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O PACOTE MEDIÁTICO - O Governo anunciou esta semana um pacote de medidas para o sector dos media, com alterações significativas na RTP e LUSA e com medidas de apoio a empresas jornalísticas e à profissão de jornalista. O desafio agora é acompanhar como elas vão ser concretizadas, e que efeito terão, num panorama em que uma série de grandes empresas do sector tiveram prejuízos significativos em 2023, como a Impresa (SIC e Expresso), Grupo Renascença, Trust In News (Visão, JL, Caras e Exame), Swipe News (ECO, M+, Advocatos, Capital Verde), Newsplex (Nascer do Sol, Inevitável), Observador, Media 9 Par (Jornal Económico, Forbes), TSF, Público e Global Notícias (DN, JN, Jogo). O sector está em crise há anos e contam-se pelos dedos as empresas que têm lucro - como a Medialivre, detentora do Correio da Manhã e do Jornal de Negócios, além da CMTV e Now. Uma das medidas anunciadas que teve maior destaque foi a eliminação progressiva da publicidade da RTP, velha reivindicação dos operadores privados. Na verdade, esta medida é uma peça chave da reestruturação da RTP, do seu reposicionamento como uma operadora pública de televisão de canais complementares e não concorrenciais aos canais comerciais. Falta agora definir o que será o seu reposicionamento e reorganização, a definição de objetivos de programação, sobretudo qual o rácio de investimento em produções nacionais de ficção, infantis e documentários em comparação com outros investimentos de programação. Será bom perceber o rácio entre o investimento para a informação nacional dos canais RTP e o investimento em noticiário regional e local e o rácio entre desporto profissional e desporto amador. Confesso ter alguma expectativa sobre o que daqui vai sair - se é certo que toda a comunicação presta um serviço público, não é menos certo que é fundamental para a defesa da identidade e coesão nacionais e para a defesa da língua e cultura portuguesas ter na esfera pública um operador audiovisual forte e com a missão bem definida. Talvez seja também altura de racionalizar canais (por exemplo criando um novo canal que substitua a RTP Internacional e a RTP África). E há a questão da LUSA, e o seu comportamento, também, em sectores onde a actuação é claramente insuficiente, nomeadamente na área cultural e na actuação da sociedade civil, com uma agenda demasiado presa a iniciativas oficiais e ao acompanhamento institucional. A prioridade da LUSA não pode ser distribuidora de notícias dos partidos, do Governo e dos órgãos de soberania - vamos ver o que acontece quando o Estado fôr o accionista único. Ficou a faltar dizer o que o Governo pretende fazer à ERC - mas as palavras do Primeiro Ministro, recomendando um jornalismo mais tranquilo e menos ofegante, com perguntas menos incómodas, deixaram no ar um incentivo à interferência na forma de fazer jornalismo, em linha com o que a ERC tem preconizado recentemente, além de revelarem uma grande ignorância técnica. O documento “Plano de Acção para a Comunicação Social” é um repositório de boas intenções. Vamos ver se o Governo as executa ou se isto é apenas propaganda e carícias a um sector onde é crucial ganhar simpatias. De boas intenções, recordo, está o inferno cheio.
SEMANADA - Um juiz de 51 anos, que exerce funções num tribunal de família no distrito de Viseu, vai ser julgado por bater na juíza com quem era casado; desde 2018 ficaram internados nas suas próprias casas 43.500 doentes, integrados no programa de hospitalização domiciliária; o crédito à habitação subiu 20% em Agosto alcançando o valor mais alto desde Março de 2022; os benefícios fiscais não se aplicam a contribuintes que têm dívidas fiscais, mas a autoridade tributária não faz esse controlo em relação a residentes não habituais e o Tribunal de Contas detectou 93 casos; apesar de a Lei da Paridade de 2019 exigir que 40% dos candidatos a quaisquer eleições sejam do sexo feminino, o número de mulheres eleitas para a Assembleia da República, presidência de autarquias e Parlamento Europeu tem vindo a diminuir; pela primeira vez a Universidade de Lisboa fez uma recolha exaustiva de queixas de assédio moral e sexual nas suas 18 faculdades e os resultados mostram que, em cinco anos, de 2018 a 2023 inclusive, foram recebidas 50 queixas, dessas, 20 resultaram em processos disciplinares e apenas oito resultaram em sanções; a Universidade de Coimbra recebeu, em igual período, 21 queixas de assédio moral, quatro de assédio sexual e cinco de assédio moral e sexual em simultâneo; também no mesmo período, a Universidade do Porto recebeu 18 queixas de assédio moral (que resultaram em 13 processos disciplinares), e cinco de assédio moral e sexual.
O ARCO DA VELHA - A Obra Diocesana de Promoção Social, uma instituição de solidariedade da Diocese do Porto, burlou a Segurança Social ao incluir no rol de utentes a que prestou serviço 436 nomes de pessoas que já tinham morrido.
FOTOGRAFAR A MEMÓRIA - Clara Azevedo, uma fotojornalista que tem trabalhado imagens para além da actualidade e do momento, apresenta na sua nova exposição “Casa” em “A Pequena Galeria”. É uma revisitação das mudanças de local de residência durante a infância, fruto da actividade profissional do pai. Conta que o seu primeiro destino foi o Brasil, e depois a família viveu em Madagáscar, na Bolívia, em Itália, no Paquistão e no Irão. São de Clara Azevedo estas palavras: “Habituei-me a ver as várias casas empacotadas e desempacotadas, a acrescentar em cada país objectos com um significado sempre especial, a viver entre as pedras que o meu pai colecionava, e os poemas que a minha mãe escrevia. A adicionar memórias desse tempo nos álbuns de fotografias – registos precisos e sentimentais da minha mãe, com a sua inseparável Kodak Instamatic.”. E prossegue: “Guardo agora na minha casa muitos desses objectos, cuidadosamente arrumados em caixas. Outros ocupam um lugar definido. Senti que devia fotografar parte destes fragmentos e sentimentos”. Esta exposição, “Casa”, é assim um arquivo de memória, sublinha a autora, que fez as fotografias agora expostas nos últimos meses: 15 fotografias 60x40 cm e dez caixas com fotografias de 21x14 cm. A Pequena Galeria fica na Av. 24 de Julho 4C, junto à Praça de D.Luís, e “Casa” pode ser vista até 9 de Novembro.
ROTEIRO - O destaque da semana vai para «Just let them come, visit, like birds», a segunda exposição individual de Carlos Alexandre Rodrigues na galeria Salgadeiras Arte Contemporânea (na imagem, fotografia de Bruno Lopes). O título da exposição, e frases de algumas obras, são apropriações do livro «The Sacred and Profane Love Machine», de Iris Murdoch. A exposição ficará patente até 16 de novembro (Rua Coronel Bento Roma 12). Na Galeria Francisco Fino (Rua Capitão Leitão 76), Vasco Araújo apresenta até 16 de Novembro a sua nova exposição “Ritornare” com obras de escultura, vídeo, instalação e fotografia. Em Coimbra, no Círculo de Artes Plásticas, no espaço do Jardim da Sereia, Jorge Molder apresenta vários dos seus trabalhos sob o título “Grandes Planos”. Na Culturgest está patente “A Natureza Aborrece o Monstro” de Alexandre Estrela, um artista que já expôs em Serralves, no MOMA, no Reina Sofia, entre outros. A exposição reúne mais de uma dezena de instalações vídeo produzidas na última década.
HISTÓRIAS DO IMPÉRIO - A República Romana era uma democracia? A presença romana era um fardo para os habitantes das províncias? Os imperadores eram realmente loucos? As orgias romanas alguma vez existiram? As mulheres romanas eram emancipadas? O vinho romano era bom? Todos os cidadãos de Roma tinham direito a pão de graça? Os Romanos passavam o ano inteiro a celebrar festas? Os Romanos eram cruéis? - estas são algumas das 24 perguntas em torno das quais Dimitri Tilloi-D’Ambrosio organizou o seu livro “Roma Antiga - Mitos e Verdades”. Tilloi d’Ambrosi é doutor em História Romana, tema que investiga e sobre o qual escreveu vários outros livros, nomeadamente sobre os imperadores Nero e Adriano. O Império Romano sempre foi motivo de fascínio devido à sua longevidade (perdurou tendo vários séculos) e pela dimensão do seu território, que se estendia do oceano Atlântico ao rio Eufrates. O autor defende que o segredo do poder de Roma está na adoção do seu modo de vida e da sua cultura por todas as regiões conquistadas. E afirma que, ao contrário da imagem de uma sociedade cruel e cheia de vícios, Roma baseava-se em rigorosos padrões morais. Edição Bertrand.
O REGRESSO DE GUSTAVSEN - Estou fascinado por “Seeing”, o novo disco do trio do pianista norueguês Tord Gustavsen, mais uma vez acompanhado por Jarle Vespestad na bateria e Steinar Raknes no baixo. Gustavsen começou a gravar em trio em 2003, há mais de 20 anos. O seu primeiro disco, “Changing Places”, é hoje considerado um clássico e este “Seeing” é o seu décimo álbum. Em cinco temas originais, duas cantatas de Bach, um hino religioso tradicional norueguês e um coral inglês do século XIX, o novo disco, segundo Gustavsen, reflecte o seu “desenvolvimento pessoal à medida que envelheço, procurando o que é essencial na vida e na música”. “Seeing” retoma a incursão nos territórios do jazz, blues, gospel, tradicionais escandinavos e música religiosa. Ao longo de dez temas e quase 45 minutos o trio de Gustavsen, conduzido como sempre pelo papel que o seu piano assume nas gravações e espectáculos ao vivo. Disponível em streaming.
WEEKEND - Na semana passada recomendei a exposição de fotografia “Tratado”, de José Manuel Rodrigues, na Galeria da Avenida da Índia. No próximo domingo o autor faz uma visita guiada pelas 16h00, uma boa ocasião para descobrir a sua obra. No Museu de Arte Antiga pode agora ver até 15 de Dezembro as pinturas “Santo Agostinho”, do acervo do MNAA, e “São Nicolau Tolentino”, pertencente ao Museo Poldi Pezzoli, ambas de Piero della Francesca, um dos expoentes do Renascimento. Ambas faziam parte do políptico do convento de Santo Agostinho de Borgo Sansepolcro. E em Lisboa nasceu uma nova galeria, a KubikGallery (Calçada Dom Gastão 4), que já existia no Porto e em S. Paulo, e que se estreia na capital com a exposição colectiva “Ação à Distância” que inclui o trabalho de 15 artistas.
DIXIT - “O consulado de António Guterres (na ONU) tem sido um fracasso e a sua capacidade de influência é hoje uma nulidade absoluta” - João Miguel Tavares
BACK TO BASICS - “Entre duas tentações escolho sempre aquela que ainda não experimentei” - Mae West
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
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