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AS PESSOAS - Por muito que António Costa proclame a sua preocupação com o país, a verdade é que a melhor palavra para descrever a política social do PS é cativações. Em poucos anos, Costa, Centeno e Leão encheram o bolso do Estado à custa de cortes. O sucesso propagandístico das suas contas deve-se ao aumento da receita fiscal e à redução e cortes nas despesas de funcionamento de vários sectores. O Governo diz que investe mais, mas não é o que tem feito em relação às pessoas, nomeadamente em relação a professores, médicos, enfermeiros e tantas outras profissões. O resultado está à vista nos problemas daquelas que deviam ser as principais funções do Estado, a educação, a saúde e a justiça. Houve quem tivesse esperança que pelo menos algumas reformas surgissem com a maioria absoluta, depois do período de distrações e equilibrismos da geringonça. Mas a única coisa que a maioria absoluta trouxe foi arrogância, autismo político, cumplicidades e as corruptelas fruto de demasiados anos no poder. O que se tem passado só alimenta a distância entre eleitos e eleitores. Olhemos para o caso dos professores , uma lição de vida sobre as diferenças entre os comuns mortais e a classe política e seus apêndices. Para os que ensinam as próximas gerações oferecem-se dificuldades, incerteza, carreiras mal definidas, contagens de tempo de serviço vergonhosas e salários baixos. Para a classe dirigente o tempo de serviço é amplamente recompensado em indemnizações, encontra-se sempre uma sinecura para algum histórico militante do poder a necessitar de um aconchego. Para fazer os disparates que tem feito e que têm custado milhões, como na TAP, o Governo corta noutros lados. É nesta altura que me lembro sempre da história de uma pessoa influente que acumulou dívidas e que, quando um dos credores o viu com um reluzente carro novo e o inquiriu, se limitou a responder: “o dinheiro não dá para tudo”.
SEMANADA - 22 dias depois de se ter demitido Pedro Nuno dos Santos descobriu que afinal tinha enviado um whatsapp a aprovar a indemnização de meio milhão de euros da TAP a Alexandra Reis; António Costa leva mais de 5760 dias, cerca de 16 anos, em cargos governativos, com oito nomeações, desde meados dos anos 90; nove dos dez titulares de cargos governamentais que os exerceram durante mais tempo são do PS; um estudo divulgado na semana passada coloca a economia portuguesa na 36ª posição entre 38 países no Índice da Competitividade Fiscal para 2022; as greves em Portugal cresceram 25% no ano passado; em 2022 foram produzidos em Portugal mais de 320 mil veículos automóveis, um crescimento de 11,2% face ao ano anterior; o emprego na construção atingiu o valor mais elevado da ultima década mas o sector ainda necessita de mais 80 mil trabalhadores para responder às obras projectadas para os próximos anos; face à instabilidade nas escolas públicas regista-se um acréscimo significativo de procura pelos colégios privados; cerca de metade da população adulta portuguesa tem dois ou mais problemas de saúde, consequência de excessiva exposição a ecrãs, má qualidade do sono e stress, concluíu um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; o preço do arroz carolino quase duplicou no espaço de um ano; segundo as autoridades policiais há 53 crimes contra idosos cometidos por dia e o mais grave e frequente é a violência doméstica; um estudo divulgado na semana passada aponta para uma subida de 18,7% no preço das casas, a maior variação dos últimos 30 anos; segundo o BCE, Portugal está em último lugar do ranking da Zona Euro em matéria de literacia financeira.
O ARCO DA VELHA - O piso da linha ferroviária do Norte, que liga Lisboa ao Porto, sofreu quatro abatimentos em três semanas.
A PINTURA - Não faltam exposições em Lisboa nesta altura do ano. Começo por “Água de Colónia" de Gonçalo Pena, com curadoria de João Maria Gusmão e que estará exposta até 11 de Março, na Cristina Guerra Contemporary Art (Rua de Santo António à Estrela 23). Trata-se de um conjunto de 23 pinturas a óleo e cerca de noventa desenhos que têm óbvias ligações entre si, todos eles a remeterem para fragmentos de memórias, imagens fugidias, aventuras vividas (na imagem, foto da própria galeria). Há um misto de voyeurismo nos óleos e relato nos desenhos, que por vezes evocam a banda desenhada. Mas há uma história comum neste diálogo entre pintura e desenho. No MAAT, no edifício da Central Tejo, inauguraram exposições de Maria Capelo, Pollyana Freire e Jonathas de Andrade. Esta última, “Olho Faísca”, a mais impactante, mostra as diversas facetas do autor brasileiro de braço dado com a propaganda de causas que assume. Para regressar à pintura e a coisas mais sérias recomenda-se a exposição de Pedro Chorão na Galeria Monumental (Campo dos Mártires da Pátria 101). E termino com a derradeira exposição organizada por Mário Teixeira da Silva no seu Módulo Centro Difusor de Arte (Calçada dos Mestres 34 A), inaugurada poucos dias antes de morrer, e que, com o título “Nocturna”, apresenta trabalhos de Nadya Ismail, Pedro Zhang, Vasco Maia e Moura e Xavier B. Tourais. Até ao fim Mário Teixeira da Silva dedicou-se sempre a descobrir novos talentos artísticos e esta exposição é ela própria um derradeiro testemunho da sua forma de estar como coleccionador e galerista.
MISTÉRIO - A história é envolvente desde o início, quer na definição de personagens, quer na própria localização da acção, quer no inesperado desenrolar dos acontecimentos e no final que o autor imaginou. O livro chama-se “A Casa Do Outro Lado do Lago” e foi escrito por Riley Sager, pseudónimo de Todd Ritter, um dos mestres da literatura de mistério norte-americana. No centro da narrativa está Casey Fletcher, uma actriz recém-viúva que se refugia numa casa de família nas margens de um lago, no estado do Vermont, Canadá, para tentar escapar a uma onda de má imprensa devido ao seu alcoolismo. Aos poucos Casey observa os movimentos de Tom e Katherine Royce, uma ex-top model e um magnata da tecnologia, o casal de vizinhos que vive no outro lado do lago, numa casa de vidro. Com um par de binóculos ela espreita tudo o que se passa dentro das paredes de vidro. É essa observação que lhe permite perceber, um dia, que Katherine está prestes a afogar-se no meio do lago. Casey mergulha ela própria nas águas escuras e consegue salvá-la : ficam amigas a partir daí. À medida que a amizade se desenvolve percebe que o casamento dos seus vizinhos não é tão perfeito como inicialmente lhe parecia. Tudo se agrava quando Katherine desaparece de repente e começa a suspeitar que Tom pode estar envolvido nesse desaparecimento. Pelo meio entram novos personagens em cena, peças de um mistério que fica cada vez mais denso e deixa no ar uma questão: até que ponto conhecemos alguém? O final, que não revelo, é uma reviravolta total e surpreende muita gente - a começar pela própria Casey. “A Casa Do Outro Lado do Lago” é uma edição da Guerra & Paz.
AMBIENTE - O novo disco de Ryuichi Sakamoto tem 12 temas e uma hora e um minuto de duração. Como título figura o número de temas e este “12” foi lançado há poucas semanas, no dia em que completou 71 anos. É o seu 15º álbum de originais, o primeiro em seis anos, depois de “Async” (de 2017). Cada um dos doze temas tem como título a data em que cada tema foi criado e a música é minimalista, uma primeira parte mais ambiental e outra mais clássica. Ryuichi Sakamoto, o seu piano e o seu sintetizador são os únicos protagonistas deste trabalho que reflecte muito o estado de espírito do músico. Em 2014 Ryuichi Sakamoto foi diagnosticado com um cancro da garganta, cancelou digressões agendadas e repensou o que fazia. E como disse em entrevistas de então, dedicou-se a fazer música que pudesse deixar para o futuro sem se envergonhar. Foi nesse contexto que nasceu “Async”. Nessa altura Sakamoto deixou de actuar ao vivo, mas fez vários recitais em streaming, o últimos dos quais em Dezembro, que anunciou como sendo a sua derradeira actuação pública. Na altura explicou que lhe tinha sido diagnosticado um novo cancro e todo este disco foi feito depois de ter tido essa notícia. Há uma outra particularidade: não existe outra definição rítmica em todo o álbum à excepção do som da respiração intensa do músico enquanto toca. A parte final do disco, com peças mais curtas, é dedicada a Claude Debussy, que ele admite ter sido sempre a sua grande influência musical. De certa forma “12” é como um diário onde, em vez da escrita, se usam notas musicais para descrever o que se passa. Disponível nas plataformas de streaming.
A VER O MAR - Apesar de muita estragação arquitectónica, Sesimbra continua a ter um encanto especial. Tem o mar descaradamente à sua frente, um porto de pesca, uma marginal magnífica se não olharmos para os edifícios e nos fixarmos no mar. E tem uma nova geração de restaurantes, que vieram ocupar o lugar de alguns dos clássicos que entretanto fecharam ou mudaram de vida. Um dos novos que vale a pena conhecer é o “Portofino”, um edifício discreto ao fundo da marginal, perto do porto de pesca, sem nada à frente a não ser o areal e o mar. O Portofino tem uma esplanada abrigada e a sala interior é ampla. Felizmente este é um daqueles restaurantes onde a coisa não se resume a grelhados. Há, por exemplo, lulinhas fritas com alho e coentros, polvo confitado com cebola frita ou o incontornável choco frito. Nas especialidades há uma feijoada de polvo e camarão, uma açorda de mariscos servida dentro de um pão escavado e um arroz do mar - foram pedidos nas mesas mais próximas e as pessoas estavam com cara satisfeita. Para os carnívoros há lombo do cachaço de porco preto com puré de castanhas e um entrecôte de novilho na tábua. Mas a parte dos grelhados não é descurada e na semana passada a escolha da mesa recaíu num pregado de bom porte, com batata a murro e grelos salteados. Estava muito bom e correspondeu à expectativa. De entrada vieram umas ameijoas à Bolhão Pato, um pouco abaixo das expectativas. Serviço muito bom e atento. A lista de vinhos é curta e tem preços decentes. O Portofino fica na Avenida dos Náufragos, na Praia do Ouro e o telefone é 919 480 282.
DIXIT - “Em vez de amadurecer a democracia portuguesa atravessa aguda fase de infantilismo" - António Barreto
BACK TO BASICS -"Tenho sido actor sempre e a valer. Sempre que amei, fingi que amei e para mim mesmo o finjo" - Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
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