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COMO TORNAR REALIDADE UM DESEJO? - A semana começou com o Primeiro Ministro a apelar às empresas para que façam aumentos de salários, pedindo  “um acordo de médio prazo, no horizonte desta legislatura, sobre a perspectiva da evolução dos rendimentos.” António Costa estabeleceu um objectivo: aumentar o salário médio em 20% nos próximos quatro anos. O mais curioso disto é que este apelo não foi acompanhado por nenhuma indicação sobre uma reforma que permita às empresas considerar esses aumentos, nomeadamente uma redução da TSU e do IRC. Traduzindo: o Governo entende que as empresas devem aumentar salários, mas não deixou abertura para reduzir impostos e taxas. Ora como a matemática não é uma coisa mística, se os custos aumentam de um lado, têm que diminuir de outro. Na anterior legislatura, sob o diktat de Centeno, o Governo promoveu uma austeridade escondida, mas dura, e persistentemente atacou a classe média. Parece que agora o PS quer dar a ideia de que pretende tratar do assunto. O começo do caminho é relativamente simples: que propõe esta maioria absoluta para compensar o aumento dos salários? Que oferece o Governo às empresas que fizerem esses aumentos? Que pode também o Governo fazer para diminuir a carga fiscal, directa e indirecta, sobre os assalariados por conta de outrem? Há outras coisas fundamentais que podem aliviar custos às empresas - por exemplo uma reforma da justiça que permita que tudo ande mais rápido e com menor despesa. Se a maioria absoluta servisse para fazer reformas duradouras em vez de discursos sobre as questões fracturantes da moda tudo seria mais fácil. Estará Costa disposto a isso para conseguir os aumentos que diz desejar?

 

SEMANADA - Um estudo recente indica que ​​Portugal é dos países com um dos maiores níveis de incumprimento das regras orçamentais europeias desde que a Zona Euro foi criada; Cavaco Silva regressou às lides para ironizar com António Costa e arrasar Rui Rio; os motores a diesel já valem menos de 20% do total das vendas de novos carros; um estudo recente indica que o apoio europeu à competitividade das PME foi pouco ou nada eficaz; o funcionamento da Assembleia da República, incluindo subvenções aos partidos políticos e grupos parlamentares, custa 24 milhões de euros por ano; em 2020 foram produzidos 5,3 milhões de resíduos urbanos; cada português produz em média 1,4 kgs de lixo por dia, ou seja 513 kgs por ano; o salário médio dos trabalhadores por conta de outrem foi de 1237 euros em Março passado, com Lisboa a ter o valor mais alto, 1506 euros e Beja o mais baixo, 990 euros; o tempo de espera para aceder a uma junta médica chega a ser de dois anos; em 2021 a PSP reguistou 810 crimes cometidos por menores de 16 anos, uma subida significativa da criminalidade juvenil em relação a anos anteriores; a dívida publica portuguesa aumentou três mil milhões de euros em Abril e atingiu o seu maior valor de sempre, 279 mil milhões de euros; desde 2018 registaram-se 55 acidentes e 13 feridos graves com trotinetes em Lisboa; um estudo de uma empresa imobiliária divulgado esta semana indica que fazer obras de remodelação em Lisboa é mais caro que em Madrid ou Barcelona.

 

O ARCO DA VELHA - O Centro Universitário Hospitalar de Coimbra enganou-se na entrega à família de uma doente que tinha tido alta e levou para casa em Arganil, uma outra mulher. O erro foi detectado pelo marido que encontrou na cama uma mulher que não era a sua.

 

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DESENHOS DE SENSAÇÕES - Entra-se na sala da galeria e vemos rostos na parede - mas não são retratos. São emoções que Adriana Molder interpretou. As figuras na parede são mais que pessoas, são imagens de  estados de espírito, expressões. Em comum têm o facto de serem todos desenhos feitos a tinta da china sobre papel esquisso, com a leve transparência a servir de pano de fundo. E pelo meio grandes desenhos, eles próprios a mostrar a impressão dos rostos. Há um rosto de mulher sobre o qual se cruzam ramos de uma árvore, na parede em frente um retrato cheio de pormenores que sugerem um mundo de fantasia e, nas paredes laterais, uma série de 21 desenhos que são mais que retratos, antes mapas de sensações. A dar o título à exposição está um desenho circular com o rosto da própria autora: um espelho, portanto, que mostra Adriana Molder a contemplar as suas outras obras. “Espelho” é a exposição de desenho de Adriana Molder, com obras feitas de 2020 a 2022 e que até 3 de Setembro está na Galeria 111, Rua Dr. João Soares 5B, ao Campo Grande. Também de desenho é a outra exposição que destaco esta semana, “Wasteland”, de Rui Sanches, que agrupa um conjunto de 25 originais de 2016, a grafite, barra de óleo e tinta de esmalte sobre papel. Destes 25 desenhos foram feitas impressões a jacto de tinta e cada uma das 25 séries foi reunida numa caixa, com todas as provas numeradas e assinadas. Cada caixa inclui um desenho original, também numerado e assinado - todos os desenhos foram inspirados pelo poema “The Waste Land” de T.S. Eliot. Cada caixa é vendida por 2900 euros. A Galeria Miguel Nabinho fica na Rua Tenente Ferreira Durão 18B.

 

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UMA INTRODUÇÃO À LITERATURA DE VIAGEM - Bruce Chatwin é o autor de um livro que foi o meu passaporte de entrada na literatura de viagens - “Na Patagónia”. Chatwin morreu cedo, aos 48 anos, doze anos apenas depois de ter publicado o relato da sua descoberta da Patagónia. Publicou nove livros entre 1980 e a sua morte precoce. O penúltimo foi a colectânea “Anatomia da Errância - Textos Escolhidos”, originalmente editado em 1989 e agora lançado em Portugal na colecção Terra Incógnita, da Quetzal. É uma excelente introdução ao génio de Chatwin e uma boa maneira de descobrir os encantos da literatura de viagens. Chatwin era antropólogo, historiador de arte, jornalista e repórter, crítico literário, e escritor de viagens. “Anatomia da Errância” reúne os vários géneros que escrevia: ensaios, artigos de jornal, pequenos contos, relatos de viagem. O livro está dividido em quatro partes: “Horreur du domicile” ou a vontade de partir à descoberta, “Histórias” que são episódios ocorridos enquanto viajava, contados com humor e espírito observador, “A alternativa nómada” que fala da sua procura de destinos pouco conhecidos, “Crítica literária” que é o que o nome indica, com alguns exercícios livres, “A arte e o destruidor de imagens” , onde descreve uma galeria de personagens extravagantes e fala da decadência da arte ocidental - uma espécie de manifesto de estética pessoal. Este “Anatomia da Errância” é a minha melhor sugestão para este início da época de férias. Viajem se puderem mas leiam este livro primeiro. Ou então levem-no convosco nas vossas errâncias.

 

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O INESPERADO COUNTRY  - Angel Olsen é uma cantora norte-americana com um posicionamento invulgar - entre o rock independente e o country, com tonalidades pop. O resultado, ao longo da meia dúzia de discos que fez, é dos mais interessantes que hoje se podem encontrar. As suas canções são crónicas de vida, a voz é intensa mas solta, vai bem com uma interpretação sem brilharetes mas emotiva. “Big Time”, o seu sexto álbum de originais desde o disco de estreia, de 2012, é  um disco surpreendente, com emoções e descobertas. São dez canções, intimistas na maior parte, gravado no ano passado numa época conturbada da sua vida, depois da morte dos seus pais e de ter tido uma relação com outra mulher durante a pandemia. Embora o disco não fale de situações concretas, é impossível não perceber os sentimentos que canções como “Big Time” ou “Go Home” transmitem. Gravado na Califórnia, com o produtor Jonathan Wilson, o disco mostra como Olsen continua a fazer da voz o instrumento principal da sua música, bem mais marcante que a guitarra Gibson de 1979, que é a sua preferida. Olsen é uma personagem relevante da música americana - trabalhou com nomes como os Wilco, Tim Kinsella ou Leroy Bach. Ao contrário de discos anteriores, mais carregados de uma sonoridade rock, este “Big Time”  é  o mais claro dos seus trabalhos, onde melhor expõe os seus sentimentos e coloca em destaque as influências country, na voz e guitarra, que em outros discos se sentiam mas eram menos presentes. A derradeira canção “Chasing The Sun” tem um humor como raramente lhe sentimos - Olsen relata como mandou à sua companheira uma mensagem, de outra sala da casa, com estas palavras: “I’m just writing to say that I can’t find my clothes/If you’re looking for something to do.” Disponível nas plataformas de streaming.

 

HORA MARCADA - Uma das coisas mais irritantes que acontece em alguns restaurantes é forçarem um hora marcada para a saída dos clientes, uma duração máxima da refeição. O raciocínio é este: queremos que venham cá jantar e deixar o vosso dinheirinho, mas queremos que se vão embora rápido para pormos outras pessoas na mesa. Vem isto a propósito de uma recente ida ao Forno D’Oro, que descaradamente se apresenta como a melhor pizzaria de Lisboa. Não é - talvez em tempos tenha sido, mas agora é mais um local sem grande história. Não me interpretem mal - o seu dono e fundador, Tanka Sapkota, é uma pessoa simpática e afável que, ainda por cima, tem uma história engraçada. Nepalês, apaixonou-se pela gastronomia italiana, e veio para Portugal onde tem estado ligado a vários restaurantes, entre eles um italiano de referência, que é o Come Prima, e o excelente Casa Nepalesa. E perto do Forno D’Oro tem Il Mercato, que tem, digamos, uma vida irregular. Além de Tanka Sapkota ser uma pessoa simpática, o serviço nos seus restaurantes é igualmente simpático. O pior, no caso do Forno D’Oro é que quando se reserva leva-se logo o anúncio de que tem que sair até às tantas horas e a hora de entrada tem ela própria limites. E, importante, as pizzas já foram melhores, sobretudo na massa. Assim sendo mais vale ir a outra pizzaria onde estas manias não existam. Este fenómeno do horário é típico dos restaurantes que não trabalham para reter a clientela, mas para rodar comensais à máxima velocidade possível.Tanka Sapkota não está sózinho - esse paraíso da pretensão e montra de exibicionistas que é o JNcQuoi pratica a mesma filosofia e numa reserva telefónica estabelece duas horas como duração máxima do jantar. Tem a agravante de o acolhimento e o serviço serem menos simpáticos. Não dá vontade nenhuma ir a sítios destes.

 

DIXIT - “A maior debilidade da nossa vida colectiva reside na justiça. A maior ameaça contra a democracia é a fragilidade da justiça” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “A criatividade exige a coragem de deixar as certezas de lado” - Erich Fromm

 




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