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O estado do Estado

por falcao, em 09.06.23

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UMA INUNDAÇÃO DE DINHEIRO - Esta semana fui localizando várias notícias que se relacionam entre si e que têm como ponto comum a dimensão e o (mau) funcionamento do Estado. Aqui vão algumas: segundo o Expresso, na semana passada, o Governo ainda não tinha comprado as vacinas para crianças inscritas no Plano Nacional de Vacinação para 2023, o que produz uma situação de risco. Noutro sítio li que  apesar dos 100 mil milhões de euros vindos da Europa nas três décadas e meia que levamos de integração na UE, Portugal foi caindo no ranking dos países europeus estando agora nos últimos lugares. Depois vejo que segundo o INE, em 2021 a remuneração bruta média dos trabalhadores do Estado era de 2019 euros, enquanto no sector privado era de 1335 euros. A propósito, o economista Ricardo Arroja publicou um artigo onde coloca a seguinte questão: “será normal que o Estado pague em média mais que o sector privado, quando é o privado que produz a riqueza que paga o funcionamento do Estado?” . Se o Estado não funciona não deve ser por falta de gente, mas sim de organização e direcção: o Estado português é cada vez maior e no final do primeiro trimestre havia 745 mil funcionários públicos, um recorde absoluto que no entanto não garante técnicos em áreas essenciais. Que se passa?  José Manuel Fernandes, na sua newsletter semanal do Observador,  diz que o Estado está em semi paralisia e recorda um excerto da aula de jubilação de Miguel Miranda, o anterior presidente do IPMA:A junção entre legisladores sem experiência real de administração pública, transformação da morosidade do Ministério das Finanças em estratégia gestionária do país, e moralismos vários, conduziu o Estado a uma semi paralisia e ao esgotamento dos seus profissionais”. Termino com outra citação, desta vez de Luís Marques, no Expresso, que é lapidar:  “temos um regime em ruínas, mas inundado de dinheiro”.

 

SEMANADA - 22% da nossa população tem mais de 65 anos, o que faz de Portugal o quinto país mais envelhecido do mundo, a seguir ao Japão, Itália, Finlândia e Grécia; num ano mais de 500 pessoas mudaram de género e nome no cartão de Cidadão; três em cada quadro responsáveis da Administração Pública estão em regime de substituição por atrasos ou para evitar concursos; em maio deste ano foi atingido um novo máximo de pessoas sem médico de família: são agora 1.757.747; segundo a CAP a agricultura foi completamente esquecida no PRR; os centros educativos para reabilitação de criminosos jovens estão fechados porque o Ministério das Finanças não aprovou a admissão de técnicos de reinserção; a  procuradora geral da República, Lucília Gago, informou que a investigação do processo “Tutti Frutti” está atrasada por falta de recursos; há mais de 1600 pessoas internadas em hospitais por não terem para onde ir, mais 60% que no ano anterior; nos últimos 20 anos os salários de mil euros perderam 42% do poder de compra; em 2022 50% dos trabalhadores recebiam um salário inferior a 1000 euros e nos mais jovens a percentagem era superior a 65%; o jogo online movimentou 3417 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 35% em relação ao mesmo período de 2022; nos primeiros inco meses do ano a PJ apreendeu oito toneladas de cocaína.



O ARCO DA VELHAUm ano e meio depois da entrada em vigor do Estatuto dos Profissionais da Cultura ainda não foi pago um único subsídio de suspensão de atividade porque falta ainda fazer regulamentação do estatuto.

 

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NAS GALERIAS - Começo por uma exposição do norte-americano Matt Mullican. Coincidindo com a realização da ARCO, a galeria Cristina Guerra Contemporary Art (Rua de Santo António à Estrela 33) apresentou um conjunto de obras essencialmente feitas entre 2019 e 2023 e que ali estarão expostas até 17 de Junho. A peça que dá o nome à exposição, “Before Breakfast”, é uma série de trinta e duas fotografias, já de 2023, que nos mostra o que os olhos do artista vêem todos os dias desde o acordar até ao ritual do pequeno almoço. Muitos artistas mostram a intimidade de outros, aqui Mullican expõe a sua própria intimidade. Outra série é um conjunto de onze pequenas aguarelas feitas sobre madeira, datadas de 2020 e 2023. Na entrada da Galeria há um conjunto de peças em ferro e também telas pintadas com acrílico e pastel de óleo (como na imagem que acompanha estas linhas), datadas de entre 2003 e 2019. Um enorme telão a replicar uma bandeira e uma incursão digital numa impressão 3D completam o rol das duas dezenas de obras expostas. Vem a talhe de foice dizer que as galerias de arte contemporânea prestam um inestimável serviço público ao serem o palco de exibição da criação contemporânea em matéria de artes plásticas, mostrando obras de artistas de diversas origens e de estilos e abordagens bem diferentes. Independentemente do mérito das respectivas programações e das opções de cada galerista, lembremo-nos que esta é uma actividade comercial que garante um mercado para artistas de várias gerações e lhes possibilita exposição e notoriedade - parte do serviço que prestam ao terem a porta aberta, de forma gratuita, para quem quiser ver o que expõem. 

 

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OUTRAS EXPOSIÇÕES - O destaque desta semana vai para “Teatro Anatómico” de Maria José Oliveira, na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva até 17 de Setembro, com curadoria de João Pinharanda. Como é recorrente na obra de Maria José Oliveira, o corpo é o elemento central do seu trabalho, aqui em esculturas e desenhos. Como afirma João Pinharanda, nestes trabalhos “o corpo é mais sentido do que visto”. A exposição coloca em paralelo a colecção de desenhos anatómicos de Vieira da Silva, datados de 1927 com o trabalho de Maria José Oliveira. Retomando as palavras de Pinharanda, trata-se de “confrontar um trabalho a partir de dentro com outro desenvolvido a partir “de fora”. Enquanto em Vieira da Silva a observação é exterior, em Maria José Oliveira o corpo é mais sentido do que visto (na imagem). Ainda na Fundação Arpad-Szenes está uma exposição de fotografias de Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes, feitas pelo fotógrafo húngaro Joseph Kádar, que permite descobrir o universo pessoal e de trabalho do casal. Finalmente, na Casa Atelier Vieira da Silva a dupla Sara & André apresenta uma instalação inspirada na obra da pintora, precisamente o óleo Atelier-Lisbonne de meados dos anos 30 do século passado. Passando para outro local, na Sociedade Nacional de Belas Artes o fotojornalista Rui Ochoa apresenta até 8 de Julho  imagens do seu livro “74-99”, que compila imagens marcantes dos primeiros 25 anos de democracia, um período que parece agora longínquo e que estas fotografias permitem revisitar.

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SOBRE A EUROPA - Timothy Garton Ash é um historiador britânico que ensina Estudos Europeus na Universidade de Oxford e grande parte da sua obra centra-se na história contemporânea da Europa, sobretudo da Europa central e de leste, os seus regimes e as transformações ocorridas nas últimas décadas. Garton Ash  intitula-se um liberal internacionalista e o seu livro mais recente, “Homelands: A Personal History of Europe” teve edição original este ano e a edição portuguesa foi agora lançada pela “Temas & Debates”  com o título “Pátrias: Uma História Pessoal da Europa”. Para Garton Ash  «a Europa dos dias de hoje não pode ser entendida sem recuarmos até àquele período que Tony Judt condensou no título da sua história da Europa desde 1945: Pós-guerra.» No livro, o autor sublinha que “O período do pós-Muro da Europa não foi um tempo de paz ininterrupta. Ele foi pontuado pela desintegração sangrenta da ex-Jugoslávia, nos anos 1990, pelas atrocidades terroristas em muitas cidades europeias, pela agressão da Rússia contra a Geórgia, em 2008, pela sua tomada da Crimeia, em 2014, e pelo conflito armado subsequente e ainda em curso na Ucrânia oriental.” Já no final do livro Timothy Garton Ash vaticina que “ao longo das próximas décadas, o que a Europa fizer na sua periferia será tão importante como qualquer coisa no seu cerne”. “Pátrias” é, como o autor refere, um apelo a preservar o sonho desse projeto político a que chamamos «Europa» – e que defende os ideais de paz, liberdade e prosperidade.

 

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AS MEMÓRIAS DE DYLAN -  Dia 2 de Junho, enquanto Bob Dylan estava em Portugal nos seus aguardados concertos, foi lançado mais um novo álbum, o seu 40º trabalho de estúdio, com novas versões de 13  temas clássicos e um inédito, instrumental, que encerra o disco, “Sierra’s Theme”. O álbum chama-se “Shadow Kingdom” e retoma as canções que tocou durante uma transmissão ao vivo com o mesmo nome, em streaming, no mês de Julho de 2021, em plena pandemia. Aos 82 anos Dylan voltou ao estúdio para retomar esses 13 temas da fase inicial da sua carreira, todos com versões bem diferentes, e que são:  “When I Paint My Masterpiece”, “Most Likely You Go Your Way (and I Go Mine), “Queen Jane Approximately”, “I’ll Be Your Baby Tonight”, “Just Like Tom Thumb’s Blues”, “Tombstone Blues”, “To Be Alone With You”, “What Was It You Wanted”, “Forever Young”, “Pledging My Time”, “The Wicked Messenger”, “Watching The River Flow”e “It’s All Over Now”. Trata-se do primeiro novo disco de estúdio de Dylan desde o aclamado “Rough And Rowdy Ways”, de 2020. O disco serve de banda sonora para o filme “Shadow Kingdom: The Early Songs Of Bob Dylan” e embora não exista indicação dos músicos participantes sabe-se que aqui estão alguns velhos companheiros de Dylan, como T Bone Burnett e Don Was. Como curiosidade diga-se que este é o único disco de Dylan em que ele interpreta as suas canções com um grupo de músicos que não inclui bateria nem percussão. As versões são bem diferentes dos originais, sente-se que refletem a experiência ganha em palco ao executá-las. O disco está nas plataformas de streaming, ouçam-no que irão ter uma boa surpresa. 

 

MAU - Das 24 freguesias da capital 16 já ultrapassaram o rácio de alojamentos locais em relação a fogos de habitação permanente.

 

BOM - A Câmara Municipal de Lisboa suspendeu a atribuição de novas licenças de alojamento local no Beato. 

 

DIXIT - “O problema da direita em Portugal é não saber o que é. A esquerda sabe o que é, e sabe o que quer, mas a direita não sabe o que é (…) a direita, em Portugal, não tem um programa. Medidas, talvez; ideias, poucas; visão: zero” - Martinho Lucas Pires em oestrangeiro.blog 

 

BACK TO BASICS - “De uma escorregadela a andar pode recuperar-se depressa, mas de uma escorregadela a falar muitas vezes não se recupera” - Benjamin Franklin.

 

 

 



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