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DESIGUALDADES - Todos o país prepara as comemorações do golpe de estado que derrubou a ditadura há 50 anos. É uma data importante para todos os que prezam a Liberdade. Mas isto acontece numa altura em que cada vez mais gente mostra desagrado por algumas opiniões e há até quem diga sem rodeios que o melhor seria silenciar algumas. Ora, o que o 25 de Abril trouxe foi liberdade de expressão, liberdade de opinião, cada um poder dizer o que lhe vai na cabeça sem temer por isso ser perseguido, desde que respeite a liberdade dos demais. Na realidade antes de Abril de 1974 liberdade de pensamento existia, dependia de cada um o que com ela fazia. Uns mostravam o que pensavam e eram perseguidos. Outros calavam-se e eram tolerados. Tenho reparado que muitos dos que hoje mais gritam contra as opiniões dos outros nunca souberam o que era dantes arriscar dizer o que pensavam. Os que se intitulam agora guardiões do templo têm da liberdade uma noção de posse exclusiva, não respeitam a diferença, fomentam a desigualdade como se a Liberdade fosse exclusiva de alguns. Uma das grandes mistificações nascidas, muito por obra e graça do PCP, é confundir o exercício da liberdade com a defesa do socialismo. De tal maneira que ainda hoje se considera que os que pugnam pelo socialismo, nas suas diversas formas, são os únicos defensores da liberdade, enquanto os que são contra a ideia do socialismo são classificados de inimigos da liberdade e, para alguns, são até considerados fascistas. Ora acontece que não se pode defender a liberdade pretendendo que deve ser total para uns e limitada para outros. E tão pouco é coerente celebrar a democracia agitando no ar o espectro da censura de ideias. 50 anos depois de 25 de Abril de 74 a última coisa que precisamos é de polícias do pensamento e da liberdade de expressão.
SEMANADA - Em Portugal estão vagas 723 mil casas e há 1,1 milhões de residências secundárias; segundo o FMI, entre os estados da zona Euro, Portugal foi o país onde o custo dos empréstimos à habitação mais aumentou; em 2023 o montante angariado por startups portuguesas caíu 76%; no ano passado, foram apresentados 904 pedidos de patente de invenção, 35,9% dos pedidos tiveram origem na região Norte e a Universidade de Aveiro liderou a lista com 34 patentes apresentadas; Portugal é o terceiro país da União Europeia com menos homens por cada 100 mulheres, a par da Estónia, e apenas ultrapassado pela Letónia e Lituânia; o Alentejo e o Algarve são as duas regiões onde se verificam maior número de reprovações dos alunos do 1º ciclo e nessas regiões 8% reprovaram nos primeiros quatro anos de escola; este ano registam-se 54.454 vagas nos cursos do ensino superior, um novo máximo histórico; com mais de meio ano lectivo corrido há cerca de 32 525 alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina e Lisboa, Setúbal e Faro lideram listas de horários por preencher; no ano passado desapareceram 4501 veículos em Portugal; metade do poder de compra dos 278 municípios de Portugal continental está concentrado em 26 concelhos, que representam apenas 6% da área total do continente, mas concentram 48% da sua população residente, 28% do parque habitacional, 42% das dependências bancárias, 48% da atividade do Multibanco, 46% dos estabelecimentos comerciais, 60% dos registos de automóveis e 44% do consumo de eletricidade.
O ARCO DA VELHA - Entre os dias 12 e 14 de abril, a Autoridade Marítima Nacional registou o salvamento de 249 pessoas e só na primeira quinzena deste mês, já se contam 17 vítimas mortais por afogamento.
UMA EXPOSIÇÃO INVULGAR - Até 29 de Setembro o Museu de Serralves apresenta “Yayoi Kusama: 1945 -hoje”, uma mostra que celebra o 95º aniversário da célebre artista japonesa e que é a maior retrospectiva da sua obra jamais realizada. A exposição foi concebida e organizada pelo M+, de Hong Kong, em colaboração com a Fundação de Serralves e o Museu Guggenheim de Bilbau. Yayoi Kusama tornou-se uma referência da arte contemporânea e ao longo das últimas sete décadas refinou uma singular estética pessoal, a par de uma filosofia de vida muito própria e de um posicionamento vanguardista. A obra de Kusama mostra aquilo que no seu entendimento é o espaço ilimitado, associando reflexões sobre os ciclos naturais de regeneração. “Yayoi Kusama: 1945 — Hoje” narra a história da vida e obra da artista, destacando o seu desejo de interconexão e as interrogações sobre a existência que orienta a sua criatividade. Com cerca de 160 trabalhos, incluindo pinturas, desenhos, esculturas, instalações e materiais de arquivo, esta exposição explora a carreira de Kusama desde os seus primeiros desenhos, feitos na adolescência durante a Segunda Guerra Mundial, às suas obras de arte imersivas mais recentes. Organizada cronologicamente e por temas, a exposição percorre toda a carreira da artista, dividida por grandes tópicos: Infinito, Acumulação, Conectividade Radical, Biocósmico, Morte e Força de Vida. “Yayoi Kusama: 1945 -hoje” tem curadoria de Doryun Chong e Mika Yoshitake, com a colaboração de Isabella Tam e a sua apresentação em Serralves contou com o acompanhamento e apoio da curadora Filipa Loureiro.
ROTEIRO - Em Setúbal, na Casa da Avenida (Avenida Luísa Todi 286) pode ver até 26 de Maio “Intimidade”, uma exposição de fotografias de Luísa Ferreira (na imagem); na Appleton Square (Rua Acácio Paiva 27), até 4 de Maio, fotografias de António Júlio Duarte, sob o título genérico “Rumble Fish”; no espaço Avenidas (Rua Alberto de Sousa 10A) pode ver até final de Maio a exposição "Rua da Beneficência, 175" que recorda os concertos realizados no Rock Rendez Vous, com fotografias de Rui Vasco, Peter Machado, Pedro Lopes, José Faísca, Fred Somsen, Céu Guarda, e Álvaro Rosendo e que são a base para o livro “Rock Rendez-Vous, Uma História em Imagens”, coordenado por Luís Amaro e com textos de Ana Cristina Ferrão e Pedro Félix; na Pequena Galeria (Avenida 24 de Julho 4C), até 8 de Junho, “Lisboa, dez fotógrafos- uma escolha improvável” mostra trabalhos de nomes como António Homem Cardoso, Fernando Ricardo, Marc Sarkis Gulbenkian, José Manuel Costa Alves ou Luís Pavão, entre outros, e ainda fotografias vintage da cidade; até sábado 20 de Abril, ainda pode ver uma exposição de obras de Rui Sanches, “Espaços & Corpos”, no Arquivo Aires Mateus, (Rua Silva Carvalho 175). Rui Sanches baseou-se em plantas de espaços que de alguma forma lhe são familiares e em desenhos anatómicos de quando estudou Medicina. As obras, desenhos, pinturas e uma escultura foram feitas entre 2018 e 2023.
UM ROMANCE PARA ESTES TEMPOS - Leram algum escritor turco recentemente? Pois eu também não tinha lido até encontrar “Pedra e Sombra”, de Burhan Sönmez, que é considerado como um dos mais inovadores autores da literatura turca e curda actual. Algumas das análises sobre a sua obra apontam para comparações de Burhan com realistas mágicos como Borges e García Márquez. Outros, como o diário parisiense “Le Figaro” , escrevem que “Pedra e Sombra” “põe em cena, através de uma arte narrativa estrondosa, personagens cujos destinos se enlaçam com a tumultuosa história da Turquia do século XX.” Na realidade “Pedra e Sombra” é um romance épico que traça o retrato de uma sociedade complexa, fruto do legado de cristãos, muçulmanos sunitas, dervixes, turcos, curdos, arménios e gregos. Neste romance Burhan Sönmez elabora uma construção narrativa com solavancos temporais de séculos, décadas e até mesmo de horas dentro de um único dia, imprimindo um ritmo e um mistério invulgares. «Quem não tem memória da sua infância não pode conhecer-se a si mesmo … Perder a própria terra quer dizer perder a memória», lamenta-se o protagonista desta história, homem simples, mas de profundo entendimento da condição humana. São dele também estas palavras, tão actuais hoje em dia: «A guerra vira a vida de pernas para o ar. Dá cabo das famílias, das cidades e dos estados. Depois, um dia acaba, mas nessa altura já nada é como antes». Esta proximidade geográfica e histórica aos mais recentes acontecimentos no médio oriente são uma razão suplementar para ler este romance. A tradução é de J. Teixeira de Aguilar e a edição é da Livros do Brasil.
UM TRIO INESPERADO - Fui ouvir “Owl Song” graças a um elogio que li sobre o disco. Já tinha ouvido alguma coisa de Ambrose Akinmusire, um trompetista e compositor americano nascido em 1982. Os seus primeiros passos no Berkeley High School Jazz Ensemble despertaram a curiosidade do saxofonista Steve Coleman que o convidou a integrar o seu grupo Five Elements numa digressão europeia. No regresso dedicou-se a aperfeiçoar os seus conhecimentos em algumas das maiores escolas de jazz nos Estados Unidos, em Nova Iorque e Los Angeles. Em 2008 gravou o seu primeiro disco e regressou a Nova Iorque onde tocou com alguns dos mais importantes nomes do jazz contemporâneo - Vijay Iyer, Aaron Parks, Esperanza Spalding ou Jason Moran. “Owl Song” é o seu oitavo disco em nome próprio e aqui escolheu dois nomes incontornáveis para o acompanhar: Bill Frisell na guitarra e Herlin Riley na bateria. É um trio absolutamente fora de série, os músicos dialogam uns com os outros com uma naturalidade impressionante e o trompete de Ambrose Akinmusire cria uma atmosfera musical única, demonstrando a razão pela qual, há já alguns anos, foi premiado e reconhecido como um dos mais relevantes trompetistas actuais. A guitarra de Frisell une-se ao trompete numa combinação inesperada , com o suporte certeiro da bateria de Riley. o tema título, “Owl Song”, nas suas duas versões, mostra isso mesmo, a fusão das sonoridades da bateria, guitarra e trompete, criando uma música comovente, empolgante e na realidade inesquecível. É um dos melhores discos que ouvi nos últimos meses. Um obrigado a Miguel Esteves Cardoso, que numa recente crónica me fez descobrir este trabalho. Edição Nonesuch, disponível nas plataformas de streaming.
DIXIT - “Sem profundas mudanças nas oligarquias partidárias, do PSD e PS, não se vai a lado nenhum e essas mudanças nos partidos não se dão porque não existem forças endógenas para o conseguir. Quem mais precisa dessa força é o centro político, e o partido onde ela é mais necessária é o PSD.” - José Pacheco Pereira
BACK TO BASICS - “A desobediência, aos olhos de quem estudou História, é a virtude original do homem. É através da desobediência e da rebelião que se tem construído o progresso” - Oscar Wilde.
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
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