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MUITA CONVERSA E POUCA PARRA

por falcao, em 06.08.21

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ELES FALAM, FALAM... - Tenho para mim que uma das razões para o descrédito cada vez maior dos políticos é a sua falta de capacidade para reconhecerem os erros, a forma como gostam de ocultar o que não conseguiram fazer, a maneira como sorrateiramente varrem para debaixo da mesa as falhas, atrasos, confusões e burocracias que impedem que as coisas funcionem. A maior especialidade dos políticos no activo é a arte de passar no meio de chuva evitando salpicos. Nem sempre foi assim:  já tivemos - e acredito que possamos voltar a ter - políticos sérios, honestos e frontais. Agora, de um lado ao outro do espectro, não se vislumbra nada disso a nível das primeiras figuras da maioria dos partidos e quando se desce no respectivo aparelho partidário a coisa geralmente agrava-se. Basta ver as contradições de ministros, os malabarismos e golpadas de dirigentes. Pior ainda é aquilo que o secretário geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, esta semana veio dizer, atacando outros partidos por fazerem críticas ao governo e por procurarem “casos e casinhos”, que não são mais que as fugas à verdade e as manobras de ocultação em que muitos membros do actual executivo têm sido pródigos. Na política portuguesa tornou-se comum anunciar uma coisa que se esquece a seguir, proclamar verbas que depois não são gastas, confundir estratégia com propaganda. O nosso mal, na realidade , é o exemplo que vem de cima: muita conversa e pouca parra. Uma ilusão de ótica, no fundo.

 

SEMANADA - Quase 20% da população de Lisboa é estrangeira; 38% dos portugueses não têm recursos para passar uma semana de férias fora da sua residência habitual e na Europa a percentagem é de 28%; Portugal apenas conseguiu aproveitar 12% dos 102,7 milhões de euros de fundos europeus, que deviam ser geridos pelo Ministério do Planeamento,  destinados a serem aplicados no ambiente, crescimento azul (economia do mar), inovação,  igualdade de género, cultura e cidadãos ativos; o subsídio a cuidadores informais chegou a apenas um quinto dos candidatos; o número de nascimentos registados em Portugal no primeiro semestre de 2021 é o mais baixo dos últimos 33 anos; o Algarve tem agora o dobro dos desempregados ali registados há dois anos; no turismo, foram mais de 101 mil os empregos destruídos, entre o primeiro trimestre de 2021 e o período homólogo de 2020, mas os empregadores afirmam ter dificuldades em recrutar pessoal; o setor privado da saúde já emprega quase tantas pessoas como o SNS; segundo a OCDE 11,4 anos é o tempo que, em média, cada português demoraria a pagar uma casa de 100m2 com o rendimento disponível e sem recorrer a empréstimos; segundo a Centromarca a alimentação e as bebidas foram os sectores que registaram maior crescimento de vendas no primeiro semestre do ano, enquanto os produtos de limpeza caseira e de higiene e beleza observaram uma quebra assinalável.

 

O ARCO DA VELHA -  Na cadeia de Leiria um grupo de reclusos, familiares e funcionários civis utilizou durante meses o automóvel do director do estabelecimento prisional, sem o conhecimento deste, para introduzir droga e telemóveis na prisão, escondidos no forro do guarda lamas do veículo.

 

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FOTOGRAFIA DE GUERRA - Ao contrário do que aconteceu com outros conflitos do século XX, a guerra colonial portuguesa teve um reduzido registo fotográfico - à excepção de alguns repórteres estrangeiros, poucos, e dos serviços das Forças Armadas portuguesas que tinham essa função documental. No entanto, se compararmos com a guerra do Vietname, para não irmos mais longe, o que existe relativo à guerra na Guiné, Angola ou Moçambique é muito pouco. Augusta Conchiglia, uma repórter italiana entrou clandestinamente em Angola para, com Stefano de Stefani, reportar a luta em curso. Até Setembro desse ano, guiados pelos guerrilheiros do MPLA, percorreram centenas de quilómetros nas zonas libertadas.  É um dos raros registos fotográficos feito do lado dos guerrilheiros e não das Forças Armadas portuguesas. Conchiglia tirou milhares de fotografias, das quais parte foi publicada em 1969 no livro  “Guerra di Popolo in Angola”. Agora uma parte importante desse trabalho pode ser vista na exposição “Augusta Conchiglia nos Trilhos da Frente Leste - Imagens (e Sons) da Luta de Libertação em Angola”, que estará até finais de Dezembro no Museu do Aljube Resistência e Liberdade (Rua de Augusto Rosa 42). Com curadoria de Maria do Carmo Piçarra e José da Costa Ramos, a exposição apresenta imagens do primeiro álbum fotográfico da autoria de alguém exterior às partes do conflito, fotografias que se tornaram símbolos da luta de libertação contra o colonialismo em Angola. Na imagem aqui reproduzida Augusta Conchiglia está ao lado de Iko Carreira, um dos comandantes militares do MPLA mais próximos de Agostinho Neto. Outra sugestão fotográfica, desta vez a norte é a exposição “My Mind is a Cage” de Roger Ballen. Esta exposição foi projectada expressamente para o Centro Português de Fotografia e parte do desejo de Roger Ballen em apresentar uma obra nas distintas celas do edifício da Antiga Cadeia e Tribunal da Relação do Porto,  criando um imaginário em que as celas da Cadeia da Relação surgem como quartos de prisioneiros que albergam as várias séries de imagens do autor. A curadoria é de Ângela Ferreira e a exposição decorre até 10 de Outubro.

 

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UM POLICIAL DIFERENTE- “A Absolvição” é o terceiro volume da série «DNA», de Yrsa Sigurdardóttir, uma islandesa que tem escrito notáveis policiais. Esta série – iniciada com “O Legado”, teve continuação em  “Abismo” e continua agora com “A Absolvição”. A série, e o livro,  tem como protagonistas o investigador criminal Huldar e a psicóloga Freyja, que neste policial  são chamados a investigar uma morte cujos preliminares violentos foram divulgados numa rede social - o assassino filmou o que fez - e como fez - e enviou o vídeo aos contactos do telemóvel da vítima, via Snapchat. Ninguém compreendia a razão do crime, tanto mais que a vítima, Stella, era tida como uma rapariga boa e encantadora. Ao longo da investigação Huldar e Freya começam a descobrir quem  tivesse sofrido às suas mãos, sendo por ela perseguido, ameaçado e destruído, numa espiral de bullying. O crime repete-se, com outro jovem desaparecido e novo vídeo é  posto a circular da mesma forma - e depois percebe-se que o novo assassinato tem também a ver com bullying. A Absolvição, de Yrsa Sigurdardóttir, é uma história de suspense sobre o lado negro das redes sociais, com um foco intenso no exame do bullying – que inclui problemas de isolamento, suicídio, acompanhamento profissional e inépcia na sua prevenção como a crítica internacional tem referido. Yrsa Sigurdardóttir, 57 anos, vive com a família em Reiquejavique e é diretora de uma das maiores empresas de engenharia da Islândia. Escreve policiais nas suas horas vagas.

 

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PRINCE EM PROTESTO - O novo “Welcome 2 America” é o terceiro álbum póstumo de Prince a surgir desde a sua morte, em 2016, mas é o primeiro que é integralmente constituído por material inédito. Tratam-se de 12 canções, descobertas pelo arquivista do músico, Michael Howe, gravadas em 2010, antes de uma das suas últimas digressões. No entanto nessa digressão, que teve por título “Welcome 2 America”,  Prince não interpretou ao vivo nenhum dos temas deste álbum, que por alguma razão resolveu manter escondido até à sua morte, nunca regravando nenhum desses temas. A gravação, com uma produção ao bom nível a que Prince habituou, incluía além do autor, o baixista Tal Wilkenfeld e o baterista Chris Coleman. O álbum surge como um disco conceptual, em que todas as canções assumem uma atitude de protesto e de crítica, sobre temas que vão de impostos à tecnologia, passando pelo estado da indústria discográfica, drogas ou religião. É algo inédito Prince apresentar-se como um cantor de protesto, mas é isso que o disco mostra. Como “The Guardian” fez notar, este trabalho está longe de ser um registo de referência de Prince e alguma razão há-de ter existido para o próprio o ter mantido na prateleira. A favor do disco joga a coerência musical do trio, que se impõe com uma sonoridade enérgica. Mas de facto o conteúdo, ao longo dos 54 minutos de audição, nunca chega a descolar e muitas vezes mesmo a prestação musical de Prince revela um certo enfado com as palavras que canta - e que escreveu. Prince a abordar temas sociais e políticos é algo estranho e sente-se como ele próprio estava desconfortável. Tratou-se de um desabafo, que ele escondeu. Um trabalho apenas para coleccionadores.


A PROPÓSITO DA ACELGA -    Não gosto muito de restaurantes da moda - mas esta semana fui a um que reconheço ter-me cativado. Trata-se do Memória, em Campo de Ourique. O Memória trabalha sobre a cozinha italiana, mas com competência e boa matéria prima. O sítio é agradável, com um amplo espaço ao ar livre, um pátio interno do prédio onde está localizado. Além das entradas costumeiras, há uma burrata com presunto e figo, bem temperada, que animou parte da mesa onde eu estava, na altura entretido a beber um competente Aperol enquanto havia quem se regalasse com um prosecco. O menu oferece massas frescas com sugestões pouco habituais mas que satisfizeram, como uns pappardelle com ragú de coelho - quem quiser tem esparguete com trufas ou gnocchi de beterraba com acelgas. Há cuidado na escolha de ingredientes mediterrânicos e na combinação de sabores. Na área das pizzas, com massa fina, destaque para a que incorpora presunto e figos com mozzarella fior di latte e para a de anchovas e acelgas com mozzarella de búfala. Há mais de uma dúzia de propostas de pizza, incluindo vegetarianas. Nas sobremesas o tiramisu e a tarte tosca com cerejas deram muito boa conta do recado. A lista de vinhos inclui algumas propostas italianas de várias regiões, a preços decentes - a escolha da mesa recaíu num branco siciliano, Zabú Grillo, que também pode ser servido a copo. Há também vinhos portugueses, entre os quais um bom e inesperado Venâncio da Costa Lima branco. Apesar da casa cheia, o serviço funcionou bem. O Memória fica em Campo de Ourique, Rua 4 de Infantaria 26A, no Jardim da Parada, telefone 210998366.

 

DIXIT -  “Tenho vergonha de ter meia dúzia de cursos em que um estudante com 18 valores não entra. Estamos a torturar os nossos adolescentes com esta competitividade”  - António Cruz Serra, Reitor da Universidade de Lisboa.

 

BACK TO BASICS - “A vantagem de ter má memória é que podemos saborear as coisas boas várias vezes como se fossem novidade” - Friedrich Nietzsche.

 




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