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O PAÍS ONDE NADA MUDA - O tempo em que um Presidente dos Estados Unidos chegava à Alemanha e proclamava “somos todos berlinenses” acabou. A Europa entrou em estado comatoso depois de os Estados Unidos terem regressado a meados da década de 40 do século passado, estado comatoso em grande parte provocado pela metafórica bebedeira colectiva dos dirigentes europeus ao longo das últimas décadas. Agora estão aflitos - depois de casa roubada, trancas à porta! Por cá, além das ordinarices do Chega, do cadastro de vários eleitos nas suas listas e dos casos e casinhos dos partidos do chamado arco da governação, todos os olhos estão nas eleições autárquicas e no ciclo eleitoral seguinte. Começa assim uma nova série de eleições: na Madeira, nas autarquias, na Presidência da República e - sabe-se lá - talvez para o Parlamento também. Infelizmente tudo isto vai acontecer sem se ter feito uma revisão séria da Lei Eleitoral, criada há 50 anos quando o mundo era bem diferente, do ponto de vista da comunicação, civilizacional e tecnológico. As preocupações actuais dos manhosos angariadores de votos  estão centradas em garantir a separação das freguesias, que tinham sido unidas há uns anos, decisão que Marcelo vetou com bons argumentos. Mas, no caso das autarquias, há uma outra questão que parece tabu e da qual ninguém quer  falar: quem tem mais votos num concelho é teoricamente quem o governa, mas tem que o fazer com uma equipa governativa (os vereadores), que mistura vencedores com vencidos que até podem ser mais numerosos que os vereadores do partido vencedor e assim bloquear a execução do programa político escolhido pelos eleitores. Não vejo qualquer razão para que não seja o partido vencedor a escolher todo o governo executivo do seu concelho - as várias opiniões, sensibilidades e a diversidade partidária estão asseguradas na Assembleia Municipal cujo voto é necessário para os principais instrumentos de governação da autarquia - a começar pelo orçamento. Há assim duas instâncias, o plenário de vereadores e a assembleia municipal e ao fim destes 50 anos já se percebeu que não é este duplo escrutínio que impede asneiras, corruptelas, negociatas. Uma das maiores provas de respeito dos políticos pela democracia seria reverem a Lei Eleitoral nesta questão e nas outras que impedem que o sentido de voto dos eleitores seja respeitado. A maioria dos políticos no activo abominam mudanças. Gostam de poder controlar os votos e usá-los em proveito próprio. O sentido do voto dos eleitores não lhes interessa para nada. Depois não se queixem. 


SEMANADA - Os cargos políticos de nomeação directa dispararam e este tipo de emprego público registou, desde o final de 2015, uma subida de 48% para  25,9 mil no primeiro trimestre do ano passado. E teve depois o seu pico, de 26,4 mil cargos, no terceiro trimestre de 2024 e a proliferação nas Câmaras Municipais segue a mesma tendência; um estudo recente do ISEG indica que a expansão da rede de autoestradas entre 1981 e 2021 provocou a relocalização de cerca de 750 mil pessoas, mais de 7% da população portuguesa; esta relocalização fez-se sentir de forma mais acentuada nos concelhos de Lisboa (220 mil pessoas) e Porto (120 mil) que perderam população para áreas vizinhas e em 130 municípios do interior do país que não são servidos por auto-estradas; Portugal caíu nove lugares no Índice de Percepção da Corrupção em 2024 e obteve o seu pior resultado de sempre e agora partilha o 43.º lugar com o Botswana e o Ruanda;  em 2024 o Governo gastou 1,7 milhões de euros no apoio judiciário a vítimas de violência doméstica; 70% do PRR na área da recuperação do património cultural continua por executar; está a aumentar o número de pessoas que constrói casas ilegais; em 2024 passaram pelos aeroportos portugueses 70,4 milhões de passageiros; ao longo de 2024 a PSP apreendeu 111.183 artigos de pirotecnia e 18.787 quilogramas de explosivos e no ano passado os artigos pirotécnicos e explosivos provocaram 17 feridos ligeiros e seis graves;  um magistrado do ministério público que enviou mensagens insistentes a querer um encontro a sós com uma procuradora foi absolvido da acusação de assédio e o tribunal da relação concluiu que as mensagens eram apenas um comportamento de uma “aborrecida persistência “.


O ARCO DA VELHA - Cleide Senhorães, que foi concorrente da segunda edição do reality show Secret Story e que agora é procuradora do Ministério Público colocada em Almada, libertou, sem primeiro interrogatório judicial, quatro criminosos perigosos, alguns dos quais tinham em sua posse droga e armas de guerra.

 

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QUATRO QUADROS INTENSOS -  Quatro pinturas de grandes dimensões constituem a exposição “Rio Cor de Sangue”, de Miguel Telles da Gama, que está até 19 de Abril na Galeria do Parque, em Vila Nova da Barquinha.  João Pinharanda, curador desta exposição, sublinha que  no conjunto de obras apresentadas “o dinamismo das personagens convocadas e a intensidade cromática que as rodeia atinge uma rara intensidade”, relatando que “há apenas representação de corpos humanos e animais em silhueta, corpos que se recortam sobre fundos neutros e monocromáticos”. Miguel Telles da Gama , conta o curador, começou por desenhar os corpos sobre os fundos brancos dos papéis, aplicando depois sobre a totalidade da superfície uma placa de cor uniforme, no caso vermelho, “que realça os contrastes das linhas de contorno e faz vibrar a superfície como se se tratasse de um ecrã luminoso.” E conclui João Pinharanda: “este rio abstracto assim pintado, e a coreografia que nele se dança, podem bem ser metáfora dos desastres que correm no mundo”. A exposição conta com o apoio da Fundação EDP, no âmbito da parceria com o Município de Vila Nova da Barquinha para a programação artística do Parque de Escultura Contemporânea Almourol, no qual está incluída a Galeria do Parque. Já agora, vale a pena uma visita ao Parque que tem um conjunto de esculturas feitas para o local por nomes como Rui Chafes, Alberto Carneiro, Ângela Ferreira, Cristina Ataíde, José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, e Xana, entre outros. E se forem para aquelas paragens vale a pena um pequeno desvio a Abrantes, onde pode ser vista até 29 de Junho uma exposição de obras em papel da colecção Fernando Figueiredo Ribeiro, “Da Dobra Que Chama e Traz”, no  Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes.

 

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ROTEIRO - Até 12 de Março pode ser vista a notável exposição de fotografias de José Pedro Cortes na Galeria Brotéria (Rua de São Pedro de Alcântara 3). Sob o título “Aqui e Em Todo o Lado” José Pedro Cortes mostra imagens onde o corpo humano se cruza com a natureza, cria situações, reproduz momentos e evoca um lado lúdico ao fazer da pele do corpo o cenário onde vivem pequenas figuras de plástico (na imagem). Ao todo são 24 imagens, de diferentes dimensões, cuidadosamente apresentadas, umas fabricadas, outras captadas, para preservar um momento aparentemente banal. Na Galeria Diferença pode ser vista até 12 de Março “Devir Paisagem”,  uma exposição colectiva de 12 artistas como Cristina Ataíde, Luzia Simons, Renata Padovan, Marcelo Moscheta, Liana Nigri e Renata Cruz, entre outros. No Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva (Praça das Amoreiras 56) pode ser vista a segunda parte da exposição “331 Amoreiras em Metamorfose”, que prossegue a divulgação de obras do importante acervo do museu, de três dezenas de artistas, como, entre outros,  Cy Twombly, Alberto Giacometti, Amadeo de Souza-Cardoso, Giorgio de Chirico, Wassily Kandinsky, além de obras de Arpad Szenes e de Vieira da Silva - destaque para as 25 gravuras a buril que a artista fez para “L’Inclémence Lointaine” , em 1961, de René Char.

 

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DÉCADAS PRODIGIOSAS - Helena Vasconcelos é uma escritora, crítica literária e divulgadora de literatura. Nos anos 70 e 80 viveu com o artista plástico Julião Sarmento, que morreu em 2021,  e publicou agora uma memória desses tempos: “O Que Está Para Vir- Uma vida com Julião Sarmento”. Mais do que o relato da ligação entre ambos, o livro é uma viagem por uma época particularmente fértil e interessante em Portugal, a segunda metade dos anos 70 e a década de 80. Ao longo deste “O Que Está Para Vir” Helena Vasconcelos descreve a explosão da criatividade desses anos, percorre acontecimentos da época e descreve o que se descobria, o que se vivia, quem se cruzava com quem e como se vivia. O livro relata com uma minúcia diarística esses tempos e Helena Vasconcelos recorda a relação de grande amizade e cumplicidade entre Fernando Calhau e Julião Sarmento, o trabalho que ambos fizeram na Secretaria de Estado da Cultura, assim como a importância de Ernesto de Sousa e a ligação a outros nomes, como Michael Biberstein. Descreve também a evolução das artes visuais  em Portugal nessa época, marcada, no início dos anos 80, pela exposição “E Depois do Modernismo”, comissariada por Luís Serpa. Foi um tempo em que, noutras áreas, se juntaram vontades, de Ricardo Pais a José Ribeiro da Fonte, passando por Cândida Viera, Safira Serpa, Rosi Burguete ou Nuno Carinhas. E havia as ligações internacionais, os artistas estrangeiros que começaram a vir, como Barceló e a notoriedade de Sarmento no exterior. Este livro mostra um outro lado da vida dessas décadas e dá uma visão, por vezes áspera, do que se passava. Helena Vasconcelos termina o seu relato com uma citação da fala de Próspero, no final de “A Tempestade”, de Shakespeare: “Somos da matéria de que são feitos os sonhos”. Edição Quetzal.

 

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OUVIR - "MYT" é o disco de estreia do trio alemão que integra o teclista Moses Yoofee, o baterista Noah Fürbringer e o baixista Roman Klobe-Barangă. Baseado em Berlim, o  trio tem-se feito notar pelos seus espectáculos ao vivo. Com formação na área de jazz, os músicos do MYT (Moses Yoofee Trio), não temem a fusão com outros géneros musicais, que praticam ao lono das 13 faixa do seu disco de estreia. A secção rítimica tem grande parte da reponsabilidade no som do trio, mas Yoofee traça um caminho seguro desenhando melodias no piano e nos teclados electrónicos. Disponível nas plataformas de streaming.


DIXIT  - “Não falta absolutamente nada a António Vitorino, excepto isto: uma distância higiénica do poder económico e dos grupos de influência que dominam os bastidores dos grandes negócios com o Estado.” - João Miguel Tavares, no Público.

 

BACK TO BASICS -  “Pensar é perigoso. Não pensar é mais perigoso ainda” - Anna Arendt


A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS



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