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O MANDRAKE DA POLÍTICA PORTUGUESA

por falcao, em 14.06.24

 

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SOBRE O ILUSIONISMO NA POLÍTICA -  Estava eu sossegado a seguir a noite eleitoral quando, na declaração final, Pedro Nuno Santos, todo ufano, reivindicou a vitória eleitoral nas europeias para a esquerda, não apenas para o PS. Dizia ele, logo no arranque da sua declaração, empolgado, que a esquerda tinha sido maioritária nestas eleições, iludindo a grande perda de votos dos seus parceiros de geringonça, Bloco e PC, além da perda de um mandato pelo PS, em relação às europeias de 2019. Sem pudores anunciou que, não contando com o Chega, a esquerda tinha sido vencedora no domingo passado. Eis o que ía na sua cabeça: se somarmos o resultado do PS ao BE, CDU e Livre temos um total de 45,01% dos votos; se por golpe mágico do líder do PS não se contar com o Chega e somarmos a AD à IL temos 40,1% dos votos. Portanto, tudo certo? Não - o malabarista político que dirige o PS colocou o Chega de fora das contas, porque se o somarmos à IL e à AD o total é de 49,9%. Pedro Nuno Santos passa a vida a colar o PSD ao Chega, mas quando lhe dá jeito à conversa, faz de conta que não é nada. Felizmente logo a seguir fez-se luz e percebi o raciocínio do ilusionista Santos: tão enlevado anda em votações conjuntas com o Chega que o colocou do seu lado. Assim os votos da Cheringonça de facto são maioritários, ultrapassando os 50%. Em matéria de finanças públicas já conhecia a contabilidade criativa do PS. Na noite eleitoral fiquei a saber que os seus matemáticos também são capazes de criatividade na interpretação dos resultados das eleições. Hoje em dia, mesmo quando pouca coisa me surpreende, há sempre lugar para me espantar com o descaramento de figuras como a que agora dirige o PS. Mas adiante e passemos para a Europa onde a abstenção foi de 49%, que compara com os 62,1% registados em Portugal. O balanço global na Europa é que a direita avança e a esquerda retrocede. No entanto o bloco central europeu, que agrupa populares, social-democratas, liberais e verdes, conseguiu 63% dos votos, retendo a maioria, apesar do avanço da ultradireita no tradicional eixo do mal europeu, o bloco franco-alemão, além da consolidação dos resultados que a direita obteve na Itália e na Áustria. Talvez Pedro Nuno Santos pudesse olhar para o que se passa na Europa e repensar a política de alianças do PS em Portugal.


SEMANADA - Estão referenciadas 2854 casas devolutas em Lisboa, que correspondem a 5,19% de um universo de 55.000 habitações em toda a cidade; nos últimos dez anos Lisboa perdeu 30% dos seus habitantes tradicionais; as previsões do Ministério da Educação apontam para que até final do ano se reformem cerca de 4700 professores dos vários graus de ensino; em quatro anos duplicou o número de imigrantes a trabalhar na agricultura e turismo; os alunos do secundário da grande Lisboa, Algarve e Alentejo são os que têm mais dificuldades em concluir os vários ciclos do ensino secundário no tempo previsto; entre janeiro e abril foram assaltadas 3867 casas, número que compara com os 4086 ocorridos em idêntico período do ano passado; no primeiro trimestre do ano o Estado arrecadou em impostos provenientes dos jogos online cerca de 86 milhões de euros, mais 36% que em igual período do ano passado; em Portugal a taxa de emprego de quem termina o ensino superior situou-se em 86,8% em 2023, abaixo da média europeia de 87,7%; e a Estónia, com 96,7% foi o país com média mais alta; se todos os planos industriais e de serviços  previstos para Sines forem para a frente representarão 60% de todo o consumo de electricidade feito em Portugal.

 

O ARCO DA VELHA - Nestas europeias a Comissão Nacional de Eleições quis proibir que jornalistas reportassem declarações de candidatos e que informassem sobre números de votações noutros países que estavam no site do Parlamento Europeu. 

 

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UMA COLECÇÃO  - O Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, foi distinguido pela Associação Portuguesa de Museologia como Museu do Ano em 2024. A sua Exposição de Longa Duração, reúne uma das mais importantes colecções de arte portuguesa do século XIX, ao todo 1133 peças distribuídas por 27 salas. Desde há algumas semanas o Soares dos Reis acolhe também o quadro “Descida da Cruz” (na imagem), cedido pela Fundação Livraria Lello que comprou a obra recentemente, numa feira de arte em Maastricht, depois de o Estado não ter feito nada para travar a sua saída do país. ‘Descida da Cruz’, uma pintura sacra datada de 1827, faz parte de um grupo de quatro pinturas tardias de Domingos Sequeira, executadas em Roma, onde o artista morreu em 1837. Domingos Sequeira é considerado como o mais talentoso e original pintor português do seu tempo, tendo desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento da arte portuguesa de início do século XIX. o Museu Soares dos Reis dispunha já de alguns estudos preparatórios de Domingos Sequeira para a elaboração de “Descida da Cruz”. O quadro e os desenhos referidos estão na mesma sala onde se encontram  quatro óleos e um conjunto significativo de desenhos de Domingos Sequeira, que fazem parte da colecção do Museu. Filho de um barqueiro e nascido no seio de uma família pobre, em 1768, Domingos Sequeira foi educado na Casa Pia, onde frequentou o curso de Desenho e Figura. Depois, graça a uma  bolsa real concedida por D. Maria I estudou pintura e desenho com Antonio Cavallucci, em Roma. De regresso a Lisboa foi  nomeado por D. João VI,  pintor da corte e corresponsável da empreitada de pintura do Palácio da Ajuda. Foi ainda professor de Desenho e Pintura da Família Real e, em 1806, dirigiu a aula da Academia de Marinha, Porto. Aqui está mais uma razão para visitar este belo museu do Porto.

 

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ROTEIRO -  Até 3 de Novembro, no Porto, na Galeria Contemporânea do Museu e Capela da Casa de Serralves, Sara Bichão apresenta “Lightless” (na imagem), que apresenta como uma reflexão sobre a brevidade e fragilidade da existência humana, mas também da transitoriedade dos objetos, das matérias e da própria natureza, num trabalho que explora a luz e a escuridão com curadoria de Inês Grosso. Na Zet Gallery, em Braga, (Rua do Raio 175) até 6 de Julho, João Tabarra apresenta "Teimosamente persisto em adorar a liberdade livre.", um conjunto de quinze trabalhos, alguns dos quais inéditos, que exploram as possibilidades da fotografia e da imagem em movimento, com curadoria de Helena Mendes Pereira. Na Rialto ( Rua do Conde Redondo 6), duas exposições: “Outro” com pintura e escultura de  Fernão Cruz e “Verónica” de Rita Ferreira, ambas até 19 de Julho. Na Galeria Foco, (Rua Antero de Quental 55A), pode ver até 38 de Junho “Signals from Afar” de Clara Imbert, obras em metal e pedra. Na 3+1 Arte contemporânea Maria Laet apresenta até 29 de Junho Infinita Medida, Largo Hintze Ribeiro 3. Mo Museu Nacional de História Natural e da Ciência Margarida Lagarto apresenta “Uma erva e vinte pedras bordadas” até 30 de Junho. Finalmente em Évora, no Museu nacional Frei Manuel do Cenáculo, “Devir Paisagem” é uma exposição colectiva com obras de Cristina Ataíde, Liana Nigri, Luzia Simons, Marcelo Moscheta, Marlon Wirawasu, Moara Tupinambá, Patrícia Bárbara, Pedro Vaz, Renata Cruz, Renata Pandovan, Tatiana Arocha e Vera Mantero, com curadoria de Lilian Fraiji.

 

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RELER OS LUSÍADAS - É curioso notar como, ao contrário do Governo anterior, a iniciativa editorial portuguesa, dedicou especial cuidado ao lançamento de uma série de livros, importantes, sobre Luís de Camões e a sua obra, por ocasião do quinto centenário do seu nascimento, ocorrido a 10 de Junho.  Uma dessas recentes edições é Luis de Camões - uma antologia”, preparada por Frederico Lourenço. Esta antologia permite ler as passagens mais brilhantes de “Os Lusíadas” e das “Rimas”, além de uma selecção de outros poemas. Inclui ainda uma introdução de Frederico Lourenço onde é abordado o papel de Camões no seu tempo, como a sua obra tem sido interpretada e analisada, incluindo as questões mais contemporâneas relacionadas com a interpretação política actual das descobertas portuguesas. Conhecido pelo seu romance camoniano “Pode Um Desejo Imenso” e por estudos académicos sobre Camões, Frederico Lourenço explora, com elementos novos, a velha questão da presença clássica na obra camoniana, não deixando de enfrentar o problema de como lê-la à luz das mentalidades contemporâneas. Além da introdução, Frederico Lourenço preparou igualmente um conjunto de anotações, quer a “Os Lusíadas”, quer às “Rimas” e também anotações sobre episódios da vida do poeta. O livro termina com um delicioso e curto texto de ficção onde Frederico Lourenço traça “O retrato de Camões”. Edição Quetzal.

 

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UM CONCERTO FANTÁSTICO - O trompetista polaco Tomasz Stanko morreu em 2018 e em 2004, no auge da sua carreira fez uma digressão histórica na Europa e Estados Unidos, acompanhado pelo seu quarteto habitual. Em Setembro de 2004 deu um concerto em Munique que felizmente foi gravado e durante todos estes anos esteve guardado nos arquivos da ECM, que agora o editou sob o título “Suspended Night”. O trompetista, cuja forma de tocar por vezes faz lembrar Miles Davis, tinha constituído um quarteto que além dele próprio incluía músicos 20 anos mais novos que ele acarinhava, como o pianista Marcin Wasilewski, o baixista Slawomir Kurkiewicz e o baterista Michal Miskiewicz. A gravação reproduz esse concerto  no Muffathalle de Munique ao longo de 11 temas e mais de uma hora de excelente música. Os três jovens músicos de então permaneceram juntos depois da morte de  Stanko, no Marcin Wasilewski  Trio. Qualquer destes três músicos, na altura todos abaixo dos 30 anos, tem uma papel importantíssimo nesta gravação, com o piano fornecendo o apoio musical aos solos de Stanko e a secção rítmica a desbravar caminhos. O disco agora editado a partir da gravação do concerto de Munique teve produção do próprio fundador da ECM, Manfred Eicher. Disponível nas plataformas de streaming.


DIXIT - “Há muita gente que tem uma concepção parcial da liberdade de expressão. Quem sabe se também de outras liberdades e de outros direitos” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “A sabedoria dos mais velhos é uma grande falácia: não ficam mais sábios, apenas mais cautelosos” - Ernest Hemingway


A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS

 

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