligente deve ser capaz de repensar convicções antigas face à experiência que vai acumulando de vida e a novos factos que vai conhecendo. “Quando os factos mudam, eu mudo de opinião”, escreve logo no primeiro ensaio, “Memórias”. E, no ensaio “Política”, escreveu:  “Apesar de ter votado em seis partidos diferentes durante toda a minha vida - e nalguns candidatos independentes em eleições locais- não me vejo como alguém que tem mudado de opinião (…) Os partidos políticos é que mudaram, guinando para aqui e para ali, esquivando-se à cata de votos; eu, votante, permaneço um homem de princípios”. “Palavras”,  “Ler” e “Idade e Tempo”, reflexões sobre livros e a própria vida, são os temas dos outros ensaios que completam “Mudar de Ideias”. Julian Barnes estará na Feira do Livro de Lisboa a 14 de junho. Edição Quetzal. 

 

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FOTOGRAFIAS -  Até que ponto é que a fotografia de moda, publicitária, ou de vida selvagem e natureza se devem considerar formas de expressão artística? Aqui está um tema que divide os apreciadores de fotografia. Não há uma resposta única para este tema mas há questões que podem balizar a discussão, como a capacidade de ver e descobrir, a capacidade de captar o instante, mas também a capacidade de imaginar, criar e ultrapassar a realidade, assim como o domínio da técnica, quer para a colocar em primeiro plano, quer para a subverter. David Yarrow  é um fotógrafo britânico que tem trabalhado na moda, publicidade e vida selvagem. Em Lisboa pode ser vista até 1 de Junho a sua exposição “Storytelling”, que reúne trabalhos efectuados nos últimos dez anos e que integram o livro do mesmo nome. A exposição é iniciativa da galeria In The Pink, sediada em Loulé e dedicada exclusivamente à fotografia, que em Lisboa utiliza temporariamente um espaço  na Rua de Santo António à Estrela 74 que no final do ano acolherá uma nova galeria. A exposição de David Yarrow integra três dezenas de fotografias, de grande formato, tiradas em vários locais de África e da Europa, como esta imagem que aqui se publica, intitulada “The Amalfi Coast” e que é um bom exemplo do processo de trabalho de Yarrow, muito encenado e produzido. Os preços das fotografias oscilam entre os 15 e os 75 mil euros e parte do produto da venda reverte para causas filantrópicas patrocinadas pela Fundação de Yarrow.

 

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ROTEIRO - Esta semana todas as atenções se concentram na ARCO Lisboa, a Feira de Arte Contemporânea que se realiza na Cordoaria Nacional entre 29 de Maio e 1 de Junho e que vai este ano na sua oitava edição. Vão ser  mostradas obras de 470 artistas e estão presentes 83 galerias de 17 países. A presença das galerias portuguesas, 30 no total,  representa 36% da Feira, enquanto o segmento internacional se fixa nos 64%, reunindo 53 galerias, com especial relevo para a proveniência europeia, designadamente de Espanha, Alemanha e Itália, a que se junta o Brasil.  A Feira organizar-se-á em três núcleos: o Programa Geral, que reúne 61 galerias; a secção “Opening Lisboa”, com uma seleção de 18 galerias e que dedicará atenção aos novos espaços e linguagens artísticas e “As Formas do Oceano”, integrando 5 galerias  com um programa centrado nas relações entre África, a sua diáspora. Este ano há uma boa novidade: será permitida a entrada gratuita a jovens até aos 25 anos nas tardes de sexta-feira (30) e sábado (31), a partir das 15h00. Para além da ARCO Lisboa há muito para ver na cidade. Por exemplo, na Fundação Carmona e Costa há duas exposições novas: “Gatos” de Teresa Segurado Pavão, com o subtítulo “o som da chávena a partir na gaveta”, e descrita como “exercícios para aprender a lidar com a ruína” e que estará exposta até 20 de Dezembro. A outra exposição é “Código Civil”, de Carla Filipe (na imagem) que trabalha a relação entre texto e imagem, com recurso frequente ao desenho,  baseada num trabalho de investigação em torno das leis que regulam a comunidade, e que estará exposta até 20 de Setembro. A Fundação Carmona e Costa fica na Rua Soeiro Pereira Gomes, Lote 1, 6º andar.

 

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UM REGRESSO BEM SUCEDIDO - Depois de um interregno de 15 anos os Stereolab voltaram a estúdio para gravar um novo álbum de originais, intitulado “Instant Holograms On Metal Film”. Criados em 1990 pelo compositor e guitarrista inglês Tim Gane e a cantora e teclista francesa Lætitia Sadier, os Stereolab têm estado no limbo desde 2009 até agora, quando de repente surgiu este novo álbum. A sonoridade reconhece-se de imediato nas teclas e na voz de Sadler, a composição e produção claramente a evocarem o pop dos anos 90 e o som “easy-listening” que foi a imagem de marca do grupo nessa altura. Os títulos das canções estão igualmente na linha da tradição dos Stereolab: “Aerial Troubles”, “Colour Television”, “Electrified Teenybop!” ,  “Vermona F Transistor” ou “Esemplastic Creeping Eruption”, por exemplo. A voz e os teclados de Lætitia Sadier são como sempre a base do som eclético do grupo, fruto de influências que vão do experimentalismo do krautrock à electrónica, passando por vezes pelo jazz e percussões latinas (como em “Immortal Hands”) até sonoridades que lembram bandas sonoras de séries antigas de televisão. Destaco, a finalizar, o instrumental “Electrified Teenybop!” e “Flashes From Everywhere”, exemplos do prazer que claramente os Stereolab sentem em voltar a estas suas formas musicais. Disponível nas plataformas de streaming.

 

ALMANAQUE - Até 21 de Setembro o Museu do Prado, em Madrid, apresenta uma exposição dedicada à obra de Paolo Veronese, um dos mestres do Renascimento veneziano, que viveu entre 1528 e 1588. A exposição reúne mais de uma centena de obras de Veronese, naquela que é a maior mostra realizada em Espanha sobre a obra do pintor. Esta exposição completa o ciclo dedicado aos mestres do Renascimento italiano e que no Prado já acolheu Tiziano , Tintoretto e Lorenzo Lotto.

 

DIXIT  - “Caso António Costa não se tivesse demitido em 2023, ainda o PS governaria confortavelmente sentado numa maioria absoluta até Outubro de 2026 e, em vez da sua possível extinção, estaríamos agora a falar do domínio do PS sobre o sistema político” - Luciano Amaral, no “Correio da Manhã”.

 

BACK TO BASICS -   “Evitem o excesso, deixem a moderação ser o vosso guia” - Cícero

 

A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS

 

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