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A 25ª HORA - Depois da mais atribulada semana de saídas do Governo eis que aquilo que se julgava impensável aconteceu: uma secretária de Estado recém nomeada para substituir uma das baixas governamentais durou 25 horas até se demitir, na sequência de informações sobre uma investigação onde estaria citada. Os casos do último mês são um retrato do funcionamento em circuito fechado, do laxismo na escolha de governantes, do autismo criado pela maioria absoluta no exercício do poder pelo PS. Em nove meses de maioria absoluta registaram-se 13 demissões. O estado em que isto deixa a democracia, a forma como abala a confiança dos eleitores, a instabilidade política que desencadeia, são um case study dos resultados da arrogância e insensibilidade por parte de quem dirige o Governo. Mas entretanto percebeu-se que não só vão para o Governo aqueles que têm telhados de vidro e nalguns casos têm mesmo o tecto todo esburacado. Nestes dias percebeu-se que também quem deixa o Governo ignora as regras mais simples do que deve ser a separação entre funções oficiais e actividade privada. O caso de Rita Marques, que sai directa do Governo para uma empresa privada da área que tutelava, mostra outra faceta do perfil e carácter das pessoas que Costa escolheu para o círculo governamental. Como disse esta semana Adelino Maltez “o eleitorado nunca ameaçou o sistema e tem de ameaçar, os grandes partidos deviam ter medo de ser derrotados numas eleições. Funcionam melhor quando têm medo”. Para Viriato Soromenho Marques: “ É inaceitável o país ficar refém do partido a quem deu uma maioria absoluta. E o discurso de António Costa, mantendo sempre a ideia de que não se passa nada é inaceitável também”. Já agora, e só por curiosidade, “A 25ª Hora” é um romance de Virgil Georghiu que condena todo o tipo de totalitarismo.
SEMANADA - Em 2021, Portugal tinha 2801 cidadãos com mais de cem anos e dez anos antes eram apenas 1526; 42% das crianças portuguesas têm peso a mais; o número de directores da TAP tem aumentado desde 2015, quando tinha 39 directores, número que neste momento é de 63; nos anos 80 a economia portuguesa teve um crescimento de 32,3%, nos anos 90 registou 29,4% e nas duas primeiras décadas deste século ficou nos 5,7 e 6,9% respectivamente; os preços das casas em Portugal sobem duas vezes mais que a média da Zona Euro; em Outubro, data da mobilização militar parcial, as entradas de russos em Portugal subiram 23% face a setembro e uma plataforma de arrendamento europeia diz que 94% das reservas de russos são para Portugal; no último ano e meio morreram cinco pessoas em acidentes com trotinetes eléctricas; o secretário de estado da Mobilidade, Jorge Delgado, diz que as trotinetas estão a ser diabolizadas; nos últimos dez anos seis concelhos registaram um aumento de utilizadores de bicicletas e 12 perderam; os cinemas portugueses recuperaram 60% do público de antes da pandemia e no ano passado registaram 9,5 milhões de espectadores; “Top Gun- Maverick” com Tom Cruise foi o filme mais visto em Portugal em 2022 com 714 mil espectadores e “Avatar: O Caminho da Água” registou 598 mil; o filme português mais visto foi a comédia “Curral das Moinas- Os Banqueiros do Povo” com 314 mil espectadores; em 2022, os consumidores portugueses registaram uma média de 526 reclamações por dia no Portal da Queixa; a rede de Cuidados Continuados tem uma lista de espera com mais de 1500 pessoas.
O ARCO DA VELHA - Rita Marques saíu do Governo para uma empresa cuja área tutelava e a quem o Governo a que pertenceu tinha atribuído 5,4 milhões de euros de apoio e um bónus fiscal de 266 mil euros.
O ESTADO DO MUNDO - A actividade nas galerias regressa esta semana em força, marcando o arranque de uma série de novas exposições. O destaque vai para “New Age Dreams”, de Pedro Casqueiro, na Galeria Miguel Nabinho (na imagem), até 10 de Fevereiro. São dez pinturas de 2022, acrílico sobre tela, que mostram o olhar do artista sobre o mundo que o rodeia e sobre o que é suscitado na sua imaginação a partir da sua observação da natureza, das pessoas, dos animais, das paisagens e até da tecnologia. Mas há muitas outras exposições iniciadas esta semana. Comecemos pela fotografia com “Panorama”, uma nova mostra de Daniel Blaufuks, na Galeria Vera Cortês. Na Galeria Narrativa a sul-africana Lea Thijs, que vive e trabalha em Lisboa, mostra “Safe House” um ensaio fotográfico sobre o evoluir do transtorno bipolar do seu pai. Regressando à pintura, na Galeria Monumental Pedro Chorão apresenta até 25 de Fevereiro “Paisagem Continuada”. Outras sugestões: na Módulo, a colectiva “Nocturna” mostra trabalhos de Nadya Ismail, Pedro Zhang, Vasco Maia e Moura e Xavier B. Tourais. Na Galeria Uma Lulik, Carolina Serrano mostra os seus novos trabalhos em “Até Aos Ossos” e a Galeria Bruno Múrias mostra Obiustromos, a primeira exposição de Marco Franco. Fora do circuito das galerias está até 28 de Fevereiro uma interessante exposição, “O Apetrechar do Tempo”, de dois artistas com origens africanas, Francisco Vidal e Gonçalo Mabunda, patente no Instituto Camões, em Lisboa. Francisco Vidal teve recentemente uma importante exposição na Gulbenkian e Gonçalo Mabunda é dos mais importantes nomes da arte contemporânea moçambicana.
O ARTISTA IRLANDÊS - Volta e meia faz bem reler um livro, voltar a percorrer páginas de boa memória. E perceber que obras que agora relemos, uns largos anos depois da primeira leitura, continuam cheias de sentido. James Joyce tinha 32 anos quando escreveu “Retrato do Artista quando Jovem”, em 1914, que foi o ano de publicação de “Gentes de Dublin”, uma colectânea de 15 contos que descreve a vida em Dublin no início do século XX. Retrato do Artista quando Jovem faz parte do tríptico a que pertencem também Ulisses e Finnegans Wake, e relata a formação espiritual do adolescente irlandês Stephan Dedalus e o processo de rebeldia em relação à rígida educação católica a que está sujeito. Trata-se aliás do primeiro romance de Joyce, publicado em 1916 e que desde logo conseguiu chamar a atenção para a inteligência e originalidade da sua escrita, ao mesmo tempo irónica e sensível. As diferentes fases da vida do protagonista, da infância à vida universitária, refletem-se em mudanças no estilo narrativo. Os aspetos biográficos são tratados com irónico distanciamento, num trajeto que culmina com a rutura com a Igreja e a descoberta de uma vocação artística. A obra é também um reconhecível auto-retrato da juventude de James Joyce, assim como uma homenagem universal à imaginação dos artistas. «Não continuarei a servir aquilo em que já não acredito, chame-se meu lar, minha pátria ou minha religião. E tratarei de exprimir-me em algum modo de vida ou de arte tão livremente como possa, tão plenamente como possa, usando para minha defesa as únicas armas que me permito usar: silêncio, exílio e astúcia.» Joyce viveu fora da Irlanda a maior parte da sua vida adulta, mas nunca perdeu a identidade irlandesa, dominante na temática da sua obra. Disponível nova edição na colecção “Dois Mundos” da “Livros do Brasil”, com tradução de Alfredo Margarido.
ROCK ON - Inesperado, polémico, surpreendente - eis o novo álbum de Iggy Pop, aos 75 anos, o seu 19º, publicado agora no início deste ano. A revista norte-americana “Rolling Stone” elogia o trabalho e diz que demonstra o retorno de Iggy Pop à genialidade musical e o britânico “The Guardian” é mais céptico e afirma que “Every Loser” é mais do mesmo. Creio que a “Rolling Stone” está mais certa que “The Guardian”. É sem dúvida um disco inesperado, sobretudo porque é cheio daquela energia crua que é proporcionada por guitarras eléctricas em modo selvagem, uma imagem de marca de Iggy Pop. Mas os seus 11 temas são suficientemente variados para eliminar a imagem de monotonia ou de repetições. Na realidade esta intensidade estava ausente dos álbuns anteriores, “Préliminaires” de 2009, “Après” em 2012, “Post Pop Depression” de 2016 ou “Free” de 2019. Este novo disco, “Every Loser”, contém alguns dos temas mais rock’nroll de Iggy desde há anos, e a faixa de abertura “Frenzy”, é um exemplo disso mesmo e está muito bem acompanhado por “Modern Day Rip Off” , “Neo Punk” ou “All The Way Down”. Mas “New Atlantis” e “Morning Show” mostram outras direcções, enquanto “Strung Out Johnny” é talvez a mais conseguida canção de todo o disco. Como sempre as palavras destes temas são simples, directas, com humor e os dois temas apresentados como interlúdios, “The News For Andy” e “Animus” são prova disso mesmo. Para este trabalho Iggy Pop foi buscar Dave Navarro, Eric Avery e Chris Chaney (Jane’s Addiction), Chad Smith e John Klinghoffer (Red Hot Chilli Pepper), Duff McKagan ( Guns N’ Roses), Stone Gassard (Pearl Jam) e Taylor Hawkins (o baterista dos Foo Fighters entretanto falecido mas que ainda participou em “Every Loser”). Com músicos assim e a produção de Andrew Watt a sonoridade obtida está explicada. O melhor é ouvirem, o disco está disponível desde 6 de Janeiro nas plataformas de streaming.
A ARTE DO ASSADO - Gosto de cenouras de qualquer maneira - cozida, em puré, crua ou assada. E de entre os muitos legumes que ficam bem assados, a cenoura merece um destaque à parte. A cenoura é um legume para todas as situações mas hoje vou dedicar-me à versão cenoura assada para acompanhamento. Neste caso gosto de usar cenouras mais pequenas, a que é raspada a casca, sendo depois cortadas em metade no sentido do comprimento. O passo seguinte é colocá-las numa assadeira com azeite quanto baste e temperá-las com sal, pimenta e ervas aromáticas. Gosto de colocar umas duas ou três folhas de louro espalhadas e idêntico número de dentes de alho inteiros, para perfumar. O forno deve estar a 150 graus e a assadura é coisa para demorar uns 45 minutos. De vez em quando, retire o tabuleiro e agite um pouco. Use um garfo para ver se já estão cozinhadas e tenras. O resultado produz um belo acompanhamento para carne feita de várias maneiras e fica muito bem como prato vegetariano, com fusilli envolvidos nos pedaços de cenoura assim assada. Bom apetite.
DIXIT - “A vergonha é um sentimento que desapareceu da política” - António Guerreiro
BACK TO BASICS - “Não temos senão a nossa história e ela não é só nossa” - Ortega Y Gasset.
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