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PARADOXOS - O português é uma das línguas mais faladas do mundo (a sétima, na realidade), mas a nossa pegada audiovisual é praticamente inexistente. Isto é um paradoxo e tem a ver com o crónico desfasamento entre uma política viva da língua e as formas de expressão e comunicação contemporâneas. É no som e na imagem - e nas suas correspondências de distribuição e difusão no mundo digital - que hoje em dia se joga a sobrevivência dos idiomas e da cultura. Num altura em que o Reina Sofia em Madrid evoca Pessoa e os seus contemporâneos, em que em Paris obras de Rui Chafes são escolhidas para o Pompidou, em que o filme “Fátima”, de João Canijo, esgotou no início de janeiro as duas sessões públicas no Festival de cinema de Roterdão, é paradoxal ver como continua a não existir uma política cruzada e persistente entre o Instituto do Cinema e Audiovisual e o operador de serviço público de televisão com especial enfoque na produção de séries de ficção e de documentários que possam ter apelo global, percorrendo a obra de criadores portuguesas das mais diversas áreas. O problema não é de falta de talento nem apenas de falta de recursos - é sobretudo de falta uma estratégia continuada e persistente, de incapacidade de decisão política e de uma gestão facilitista dos recursos existentes, que são canalizados para conteúdos que se esgotam rapidamente em vez de produções que perdurem e constituam património audiovisual para o futuro. Numa altura em que está à porta a renegociação dos direitos de transmissão de provas internacionais de futebol será curioso ver se a RTP investe de novo na compra desses direitos ou se consagra esforços orçamentais para iniciar um novo caminho na produção audiovisual.

 

SEMANADA - A receita global fiscal do Estado aumentou dois mil milhões de euros em 2017; a única receita fiscal que caíu no ano passado foi o imposto sobre o tabaco; em 2017 foram distribuídos 4,8 milhões de preservativos em Portugal pelos serviços de saúde; uma em cada dez vítimas de violência no namoro sofreu ameaças de morte e 70% dos jovens consideram normal actos violentos no namoro; aumentou o número de queixas por atrasos nas consultas de oncologia em todo o país; quase dez por cento das refeições servidas nas universidades são vegetarianas; em 2017 o INEM recebeu 1,3 milhões de chamadas telefónicas com pedidos de socorro; até agora estão por cumprir seis dos oito objectivos a que Portugal se comprometeu com a Comunidade Europeia até 2020, entre os quais se destacam deficiências na área da investigação e persistência do abandono escolar; o plano ferroviário apresentado pelo Governo há dois anos só avançou em 79 quilómetros de um total de 528 que já deviam estar em obras; o rendimento das famílias portuguesas ainda está abaixo dos níveis de 2008; a Torre dos Clérigos no Porto recebeu cerca de 666 mil visitantes em 2017, cerca de mais 40 mil que no ano anterior; no ano passado os hotéis portugueses receberam 20,6 milhões de hóspedes, um aumento de 8,9% em relação ao ano anterior;  segundo a Marktest o número de portugueses que afirmou ter adquirido online serviços de viagens e alojamento é hoje mais de 3 vezes superior ao observado em 2010.  

 

ARCO DA VELHA - Estima-se que em Portugal existam mais de um milhão de armas de fogo em situação ilegal, apesar de serem apreendidas dezenas de milhar por ano.

 

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FOLHEAR -  Gosto de passar horas em livrarias e acho que os alfarrabistas são como um jardim encantado onde se vão descobrindo espécies  raras. Quase sempre há neles pessoas conhecedoras do que têm em casa, entendidos em livros e autores, disponíveis para uma conversa. Luís Gomes é uma dessas pessoas e dirige a Artes & Letras, um alfarrabista que saíu do Largo da Misericórdia para as Avenidas Novas. Ali há um confortável sofá para visitantes, bem perto da mesa onde Luis Gomes trabalha e que é um convite a uma conversa ou a folhear uma obra. Vou citar um texto com que há dias me cruzei ao pesquisar informação sobre esta casa: Um livro é sempre uma caixa de ferramentas. Há livros para tratar das plantas, há livros para ensinar a conduzir um carro, há livros para viajar pelo mundo fora, há livros para mostrar como se vive em sociedade, há livros para conhecermos as naus, os piratas, as aventuras dos mares e as ilhas dos tesouros, há livros para adormecer e histórias para levar as crianças a comerem a sopa.” Aqui, na Artes & Letras, encontram-se dessas caixas de ferramentas - além de cartazes, mapas e de uma peça magnífica, logo à entrada, bem visível da rua, pela montra larga - um imponente cavalo negro, que na realidade é um candeeiro - uma peça contemporânea criada pelas designers suecas da Front, comercializada pela Moooi, e que faz um provocador contraste com o resto do local. Já agora, para quem gosta de tipografia antiga, a Artes & Letras está também ligada a um atelier de tipografia que trabalha ainda com composição em chumbo e que fica na Rua dos Poiais de S. Bento, 90. O alfarrabista Artes & Letras fica na Rua Elias Garcia 153. E é uma perdição. Tem muito que folhear.

 

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VER - A mais importante exposição que neste momento está patente em Portugal é a retrospectiva de Álvaro Lapa, que agrupa 290 obras e que pode ser vista em Serralves até 20 de Maio. Lapa nasceu em Évora em 1939 e morreu no Porto em 2006, aos 66 anos. Teve um percurso criativo variado e intenso, entre a escrita e as artes plásticas, até se fixar no Porto em 1973 onde fez uma importante parte da sua obra, influenciou  várias gerações enquanto leccionou sobre Estética na Escola de Belas Artes da cidade e fez uma tese de doutoramento sobre o surrealismo em Portugal, orientada por José-Augusto França. “No Tempo Todo” é o título da exposição sobre a obra de Álvaro Lapa, comissariada por  Miguel von Hafe Pérez, que percorre vários períodos da sua carreira, mostrando desenhos, pintura, objectos e originais da sua obra escrita. Em paralelo decorre uma série de iniciativas com debates, conferências, visitas guiadas, peças de teatro e projecções de filmes e documentários relacionados com a obra de Lapa. Ainda em Serralves destaque para  “O Céu É Um Grande Espaço”, da  italiana Marisa Metz, uma exposição organizada pelo Metropolitan Museum Of Art de Nova Iorque e o Hammer Museum de Los Angeles. Em Lisboa, na Fundação Arpad Szènes, está até 21 de Abril uma exposição de desenhos de Maria Lassnig, a mais importante pintora austríaca do século XX, sob o título “Ver não é tão importante como sentir”. E Em Madrid, de 17 a 25, decorre a ARCO, Feira Internacional de Arte Contemporânea, onde estarão presentes várias galerias e artistas portugueses e que tem como tema O Futuro.

 

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OUVIR - Há muitos anos que sigo com atenção o que Miguel Esteves Cardoso escreve sobre música - nos seus vários géneros. Não me tenho arrependido e esta semana voltei a fazer uma boa descoberta graças a ele. Num dos seus mais recentes escritos Miguel Esteves Cardoso elogiava o disco de estreia dos Starcrawler, de quem eu nunca tinha ouvido falar. É uma banda originária de Los Angeles e a sua vocalista, Arrow de Wilde, tem um desempenho marcante. O disco foi editado pela Rough Trade, uma editora de boa memória que em tempos nos trouxe alguma da melhor música das últimas décadas do século passado. Graças ao Spotify descobri o disco e pude constatar como as observações escritas por MEC são certeiras. De facto os Starcrawler são uma lufada de ar fresco num tempo em que as bandas rock parecem bonecos de cera do museu de Madame Tussaud. Os Starcrawler praticam a insubordinação geral nesta desgraçada época de rock bem comportado para ser visto em mega-festivais e grandes pavilhões. Ouvido o disco constatei que as comparações com Stooges e Ramones não são desprovidas de sentido e que os elogios a Arrow de Wilde são bem merecidos. Se querem perceber o espírito da banda vejam o video de “Welcome To L.A. “ no YouTube - é uma das canções emblema da banda e o arranque do video é uma espécie de manifesto sobre o estado da nação - assim que a canção começa perceberão que isto é uma coisa a sério e que Arrow de Wilde tem uma marca tão forte quanto as guitarras dos seus companheiros. No YouTube podem ainda ver alguns videos da banda ao vivo - e embora o álbum seja uma revelação, as actuações ao vivo são ainda mais impressionantes. De caminho ouçam e vejam  “Let Her Be”, outro dos temas imperdíveis dos Starcrawler e descubram o single de estreia, “Ants”, não incluído no álbum.

 

PROVAR - Restaurantes há muitos, boas lojas de produtos italianos há muito poucas. Um local que conjugue as duas vertentes é uma raridade. Estou a falar do Fiammetta, que abriu recentemente em Campo de Ourique, na Rua Almeida e Sousa 20, quase a chegar à Ferreira Borges, pela mão de Ludovica Rocchi. No rés do chão está uma sala de restaurante sempre bastante concorrida e o balcão frigorífico com uma ampla escolha de queijos e carnes fumadas italianas. A sala do restaurante estava cheia, a apreciação da comida ficará para outro dia - mas massas frescas de várias variedades feitas diariamente são a principal matéria prima. Os encantos não terminam neste balcão - descendo à cave encontramos uma sala ampla com uma grande diversidade de produtos - desde vinhos italianos mais ou menos correntes até uma selecção de vinhos mais raros numa zona devidamente salvaguardada em termos de temperatura. Nas prateleiras encontramos massas de várias qualidades e formatos (alguns raros em Portugal como o maltagliati), biscoitos, molhos para bruschetta com diversos ingredientes como alcachofras com noz ou um delicioso de azeitonas com anchovas. Há também conservas de vegetais para aperitivo como beringela ou courgette com tomate e também aperitivos tradicionais como o Aperol ou a clássica cerveja italiana Peroni. Destaque ainda para os azeites simples ou temperados, para vinagres balsâmicos de qualidade e biscoitos tradicionais da Toscania, como um com pistácios e amêndoa. Fiametta, rua Almeida e Sousa 20.

 

DIXIT - “Quando se juntar a revolução tecnológica com a da biotecnologia haverá a possibilidade de rastrear os sentimentos, as decisões e as opiniões de cada ser humano. Não haverá segredos para as empresas que sucederão ao Facebook ou à Google. Ou a estas. Nem para a polícia.” - Fernando Sobral

 

GOSTO - Duas obras de Rui Chafes foram adquiridas pelo Museu Nacional de Arte Moderna de Paris e vão integrar a exposição da sua colecção permanente no Centro Pompidou, a partir de Outubro.

 

NÃO GOSTO - Da ideia da criação de novos impostos europeus.

 

BACK TO BASICS - “Quando uma pessoa é curiosa arranja sempre muitas coisas interessantes para fazer” - Walt Disney

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publicado às 13:20



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