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O calor era imenso. Todos o sentimos nestes dias. O sol escaldava desde bem cedo e, mesmo quem gosta de calor, sentia-se incomodado. Pessoalmente creio que, mais que o frio ou o vento, é o calor o que mais perturba. Tolhe o raciocínio, corta-nos os movimentos, faz-nos parecer pasmados. Há no entanto três coisas que nos podem animar no tempo quente: aquele momento do dia em que a luz começa a desaparecer e sopra uma brisa, as árvores que nos abrigam e água no horizonte. O fim da tarde à beira de um rio é nestas alturas a melhor coisa que pode acontecer. A luz muda de figura, desenham-se as sombras e os meios tons, atenua-se o contraste da luz dura e brilhante, o rio é um espelho que reflecte as margens. E é nestas alturas que me vem à memória, cada vez mais nestes dias, estas palavras de Bertolt Brecht: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ mas ninguém diz violentas as/ margens que o comprimem”. Nestes dias da brasa, de calor intenso e em que o mundo salta de confusão em convulsão, lembro-me sempre do poema de onde estes versos são tirados, “Sobre a Violência”, escrito no final dos anos 30 do século passado quando o mundo começava a sentir a agitação que levaria a uma guerra mundial. Fico a pensar nisto enquanto olho para esta paisagem, que descobri nas Portas de Ródão, onde o Tejo se mostra e vence as margens.
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