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O DIVÓRCIO - Quando, algures em Fevereiro, se conhecerem os resultados das eleições antecipadas, se elas ocorrerem, será bom compararmos o que agora foi dito por dirigentes do PS com a realidade que surgir. António Costa, no Parlamento, manifestou-se convicto de que poderia ter uma maioria “reforçada, estável e duradoura”. Pouco depois, na TVI, Augusto Santos Silva manifestou-se confiante na possibilidade de, após eleições, voltar à geringonça, em nova aliança com o PAN, Bloco de Esquerda e o PCP. É sempre útil saber o resultado real das profecias dos políticos. O casamento de onde nasceu a geringonça desfez-se ao fim de meia dúzia de anos, como acontece em muitos outros matrimónios. Por acaso este casamento não foi por amor, foi por conveniência. O interesse desfez-se quando o ciúme nasceu, acirrado pelos resultados das autárquicas. Aí, Bloco e PCP perceberam a extensão da sua falta de relevância no eleitorado, apagados pelo protagonismo de Costa e do PS no palco da política nacional. O PS canibalizou os partidos à sua esquerda, funcionou como um parasita que deles se alimentou até os esvaziar. Com a votação de quarta-feira o PCP espera ter adiado um problema, já o Bloco provavelmente cavou um precipício. Que acontece se o PS, como nas autárquicas, for nas legislativas o partido mais votado, mas tiver perdido votos? E se o Bloco continuar a perder eleitorado? E se o PCP não subir? O mais natural é criar-se um impasse e uma situação de ingovernabilidade. Se agora não houve orçamento, mais difícil irá ser aprovar à esquerda um orçamento depois das feridas abertas em todo este processo. E depois? Novas eleições? 2022 arrisca-se a ser um ano perdido. A menos que seja dada ao PS a possibilidade de apresentar novo Orçamento. Será possível salvar o casamento? Cabe a Marcelo ser o conselheiro matrimonial…
SEMANADA - Segundo a Ordem dos Médicos existem 1600 médicos recém-licenciados fora do SNS; ainda segundo a Ordem dos Médicos dos 59 mil profissionais nela inscritos, só cerca de 31 mil estão no SNS; em Junho de 2021 havia 1.156.000 portugueses sem médico de família e este número tem vindo a subir desde há vários anos por falta de médicos no sistema; um estudo da Universidade do Porto indica que durante a pandemia 22% das trabalhadoras da limpeza sofreram ataques de pânico relacionados com o medo de contágio e falta de equipamentos de protecção eficazes; o director nacional da PSP alertou para um aumento da intensidade da violência com que os crimes são cometidos, com recurso frequente a armas brancas; o Conselho das Finanças Públicas considera que o Orçamento para 2022 apresentado pelo Governo gera “pressões na despesa” que vão durar anos; Portugal está na 117ª posição entre os 193 países da ONU no Índice Global da Criminalidade Organizada, e o relatório sublinha que o país é ponto de trânsito e destino de tráfico de seres humanos, de tráfico de armas para África e um país de trânsito e destino no tráfico de cocaína; segundo o mesmo índice o combate à corrupção é considerado o ponto mais fraco do Estado português; o Tribunal de Contas divulgou que Portugal levou sete anos para conseguir executar apenas 60% do programa PT2020, o que leva a instituição a manifestar preocupação pela execução dos 60 mil milhões do PRR; José Maria Ricciardi anunciou querer criar um banco para regenerar o nome da família Espírito Santo;
O ARCO DA VELHA - Nenhum dos altos responsáveis militares teve coragem para assumir a responsabilidade pela proibição de cânticos nas cerimónias do Dia do Exército, nomeadamente do hino “Pátria Mãe”, dos paraquedistas, situação que motivou protestos e levou a que o Ministro da Defesa fosse vaiado.
O BARCO E O RIO - Vila Nova da Barquinha, a pouco mais de 100 kms de Lisboa, tem vindo a acolher esculturas num parque que cresce ao longo da margem do rio Tejo. A sua colecção tem obras de José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, Alberto Carneiro, Rui Chafes, Ângela Ferreira, Fernanda Fragateiro, José Pedro Croft, Zulmiro de Carvalho, Xana, Joana Vasconcelos e Cristina Ataíde. Criado em 2012 o Parque de Escultura Contemporânea de Almourol, é um exemplo raro em Portugal no campo da arte pública. Perto deste local existe a Galeria do Parque, que acolhe exposições temporárias. Ali está agora, e até finais de Fevereiro próximo, “A Memória da Água”, de Cristina Ataíde, em íntima ligação com a obra que a artista tem no Parque das Esculturas, uma peça ligada à água e que que recuperou a forma da merujona, um instrumento de pesca local, tradicional. Na Galeria , Cristina Ataíde retoma o tema da água. No texto da exposição o curador, João Pinharanda, sublinha que Cristina Ataíde cultiva “uma relação íntima com a memória das matérias primeiras: a água, mas também a terra, o ar, o fogo, a madeira, os metais… o sangue, as pedras, as estrelas, a palavra”. A peça dominante (na imagem) é um barco incompleto, o esqueleto de uma canoa, suspenso do tecto, que tem por fundo um vídeo do Rio Negro, no Brasil, onde a artista fez uma residência em 2020. Ali estão também pedaços da margem do rio, guaches, varas de remar dos barqueiros do Tejo e remos de bateira, tudo com intervenção de Cristina Ataíde, nomeadamente utilizando um dos seus materiais recorrentes, a grafite. Vale a pena ir a Vila Nova da Barquinha, descobrir o Parque e a sua galeria. Termino com a sugestão de uma visita, em Lisboa, à Sociedade Nacional de Belas Artes, onde decorre até dia 31 a quarta edição da Drawing Room, uma iniciativa dedicada a obras de desenho em papel e que agrupa o trabalho de numerosos artistas portugueses e estrangeiros apresentados por mais de duas dezenas de galerias de Portugal, Espanha e, na edição deste ano, Alemanha.
VIAGENS QUEIROSIANAS - Um livro de viagens assinado por Eça de Queiroz? Pois ele agora existe, chama-se “Outras Paragens - Uma Pequena Antologia". Estranho? O editor do livro, Francisco José Viegas, esclarece no prefácio desta primeira edição que toda a obra de Eça de Queiroz “está marcada pela omnipresença da viagem”. E sublinha: “As suas personagens viajam, no presente ou no passado; o autor viaja; as histórias dos seus romances, de “Os Maias “ e “A Capital” até às páginas fatais de “A Cidade e as Serras", estão atravessadas por viagens e evocações de viagens - de Oliveira de Azeméis e Ovar para Lisboa, de Lisboa para Sintra, de Lisboa para Paris e no sentido inverso, atravessando a Europa, lembrando os vapores, os caminhos de ferro, as estalagens, as partidas mais que as chegadas, os boulevards de Paris e os jardins de Londres”. Até aqui, na história da literatura portuguesa de viagens, o nome de Eça aparecia sobretudo devido a “O Egipto. Notas de Viagem” - apontamentos durante a inauguração do canal de Suez ou através das notas e correspondências que escreveu para a imprensa acerca de Paris, da China e do Japão, de Londres ou do Egito. “Outras Paragens. Uma Pequena Antologia” é o primeiro livro que reúne num só volume alguns dos melhores escritos de viagem e sobre viagem de Eça de Queiroz, Dividido nas áreas de “Ficção” e “Jornalismo, Crónicas e Correspondência” (para mim o capítulo mais interessante), o livro inclui 18 textos de Eça de Queiroz, sendo o último dedicado a Lisboa. E é de lá esta frase, que me deixou a pensar como podia ter sido escrita agora: “Lisboa nem cria, nem inicia; vai”. Terá que ser sempre assim?
UMA SURPRESA AMERICANA - Pela segunda vez neste ano Lana Del Rey lança um álbum. Depois de "Chemtrails Over The Country Club” surge agora “Blue Banisters” - bem diferente não só do antecessor, mas também dos seus outros discos. Claro que a voz de Lana Del Rey é por si só uma marca inconfundível. Mas neste “Blue Banisters” ela simplifica a forma como apresenta as suas canções e reforça a reputação como compositora. As baladas em que piano e voz fazem a despesa da festa, como a comovente “Arcadia” ou a intensa “Wildflower, Wildfire”, surpreendem pela simplicidade e emoção que transmitem. Numa década de carreira este é o oitavo disco de originais e agora, aos 36 anos, Lana Del Rey desligou-se das redes sociais e recolheu-se longe do bulício de Los Angeles. A capa mostra isso mesmo - ela está sentada fora de paisagens urbanas, entre os seus dois pastores alemães. E quando começamos a ouvir o disco percebemos que este álbum tem uma tranquilidade inesperada. “Black Bathing Suit” é uma canção invulgar, diferente em tudo do que ela fez antes - até na utilização da sua voz e na intimidade das palavras que usa. Este é um dos grandes momentos do disco, onde ela canta o sentido de fatalismo da solidão e da saturação sobre a forma como tem vivido. Muito mais centrado no relato do presente do que na evocação do passado, a que recorreu em discos anteriores, Lana Del Rey fez como uma interrupção na sua carreira, tomou um desvio, saíu da cidade e foi pelo campo dentro. “Sweet Carolina”, a última das 15 canções do disco, é como um abraço, daqueles que se dá a um local familiar onde apetece estar.
OUTONO RIMA COM CASTANHAS - Uma das provas da existência do outono é sentir o cheiro tentador da castanha assada a invadir as ruas, como já começou a acontecer. Esta semana já me deliciei, em casa de amigos, com um repasto outonal de borrego, batatas novas, cebolinhas e castanhas. Feito como uma tagine, cozinha lenta, para prazeres prolongados. Magnífico. Mas adiante: deixo aqui uma sugestão de viagem para os mais afoitos. Até 7 de Novembro decorre em Bragança a Semana Gastronómica da caça, pesca e castanha. 18 restaurantes da cidade participam nesta iniciativa em torno dos sabores de Outono. Pratos à base de caça, pesca e castanha vão estar a mostrar o que se pode fazer com estes ingredientes. Recordo que Bragança é o maior produtor nacional de castanha, com um impacto económico na região na ordem dos 100 milhões de euros, razão mais que suficiente para o produto ser promovido. Há muita oferta nos menus dos restaurantes aderentes, como sopa de castanhas e cogumelos, caçarola de grão e castanha com pernil fumado, javali no pote com castanhas, truta do rio com castanhas, amêndoas e presunto e, para rematar, doces como compota de castanha com queijo, tarte ou mousse de castanha. Se pesquisarem no site do Turismo de Bragança encontrarão a lista dos restaurantes e respectivos menus. Boa viagem - ou boas experiências se ficarem em casa a tentar alguma destas receitas.
DIXIT - A “geringonça” desengonçou-se. Há que remover democraticamente a sucata - João Miguel Tavares
BACK TO BASICS - “Se os computadores se tornarem demasiado poderosos e perigosos podemos organizá-los num comité, o que levará à sua paralisação” - autor desconhecido.
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