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GREVE & CONSEQUÊNCIA - Em que estação do ano estamos? Se disserem Inverno enganam-se redondamente. A estação do ano em que estamos é o primeiro trimestre pré-eleitoral. Temos ao todo três pela frente, portanto imaginem o que aí vem a seguir. Todas as semanas são publicadas notícias airosas sobre as boas intenções do Governo para com os funcionários do Estado - desde a antecipação das reformas até  aumentos garantidos em 2020, convenientemente anunciados para depois das eleições legislativas. Diversos ministros compram resmas de maquilhagem que aplicam indiscriminadamente para tapar os diversos buracos e para tentarem melhorar o visual. Pelo meio de tanta promessa, há, no entanto, um contratempo. O PCP quer negociar com as armas que tem à mão - que como se sabe têm o seu expoente nas greves que vão sendo realizadas e anunciadas. O que aconteceu de mais curioso nestes últimos dias foi a coincidência entre o incrementar do ciclo grevista por sindicatos do universo CGTP e o surgimento de notícias sobre actos de gestão suspeitos em autarquias dirigidas pelo PCP. Este é um dado novo - não a ocorrência de moscambilhas, mas o seu anúncio público, a sua divulgação, metódica, precisa, a conta gotas, a deixar alastrar suspeitas. É uma espécie de aviso: se continuarem a encravar o futuro da geringonça, alguém põe a boca no trombone sobre o que foi acontecendo ao longo dos tempos e que esteve guardado para os malfeitores de direita não se aproveitarem. Cabe aos guardiões do poder da esquerda gerirem o ritmo das revelações. E se bem conhecemos a espécie hão-de estar cheios de sumarenta investigação. Caíu o manto diáfano da fantasia que garantia que no universo do PCP não há nada de reprovável. Aos poucos a verdade vai vindo ao de cima. Aposto que ainda surgirá com maior intensidade se as greves continuarem a aumentar. São estes os efeitos colaterais das greves. Há um odor a podridão no ar. Por todo o lado.

SEMANADA - Entre 2000 e 2018 Portugal foi ultrapassado pela Estónia, Lituânia, Eslováquia, Eslovénia, República Checa e Malta, em termos de rendimento por habitante, face à média europeia; segundo o Forum para a Competitividade, Portugal baixou de um rendimento de 84% da média europeia, em 2000, para apenas 74% em 2018; os imigrantes em Portugal que mais regressam ao país de origem são os brasileiros; a Câmara de Braga viu as suas contas penhoradas por uma dívida de 3,8 milhões de euros à Soares da Costa, relativa à construção do Estádio concebido por Souto de Moura para o Europeu 2004; o custo previsto do estádio era de 65 milhões de euros e o custo final foi de 180 milhões; a PSP e a GNR detectaram mais de um milhão de condutores em excesso de velocidade ao longo de 2018; um poema falsamente atribuído a Sophia de Mello Breyner tornou-se viral nas redes sociais e foi inclusivamente traduzido em várias línguas; o Facebook fez 15 anos; mais de 10% dos dentistas portugueses exercem no estrangeiro e afirmam não querer voltar; em dois dias da greve dos enfermeiros ficaram por realizar 645 cirurgias; a média de idades dos carros em circulação nas estradas portuguesas é de 21,6 anos; no ano passado o INEM registou 20 mil chamadas falsas que accionaram 7500 viaturas de urgência do serviço; um saco com seis granadas de mão foi encontrado na Rotunda dos Combatentes em Tábua; num ano o Estado apoiou 18 orfãos de violência doméstica; 85% dos casos reportados de violência doméstica não resultam em acusação; o secretário de Estado da Energia afirmou que o Governo “não tem planos para proibir o diesel” dias depois do Ministro do Ambiente se ter pronunciado pelo fim dos carros a gasóleo; Portugal apresentou, em 2017, a menor percentagem de crianças até aos 16 anos em bom ou muito bom estado de saúde (90,2%) da União Europeia,

 

O REI DO DESCARAMENTO - É oficial: votem em Costa que ele promete dar aumentos a toda a função pública em 2020 se continuar Governo após as legislativas  deste ano.

 

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O AMOR EM 366 POEMAS - Vasco Graça Moura era, além de tudo o resto, um coleccionador de poemas. E um grande tradutor. E ele próprio um poeta. Em 2003 atirou-se à tarefa de organizar uma antologia de poemas e escolheu 366 sobre o tema do amor  - o número foi estabelecido tendo em conta os anos bissextos. Na introdução Vasco Graça Moura escreveu que partiu “do princípio de que, sempre ou quase sempre, cada poema de amor seduz por si e vale por si e em si, sem prejuízo das inúmeras relações que, como texto literário, ele possa estabelecer com outros textos, com outras áreas da criação artística e com a nossa própria experiência humana”. Para este colectânea, agora reeditada pela Quetzal, Vasco Graça Moura seleccionou poetas portugueses, poetas brasileiros e uma série de poemas de autores de diversas nacionalidades que ele próprio traduziu para português. “366 Poemas Que Falam de Amor” é o título desta colectânea que em cerca de 560 páginas nos transporta ao universo da escrita sobre a paixão. “Amor não há feito”, destaca Vasco Graça Moura, citando Alexandre O’Neil. “Quem não me deu amor, não me deu nada” - escreveu Ruy Cinatti em “Linha de Rumo”, um dos poemas seleccionados por Vasco Graça Moura. E, já que o dia dos namorados está ao virar da esquina, deliciem-se com a possibilidade de oferecer estes “366 Poemas Que Falam de Amor”.

 

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DAVID LYNCH EM REVISTA - A “Zoetrope-All Story” é uma revista criada por Francis Ford Coppola para promover narrativas que possam aproximar-se da ideia de argumentos para filmes. A revista, que se publica quatro vezes por ano desde 1997, é frequentemente entregue pelos editores na mão de um nome de alguma forma ligado ao cinema. A edição mais recente, marcada como Inverno 18/19, foi colocada nas mãos e na imaginação de David Lynch. A frase que escolheu como nota introdutória diz tudo: “ Não sou já tão rápido como costumava ser, mas não desisto”. A Zoetrope All Story ganhou o National Magazine Award for Fiction em 2018, apresenta-se como uma publicação que só existe em papel e propõe ser o veículo para bons contadores de histórias e designers gráficos inesperados. Lynch cumpre nesta edição os dois papéis. A escolha de fotografias e ilustrações é perturbante, a maioria dos textos aguça o apetite para o que se poderia filmar a partir deles e. depois, há uma secção recorrente, de recuperação de textos antigos que desta vez é dedicada a “The Discipline of DE”, de William S. Burroughs, com nota introdutória de Gus Van Sant. A sério que se lembram de algo mais inesperado que isto? Pode ser encomendada na Amazon.

 

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AS NOVAS AVENTURAS DE JAMES BLAKE - Ao quarto disco James Blake mostra uma nova faceta - menos negra, mais optimista, de certa forma mais próxima. Continua confessional - afinal é esta a imagem de marca das suas canções. “Assume Form” é uma longa carta de amor de Blake a Jameela Jamil, a sua namorada, uma DJ conhecida na rádio britânica, argumentista e até actriz que tem tido uma carreira meteórica. Com este “Assume Form” Blake desvenda as suas relações, as suas emoções, a forma como vê o sexo, até  se aventura por uma perspectiva um pouco cínica da ideia de romance. A faixa final , “Lullaby For My Insomniac” é talvez a que melhor retrata este novo Blake, quando canta “I’ll stay up too/I’d rather see everything/As a blur tomorrow/If you do.” Já na faixa inicial ele tinha-se afirmado “I will be touchable/I will be reachable”. Do ponto de vista musical o disco mostra um compositor cada vez mais depurado, em muitos momentos a ficar perto do gospel, criando ambientes sonoros envolventes. Blake, que para além dos seus discos é um produtor musical de créditos firmados. assegurou colaborações de nomes como Travis Scott e de Metro Boonin, um dos mais reconhecidos nomes do hip hop. Outra curiosidade é a participação de Rosalia, a espanhola que está a trazer o flamenco para a primeira linha da pop, e a quem Blake presta o seu reconhecimento e manifesta o seu claro apoio. Resumo: “Assume Form” é talvez o melhor disco de Blake e um salto em relação à sua produção anterior. CD Universal, disponível no Spotify.

 

UMA BELA PROVA NO RESTELO - Esta semana, em duas ocasiões, fui tapear à noite - quer dizer, petiscar. Nada de jantar a sério, dois dedos de conversa entre amigos enquanto se trinca qualquer coisa. Vou começar pelo que correu mal - péssimo mesmo. No Bar de Tapas do El Corte Inglés nada esteve verdadeiramente bem e o serviço esteve verdadeiramente mal. É local a riscar - tenho saudades do 5Jotas que existia no topo do grande armazém e que era o contrário disto. Agora passemos ao que correu bem. Muito bem mesmo - uma descoberta. Trata-se da Enoteca Prova, no Restelo. Petiscos primorosamente preparados na hora, um serviço atento e simpático, a saber aconselhar, sempre disponível. para além da muito boa qualidade da matéria prima destacou-se a confecção de tudo o que se petiscou - do torricado às favinhas, passando por uma tábua de enchidos e queijos. Tudo acima da média. O local dispõe de uma ampla selecção de vinhos a preços honestíssimos e de uma zona de produtos diversos - bolachas, biscoitos, compotas, queijos, enchidos. Enquanto às tapas do  El Corte não voltarei, aos petiscos da Enoteca Prova regressarei sempre que possível. Fica na Rua Duarte Pacheco Pereira nº9-E, no Restelo, perto do célebre Careca. O telefone é o 215819080 e vale a pena marcar que os lugares não são muitos.

DIXIT - “Quando pela rua contacto os portugueses não peço o cadastro criminal, o cadastro fiscal, nem o cadastro moral” - Marcelo Rebelo de Sousa, em nota da presidência sobre a visita ao Bairro da Jamaica.

 

BACK TO BASICS - “Experiência é o nome que as pessoas dão aos seus erros” - Oscar Wilde.

 





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