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OITO ANOS DE ESCORREGA

por falcao, em 22.09.23

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A AMBIÇÃO - O destaque político da semana vai para a observação do corpo humano. Passo a explicar: os casos que movimentaram maior rebuliço mediático foram o decote comentado pelo Presidente da República e a eventual remoção da estátua de Camilo Castelo Branco envolvido por um corpo desnudo. Isto por si só dá conta do estado da nação. Soube, por um artigo de António Barreto, que existem mais de uma centena de observatórios no país que são supostos seguir e aconselhar nas mais diversas áreas. Depois desta semana proponho que se crie mais um: o observatório da nudez. E já que estamos nisto, talvez não seja pior criar outro observatório dedicado a inventariar os subsídios e gratuidades que se vão estabelecendo para dar a impressão que os políticos se preocupam com as pessoas e tomam medidas. Claro que com estes dinheiros que vão espalhando faz-se propaganda, pescam-se talvez uns votos, mas sobretudo esta política assistencialista evita aquela maçada que é tomar medidas de fundo que vão à raiz dos problemas,  fazer reformas e definir estratégias para que o país saia da cauda da Europa. Oito anos de Governos liderados por António Costa e há tanta coisa a funcionar mal que vale a pena perguntar quem está mal - o país ou quem manda nele? Acabo a citar João Miguel Tavares que esta semana recordou que a única ocasião em que o PS cultivou uma ambição transformadora para Portugal foi com Mário Soares. Com Costa essa ambição esfumou-se. E assim fomos deslizando para a cauda da Europa. Um escorrega que leva já oito anos,  entretidos que estamos com decotes e estátuas de nus.

 

SEMANADA - Os norte-americanos são já a terceira nacionalidade mais relevante do turismo em Portugal; os proveitos totais do turismo cresceram 31,8% no primeiro semestre, para um total de 2,5 mil milhões de euros;  desde o início do ano, foram registadas no Portal da Queixa 2.690 reclamações relacionadas com o sector da saúde, um aumento de 27%, face ao ano passado; obstetrícia e pediatria são as especialidades com o maior volume de reclamações;  no verão deste ano as maternidades da região de Lisboa fecharam quatro vezes mais dias que no mesmo período do ano passado; o preço dos quartos para estudantes aumentou mais de cem euros por mês em 11 concelhos; no final da primeira semana de aulas ainda existiam 85 mil alunos sem professor a pelo menos uma disciplina; um estudo da Universidade do Minho indica que há cerca de cem mil adultos em Portugal com comportamentos problemáticos com raspadinhas, dos quais cerca de 30.000 apresentam perturbação de jogo patológico;  Portugal é o país com maior gasto per capita em lotaria instantânea, dez vezes mais do que os espanhóis, mais do dobro da média europeia; um estudo divulgado esta semana indica que Portugal é o terceiro país europeu que perdeu mais ferrovia; a rede ferroviária portuguesa diminuiu 18% entre 1995 e 2018, o terceiro maior declínio entre um grupo de países que inclui a União Europeia a 27, o Reino Unido, Noruega e a Suíça; no sector agrícola há mais de 1200 taxas; a subida das taxas Euribor em agosto elevou a taxa de juro dos novos empréstimos à habitação para o valor mais elevado em mais de 11 anos e actualmente, 57% da prestação da casa são juros; segundo o INE  o indicador de actividade económica em agosto caiu para o nível mais baixo desde o final de 2022. 

 

O ARCO DA VELHA - A modernização da linha ferroviária da Beira Baixa, entre Pampilhosa e Vilar Formoso, principal via férrea de ligação à Europa, já dura há 50 meses e está a demorar mais tempo a ficar pronta que a sua construção no final do século XIX, que levou 46 meses.

 

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IMAGENS DE GUERRA - Quase 600 dias depois da invasão da Ucrânia pela Rússia a exposição que a galeria Narrativa inaugurou é um testemunho da brutalidade desta guerra e uma homenagem à resistência. Intitulada “Ucrânia: Um Crime de Guerra”, esta exposição mostra o trabalho de alguns dos melhores fotojornalistas mundiais, vários deles ucranianos, que aparecem em destaque. A exposição parte do livro homónimo publicado pela editora  FotoEvidence, uma obra que reúne o trabalho de 93 fotojornalistas de 29 países, e que está disponível para venda na Narrativa (Rua Dr. Gama Barros, 60 - de quarta a sexta entre as 14 e 19h e sábados entre as 14 e as 17h ), onde a exposição fica patente até 28 de Outubro. Daniel Berehulak, Fabio Bucciarelli, Ron Haviv, Eric Bouvet, David Guttenfelder, Finbarr O'Reilly, vencedores de múltiplos World Press Photo, são alguns dos autores com fotografias patentes na exposição, destacando-se ainda o trabalho de Carol Guzy, vencedora de quatro prémios Pulitzer, e de Evgeniy Maloletka, fotojornalista ucraniano vencedor da fotografia do ano do World Press Photo e do Prémio Pulitzer de 2023 (na imagem) e que é exposta pela primeira vez em Portugal. A Narrativa é uma galeria dinamizada por Mário Cruz, fotojornalista, e que tem tido um assinalável papel na fotografia em Portugal nos últimos anos. Outra exposição de fotografia a não perder está na galeria Bruno Múrias, “Guiné-Bissau 1990”, de António Júlio Duarte, que ficará até 11 de Novembro (Rua Capitão Leitão 10). Também esta exposição é acompanhada de um livro, com o mesmo título, editado pela Pierre Von Kleist.

 

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OUVIR DE NOVO  - Editado originalmente em 1977, “Pharoah” é um dos discos marcantes da carreira do saxofonista Pharoah Sanders e foi editado originalmente numa pequena editora independente, India Navigation. Embora tivesse tido pouco impacto quando foi lançado, “Pharoah” tornou-se uma espécie de objecto de culto entre os apreciadores de jazz. A sua reedição, que agora surge, é apresentada numa magnífica caixa, com um pequeno livro com ensaios sobre a obra do músico e fotografias e é uma oportunidade para redescobrir o trabalho - disponível também nas plataformas de streaming. A reedição actual é da Luaka Bop, a editora fundada por David Byrne, e respeita o formato original do disco que tinha apenas três composições, todas originais de Sanders. O lado A do LP era preenchido integralmente pelo tema “Harvest Time”, ao longo de cerca de 20 minutos, e no lado B do vinil estavam dois temas, “Love Will Find A Way” e “Memories of Edith Johnson”. A reedição respeita  o som original, um obra crua e simples que parece gravada em casa - na realidade a gravação foi feita no edifício de uma antiga fábrica onde Bob Cummins, um advogado que foi o fundador da India Navigation, vivia com a sua família. Esta gravação quase amadora acaba por ser bem adequada, em ambiente e atmosfera, ao que Pharoah na altura queria fazer. A seu lado, em Harvest Time, tocaram o guitarrista Tisziji Muñoz e o baixista Steve Neil. A faixa seguinte, “Love Will Find  a Way” é  um tema a que Pharoah voltaria várias vezes ao longo da sua carreira e tem a particularidade de mostrar Sanders a cantar, de uma forma completamente descontraída, mas emocional. É aqui também que entram pela primeira vez no disco percussões. Finalmente a terceira faixa, “Memories Of Edith Johnson”, inclui o som marcante de um teclado e é uma homenagem à tia do músico, que teve um papel na sua educação musical e cuja forma de cantar ele admirava.

 

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A TOLERÂNCIA - Esta semana, com as peripécias que se conhecem, não encontro melhor leitura para sugerir que um estudo sobre a perseguição à liberdade de espírito. Trata-se de “Castélio Contra Calvino - ou uma consciência crítica contra a violência”, numa obra de Stefan Zweig, editada originalmente em 1936 e que agora conhece a sua primeira edição em Portugal pela mão da Assírio & Alvim. O livro narra a história de Sebastião Castélio, que alimentou uma das grandes polémicas do século XVI, quando se opôs a João Calvino e o acusou de fanatismo e homicídio. Trata-se de um louvor à tolerância e uma crítica directa à guerra. Sebastião Castélio interpôs-se no caminho de João Calvino e na sua tentativa de educar os cidadãos de Genebra pela lei da força. Partindo das lutas entre protestantes no século XVI, Stefan Zweig reflete sobre os perigos dos nacionalismos e o terror desencadeado por um homem só. A tradutora, Sara Seruya, sublinha que este é um «grande ensaio contra o fanatismo e o totalitarismo, o qual relata episódios sangrentos relacionados com lutas intestinas entre facções dos adeptos da Reforma protestante desencadeada por Martinho Lutero». Stefan Zweig nasceu a 28 de novembro de 1881 em Viena e é um dos mais importantes autores europeus da primeira metade do século XX. Dedicou-se a quase todas as atividades literárias: foi poeta, ensaísta, dramaturgo, novelista, contista, historiador e biógrafo. De ascendência judaica, empreendeu em 1934 um exílio voluntário da Áustria e viveu na Inglaterra, nos Estados Unidos da América e no Brasil, onde viria a morrer em 1942. São dele, e deste livro, estas palavras:  “os verdadeiros heróis da humanidade não são os que edificam os seus reinos efémeros sobre milhões de sepulturas e existências destroçadas, mas sim, precisamente, aqueles que, opositores da violência, a ela sucumbem”.



SOBREMESA - Uma das melhores sobremesas que me podem oferecer nesta altura do ano é um prato de uvas moscatel, acompanhadas por queijo bem curado, de preferência queijo da ilha cortado em fatias finas ou, melhor ainda, um Serpa bem duro, em lascas. A conjugação do doce da uva com o salgado do queijo é uma sensação especial. Queijos curados funcionam bem neste registo de contraste de sabores e consistências. Outra possibilidade, a que recorro fora do tempo das vindimas, é combinar o queijo com marmelada fresca. Esta conjugação nem deve ser acompanhada por pão - que não vem aqui acrescentar nada. Há quem use, em vez de marmelada, a goiabada brasileira - e admito que também é uma boa combinação. Para rematar estas coisas há sempre mais uma incontornável combinação: requeijão do sério, acompanhado por doce de abóbora. É espantoso como a simplicidade destas combinações pode proporcionar um final de refeição que é uma explosão de sabores - mais ainda se for acompanhado de um Vinho do Porto Tawny de 20 anos. Recomendação final: nunca ousem acompanhar o queijo por bolacha tipo cream craker. Quanto muito, se tiver que ser, um pão de mistura bem cozido, cortado em fatias muito finas.



DIXIT - “Em Portugal, a atividade mais entusiástica entre os políticos e a sociedade em geral é o impasse. Há sempre um factor impeditivo, e é um alívio quando pára tudo” - André Jordan.

 

BACK TO BASICS - “Para uma empresa, a marca é como a reputação para uma pessoa. E a reputação constrói-se a procurar fazer bem as coisas” - Jeff Bezos





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