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E NO FUTURO? - O Plano Costa e Silva é-me simpático. Gosto de alguém que tem a coragem de dizer que não lhe interessa se lançar ligações rápidas de ferrovia se deve chamar alta velocidade ou velocidade alta, o que é preciso é desenvolver a ferrovia; mas não gosto de quem numa viagem de 300 quilómetros quer já começar a criar apeadeiros, como já via alguns autarcas fazerem. É este síndrome do apeadeiro, do satisfazer todas as clientelas, de fazer um favorzinho local que nos trama. A coisa complica-se porque para o ano há eleições autárquicas e a tentação da prebenda e do favor ao putativo candidato vai ser grande. Gostei de ouvir um membro do Governo dizer que antes de construir um novo aeroporto e derreter lá milhões vale a pena estudar a utilização de Beja e construir ligações rápidas para lá. Gosto de quem não aceita a fatalidade de promessas ínvias e se dispõe a olhar para a realidade. O que mais desejo ao plano apresentado por Costa e Silva é que consiga fazer alguma coisa do que lá está indicado, que não se caia no facilitismo do turismo efémero e que se pense numa estratégia consolidada de desenvolvimento, de apoio a empresas que criem valor acrescentado na produção industrial que podem fazer. Espero sinceramente que daqui a uns anos o Estado saiba onde anda o Plano Costa e Silva e o balanço que dele é feito, Recordo que o célebre Relatório Porter, que continha boas pistas, anda desaparecido nas grutas fantasmagóricas dos Ministérios, ninguém sabe (li há pouco…) onde anda o original e ninguém se deu ao trabalho de avaliar quais as propostas apresentadas que foram para a frente e com que resultado. O plano Costa e Silva precisa de investimento, já se sabe que vêm aí milhões da Europa - o meu desejo é que estes sirvam para alguma coisa de produtivo e não para encher uns quantos bolsos ou fazer obras de fachada. Como li esta semana, “aprecie-se o fado, mas abandone-se o queixume”. E olhe-se para o futuro, sem complexos nem pagamentos de promessas.
SEMANADA - No Parlamento o Governo Só respondeu a 65% das perguntas enviadas pelo partido durante este ano parlamentar, de Outubro a Julho; a Assembleia da República recebeu nesta sessão 373 sugestões de cidadãos; na sessão legislativa que agora finda o Parlamento aprovou mais leis propostas pelo PCP do que pelo PS; o Novo Branco vendeu a preço de saldo 13 mil imóveis a um fundo localizado nas ilhas Caimão e foi o próprio banco que fez o empréstimo para se fazer o negócio que gerou perdas de centenas de milhões, cobertas pelo Fundo de Resolução; a economia portuguesa perdeu, entre os meses de Fevereiro e de Maio, cerca de 183 mil empregos; cada computador utilizado para fins pedagógicos nas escolas tem de ser partilhado em média por cinco alunos; durante os primeiros seis meses do ano a receita fiscal caíu 14%; internamento médico em casa passou de 549 a 2722 entre maio do ano passado e deste ano; a polícia Judiciária estima que a lavagem de dinheiro em Portugal feita por redes internacionais duplicou em apenas meio ano; o Banco de Portugal detectou até meados de Julho 21 entidades de crédito a actuar em Portugal, mais do dobro do total registado na totalidade de 2019; em Julho foram registados mais de 2000 incêndios; um estudo recente indica que minorias étnicas ou religiosas aparecem em apenas 2% das notícias; durante o período do confinamento registou-se em Portugal menos 30% de ruído e as duas primeiras semanas de Abril foram as mais silenciosas; houve cinco grandes operações de créditos e imóveis que provocaram perdas de 600 milhões de euros no Novo Banco, uma delas envolvendo uma empresa onde anteriormente trabalhava o actual chairman do Banco.
ARCO DA VELHA - O Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra está há 11 anos a decidir se é legal uma urbanização em Carnaxide, em grande parte construída e onde já mora gente.
DOCUMENTOS FOTOGRÁFICOS - Nos últimos anos a fotografia ganhou novas formas de visualização - não só nas redes sociais, em particular no Instagram, mas também através de edições limitadas de revistas, fanzines, e livros. João Miguel Barros é um advogado e fotógrafo que divide a sua vida entre Macau e Lisboa , e também entre o Direito, organização de exposições e à edição. ZinePhoto é o seu projecto editorial, de autor, a preto e branco, cada edição dedicada a um tema autónomo. O primeiro número de ZinePhoto é dedicado à Wisdom School, no Gana. As imagens deste número integravam a exposição “Wisdom” realizada em macau em Junho de 2019. Cada número, impresso de forma cuidada em máquina plana, num grande formato (40x28,5cms), com acabamento manual, é um objecto de colecção. O número 1 teve 500 exemplares editados e o número 2 de ZinePhoto teve 300 e é dedicado a Jamestown, um bairro que data do século XVII da cidade de Accra, também no Gana, país a que João Miguel Barros se dedicou, realizando ali vários ensaios fotográficos. Detentor de vários prémios internacionais o trabalho de Barros é tipicamente focado em temas sobre os quais trabalha com persistência, como acontece nestes dois primeiros números do Zine Photo, que pode ser encontrado em Lisboa no Photo Book Corner, brevemente na Under The Cover (ambas na Marquês Sá da Bandeira) e na Stet (Alvalade).
SAMBA STREAMING - Uma das vantagens de uma playlist de uma das plataformas de streaming é pôr a coisa a tocar um par de horas, no estilo de música que escolhemos, e ficar a ouvir a música. Por estes dias a etiqueta Verve, uma das referências musicais da indústria discográfica, criou a playlist Summer Samba, disponível nomeadamente na Spotify e Apple Music, com 53 temas e mais de quatro horas de música. Aqui estão nomes incontornáveis como Astrud Gilberto, Stan Getz, João Gilberto, Edu Lobo, Sérgio Mendes, Elis Regina, António Carlos Jobim, Bebel Gilberto, mas também Diana Krall, Milt Jackson, Dizzy Gillespie, Joe Henderson, Wes Montgomery, Coleman Hawkins, Quincy Jones ou Herbie Hancock. Esta é a época em que a bossa nova se cruzou com o jazz, em que os músicos americanos descobriram os brasileiros e vice-versa. Canções como “Garota de Ipanema” em várias versões, “Corcovado”, “Água de Beber”, “Samba De Uma Nota Só”, “Águas de Março”, “O Pato” ou “Berimbau” entre muitas outras. E no YouTube podem ver alguns dos vídeos, na videoplaylist Summer Samba. Em qualquer das versões, audio ou vídeo, é grande companhia para um fim de tarde.
LISBOA FORA DAS CIDADES DA MONOCLE - A edição de Julho/ Agosto da Monocle é habitualmente um exemplar de referência, que engloba a avaliação”Quality Of Life”, um ranking de bons sítios onde se pode viver. Muito dedicado às cidades, à vida além do confinamento, ao ressurgir do comércio de rua e à descoberta de bons lugares, este número da revista dá muitas pistas para pensar. Este ano o quadro de avaliação mudou do padrão habitual e a “Monocle” foi à procura de novos projectos urbanísticos, que estão a tentar trabalhar para que as suas comunidades tenham uma vida melhor e sejam mais felizes. Lisboa deixou, portanto, de estar no ranking, já que Medina virou a cidade para os visitantes e ignorou deliberadamente as comunidades locais, os lisboetas, aqueles que vivem na cidade há décadas. Facilitou a sua expulsão e quis brincar aos legos dentro do espaço urbano. O resultado é péssimo para quem cá vive. Adiante na “Monocle” de Verão. Génova, Zurique, Estocolmo, Hamburgo e Copenhaga são destaques na Europa, Seattle e Vancouver no continente americano, e Kuala Lumpur, Bangquoque, Beirute e Nairobi no resto do mundo. Analisando a acção de responsáveis na governação de cidades a revista elogia Jose Luis Martinez- Almeida, o Alcaide de Madrid que, tendo sido eleito à direita conseguiu ganhar o apoio alargado dos madrilenos pelo trabalho desenvolvido durante o confinamento e no desconfinamento. Ora aqui estão também duas situações em que Medina não funcionou. Para o ano há autárquicas espero que se lembrem disso se por acaso surgirem candidatos que se vejam.
SALADA FRIA - É verão, está calor, o que fazer para um almoço de amigos? Conselho: comprar umas postas de garoupa (podem ser do rabo da dita), juntar uns camarões descascados (podem ser congelados) de bom tamanho, cozer a garoupa de forma a ficar consistente, reservar no frio. Em relação à alface o meu conselho é cortá-la fina, misturá-la com tomate cherry maduro cortado em oitavos, pepino aos cubos pequenos, alcaparras. Quando tudo estiver pronto e misturado, envolver o peixe os camarões já preparados e depois adicionar uma maionese - eu ultimamente gosto de temperar a maionese da hellman’s com sumo e raspas de casca de lima e também pimentão doce fumado, sal e pimenta, tudo bem misturado e em seguida envolvê-la na salada com todos os ingredientes. Aconselho a ter de lado pão torrado ou tostas para ir acompanhando. Na parte mais líquida, digamos assim, tenho a proposta de um vinho fresco, recentemente introduzido no mercado, o 100% Alvarinho 2019 de João Portugal Ramos, aromático, cítrico, com um bom final. Óptimo para combinar com uma salada fria de bom peixe. Enjoy, que o verão não dura sempre.
DIXIT - "Os clubes de futebol em Portugal não ficam rigorosamente nada atrás dos exércitos de Trump, Bolsonaro ou Modi na Índia. Os assessores passaram a ser diretores de propaganda” - Ricardo Costa, Diretor de Informação da SIC
BACK TO BASICS - “Há reuniões que são indispensáveis quando o objectivo é fazer com que nada avance” - John Kenneth Galbraith
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