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Volta e meia vou pela rua fora e, de repente, vejo alguma coisa que me atrai o olhar e decido parar. Nessa altura pergunto-me se vale a pena fotografar o que me chamou a atenção. Na maioria das vezes paro e fixo a imagem. Uma coisa que a fotografia faz em mim é oferecer-me pequenos interregnos no caminho que seguia, obrigar-me a estar atento a ver se alguma coisa me interessa, por mais banal que seja. Muitas vezes andamos demasiado depressa, sem ter tempo para olhar bem o que existe à nossa volta. Mas se formos andando a pensar que pode de repente surgir uma fotografia, ganhamos outro ritmo. Quando decidimos fixar uma imagem, com o smartphone ou uma câmera fotográfica, congelamos o olhar e, de alguma forma, transformamos o que pode parecer banal em algo diferente, pelo menos para nós próprios. Uma fotografia é apenas uma recordação de uma pausa que tivemos quando olhámos à volta. Na realidade a fotografia nasce quando parámos, em vez de seguir caminho ignorando o que vemos. O que me fascina na fotografia é não apenas fixar uma imagem, mas obrigar-me a ver melhor o que se passa e ter a noção de que mesmo pequenos detalhes de formas ou de sombras conseguem chamar a atenção de forma diferente da que existiria se fôssemos apenas andando a olhar em frente. Uma das coisas que a fotografia me traz, e de que gosto, é essa possibilidade de introduzir uma pausa no percurso. Por exemplo, esta imagem que hoje publico não existiria se eu fosse a andar rapidamente em direcção ao restaurante onde ía almoçar. Esta fotografia existe porque olhei para o lado e vi este emaranhado de fios: o contraste com a parede e as sombras obrigaram-me a parar e a guardar este novelo, um dos muitos que existem por todo o lado sem darmos por eles, apesar da perturbação que produzem nas paredes onde estão. Será que às vezes escolhemos não ver o que está a mais?
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