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NOVE MESES DE MAIORIA ABSOLUTA

por falcao, em 30.12.22

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NOTÍCIAS DA BOLHA - Não vejo melhor forma de analisar o que se passou em Portugal este ano do que fazer o balanço da maioria absoluta conquistada pelo PS no final de Janeiro passado. Todos sabemos que 2022 tem sido carregado de mudanças no executivo, de pequenos e grandes escândalos envolvendo governantes, familiares de governantes, amigos de governantes. No caso Alexandra Reis, que culminou agora na sua demissão escassas semanas depois de ter tomado posse,  o Primeiro-Ministro e os Ministros que directamente a tutelavam dizem que não sabiam o que se tinha passado na sua dança entre TAP, NAV e Governo, tudo na esfera pública. O facto abona pouco sobre a forma como são escolhidos os membros do executivo e é pouco credível. Fica a sensação de que, mais uma vez, se achou que o caso não tinha importância e talvez passasse despercebido. Mas lá veio a bolha mediática incomodar a maioria absoluta. Recordemos: António Costa já fez diversas mexidas no Governo a nível ministerial e de secretários de Estado, mudanças sempre empurradas por notícias relacionadas com o desempenho ou o passado de quem acabou substituído. O primeiro-ministro entende que a única instabilidade que existe é a provocada por aquilo a que chama “a bolha mediática”, essa incómoda mania de alguns jornalistas irem à procura de factos em vez de subscreverem os comunicados oficiais. É na realidade uma grande maçada haver jornalistas, notícias incómodas, investigações sobre a carreira dos governantes. E o que têm tantas vezes em comum as bolhas mediáticas nascidas deste executivo ? -  euros, maravedis, o vil metal. Parece que neste Governo o difícil é encontrar uma bolha mediática que não tenha a ver com negócios pouco claros. Se o objectivo de ter uma maioria absoluta era garantir estabilidade, isso não é o que está a acontecer. O caso da ex-secretária de estado do Tesouro, Alexandra Reis, é apenas mais um exemplo da forma como Costa anda a escolher pessoas para o seu Governo. Como bem escreveu João Miguel Tavares, “Isto é Gozar Com Quem Trabalha”. Termino a citar Joaquim Aguiar: “quando se está num contexto de maioria absoluta de um só partido, não se violam as normas da democracia pluralista, mas perdem-se defesas democráticas importantes.”  

 

SEMANADA - Este ano o poder de compra do salário mínimo caíu pela primeira vez desde 2012; segundo a DECO os produtos da lista de compras da ceia de Natal subiram 23% em relação ao ano passado; em 62% dos concelhos do continente já não há vagas nas creches do sector social; o preço das casas subiu 13% no terceiro trimestre deste ano; nos primeiros três trimestres deste ano a receita fiscal cresceu 20,6%; as rações para cães aumentaram 30% num ano e as rações para gatos tiveram um aumento de 25% no mesmo período; o mais recente boletim sobre combustíveis da Comissão Europeia indica que Portugal tem a 13ª gasolina 95 mais cara dos 27 países da União Europeia; em 2022 aposentaram-se 800 médicos do Serviço Nacional de Saúde; depois de ter anunciado, há seis meses, o recomeço das obras de  modernização da ferrovia da Linha do Oeste tudo continua parado; desde que a TAP é pública cinco administradores executivos saíram da empresa, mas só Alexandra Reis recebeu uma compensação; segundo um relatório sobre violência associada ao desporto, na época 21-22 registaram-se 335 adeptos impedidos de entrar em recintos desportivos, quase metade deles ligados ao Sporting; entre 30 de Dezembro e 2 de janeiro cinco blocos de partos vão estar encerrados: Caldas da Rainha, Barreiro, Loures, Beja e Portimão; segundo a Marktest em 86% dos lares portugueses consumiu-se bacalhau nos últimos 12 meses; o governo espanhol tirou o IVA ao pão, leite e ovos.

 

O ARCO DA VELHA - Nos primeiros nove meses de existência deste Governo já se demitiram oito dos seus membros.

 

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ARTE PARA CRIANÇAS - A sugestão que aqui deixo é uma exposição dedicada aos mais novos, “Dos Pés À Cabeça”, que pode ser vista no Museu Colecção Berardo ainda durante algum tempo. Com as alterações que vão ocorrer no Museu o calendário de novas exposições ainda não está divulgado, mas de qualquer maneira, pelo menos durante algum tempo em Janeiro a exposição poderá ainda ser vista. A exposição começa por uma cronologia sobre a presença da figura humana nas expressões artísticas ao longo dos séculos, depois aborda o desenho infantil da figura humana, seguida de uma sala dedicada às poses para a câmara fotográfica, um vídeo sobre o sonho de uma criança, os diferentes pontos de vista na abordagem de um tema, entre outros. Comissariada por Cristina Gameiro esta exposição proporciona a oportunidade de os mais novos poderem ver, expostas de forma que estejam no mesmo plano do seu olhar, obras da colecção Berardo de nomes como Henri Michaux, Jean Dubuffet, Henrique Pousão, Álvaro Lapa, Fernando Lemos, Pauliana Valente Pimentel, Ângelo de Sousa, Albuquerque Mendes, Julio González, Helena Almeida, Keith Haring, Nan Goldin ou James Turrell, entre outros. A exposição está no piso -1 do Museu Colecção Berardo, os adultos pagam 5 euros e as crianças têm entrada gratuita. Como escreve Cristina Gameiro, “pensada para os mais novos, esta exposição pretende dar a conhecer a forma como os artistas modernos e contemporâneos pensam, representam e apresentam o corpo humano”.

 

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OS HOMENS DAS AGÊNCIAS -  A história da comunicação e do jornalismo em Portugal não pode ser feita sem um olhar sobre a história das diversas agências noticiosas. Wilton Fonseca, que tem o jornalismo de agência no seu sangue, tem-se debruçado, a solo ou em conjunto com outros jornalistas, sobre este tema. Depois de, com Mário de Carvalho, ter escrito “História da Anop e da NP” e, sózinho, ter publicado “Da Monarquia ao Estado Novo: Agências Noticiosas em Portugal”, lançou agora, em co-autoria com Gonçalo Pereira Rosa o livro “ Jornalista, Espião e Empresário - A vida aventureira de Luís Lupi nos corredores do Estado Novo”. O livro, editado pela Âncora, permite levantar o véu sobre a história escondida das agências de notícias durante o Estado Novo. Descrito como jornalista, espião e empresário, Luis Lupi foi correspondente em Portugal das agências Reuters e Associated Press e fundador da agência Lusitânia, que imaginou poder rivalizar com a oficial ANI, Agência Nacional de Informação. O livro percorre a vida de Luís Lupi, conta como espiou na Guerra Civil de Espanha,  descreve-o como um comerciante de notícias que compreendia a importância das agências, personagem misteriosa, próximo de Salazar e Caetano sem nunca ter sido íntimo. O livro é sustentado em muita investigação e documentos inéditos de arquivos privados. Termino citando o que os autores escrevem numa espécie de prefácio: “A Academia conta com poucos docentes que exerçam ou tenham exercido o jornalismo, e ainda menos com “agencieiros”. Consequentemente os jornalistas portugueses são formados a ver as agências noticiosas como algo secundário, o que se reflecte nas suas investigações e trabalhos”. E mais à frente: “tal fenômeno de esquecimento encontra um paralelo imediato na imprensa portuguesa da actualidade. alguns dos nossos jornais de referência são capazes de publicar páginas e páginas sobre um determinado assunto sem mencionar uma única vez as agências noticiosas onde foram obrigatoriamente ler as informações que fornecem aos seus leitores”.

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REVISITAR HUNKY DORY - “Divine Symmetry" é uma edição especial, uma caixa de 4 CD’s, que inclui um folheto com textos e fotos da época, e que retrata o processo criativo do histórico disco “Hunky Dory”, o quarto álbum de estúdio de David Bowie, gravado no verão de 1971 e editado em dezembro do mesmo ano. Foi o disco que afirmou Bowie, que até aí tinha tido uma carreira incerta e oscilante. O processo de elaboração do álbum foi muito influenciado pela estada de Bowie nos Estados Unidos, onde descobriu a música de nomes como Lou Reed e Iggy Pop no início dos anos 70. Aparentemente o personagem Ziggy Stardust é fruto das reflexões em torno do que viu em Nova Iorque nessa época. Em Hunky Dory apareceram canções como “Song To Bob Dylan”, “Andy Warhol” ou “Queen Bitch”, uma evocação dos Velvet Underground. Hoje em dia “Hunky Dory” é considerado o ponto de viragem que permitiu a Bowie explorar novos caminhos. “Divine Symmetry" vem acompanhado pelo subtítulo “An Alternative Journey Through Hunky Dory”. De facto o que esta caixa de quatro CDs faz é proporcionar uma visão sobre o que Bowie andou a fazer desde o início de 71 - as demos iniciais das canções, versões alternativas de estúdio e ao vivo, alguns originais, gravações de uma sessão no programa de John Peel, além de um livro de 100 páginas com fotografias da época, reproduções de apontamentos do próprio Bowie e  comentários de várias pessoas envolvidas no trabalho. 

 

COZINHA INFLACIONADA - Nas últimas semanas algumas newsletters que subscrevo com receitas culinárias, e que muitas vezes são fonte de inspiração para as minhas experiências, começaram a publicar sugestões de aproveitamento de restos de outras refeições, sob o título “Day Before Payday”. Fruto da inflação, chega-se às vésperas do ordenado com a conta desfalcada, de modo que nada como combater a inflação com criatividade. Uma das sugestões de que mais gostei é arroz frito com legumes e carne. A coisa é simples: pega-se em arroz branco já cozinhado que sobrou e, por exemplo, em restos de peru (ou outra carne), na proporção de três partes de arroz para duas de carne cortada aos pedaços pequenos. A isto acrescenta-se uma cenoura grande aos cubos, um punhado de ervilhas congeladas, alho francês às rodelas, um pedaço de gengibre picado, três ovos, três colheres de sopa de azeite e outras tantas de molho de soja. Tenham um wok ou frigideira grande à mão. Comece por fazer os ovos mexidos e quando estiverem no ponto retire-os para um prato e reserve. Depois acrescente o resto do azeite e, com lume alto, coloque todo o arroz e deixe-o fritar um pouco. No fim acrescente os legumes, tape e deixe em lume médio durante cinco minutos. No fim acrescente os ovos e o molho de soja e deixe em lume brando mais um pouco até estar tudo bem envolvido e cozinhado - dois ou três minutos devem bastar. Veja se precisa de sal ou pimenta. Bom apetite.

 

DIXIT - “Tornámo-nos uma sociedade de surdos” - Tolentino de Mendonça

 

BACK TO BASICS - Um optimista fica acordado à espera de ver o novo ano chegar. Um pessimista espera para ter a certeza que o ano velho termina” - Bill Vaughan

 




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