Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O APARELHO - António Capucho deu uma entrevista ao “Público” no início desta semana onde sublinha a importância que tem uma solução governativa que garanta estabilidade e que permita um pacote de acordos de regime em algumas áreas essenciais, que nomeou, como a justiça, a educação, a saúde, a legislação eleitoral, a cultura e a administração pública. Mais, Capucho defende um acordo de incidência eleitoral entre PSD e PS, escrito, que garanta estabilidade e possibilite fazer reformas nas áreas indicadas. Na realidade este é o tema central destas eleições, mas nenhum dos candidatos a Primeiro-Ministro destes dois partidos mostra o mais leve desejo de o abordar e, suspeito, ainda menos de o concretizar. Claro que a certo ponto desta apressada campanha será necessário que cada um dos líderes diga, em relação ao outro, o que está disposto a fazer se o seu partido ganhar e deixar claro, se não for o vencedor, se viabilizará um governo que não o seu e se apresentará uma moção de censura. Isto não são questões bizantinas, embora o estado a que chegou o debate político em Portugal transforme em enormes dificuldades a política propriamente dita e sobrevalorize as diferenças e rivalidades, em vez de se preocupar em apontar para uma estratégia de resolução dos mais graves problemas do país. Uma boa prova disto é a questão da formação das listas eleitorais, que suscitou problemas e polémicas em todo o leque partidário e evidenciou o habitual caciquismo que é a regra de funcionamento sobretudo dos chamados grandes partidos. A este propósito o “Correio da Manhã” reportou por estes dias que quando José Eduardo Martins foi candidato à presidência da Assembleia Municipal de Lisboa e Teresa Leal Coelho, nas mesmas eleições, foi candidata à presidência da autarquia, ambos viram com espanto que as respectivas listas de putativos deputados municipais e vereadores social-democratas não tinham ninguém que tivessem indicado, não conheciam ninguém, sendo tudo escolhas do aparelho local do PSD, que entretanto se viu envolvido na operação “Tutti-Frutti”. Na realidade, como esse artigo dizia, “O líder de um partido pouco poder tem na elaboração de listas de deputados à Assembleia da República, o mesmo acontecendo com os candidatos autárquicos. Quem manda é o chamado “aparelho”, um grupo de pessoas que trata do quotidiano.”. Assim é mais fácil compreender o estado a que isto chegou.
SEMANADA - Segundo o IMT dos 37.495 motoristas de TVDE que trabalharam em Março 52% foram portugueses e 48% de outras 97 nacionalidades, com destaque para os brasileiros, indianos, paquistaneses e bangladeshianos; no último mês circularam nas estradas nacionais 34 447 veículos TVDE e o número de operadores válidos é de 11 894; as estatísticas oficiais indicam que em 2024 foram registados 16080 assaltos a casas, o que representa uma média de 44 destes crimes por dia; 497 desses assaltos foram feitos com moradores no interior das habitações; em 2024 foram registados 260 assaltos a automóveis com os condutores no seu interior, vulgo “carjackin”, quase sempre à mão armada; Ana Caldeira, uma advogada que era dirigente do Chega e vice-presidente do Conselho de Jurisdição do partido foi acusada pelos crimes de burla qualificada e falsificação de documentos, acusada de tentar burlar um ex-sócio falsificando a assinatura de uma mulher que já tinha morrido "com o objetivo de fazer sua a quantia de seis mil euros"; um estudo recente indica que, em 2024, o investimento privado em Portugal correspondeu a cerca de 16% do PIB, dois pontos percentuais abaixo da média da União Europeia, sendo o quarto nível mais baixo do grupo dos países concorrentes; no mesmo ano o volume de investimento em capital de risco representava apenas 6,8 pontos-base do PIB em 2024, um valor substancialmente abaixo da média da União Europeia (13,2 pontos-base) e muito aquém de países concorrentes como Espanha ou Estónia; há 16 municípios no país onde mais de metade da população que trabalha no setor privado ganha apenas o salário mínimo nacional; os preços das casas em Portugal subiram mais do que o dobro da média da UE no final de 2024; a Parques de Sintra estima que na sua área de actuação 98 mil árvores caíram devido à tempestade e vento causados pela depressão Martinho; foram registadas 32 mil visualizações do vídeo da violação de uma rapariga de 16 anos em Loures e nenhuma das pessoas que o viu achou que o caso fosse suficientemente grave para o denunciar.
O ARCO DA VELHA - Nos últimos três anos, nos centros urbanos, morreram 757 idosos que viviam sozinhos em casa.
UM ROMANCE CHINÊS - Não me canso de dizer que hoje, mais que nunca, é importante percebermos a cultura chinesa. Ora, “No Fio Inconstante dos Dias - Memórias de Uma Vida Flutuante”, do chinês Shen Fu, uma obra que é considerada um clássico da literatura universal, foi agora editada pela primeira vez em Portugal e merece leitura. O livro foi escrito no século XIX, no auge da dinastia Qing, a última antes da proclamação da República da China em 1912. Shen Fu era um funcionário público, secretário de um magistrado e a primeira edição conhecida deste livro, no original “Seis Relatos de Uma Vida Flutuante”, data de 1870 mas as versões que chegaram até hoje, como esta, integram apenas quatro dos seis relatos originais, já que os dois últimos se perderam. A primeira tradução ocidental, em inglês, data de 1935. O livro é uma espécie de biografia de Shen Fu, contada em torno da história de amor do autor por Yun, a sua mulher, uma mulher rara nessa época, culta e que cultivava algum grau de independência.. Em torno do relato central por Yun, Shen Fu escreve sobre as frustrações que sente na sua profissão, a penúria financeira, o desalento que se vai estabelecendo na sua vida, mas também histórias de amor pela natureza, das artes e da poesia e da pintura, da inconstância política da época, da dependência de favores dos poderosos, mas também do universo de concubinas e cortesãs. Há um dado marcante para compreender a profundidade da escrita de Shen Fu: o funcionário público desse tempo, na China, tinha de ser alguém com um grau de instrução elevado, com um domínio da milenar tradição poética chinesa e que tinha responsabilidades práticas e éticas no seu trabalho enquanto secretário de um Magistrado. No fundo esta é uma história de amor mas também de sofrimento, de virtudes e de vícios, de generosidade e ganância, como faz notar o editor, Manuel S. Fonseca. E também uma forma de melhor perceber a tradição e a cultura milenares chinesas. Edição Guerra & Paz.
A MÁQUINA DO TEMPO - O destaque desta semana vai para “Ra” a nova exposição de Rui Toscano, que pode ser vista até 10 de Maio na Galeria Cristina Guerra (Rua de Santo António à Estrela 33). O título da exposição evoca a figura de Rá, uma das divindades maiores do antigo Egipto, símbolo do sol no seu zénite e que tinha uma força cósmica que regulava o ciclo da vida e da energia no universo. Na exposição destacam-se quatro desenhos projectados como imagens luminosas, compostos por figuras geométricas que se sobrepõem, explorando a capacidade de a luz ser utilizada como expressão da forma. A exposição inclui também quatro pinturas de diversos formatos, cada uma realizada numa cor primária (na imagem), evidenciando a sua intensidade. Nestas quatro pinturas surgem figuras humanas que dão uma dimensão narrativa, como se percorressem uma estrada aberta pelas formas geométricas das outras peças da exposição. Na folha de sala Luigi Fassi sublinha que as pinturas de Rui Toscano funcionam como máquinas do tempo imprevisíveis” através das quais “explora planos temporais sobrepostos e inidentificáveis, oferecendo olhares sobre épocas culturais distantes, aspirações tecnológicas obsoletas e paradigmas científicos distintos dos actuais”.
ROTEIRO - “Un antes siempre” é o título da exposição de Pedro Calapez no espaço Santa Catalina, uma antiga igreja dessacralizada, no centro histórico de Badajoz, que pode ser vista até 8 de Junho. As obras de Pedro Calapez contrastam com as paredes ocres do edifício e entram num curioso diálogo com os restos de frescos e murais que ainda se vêem nas paredes e que evocam pinturas de outras épocas (na imagem). A disposição das obras, umas isoladas outras agrupadas, proporcionam várias leituras e permitem ver como muitas vezes estão dependentes umas das outras e como que se completam nas formas e nas cores. Bem perto, no espaço.arte, em Campo Maior, Catarina Pinto Leite expõe "Não São Só Flores", um conjunto de obras em papel e tela, até 20 de Abril. Outro destaque vai para a exposição "Aula do Visível", que mostra obras da colecção Ilídio Pinho, uma das grandes colecções privadas de trabalhos de artistas portugueses. A exposição reúne mais de 120 obras de artistas como Vieira da Silva, Amadeo de Souza-Cardoso ou Paula Rego e pode ser vista até 31 de Maio no edifício Abel Salazar, da Universidade do Porto, junto à sua Reitoria. Duas notas finais: no Arquivo Municipal Fotográfico (Rua da Palma 246) pode ser vista até 12 de Abril “Ramot” uma exposição que mostra a importante obra de António da Costa Cabral. E na Brotéria, até 7 de Maio, pode ser vista uma exposição conjunta de Ana Jotta e Jorge Nesbitt intitulada “Conversations Pieces” na qual os dois artistas mostram objetos simples que formam um conjunto de peças em cerâmica apresentadas como personagens num palco inesperado.
PIANO E TROMPETE - O título do novo disco de Vijay Iyer, em dueto com Wadada Leo Smith, não esconde o que se vai ouvir logo nos primeiros acordes - “Defiant Life”. O primeiro tema, “Prelude:Survival” é simultaneamente incómodo e incontornável, com o trompete de Smith a romper de forma violenta a subtileza da forma como Iyer toca piano e órgão Fender Rhodes num diálogo duro que é o espelho dos tempos que vivemos,. A tensão criada entre os dois músicos prolonga-se no segundo tema, “Sumud” e, depois, nas restantes quatro faixas do disco, de cada vez que Leo Smith mostra a intensidade do seu trompete, somos levados num crescendo de descoberta do que pode ser a visão musical de um mundo caótico onde o próximo passo é imprevisível. Edição ECM, disponível em streaming.
DIXIT - “As principais ameaças contra a nossa liberdade serão, no imediato, os gananciosos, os maníacos partidários e os intolerantes” - António Barreto
BACK TO BASICS - “Música tocada ao jantar é um insulto quer ao cozinheiro, quer ao intérprete” - G.K. Chesterton
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.