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NUNCA É TARDE PARA CORRIGIR ERROS - A decisão anunciada pelo Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, de denunciar o acordo relativo à Colecção Berardo ajuda a clarificar a situação existente, e permitirá que o Centro de Exposições do CCB retome o que era o seu percurso original, desta vez com um acervo sólido, baseado numa importante colecção que, é preciso reconhecê-lo, Joe Berardo criou antes de ser levado a meter-se nas aventuras pelo controlo do BCP, sugeridas por amigos de Sócrates durante o seu reinado. Deixo aqui esta nota para que se recorde que o PS não está isento de culpas na situação criada. Mas para além da decisão sobre a colecção Berardo, Adão e Silva decidiu também assumir a colecção Ellipse, lançada por João Rendeiro no Banco Privado Português, que aparentemente ficará também entregue no futuro à mesma equipa que tem feito um excelente trabalho em torno da colecção Berardo. Se nos recordarmos que o Governo, há uns anos, absorveu também a menos interessante colecção Miró, do Banco Português de Negócios, entretanto depositada em Serralves, constatamos que o Estado Português na última década absorveu três colecções de arte privadas e, portanto, assumiu a responsabilidade de assegurar a sua fruição pelos portugueses. Este somatório de património artístico cria deveres em relação aos equipamentos que as acolhem e devia fazer com que o Ministério da Cultura pensasse em questões como a sua circulação pelo país, e também a articulação com o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. De facto a boa decisão de Pedro Adão e Silva tem também alguns efeitos colaterais: não deveria ser esta a boa a altura para repensar se não será mais produtivo fomentar a colaboração entre Serralves e o CBB do que manter o acordo de conveniência e contra natura que pretende deixar o MAAT na dependência de Serralves? É nestas alturas, quando as situações se alteram, que vale a pena abrir janelas e deixar entrar ar fresco, sem preconceitos. Nunca é tarde para corrigir os erros.
SEMANADA - O observatório fiscal da União Europeia Identificou 819 imóveis detidos por portugueses no Dubai; em Portugal estão identificadas 8209 pessoas na situação de sem abrigo, a maior parte em Lisboa e no Porto; os crimes de tráfico de pessoas registados pelas polícias portuguesas duplicaram em 2021; segundo o INE os alojamentos turísticos nacionais receberam 2,4 milhões de hóspedes em abril, um aumento de 424,6% face ao mesmo mês de 2021; um relatório publicado esta semana indica que a TAP tem a pior comportamento ambiental entre as sete maiores companhias aéreas europeias; uma sondagem da Aximage divulgada na semana passada indica que mais de metade dos portugueses são contra o fim de uso das máscaras; o Covid-19 foi a quarta causa de morte em 2021, representando 5,9% do total de óbitos registados em Portugal nesse ano; segundo a Netsonda, 75% portugueses sabem pouco sobre os ingredientes que consomem fora de casa; as autoridades detectaram em sete dias mais de 14.000 infrações de condução, das quais mais de 1100 por uso indevido do telemóvel durante a condução; o valor em contratos celebrados entre entidades estatais e empresas afundou mais de 40% no primeiro trimestre deste ano face a 2021; o valor dos impostos cobrados de Janeiro a Abril é o mais alto dos últimos 10 anos e face a igual período do ano passado as receitas do fisco cresceram 19,8%.
PERGUNTA DA SEMANA - A ciclovia da Almirante Reis foi sujeita a consulta pública antes de ser construída?
UMA CIDADE DE ESCULTURAS - “Respiração Boca A Boca” é o título da exposição que Cristina Ataíde concebeu para o Museu Internacional de Escultura Contemporânea, de Santo Tirso, e que ali ficará patente até 18 de Setembro. A artista reuniu 58 peças, de várias fases da sua carreira, desde as suas primeiras esculturas em ferro e pedra dos anos 80, até às mais recentes onde a evocação da natureza e a utilização primária de materiais naturais foram ganhando peso. Várias peças de há alguns anos foram revisitadas e recriadas, cruzando-se com as mais recentes opções de Cristina Ataíde e com a permanente referência à descoberta e à viagem. Um dos momentos a reter é a obra criada para o longo corredor de 70 metros (na imagem) onde se combinam algumas das vertentes que têm marcado o trabalho recente da artista. A exposição inclui também alguns desenhos e pinturas, alguns inéditos, em diálogo com as esculturas. “Respiração Boca A Boca” mostra o singular percurso de Cristina Ataíde e merece uma visita atenta. É curiosa a história do envolvimento de Santo Tirso com a escultura: no início dos anos 90 o escultor Alberto Carneiro desafiou o Município a criar um programa de actuação em torno da escultura contemporânea. Ao longo dos anos a autarquia foi adquirindo obras que agora estão implantadas por toda a cidade, num museu a céu aberto que já tem meia centena de esculturas. Mais tarde a autarquia decidiu construir um edifício destinado a alojar o Museu Internacional de Escultura Contemporânea, com um projecto de Álvaro Siza Vieira, concluído em 2015, e que desde então tem acolhido diversas exposições, como esta que agora Cristina Ataíde apresenta.
A VERDADE RUSSA - Nesta altura em que o comportamento dos dirigentes russos é causa de indignação vale a pena ler “Eclipse do Sol”, o livro que Arthur Koestler escreveu em 1940 e que mostra como o regime russo não hesita em matar e torturar, tradição que, como agora se comprova, se mantém. Originalmente publicado em Portugal sob o título “O Zero E O Infinito” há cerca de 40 anos, este romance é pela primeira vez editado entre nós na sua versão integral, baseada em textos do autor encontrados em 2018. A tradução é da responsabilidade de Teresa Seruya e Sara Seruya, a partir dos manuscritos originais do autor. Arthur Koestler nasceu em Budapeste, na Hungria, em 1905, no seio de uma família judaica. Foi escritor, jornalista e ativista político, tendo passado pela Palestina, pela União Soviética e por Espanha, onde lutou na Guerra Civil. Com o deflagrar da Segunda Guerra Mundial, radicou-se em Londres e cortou com o Partido Comunista após as purgas estalinistas. O romance, considerado por George Orwell um dos poucos livros que poderão mudar a História, conta como durante as purgas estalinistas, Rubachov, um velho revolucionário, foi apanhado na confusão dos pseudo julgamentos de Moscovo dos finais dos anos 1930, em pleno estalinismo. Ele é preso e torturado pelo partido a que havia devotado a sua vida e submetido a enorme pressão para confessar crimes que não cometeu. “Eclipse Ao Sol” aborda as purgas estalinistas que marcaram a União Soviética nos anos de 1930 e permite uma reflexão sobre a história de uma região do mundo que hoje, pelas piores razões, está na ordem do dia.
JAZZ FORA DA CAIXA - O pianista Tigran Hamasyan tem-se dedicado a recriar, com versões ousadas, as suas interpretações de standards do jazz. A formação base é um trio, que conta com a participação do baixista Matt Brewer e do baterista Justin Brown mas no seu novo disco, “StandArt”, convidou outros músicos como o trompetista Ambrose Akinmusire e os saxofonistas Joshua Redman e Mark Turner. Desde temas da Broadway até clássicos da fase bebop, Hamasyan percorre nove composições, que vão de clássicos do bebop, como “De-Dah” ou “Big Foot”, uma composição de Charlie Parker onde entra em cena o saxofone de Joshua Redman. Entre os temas estão também êxitos clássicos como “All the Things You Are” que tem a participação do saxofonista Mark Turner. Uma das reinterpretações mais radicais e surpreendentes é dada pela participação do trompetista Ambrose Akinmusire em “I Should Care”, um tema popularizado por Chet Baker. Uma das minha faixas preferidas, que é executada apenas pelo trio, é ‘I Didn’t Know What Time it Was’, um tema que ganha uma nova vida e mostra as capacidades de Tigran Hamasyan, utilizando influências da soul e do hip-hop uma composição clássica do jazz norte-americano. A capacidade de inovar, arriscar e surpreender é aquilo que torna este disco diferente e que proporciona que em cada nova audição se descubra mais alguma coisa. Disponível nas plataformas de streaming.
JÁ EXPERIMENTARAM FRITAR ALCAPARRAS? - Há uns anos comprei um livro do grande chef de cozinha catalão Ferran Adrià, criador do famoso restaurante El Bulli. O livro, The Family Meal, tem as receitas que eram utilizadas pelo pessoal do restaurante nas suas próprias refeições. Ali há de tudo e, frequentemente, quando não sei o que fazer, começo a folheá-lo e encontro sempre alguma coisa que me agrada. É o caso desta receita. Os ingredientes são simples: massa orecchiette, pasta de tomate, alcaparras, anchovas, tomates cherry, queijo parmesão, azeite, sal, malaguetas e um pouco de manjericão. Comece por cozer a massa em água abundante, durante um pouco menos de tempo do que o indicado no pacote, e guarde um copo da água de cozedura. Escorra e reserve. E vamos ao fundamental, que é preparar o molho que vai envolver a massa. O primeiro passo é saltear em azeite duas colheres de sopa escorridas de alcaparras, antes bem secas em papel de cozinha. Coloque-as depois com um pouco de azeite no tacho onde vai cozinhar e, quando começarem a ficar estaladiças, tire-as, seque-as de novo em papel absorvente e reserve. Chegou a altura de deitar duas colheres de sopa de pasta de tomate e alho cortado em fatias finas - se não quiser usar alho, use gengibre fresco cortado de igual forma, que é o que eu faço. Por cima disto deite uns 300 gramas de tomate cherry cortado em metades e dois ou três filetes de anchova desfeitos com o garfo - guarde os restantes filetes da lata para colocar em tostas por cima de rodelas finas de pepino ou de rabanete e terá uma entrada bem boa. É nesta altura que pode deitar para o tacho um pouco de manjericão picado, duas malaguetas secas desfeitas e as alcaparras. Deixe tudo ferver uns quatro-cinco minutos, se preciso acrescente um pouco de água de cozer a massa que guardou e, no fim, misture bem no molho os orecchiette que entretanto já estão cozidos e escorridos. Envolva bem a massa no molho, em lume brando, durante dois minutos, no fim polvilhe com parmesão e enfeite com folhas inteiras de manjericão. Bom apetite.
DIXIT - “Os fanáticos e os tolos estão cheios de certezas. Os sábios estão cheios de dúvidas” - Alexandre Quintanilha
BACK TO BASICS - “Uma grande parte da intelligentsia parece completamente desprovida de inteligência” - G.K. Chesterton
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