Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



06EC4164-6417-4012-8E1F-2FB8BADCE315.JPG

UM PAÍS, DOIS SISTEMAS - Não, não estou a falar da China. Refiro-me a este rectângulo à beira-mar plantado. Aqui coexistem dois sistemas: um, que regula as eleições legislativas, garante que cabe ao líder do partido mais votado formar um Governo constituído pelas pessoas que entender escolher; e outro, nas autarquias, onde o candidato mais votado tem que coexistir no órgão de governo local, a vereação, com pessoas que não escolheu, dos outros partidos - ou seja, não pode escolher uma equipa executiva que governe. Nas duas situações existe uma Assembleia - o Parlamento e a Assembleia Municipal (e a de freguesia) - que acolhem representantes dos partidos que concorreram, proporcionalmente aos resultados obtidos. E é nessas assembleias que se tomam as decisões sobre as grandes questões - desde logo o orçamento, mas também as medidas de fundo de quem governa. Temos assim, no caso das autarquias, um duplo filtro - na vereação e na respectiva assembleia - que permitem, em última análise, que o Presidente da Câmara eleito não possa aplicar o seu programa e tenha que aplicar o dos candidatos derrotados. É isso exactamente que se está a passar na Câmara Municipal de Lisboa onde o Presidente eleito, Carlos Moedas, se vê confrontado com a aprovação pela vereação de medidas que vão contra o seu programa eleitoral - foi o que aconteceu com a iniciativa do Livre que, sem estudos e por puro fundamentalismo, decidiu impôr limites de velocidade na circulação na cidade. O que isto significa é que uma minoria pode, no sistema actual, impôr a sua vontade ao representante escolhido pela maioria dos eleitores. Não se trata de pôr em causa o respeito pelas minorias, trata-se de respeitar que a vontade democrática da maioria não seja deturpada por minorias - porque é isso mesmo que está a acontecer. Ao fim de quase meio século vai sendo tempo de melhorar as leis eleitorais e adequá-las às mudanças técnicas, comportamentais e sociológicas da sociedade. A defesa da democracia também passa por aí.

 

SEMANADA - Segundo o jornal  “El País” para ir de Madrid a Lisboa de comboio são precisas quatro mudanças de composição e onze horas - nunca a viagem foi tão má desde que em 1881 foi inaugurada uma ligação directa entre as duas cidades; em Espanha o iva da electricidade vai baixar de 10 para 5%; em Portugal o consumo cresceu três vezes acima dos rendimentos nos primeiros três meses de 1922; mais de 30% dos utentes do SNS esperam por médico de família há dois anos; nos primeiros cinco meses do ano foram atribuídos mais de dois milhões de baixas médicas por doença, um aumento de 82% em relação ao mesmo período de 2021; a venda de casas a estrangeiros aumentou mais de 70% e os preços das habitações em Portugal subiram quase 13% nos primeiros três meses deste ano; a população de estrangeiros residente em Portugal aumentou em 2021 pelo sexto ano consecutivo, contabilizando agora cerca de 700 mil pessoas, mais 5,6% que no ano anterior; quase 800 mil portugueses fazem apostas on line e nos primeiros três meses do ano apostaram, 2,2 mil milhões de euros em casinos online e 370 milhões em apostas desportivas; a taxa de produtividade em Portugal é de 71,7% comparada com a média europeia; em 2021 aumentou em 60% o número de crianças em situação de risco que tiveram o seu direito à educação comprometido. 

 

O ARCO DA VELHA - Apesar de Portugal ter a terceira maior área marítima protegida da União Europeia as pescas e a aquicultura representam menos de  0,2% do nosso PIB. 

 

IMG_1032.jpg

O ENCANTO DA PEDRA - Para que serve a pedra? Entre outras coisas para deleite dos nossos sentidos - essa é a conclusão que se tem quando se visita a exposição”Primeira Pedra/First Stone”, que abriu na semana passada no Museu dos Coches,  em Lisboa, onde ficará até final de Setembro. Tudo nasceu em 2016 com o intuito de promover a pedra portuguesa, por iniciativa da Experimenta Design e da Assimagra, a Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais. Guta Moura Guedes, que comissariou toda a iniciativa e esta exposição, convidou nomes nacionais e internacionais na área do design, arquitectura e artes visuais. Como sublinham os organizadores, a “Primeira Pedra juntou a produção à criatividade através do desenvolvimento de utilizações inovadoras deste material singular”. A exposição inclui 74 obras de 36 autores, com nomes como Álvaro Siza, Amanda Levete, Carla Juaçaba, Carsten Holler, Ai Weiwei, Eduardo Souto Moura, Julião Sarmento, Marina Abramovic, Carrilho da Graça, Michel Rojkind,  Fernanda Fragateiro, Vhils, Jorge Silva, Manuel Aires Mateus. Miguel Vieira Baptista, Pedro Falcão, Peter Saville e Philippe Starck, entre outros. A exposição desenvolve-se entre os jardins do museu, em todo o espaço exterior no piso térreo e, depois, no primeiro andar, convivendo com os coches do museu, como nesta Conversadeira, a peça de Eduardo Souto Moura que está na imagem.

 

capa_vespas_portugal.jpg

LÁ VOU EU DE VESPA  -  Em 1952 o filme “Férias em Roma” mostrava Audrey Hepburn e Gregory Peck numa scooter Vespa e a scooter ganhou estatuto de estrela. Por cá a Vespa chegou em 1947, no ano a seguir à sua apresentação em Itália. Fabricada pela Piaggio, o nome evoca o zumbido do seu motor original a dois tempos. A Vespa foi o modo de transporte de gerações. Tive a minha primeira Vespa, uma 150 S, quando entrei para a faculdade no início dos anos 70 e mantive-a durante muito tempo. E hoje em dia é ainda com uma outra Piaggio que me desloco na cidade. Tudo isto vem a propósito do novo livro de Pedro Pinto - “Vespa em Portugal, a beleza em duas rodas”, editado pela Quetzal e que esta semana chega às livrarias. Pedro Pinto é autor de outros livros, como  As Motos da Nossa Vida,  Motos Antigas em Portugal e Motorizadas 50cc Portuguesas. Foi membro fundador da Federação Nacional de Motociclismo e organizou a exposição As Motos do Século, o Século das Motos e o respetivo catálogo para a Expo 98. Neste novo livro conta como a história da Vespa ao longo de 70 anos está marcada pelo cosmopolitismo, pela inovação do design e por uma cultura romântica e urbana. Neste  livro Pedro Pinto conta a história das scooters Vespa em Portugal, desde o início da sua importação, até aos anos de ouro em que foi representada pela Sociedade Comercial Guérin e, depois, as  outras empresas que se lhe seguiram a importar a marca. O livro percorre os pioneiros da Vespa em Portugal, como a história fantástica de Orquídea Graça, uma vendedora do stand da Vespa na avenida da Liberdade em meados dos anos 50 - a história de uma mulher à frente do seu tempo. Mas fala também dos rallies e passeios - alguns além fronteiras - assim como da fundação do Vespa Clube de Lisboa ou do encontro internacional Eurovespa que Lisboa acolheu em 2004. O livro foi claramente escrito com paixão e reproduz numerosa documentação fotográfica e de imagens publicitárias da marca.

 

image.png

A VOZ DA EMOÇÃO - Descobri a voz de Elizabeth Fraser nos Cocteau Twins e, depois, nos This Mortal Coil. A sua forma de cantar era emocionante e conseguia imprimir às palavras que entoava um sentimento que ainda não tinha ouvido antes. A versão que fez, com os This Mortal Coil, para “Song To The Siren”, de Tim Buckley, excede o original, transportando-o para uma nova dimensão. Agora, depois de ter passado anos sem ouvir falar de Fraser, descubro que editou um EP com Damon Reece, seu companheiro de vida, ex baterista dos Massive Attack, utilizando o nome Sun’s Signature, a designação que o duo escolheu para esta aventura. Os Cocteau Twins terminaram há 25 anos e durante este período Elisabeth Fraser manteve-se longe da ribalta durante a maior parte do tempo, tendo apenas editado dois discos. Sun’s Signature é o seu primeiro projecto em 13 anos e quando se ouvem estas canções percebe-se que a voz de Fraser mantém a magia que deixava no ar há décadas. Agora, aos 58 anos, Fraser canta de uma forma ainda mais intensa, estimulada talvez pelos arranjos envolventes que Reece fez com a participação de músicos com quem colaborou ao longo da vida, como Steve Hackett, que foi guitarrista dos Genesis. O som que sai deste EP relembra a sonoridade típica dos discos da editora 4AD, onde estavam os Cocteau Twins, os This Mortal Coil e Dead Can Dance, por exemplo. A primeira faixa, das cinco que integra este EP, chama-se “Underwater” e mostra como a voz de Fraser continua misteriosa. “Golden Air”, a segunda faixa, mostra Elizabeth Fraser a cantar sobre arranjos elaborados, num crescendo que se acentua na segunda metade do tema. Mas a minha preferida é “Apple”, intimista, tranquila, em que ao longo de sete minutos a voz de Fraser vai-se afirmando em todo o seu esplendor. Estes três temas já estão disponíveis em streaming. A edição original do EP, em vinil, inclui dois outros temas,  “Bluedusk” e “Make Lovely The Day”, bem diversas entre si. Estes dois temas estarão brevemente também disponíveis nas plataformas de streaming. Mas os 20 minutos das três faixas já disponibilizadas são uma inesperada lufada de ar fresco neste início de verão.

 

UM ALMOÇO NO CHIADO - Almoçar confortavelmente no Chiado, a preço razoável,  conseguindo escapar à fast food, não é tarefa fácil. Primeiro lembrei-me de ir à Cervejaria Trindade, mas está em obras. Depois espreitei o Bairro do Avillez mas a esplanada era dominada pela confusão e o mau cheiro de uns contentores de lixo inexplicavelmente próximos. De maneira que decidi ir à histórica Pastelaria Bénard e ver o que se passava. Pois passou-se uma boa surpresa. No interior havia sossego e um empregado simpático. Na parede um cartaz anunciava que a casa só utilizava produtos naturais e frescos, não recorrendo a pré-preparados. O balcão estava repleto de tentações. Os pratos do dia eram clássicos: pescada frita com salada russa e caldo verde. Além disso há as chamadas sopas residentes, emblemas da casa, que são a sopa de peixe e a canja de galinha. O menu tem muitas outras sugestões, do bitoque nas carnes aos filetes no peixe, passando por diversas saladas, além de uma grande variedade de salgados e de sanduíches, a que se podem acrescentar guloseimas como um excelente pastel de nata, quer no tamanho normal, quer em miniatura. Na primeira sala pode sentar-se e pedir o que lhe apetecer - por exemplo uma sopa e uma bela napolitana, esse mágico folhado com fiambre, queijo e alface. Fiz uma boa escolha - a sala da Bénard é um oásis no meio da confusão do Chiado. Fica na Rua Garrett, 104.


DIXIT - “A pior coisa que pode acontecer é adoecer ou ter acidentes em Agosto” - Graça Freitas, directora-geral da Saúde

 

BACK TO BASICS - “A dúvida não é uma condição agradável, mas a certeza é um absurdo” - Voltaire




Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 11:00



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2005
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2004
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D
  274. 2003
  275. J
  276. F
  277. M
  278. A
  279. M
  280. J
  281. J
  282. A
  283. S
  284. O
  285. N
  286. D