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DESENVOLVER OU REGIONALIZAR? - Creio que a maior parte das pessoas estará de acordo em que o maior problema com que Portugal se defronta nos próximos anos é garantir o crescimento económico, permitindo sair da cauda da Europa, para onde temos vindo a cair de forma acentuada. Na situação actual não vai ser fácil: entre os efeitos da pandemia que ainda se farão sentir, as alterações produzidas pela guerra desencadeada por Putin e todas as suas consequências económicas e, por fim, o regresso da inflação, o crescimento de uma economia debilitada não vai ser tarefa simples. É neste quadro, em que reformas de fundo são necessárias, que o tema da regionalização voltou a surgir. Esta semana o debate regressou com particular intensidade graças a um artigo assinado por Luís Valente de Oliveira e Miguel Cadilhe, em defesa da regionalização e em resposta a artigos, em sentido contrário, de António Barreto e Cavaco Silva. Está pois lançada a discussão, que visa agendar um novo referendo sobre o tema regionalização, depois da derrota que semelhante iniciativa teve em 1998. Tenho pessoalmente as maiores dúvidas sobre os benefícios da regionalização. Os seus defensores deviam demonstrar que a regionalização pode ter um efeito positivo no desenvolvimento, na redução da dívida pública, na dinamização do interior, na reindustrialização em sectores específicos, na inovação e na melhoria da qualidade de vida dos portugueses. Esta demonstração faz falta e é sempre mascarada por uma cortina de retórica. Há outro tema em cima da mesa, e poucas vozes se ouvem sobre o assunto: Portugal tem índices de corrupção na Administração central e local elevados. A regionalização provocará novos clientelismos? Agravará a situação? A justiça, que não tem sido capaz de dar resposta aos crimes dessa natureza, funcionará melhor na regionalização? Todos estamos de acordo que o país precisa de se desenvolver e de fazer reformas profundas. Mas qual a sua prioridade? Por exemplo, valerá a pena fazer a regionalização sem fazer uma reforma profunda no sistema eleitoral? Valerá a pena descentralizar sem reformar o funcionamento da justiça? Cabe aos defensores da regionalização mostrarem com factos e números que os seus opositores estão enganados nas dúvidas que colocam.
SEMANADA - As polícias portuguesas apreenderam o ano passado 2,2 milhões de euros em numerário a traficantes de droga, o segundo maior montante dos últimos cinco anos; em 2021 fizeram-se 1944 apreensões de diversas drogas, mais 36,7% que no ano anterior; o endividamento das famílias junto à banca atingiu em fevereiro cerca de 148 mil milhões de euros; em média, ao longo de um ano, os portugueses pediram à Banca 14 milhões de euros por dia; a agricultura perdeu quase um milhão de trabalhadores em três décadas; a riqueza criada pela agricultura ascendeu a 3500 milhões de euros em 2021, valor que está em queda desde os anos 80, década em que gerava mais do dobro da riqueza atual, segundo dados compilados pela Pordata; Portugal é o quinto país da União Europeia com menor número de trabalhadores na agricultura; uma sondagem da Aximage indica que o 25 de Abril é relevante para 83% dos portugueses (maioritariamente entre os inquiridos de 18 a 34 anos), mas a satisfação com a democracia fica-se nos 57%; a Direcção Geral de Energia e Geologia só tem 25 funcionários para fiscalizar as mais de duas mil pedreiras existentes em Portugal; o Ministério das Finanças ficou sem aprovar as contas da Parque Escolar durante seis anos e a sua dívida ao EStado e à banca é de cerca de 892 milhões de euros.
O ARCO DA VELHA - Apesar de todas as declarações sobre igualdade, nenhum dos cinco representantes indicados pelo PSD e PS para o Conselho de Estado é uma mulher.
FOTOGRAFIA DESTES TEMPOS - Manuel Botelho estudou arquitectura e pintura e durante vários anos concentrou-se em pinturas e colagens. A partir de 2006 passou a usar a fotografia como um meio de expressão e desde então tem desenvolvido esta área de trabalho, centrado na exploração de temas históricos e na realidade social e política. Botelho salienta que o seu trabalho se baseia na sua visão da realidade da vida e por isso mesmo nunca se interessou pela abstracção. A sua nova exposição na Galeria Miguel Nabinho , intitulada “longlivepdg”, datada de 2022, documenta a situação de um parque de skate, o Parque das Gerações, que existe desde 2011 em São João do Estoril (na imagem), uma estrutura criada para fomentar a integração social de crianças de bairros carenciados. O Parque das Gerações (pdg) está agora ameaçado devido a alterações no plano director municipal e Manuel Botelho documenta a situação existente e o movimento de resistência, desencadeado pelos utentes do parque, destacando a forma visual como essa resistência se materializa através de pinturas na estrutura dos equipamentos do parque. Outra exposição que vale a pena ser vista é “Sem Título Original”, de José Manuel Rodrigues, que está até 26 de Junho no Palácio D. Manuel, em Évora. Com cerca de uma centena de fotografias actuais, José Manuel Rodrigues mostra o seu olhar sobre a vida nestes dias. O autor, Prémio Pessoa em 1999, sublinha: “no trabalho final desta exposição aconteceu a guerra. A parte humana foi invadida por ela. Mostrar a vida tornou-se uma prioridade, por isso modifiquei a exposição. A par do sonho de mostrar a vida que é possível, estas fotografias pretendem também e com urgência alertar para o que é viver debaixo de guerra”.
UM ROMANCE ENVOLVENTE - “Ethan Frome” é um romance de Edith Wharton passado na cidade fictícia de Starkfield, na Nova Inglaterra e foi publicado pela primeira vez em 1911. O romance conta a história de Ethan, um homem de meia-idade, que coxeia como se arrastasse consigo um peso, e relata os seus infortúnios na vida e no amor. “Ethan Frome” é mesmo considerado um dos grandes clássicos americanos do século xx e uma das melhores obras de Edith Wharton, a primeira mulher a receber um Pulitzer de ficção. Para o escritor norte-americano Gore Vidal, Wharton é, a par de Henry James, um dos «gigantes, iguais, os deuses tutelares e benignos da nossa literatura americana». Neste livro, que muitos consideram a obra - prima de Wharton, a autora capta os impulsos e as fraquezas da natureza humana, explorando a hipocrisia da sociedade. Graças à sua forma de escrever envolvente, mas simples, Wharton dá a descobrir a beleza que pode existir numa paisagem austera e explora o conflito entre o dever e o desejo, colocando a atracção e o sexo no meio de uma narrativa ficcional que se desenrola de forma ardente, mas elegante - um bom exemplo disto é uma curta frase, que aqui deixo, tirada ao acaso do livro: ”Quando a porta do quarto dela se fechou, ele lembrou-se de que nem sequer lhe tinha tocado na mão”. O livro serviu de inspiração a uma peça de teatro e a um filme de John Madden, de 1993, protagonizado por Liam Neeson e Patricia Arquette. “Ethan Frome” inaugura a nova colecção de clássicos recentes da Guerra e Paz Editores.
BLUES & JAZZ - Charles Mingus, que teria feito 100 anos no dia 22 de Abril, é uma das mais influentes figuras da música americana do século XX e afirmou-se como baixista, pianista, líder de banda e compositor. Para assinalar a data a etiqueta Rhino/Parlophone lançou uma nova edição do seu álbum Mingus Three, originalmente de 1957, agora remasterizado a partir das fitas originais. Neste registo Mingus, no baixo, é acompanhado pelo pianista Hampton Hawes e o baterista Dannie Richmond. O disco original tinha sete faixas, a que foram acrescentadas para esta edição oito registos inéditos de estúdio, com versões diferentes de todas as faixas do álbum de 1957, à excepção de “Laura”, mais dois blues originais. Esta nova edição apresenta uma réplica da capa original da Jubilee Records e um livro com fotos da época, bem como notas da autoria do orquestrador e pianista de jazz Sy Johnson, que colaborou com Mingus na década de 70. Nessas notas Johnson recorda como a gravação, realizada no dia 9 de Julho de 1957, foi essencialmente um diálogo musical entre o baixo de Mingus e o piano de Hawes, pontuado discretamente pela bateria de Richmond. Um dos temas mais exemplares deste encontro de talentos musicais é a versão do clássico “Summertime”, um dos temas clássicos do disco - os outros são “Yesterdays”, “I Can’t Get Started” e “Laura”. Há ainda dois originais de Mingus, “Back Home Blues” e “Dizzy Moods” e uma jam session intitulada “Hamp’s New Blues” . As faixas bónus incluídas nesta edição incluem versões mais swing de “Summertime” e “Hamp’s New Blues.”
UMA SALADA DE PEPINO - Gosto de pepino, quer em salada, quer como parte de uma sanduíche, de preferência em pão de centeio. A primavera chama por saladas e a de pepino é especialmente refrescante. O segredo está no tempero - já lá chegamos. O ideal, se fôr possível, é o chamado pepino japonês - que muitas vezes se encontra no Lidl. Mas se não houver japonês, pode bem ser o pepino vulgar que há em todo o lado. Começo por tirar pedaços de casca com um descascador e depois corto em fatias muito finas. Vou colocando as fatias num prato raso e polvilho-as com sal à medida que vou fazendo camadas. Um pepino de média dimensão, sem ser demasiado grosso, dá para duas pessoas. O segredo desta salada está no tempero: deitar num copo uma colher de sopa de água, sumo de um quarto de limão, três colheres de sopa de vinagre de arroz, uma colher de sobremesa de açúcar amarelo, mexer tudo bem mexido até o açúcar se dissolver. Depois deitar numa tigela larga todo o pepino já cortado, adicionar-lhe meia dúzia de cebolinhas em vinagre cortadas ao meio e deitar o tempero por cima. Mexer tudo bem mexido e no fim salpicar com pimenta preta moída na altura. Voltar a mexer e está pronto a servir. Vão ver que tem um sabor diferente do que é hábito, e creio que será uma boa surpresa para muita gente. Experimentem para acompanhar uma carne grelhada.
DIXIT - "Falta a Portugal o inconformismo de Abril para romper a estagnação. Abril confiou-nos esta difícil missão: a de continuar a querer saber - da política, de Portugal, da Europa e do Mundo. A de continuar a querer saber do futuro" - Bernardo Blanco, deputado da Iniciativa Liberal
BACK TO BASICS - “Tudo o que é verdadeiramente importante e inspirador foi criado por pessoas que puderam trabalhar em liberdade” - Albert Einstein
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