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Do que tenho visto a campanha eleitoral está a assemelhar-se ao monótono desenrolar de um torneio de matraquilhos. As equipas atacam-se reciprocamente no meio campo, mas cada vez marcam menos golos. A comparação com o futebol não é um devaneio. As circunstâncias ditaram que há meio século, depois do 25 de Abril, se criassem (ou ressurgissem) uma série de partidos que durante a ditadura estavam naturalmente escondidos, por vezes adormecidos e, noutros casos, inexistentes e que entretanto foram criados. A forma rápida como tudo se desenrolou em 1974 e 1975 levou a população portuguesa, nas eleições mais participadas de sempre, a escolher o partido em que iriam votar e uma grande parte dos eleitores ficou ainda nesses tempos. 50 anos depois nem os partidos são os mesmos, nem aqueles que continuam a existir são iguais. Como dizia Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/muda-se o ser, muda-se a confiança/todo o mundo é composto de mudança/tomando sempre novas qualidades”. Só que, fruto desse entusiasmo dos primeiros tempos, a simpatia por um partido transformou-se frequentemente em fanatismo - e o duelo político passou a ser uma luta clubística. Tudo isto, associado a uma Lei Eleitoral caduca, inexplicavelmente quase sem mudanças durante um meio século em que todos os hábitos de comunicação e dinâmica social se modificaram, levou a que hoje haja muita gente que rejeita liminarmente a possibilidade de coligações entre projectos diferentes. Lá no fundo argumentam contra uma cultura de entendimento político e em defesa de uma política de confronto, e dizem que não faz sentido arranjar um acordo entre o Sporting e o Benfica para definir quem vence o campeonato. Só que a política não é futebol e transportar a rivalidade desportiva, saudável, para a política, é um mau serviço para o país. O resultado é o fraco jogo de matraquilhos em que as campanhas eleitorais se foram transformando.
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