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COMEÇOU O PERÍODO ELEITORAL - Passemos por cima do caso de diversão da semana que foi o topless presidencial.  Portugal tem certamente o maior número de casos de presidentes da república que se prestam a criar oportunidades fotográficas a subir a coqueiros, em calção de banho ou de tronco nu. Adiante nas distracções, vamos ao que interessa. Esta semana marca o início de um ciclo eleitoral com as eleições regionais dos Açores e Madeira, depois virão as presidenciais e, lá para o final do próximo ano, as autárquicas. Entrámos pois de facto num período de campanha eleitoral que se estende por um ano e não me consta que os protagonistas do assunto tenham tido vontade de aperfeiçoar o sistema político, o funcionamento dos partidos nem os processos eleitorais propriamente ditos. Com a abstenção nos números que se conhecem, ainda para mais numa conjuntura de pandemia, seria desejável que, em vez de se mostrar, o Presidente da República promovesse um debate sério sobre o assunto. Ao longo dos anos de exercício deste seu mandato não o fez, e é pena. É porventura a maior lacuna da sua actividade e, se as selfies ficam para a história, também a relutância de Marcelo Rebelo de Sousa em mudar o status quo ficará. Alguns países, como a Nova Zelândia, a Alemanha ou regiões do Reino Unido usam um sistema eleitoral misto em que cada eleitor dispõe de dois votos - um nominal para escolher o representante para o órgão a eleger e outro para indicar um partido político que considerem dever estar representado - pode nem ser o mesmo do candidato. Os lugares são preenchidos primeiro pelos candidatos mais votados e depois, os lugares sobrantes, são divididos pelos partidos concorrentes de forma proporcional aos votos obtidos a nível nacional ou regional. Assim os votos não se dirigem só a partidos políticos, mas a pessoas concretas e evidentemente que é mais fácil renovar os protagonistas políticos. O sistema tem a vantagem de privilegiar a confiança dos eleitores nos candidatos, em vez de se entregarem às máquinas partidárias. Temos ainda um longo caminho a percorrer, mas é sempre altura de o iniciar.

 

SEMANADA - Nos últimos cinco anos saíram do INEM 250 técnicos e as principais razões são os baixos salários e o risco na actividade, que levam muitos a abandonar logo no período experimental; 55% dos novos desempregados são trabalhadores precários; no Algarve o desemprego subiu 123%; no verão deste ano foram registados em Portugal menos 137 mil voos que no mesmo período do ano passado, uma quebra de cerca de 60%; quase 40% das empresas do distrito de Aveiro sofreram paragens devido à pandemia; o programa de acesso à habitação lançado pelo Governo há dois anos só executou 8% das verbas disponíveis; empresas chinesas de máscaras e equipamento hospitalar foram as principais fornecedores de serviços de saúde oficiais portugueses durante a pandemia; 253 ventiladores importados da China ainda não foram distribuídos aos hospitais do SNS porque aguardam inspecção; segundo a Marktest mais de quatro milhões de portugueses ouvem música online, com o YouTube em primeiro lugar e o Spotify em segundo a serem as plataformas mais usadas; a maioria dos contágios verificados em estabelecimentos do ensino superior foram causados por festas relacionadas com o programa Erasmus; cinco profissionais de saúde sofrem agressões todos os dias; o diretor nacional da Polícia Judiciária admitiu ter poucos inspectores e peritos para combater eficazmente a corrupção; a Câmara Municipal de Trofa é acusada de ter gasto quase 75 mil euros em votos telefónicos num concurso da RTP para eleger os Santeiros de S. Mamede do Coronado como uma das “7 Maravilhas da Cultura Popular”.

 

ARCO DA VELHA  - No serviço de Psiquiatria do Hospital de Viseu foram detectados ratos e serpentes.

 

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OUSADIA E TALENTO - A mais surpreendente e disruptiva exposição que me foi dado ver nos últimos meses está na Galeria Valbom , KWZero, feita pelo colectivo com o mesmo nome constituído por Manuel João Vieira, Pedro Portugal e Pedro Proença. O título é um tributo aos artistas do grupo KWY dos anos 50/60 do século XX e à Alternativa Zero, de Ernesto de Sousa. Vieira, Portugal e Proença são companheiros de longa data em aventuras como o Movimento Homeoestético. Nesta exposição, que se estende nos dois pisos da Valbom, são apresentados mais de seis dezenas de  objectos, esculturas, instalações, desenhos, aguarelas, fotografias, pinturas e videos, que na inauguração foram complementados por uma performance. Manuel João Vieira, Pedro Proença e Pedro Portugal, em nome próprio ou com as identidades alternativas que escolheram, complementam-se, não só na linguagem visual que cada um utilizou, mas também na abordagem criativa que desenvolvem. entre o humor e a provocação. As obras são desafiantes muitas vezes mas nunca desprovidas de sentido nem meramente exibicionistas ou gratuitas. Em paralelo com as intervenções e criações mais provocadoras estão trabalhos que mostram o talento e a criatividade de Manuel João Vieira,  Pedro Portugal ou Pedro Proença, desde quadros de grandes dimensões a óleo, até  esculturas e uma série de aguarelas, muitas das obras com um sentido de observação do presente, evocando mesmo, por exemplo, a  linguagem visual contemporânea de símbolos como os emojis. A exposição fica patente até 12 de Dezembro na Galeria Valbom, avenida Conde de Valbom 89A, entre as 13 e as 19h30, de segunda a sábado.

 

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O FADO VADIO  - Para além de artista plástico, Manuel João Vieira é verdadeiramente um músico dos sete instrumentos. Esta faceta musical tem uma particularidade rara - que é um grande conhecimento de diversos repertórios antigos, não só da música portuguesa, mas também do cancioneiro popular de outros países como a Itália , a França ou os Estados Unidos. Manuel João Vieira é um apaixonado pela canção, os clássicos românticos e os temas brejeiros. A maneira como os canta é sempre subversiva e muito própria. Desta vez, no novo disco “Anatomia do Fado”, atirou-se a este género musical, recorrente na sua actividade ao longo dos últimos anos. “Anatomia do Fado” é um CD duplo, editado pelo Museu do Fado, que inclui 32 faixas. Há numerosos temas originais de Manuel João Vieira e versões como a que fez, por exemplo “A Estação das Chuvas”, baseado em “La Saison Des Pluies” de Serge Gainsbourg. E clássicos como “Fado Boi” de Frederico Valério, “Duas Mortalhas” de Linhares Barbosa ou “Amor É Água Que Corre”, de Alfredo Duarte ou “Procuro E Não Te Encontro”, de Nóbrega e Sousa. E, depois, há os fados humorísticos, em grande parte do repertório original de Joaquim Cordeiro que Manuel João Vieira descobriu em discos que foi comprando ao longo dos anos na Feira da Ladra. A capa do disco reproduz um pormenor do quadro “Fado Vadio”, do pintor João Vieira, pai de Manuel João e ele próprio um apreciador de fado e da canção tradicional, que gostava de cantar e gravou até um disco de boleros. O livrinho que acompanha o disco tem desenhos do próprio Manuel João Vieira, que nas gravações canta e toca bandolim, acompanhado por Vital da Assunção na viola, Arménio de Melo na guitarra portuguesa, Múcio Sá no baixo e viola e Sandro Costa também na guitarra portuguesa nalguns temas. Manuel João Vieira não é um fadista, é um músico que canta o que lhe dá gozo, com um enorme sentido de humor e um jeito entre o brejeiro e sentimental. É raro hoje em dia  encontrar um disco tão divertido e sentido. Esta edição pode ser encontrada nas lojas da FNAC.

 

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ENTRE AS PALAVRAS E A IMAGEM  - Mário Cesariny é personagem marcante da cultura portuguesa do século XX e distinguiu-se na escrita, nomeadamente na poesia, mas também como artista plástico. Prosseguindo a recuperação da obra do autor, a Assírio & Alvim editou agora “Poemas Dramáticos e Pictopoemas”. Na primeira parte, que agrupa os poemas dramáticos,  estão reunidos textos não constantes de recolhas anteriores, como as peças “Consultório do Dr. Pena e do Dr. Pluma”, “Um Auto para Jerusalém”, “Titânia” e o guião cinematográfico “A Norma de Bellini”. Esta edição de “Poemas Dramáticos e Pictopoemas” inclui ainda três peças nunca antes publicadas em livro: “Projecto de Rebelião”, “O Processo” e “Projecto não Terminado para Teatro Radiofónico”. A segunda parte, Pictopoemas, agrupa em mais de 200 páginas uma série de obras plásticas,, nomeadamente desenhos e intervenções acutilantes feitas a partir de recortes de imprensa, juntando títulos, por vezes imagens. Mário Cesariny foi um dos principais fundadores do movimento surrealista português, contemporâneo ao lado de Cruzeiro Seixas, de António Maria Lisboa ou Mário-Henrique Leiria, entre outros. Não resisto a terminar com uma citação da peça “Titânia”, que espelha bem como Cesariny olhava em redor: “O diabo português é o diabo mais grosseiro que há, nunca se definiu. Apesar disso, dura, e é dos mais temidos. Saiba-se lá porquê! Muito desconfio ser o nosso diabo coisa tão junta à cabeça de baixo que nunca chegará à cabeça de cima, esse nobre capitel onde se aninham Faustos, Margaridas e as Seduções do Espírito”.

 

COMIDA RÁPIDA- Ao fim destes meses de pandemia a imaginação culinária já não é famosa. De modo que me vou inspirando em receitas de algumas newsletters. Aqui fica uma ideia para uma refeição pouco trabalhosa e rápida - vou chamar-lhe lasagna aldrabada. Primeiro escolhem uns ravioli de massa fresca pré preparados, por exemplo de espinafres e ricotta. eu gosto dos fabricados pela Rana. Depois uma embalagem de molho de tomate pré-preparado de tomate e manjericão, pode ser da marca Barilla, que deitam num recipiente de ir ao forno (que entretanto já puseram a aquecer a 200 graus). Por cima deitam os ravioli, mexem bem para serem envolvidos e tapados pelo molho, colocam uma camada de queijo mozzarella às farripas, por cima mais, uma camada de raviolis, temperam com um pouco de pimenta a gosto e no fim colocam mais molho de tomate com manjericão, queijo parmesão ralado numa quantidade generosa e levam ao forno quinze minutos, com o grill ligado nos últimos cinco. Está pronto. Bom apetite.

 

DIXIT - “Porque razão gostam tanto do povo e tão pouco do público” - António-Pedro Vasconcelos sobre a oposição à nova Lei do Cinema.

 

BACK TO BASICS - “Todas as gerações se imaginam mais conhecedoras que aquelas que a precederam e mais sábias que as que lhe vão suceder” - George Orwell

 




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