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UM BRINCALHÃO - Durante alguns anos tive esperança de que poderia surgir em Portugal uma nova geração de políticos mais abertos ao mundo, menos manobristas e oportunistas, mais apostados em novas formas colaborativas para além das barreiras ideológicas e, sobretudo, mais interessados em melhorar o funcionamento do país, aumentar a riqueza da economia portuguesa e melhorar as condições de vida das pessoas. Imaginei que políticos assim poderiam estar menos presos às máquinas partidárias, interessados em fazer reformas no país, na área da justiça, no sistema eleitoral, melhorando a educação e a saúde. Durante anos disseram-me que sem uma maioria absoluta era difícil mudar o estado das coisas. Temos agora uma maioria absoluta, António Costa é Primeiro Ministro há quase oito anos e desde as mais recentes eleições legislativas governa em maioria absoluta. A maior demonstração da forma como encara o País, o Estado e os Portugueses foi dada pela sua atitude no mais recente Conselho de Estado. Confrontado com críticas e reparos ao desempenho do seu Governo, remeteu-se ao silêncio. Não quis falar, não quis responder, não quis debater, não quis criar pontes, encontrar soluções. Mas criou um problema: a prova de que a sua maioria absoluta usa o silêncio para justificar a inação e esconder a falta de ideias sobre como melhorar o país. A Costa sobra-lhe em táticas manhosas o que lhe falta em estratégia e vontade de mudança. O silêncio de António Costa, maquilhado pelo sorriso sempre igual em todas as ocasiões, é o retrato de uma geração onde deixou de haver estadistas para só haver brincalhões que acham que as suas agendas pessoais valem mais que os interesses nacionais. Imaginei políticos que quisessem um Portugal melhor mas já desisti de os procurar - não compareceram à chamada. E aos poucos este rectângulo à beira-mar plantado vai-se transformando num pantanal.
SEMANADA - As exportações portuguesas registaram em Julho uma quebra de 10,6% face ao mesmo mês do ano passado e as vendas para Espanha e Reino Unido foram as que mais caíram; a tarifa social da internet só chegou a 510 das 800 mil famílias que a ela podiam aceder; 632 euros é o valor que as famílias portuguesas esperam gastar, em média, com o regresso às aulas, mais 107 euros que no ano passado; 44% dos portugueses compram produtos de marca branca nos supermercados; o retrato da execução dos fundos comunitários tem um problema estrutural de atrasos sucessivos: o programa Portugal 2020 começou em 2014, está a 4 meses do seu fim e ainda tem 2.6 mil milhões de euros por executar e sua taxa de execução é de 90,2%; quanto ao PRR já passou 36% do seu tempo de vigência mas ainda só está executado a 15,6% tendo apenas sido atribuídos 2,6 mil milhões de euros da dotação inicial de de 16,6 mil milhões; já o Portugal 2030 praticamente ainda não atribuíu verbas e só 4% da sua dotação já está em concurso; nos últimos 11 anos as escolas públicas e privadas perderam mais de 300 mil alunos dos ensinos básico e secundário; na semana passada estavam cerca de mil horários escolares por preencher, o que implicava que mais de 90 mil alunos teriam professores em falta se as aulas começassem naquela altura; uma professora que lecciona há 50 anos só agora, aos 68 anos, entrou para os quadros; entre 2015 e 2022 os salários reais dos professores caíram 1% em Portugal mas subiram 6% nos outros países da OCDE; segundo o Eurostat 1,7 milhões de portugueses não conseguem aquecer convenientemente a sua casa no Inverno e a situação portuguesa só encontra paralelo na Lituânia, Bulgária, Chipre e Grécia; há 600 médicos em falta em 16 hospitais e 23 centros de saúde; na quarta feira passada ocorreram, em simultâneo, greves de professores, médicos e funcionários judiciais.
O ARCO DA VELHA - A freguesia de Santo Amaro, na ilha do Pico, Açores, tem mais camas turísticas que residentes - 264 camas em unidades hoteleiras ou alojamentos locais e 255 habitantes.
RETRATO DE UMA LUTADORA - “Memórias de Uma Menina Bem-Comportada”, de Simone de Beauvoir, regressa às livrarias, de onde estava ausente há muitos anos, pela mão de uma nova edição da Quetzal, com tradução de Maria João Remy Freire. O diário francês Le Monde, na altura da sua publicação original, em 1959, escreveu que este livro «podia ter como subtítulo História de Uma Libertação - A revolta da menina bem-comportada tem como objetivo essencial a conquista do espaço em redor para pensar à sua maneira.» Neste primeiro dos volumes de memórias que Simone de Beauvoir escreveu, publicado originalmente dez anos após o controverso “O Segundo Sexo”, Simone de Beauvoir narra a infância, a adolescência e a juventude – as suas primeiras duas décadas, no seio de uma família burguesa, sem dinheiro ou posição. Aqui se reencontra Zaza, a sua melhor amiga durante a adolescência e a primeira idade adulta, figura central do romance autobiográfico “As Inseparáveis”, figura determinante para o seu desenvolvimento. “Memórias de Uma Menina Bem-Comportada” é um bom retrato de Simone de Beauvoir, onde vemos surgir os traços de personalidade e os interesses da pessoa em que a escritora se veio a transformar: a mulher anticonformista, ambiciosa, lutadora e socialmente empenhada. Simone de Beauvoir nasceu em Paris, em 1908, estudou Filosofia na Sorbonne, onde conheceu Sartre, companheiro de toda a vida e com quem viveu uma relação célebre pelos seus padrões de abertura e honestidade. Foi ativista no movimento francês de emancipação das mulheres, nos anos de 1970, e serviu de modelo e de influência aos movimentos feministas posteriores. Morreu em Paris, em 1986.
IMAGENS FOTOGRÁFICAS - A primeira das exposições do Imago Photo Festival já abriu e merece ser vista na Sociedade Nacional de Belas Artes. Enquanto o resto das exposições do Imago abre no fim do mês, na SNBA já se pode ver “Rethinking Identities”, que apresentam trabalhos de Maria Gruzdeva, Lois Cid Ma e Lara Jacinto. Maria Gruzdeva mostra “O Território”, um trabalho sobre como se estabelece a ligação entre os cientistas que estudam diversas disciplinas em reservas naturais de áreas remotas, no caso situadas na Rússia, focando a forma de coexistência entre o ser humano e o mundo natural. Já Lois Cid Ma, observa em “Estruturas de Fusion”, espaços em construção, fotografando-os “como se fossem um jazigo arqueológico para analisar os resíduos que ficam depois do levantamento de um edifício, relacionando-os com os entulhos gerados pelo derrubamento de antigos prédios”. Lara Jacinto apresenta “O Paraíso”, uma observação atenta que mostra os bastidores de locais que são atracções turísticas, no caso, no concelho de Lagoa, no Algarve (na imagem). A fotógrafa mostra como pessoas que vivem e trabalham nessas zonas balneares, vindas de outras partes do mundo, mantêm a sua identidade, enquanto buscam um outro futuro. Outra sugestão é “Outro Jardim Interior”, uma exposição de Luísa Ferreira e António Faria que fica até final de Setembro na Galeria de Santa Maria Maior, prosseguindo o bom trabalho que este espaço tem vindo a desenvolver na área da fotografia. Por último, Nuno Cunha, apresenta na Galeria Sá da Costa uma série de desenhos a grafite e tinta da china sob o título genérico “So Far” .
BEPOP & SWING - George Shearing foi um talentoso pianista e compositor de jazz londrino que depois de ganhar notoriedade no Reino Unido desenvolveu uma extensa carreira nos Estados Unidos, sendo o autor de temas como “Lullaby Of Birdland” e “Conception”, por exemplo. Agora , em sua honra, foi editado o disco “Shear Brass: celebrating Sir George Shearing”. A Shear Brass é um agrupamento que junta alguns dos melhores instrumentistas de jazz britânicos, dirigido por um sobrinho neto de Shearing, o baterista Carl Gorham. Para este disco James McDermid escreveu onze arranjos novos de composições de Shearing , interpretados por ele próprio e por Chris Storr (trompete), Pete Long (clarinete, e saxofone), Alistair White (trombone), James Pearson e Simon Wallace (piano), Anthony Kerr (vibrafone), Alec Dankworth e Arnie Somogyi (baixo), Carl Gorham (bateria), Satin Singh (percussão) e Sarah Moule, Louise Marshall e Romy Sipek (vozes). Os novos arranjos de McDermid mostram a forma como Shearing apreciava o bebop e a forma como tocava piano, cheio de swing. Ouçam as versões de “Let There Be Love” (o único dos temas que não foi composto por Shearing) ou “Lullaby Of Birdland” na voz de Romy Sipek. As sonoridades do bebop estão bem presentes em “Conception” e é curioso o contraste com um tema escrito um ano antes, “The Fourth Deuce”. Outros destaques vão para “Children’s Waltz”e a balada “Midnight Mood”, cantada por Sarah Moule. Disponível nas plataformas de streaming.
A ARTE DA TOSTA CASEIRA - Por acaso já apanharam grandes irritações numa tostadeira, com o pão a colar-se às placas e o queijo espalhado por todo o lado? Pois graças ao admirável mundo digital descobri a solução para o problema e é a coisa mais simples do mundo. Basta ter à mão um pedaço de papel vegetal, daquele que se usa para ir ao forno. Corta-se à medida das duas placas abertas da tostadeira e dobra-se ao meio. Quando quiser fazer uma tosta basta colocar o pão por cima do vegetal e cobri-lo com a outra metade, fechando a tostadeira. Assim nada cola nem nada fica a deixar restos pelas placas. Agora que já aprendeu o truque, mãos à obra: corte duas fatias de pão de forma de Rio Maior, com cerca de um centímetro de espessura cada uma. Barre cada uma delas com chutney de manga, corte várias lascas finas de queijo da ilha para fazer duas camadas, uma por cima de cada fatia de pão, e, numa delas, rodelas finas de pepino fresco por cima do queijo. Fecha-se a sanduíche, coloca-se na tostadeira já quente, com uma folha de papel vegetal por baixo e outra por cima, fecha-se e deixa-se ficar dois a três minutos, conforme o gosto de cada um. Vai ver que no fim tudo é mais fácil quando levar a tosta para um prato e a cortar ao meio na oblíqua, de canto a canto, sem se queimar nem ver a tostadeira toda suja. Bom apetite.
DIXIT - “Quando vejo esta gente querer julgar a História pelos dias de hoje, vendo apenas o mal e não também o fantástico, dá-me vontade de lhes perguntar porque não experimentam embarcar numa coisa parecida com aquilo a que então chamavam naus e tentarem chegar vivos às Berlengas” - Miguel Sousa Tavares
BACK TO BASICS - “Quem não sabe nada de ciência não devia intervir na política” - Richard Roberts, Prémio Nobel da Medicina
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