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QUEM ESTEVE, AFINAL, NO PLENÁRIO DO METRO? - A noite de Santo António é considerada a noite mais longa de Lisboa. As festas da cidade, os arraiais nos bairros, os pequenos concertos por todo o lado levam milhares de lisboetas e pessoas dos arredores da cidade à rua. Por causa de tudo isto há naturalmente fortes condicionantes ao trânsito automóvel e a opção, para quem quiser andar por essas ruas do centro da cidade e dos bairros antigos, é utilizar os transportes públicos. Melhor dizendo, a solução seria de facto utilizar os transportes públicos, mas este ano isso não foi possível porque a Carris culminou uma semana de paralisações parciais com greve em todo o dia de Santo António, logo com começo às zero horas. Por uma daquelas engraçadas coincidências sindicais, o metropolitano também não circulou nessa noite porque, imagine-se, foi convocado um plenário geral dos seus trabalhadores que convenientemente agendaram a sua reunião para as 21h15, prolongando-se até às 02h30, o que obrigou ao encerramento de todas as estações a partir das 20h00. Portanto, transportes públicos inexistentes. Procurei por todo o lado notícia sobre a participação nesse plenário. No meio da habitual grandiloquência do comunicado da Fectrans (Federação dos Sindicatos de Transportes e Telecomunicações), era reivindicada uma grande presença dos trabalhadores no referido plenário. A única fotografia que consegui encontrar dessa reunião está no Facebook da Fectrans e mostra cerca de uma centena de pessoas. Ou seja, os lisboetas viram-se privados de metropolitano porque algumas dezenas de pessoas resolveram que a mobilidade, a segurança e o conforto dos lisboetas não interessa para nada. Cada vez mais reduzido, do ponto de vista sindical, à administração pública e aos transportes, o PCP e os sindicatos que controla não hesitam em penalizar os cidadãos com ações de paralisação que muitas vezes coincidem convenientemente com “pontes” entre feriados e fins de semana . A sucessiva perda de peso eleitoral e de relevância política do PCP é também fruto destas táticas contra os utentes dos serviços que manipula. Por isso mesmo o Governo faz bem em querer melhorar a Lei da Greve, porque, da maneira que está, ela é um novelo em que as reivindicações dos trabalhadores se enrolam no dia-a-dia dos utentes de vários serviços, prejudicando-os. É uma situação que não interessa a ninguém - até porque desacredita os sindicatos e hostiliza os cidadãos.
SEMANADA - 40 anos após a assinatura do Tratado de Adesão à UE, o poder de compra dos portugueses ainda é inferior em quase 20% à média europeia; segundo o INE a inflação em Maio atingiu os 2,3%, um aumento em relação ao mês anterior; os aeroportos portugueses movimentarem em abril 6,5 milhões de passageiros, mais 8,1% do que no mesmo mês do ano passado; a entrega do relatório sobre a expansão do aeroporto de Lisboa foi adiada três meses para o final de Julho; a violência doméstica foi o crime contra idosos mais denunciado à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, entre 2021 e 2024; entre 6 e 12 de Junho, em operações de fiscalização rodoviária, a GNR efetuou 526 detenções e registou mais de oito mil infracções; nessa operação a GNR detectou 249 situações de condução sob efeito de álcoo, 125 de condução sem habilitação legal, 31 por tráfico de estupefacientes, 13 por furto e roubo e 11 por posse de armas proibidas; em 2024 foram registadas pela GNR e PSP 8294 queixas devido ao ruído, uma média de 22 casos por dia; no ano passado, o INEM registou 3230 ocorrências devido a sinistros que envolveram bicicletas e trotinetas, um aumento de 278% face aos números de 2019; segundo o IMT os Condutores de TVDE já são quase o dobro dos taxistas e em Maio houve 38.339 motoristas de TVDE em actividade, o que compara com 20.317 taxistas registados; 30% das consultas realizadas em hospitais do SNS ultrapassam os tempos máximos de Resposta Garantidos; em Portugal há 16 milhões de telemóveis usados que já não são utilizados.
O ARCO DA VELHA - No Porto duas voluntárias de uma equipa de ajuda alimentar a pessoas sem abrigo foram insultadas e agredidas por dois homens que fizeram a saudação nazi e as acusaram de ajudaram imigrantes.
UM MISTÉRIO - Confesso devorador de policiais fiquei bem surpreendido ao ler “Morte nas Caves”, o novo livro de Lourenço Seruya, um actor que também ensina escrita criativa e que, antes deste, já tinha publicado outros quatro livros. Nas investigações que relata há um personagem recorrente, na melhor tradição dos policiais e que é o inspector Bruno Saraiva, recém chegado à cidade do Porto, depois de ter estado baseado em Coimbra. Na Judiciária do Porto faz parelha com o inspector Gil Cabecinha e ambos são chamados a investigar um crime ocorrido numa das casas mais importantes de Vinho do Porto, identificada no livro como Caves Ferreira. Empresa familiar é governada com mão férrea pela mãe e co-gerida pelos seus três filhos, um homem e duas mulheres - algo que evoca a história da mítica Ferreirinha. A investigação desenvolve-se em volta do assassinato de Rodrigo Bessa Alves, o filho, candidato a futuro responsável das Caves, ocorrida após uma festa da empresa. Ao longo do livro assistimos ao desenrolar da investigação, conhecemos os conflitos familiares, as pequenas intrigas e invejas, tudo o que poderia levar alguém a matar o futuro responsável das Caves Ferreira. A forma como Lourenço Seruya faz desenvolver a acção confronta o leitor com vários suspeitos e fá-los entrar na forma como os dois inspectores vão investigando. Como mandam as boas regras dos policiais, o culpado só é revelado no fim e não era nenhum dos suspeitos iniciais. A escrita de Lourenço Seruya é escorreita, com boa construção de personagens e é uma escrita que cria um clima de permanente mistério. Aqui está um bom policial para levar de férias. Edição Porto Editora.
A MODA DE WESTWOOD - Até 12 de Outubro poderá ver no renovado MUDE (Museu do Design, Rua Augusta 24) mais de 50 peças criadas pela designer de moda Vivienne Westwood na exposição “O Salto da Tigresa”. A mostra, com curadoria de Anabela Becho, celebra a obra de Westwood, que se celebrizou nos anos 80 e esteve ligada, no início, ao movimento punk britânico, tornando-se uma das mais influentes estilistas dessa época - trabalhou de perto com o músico e produtor discográfico Malcolm McLaren, com quem esteve casada, que lançou os Sex Pistols. Na exposição podemos observar o diálogo entre a meia centena de peças desenhadas por Westwood, que incluem vestuário, acessórios, ilustração, fotografia e livros, mostrando como a estilista foi influenciada pela história do Reino Unido. Vivienne Westwood utilizava de forma inesperada elementos emblemáticos da cultura britânica (como o tartan e os tweeds) e fazia a sua própria reinterpretação da alfaiataria tradicional. A exposição também mostra como Westwood interpretou e reinventou elementos tradicionais do traje, como a crinolina ou o corpete, propondo silhuetas esculturais, e utilizando, como a curadora sublinha, “uma exímia técnica na construção do vestuário”. As peças expostas são da Coleção Francisco Capelo pertencente ao acervo do MUDE e de coleções institucionais e privadas. Na fotografia está um sapato da colecção primavera/verão de 2020 em seda brocada e pele, aqui fotografado por Luísa Ferreira.
ROTEIRO - Até 28 de junho a Galeria Monumental (Campo dos Mártires da Pátria 101) apresenta a nova exposição individual de Carlos de Medeiros, intitulada “Turdus Merula: du ciel silencieux” (na imagem). As 21 fotografias desta exposição são inspiradas num texto dos “Contes Cruels” de Octave Mirbeau, Les Corneilles (Os Corvos) e correspondem a outras tantas frases desse texto. Coimbra acolhe agora a terceira obra do projeto “Outdoor ’25”, uma iniciativa da associação P28 que transforma painéis publicitários em suportes de arte contemporânea. Depois de Pedro Valdez Cardoso e de Luísa Cunha, é a vez de José Maçãs de Carvalho, curador do Centro de Arte Contemporânea de Coimbra, expor a sua obra na fachada lateral norte do Convento São Francisco, na Avenida da Guarda Inglesa, em Coimbra. Em Lisboa, na Casa Ásia- Colecção Francisco Capelo (Largo Trindade Coelho 22), pode ser vista até 31 de Agosto uma exposição feita em parceria com o Museu Bordalo Pinheiro que aborda a influência do Japonismo na obra artística de Bordalo. Além de duas cerâmicas, mostram-se trabalhos gráficos, na sua maioria para os jornais e almanaques, através dos quais se exploram três vias: Bordalo protagonista japonês; À moda do Japão e Japonesices na caricatura.
REDESCOBERTAS - “Chet Baker Re:Imagined” é uma colecção de 15 novas versões de outros tantos clássicos de Chet Baker. Com arranjos feitos propositadamente para esta edição, os produtores foram buscar um lote de intérpretes de várias áreas musicais próximas do jazz, da pop e da música soul. De entre os temas do disco destaque para “That Old Feeling” por Eloise, “There Wil Never Be Another You” por Matilda Mann, “I Fall In Love” por Stacey Ryan, “ I Fall In Love Too Easily” por Mxmtoon, “My Funny Valentine” por Matt Maltese, “Old Devil Moon” por Dodie ou a inesperada reinterpretação de “Speak Low” por Ife Ogunjobi. Se ouvirem o disco no Spotify poderão comparar as reinterpretações com os originais de Chet Baker, que aparecem a seguir a cada uma das novas versões, autênticas redescobertas.
ALMANAQUE - Badajoz fica aqui mesmo ao lado e Ana Vidigal apresenta até 5 de Outubro a sua exposição “Histórias de Família” no Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporáneo (MEIAC), fruto da transformação da antiga prisão de Badajoz, um edificio de origem militar construído no século XVII. A exposição retoma o trabalho que Vidigal apresentou na Fundação Eugénio de Almeida no início deste ano, com curadoria de Patrícia Reis. Aqui estão cerca de 50 obras com várias séries do trabalho da artista, nomeadamente as que foram propositadamente feitas para a exposição da Fundação Eugénio de Almeida a partir de placas de cortiça. Ana Vidigal regressará a Badajoz no primeiro trimestre de 2026, desta vez com trabalhos novos, na Igreja de Santa Catalina.
DIXIT - “O excesso de passado apenas serve para manipular politicamente o presente” - João Miguel Tavares
BACK TO BASICS - “A paciência tem os seus limites; quando é levada demasiado longe confunde-se com covardia” - George Jackson
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
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