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DOIS PAÍSES? - António Costa parece uma vestal pura, incapaz de pecado. Quem o ouvir por estes dias não acredita que ele esteve anos à frente da Câmara Municipal de Lisboa e, depois, anos no Governo, até agora. Se quem o ouve tiver acabado de aterrar vindo de Marte, achará que António Costa chegou agora ao poder, cheio de boas ideias e imbuído de um avassalador ímpeto reformista. Só que não. Anda por cá há muito e fez pouco, embora tenha a arte de querer mostrar ter feito muito. Ele é um mágico, um ilusionista. Se fosse personagem de banda desenhada seria Mandrake. Vem isto a propósito dos exercícios de contorcionismo de António Costa frente ao Presidente da República, a propósito da execução do PRR. Relatos surgidos na imprensa sobre o interrogatório a que Costa foi submetido por Marcelo e por assessores da Presidência são elucidativos do cepticismo que começa a espalhar-se, muito para além de Belém, sobre o que de facto se está a passar com as verbas do PRR. Já em tempos o Ministro da Economia, António Costa e Silva, reconheceu que a administração pública está mais vocacionada para dar pareceres do que em executar os planos que a política define. Na reunião de Belém houve especialistas que disseram conhecer candidaturas ao PRR que demoraram 300 dias a ser respondidas e tornou-se evidente que há uma baixíssima percentagem de fundos executados em áreas críticas como a habitação ou a agricultura. Na reunião de Belém, Marcelo terá dito uma frase lapidar: “senhor primeiro-ministro, de cada vez que falamos deste assunto parece que vemos dois países diferentes”.
SEMANADA - Um inquérito efectuado em Portugal para o European Social Survey mostra que os portugueses estão desiludidos com o funcionamento da democracia e que o mau funcionamento da justiça é o problema maior; o cabaz de alimentos subiu 45 euros num ano, um aumento de 24,5% e entre 63 bens essenciais 53 estão mais caros; as receitas para as autarquias, últimos dez anos, com o Imposto Municipal sobre Transmissões imobiliárias cresceram 340% e o IMI cresceu 20%; em 2021 os preços das casas subiram na maioria das capitais de distrito e em metade dos casos o aumento ultrapassou os 10%; o aumento dos preços está a levar os estudantes a recorrerem mais às cantinas, como a "Cantina Velha" da Universidade de Lisboa, que servia cerca de 400 refeições diárias e agora serve quase 1600; segundo um estudo da Entidade Reguladora da Saúde, o número de psicólogos nos Cuidados de Saúde Primários deveria ser o dobro dos que agora existem; segundo o Censos 2021 há mais de um milhão de pessoas a viverem sózinhas em Portugal; em Janeiro o desemprego cresceu pelo sexto mês consecutivo; a segurança social atrasou-se a pagar o bónus de meia pensão aos reformados que se aposentaram em Setembro e Outubro; os subsídios de doença aumentaram 59,2% em janeiro face ao mês anterior e 12,7% comparando com o período homólogo, alcançando o número mais alto desde 2010.
O ARCO DA VELHA - No relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa descrevem-se casos de promiscuidade entre as autoridades militares, civis e eclesiásticas no encobrimento das acções praticadas.
OBRAS IMERSAS - Como todos os artistas que o são, Pedro Calapez tem um estilo próprio, uma marca de autor, que percorre a sua obra. Não se trata de olhar sempre da mesma forma, é sobretudo interpretar coerentemente o que vê e, também, o que imagina. Muitas vezes Calapez introduz variantes, quer através dos suportes utilizados, quer na combinação de vários suportes ou na forma como as peças se juntam para criar uma única obra. “Estado de Imersão”, a sua mais recente exposição, estará até 8 de Abril na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18B, Lisboa) e mostra 14 obras, a maioria feitas entre 2020 e 2023, diferentes na concepção, formatos e suportes utilizados - cinco são pinturas a acrílico sobre alumínio, sete são pinturas em papel (e nestas estão as seis da série “Volta A Casa”, de 2022, particularmente reveladoras de novas formas de ver do artista) e duas a acrílico sobre tela. Na imagem Pedro Calapez aparece frente a uma das obras mais marcantes da exposição, “Bartleby disse”, uma montagem de duas peças, ambas com base de alumínio, uma a acrílico e outra a óleo. No site da galeria podem ver um vídeo onde o artista fala sobre a sua obra. E esta semana decorre até domingo em Madrid mais uma edição da feira de arte ARCO (que em Maio terá a sua edição lisboeta). Em Madrid estão, nas várias secções, 17 galerias portuguesas e também uma representação institucional de Lisboa, a cargo da EGEAC, que apresenta uma obra do artista Paulo Brighenti.
O ESCRITOR MALDITO - Conheci Luiz Pacheco por acaso, num snack bar que existia por baixo do edifício que albergou o jornal “República” e, mais tarde, o “Portugal Hoje”. Era eu então um jovem jornalista que ali ía ao fim da tarde ouvir os mais velhos e experientes jornalistas que andavam pelo Bairro Alto onde então estavam redacções de vários jornais. E nesse snack bar volta e meia aparecia Luiz Pacheco, esperançado, e com razão, que alguém lhe pagaria alguma coisa para entreter o estômago enquanto bebesse um copo, também oferecido. Mesmo numa época em que o dinheiro não abundava nos bolsos dos jornalistas nunca ouvi ninguém recusar um copo ao Pacheco, a troco de o ouvir e poder discutir alguma coisa com ele, o que era sempre épico. Luiz Pacheco nasceu em 1945 e foi como editor, na Contraponto, que fundou, que se destacou. Aí editou autores como José Cardoso Pires, Natália Correia, Mário Cesariny ou Herberto Hélder. Tinha um sarcasmo vivo e amargo, gostava de uma boa discussão com quem lhe desse luta, era inconformista e cultivou a imagem de um espírito incómodo. Escreveu ensaios como “Crítica de Circunstância”, manifestos como “O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, O Seu Esplendor”, fez livros com textos seus ilustrados por nomes como Martim Avilez, Manuel João Ramos ou Alice Geirinhas. Foi o que se chama um escritor maldito, morreu em 2008, passou a vida a lutar por ser livre e a sua vida teve um lado escabroso, viveu na solidão e no alcoolismo, conheceu a prisão. “O Firmamento É Negro e Não Azul” é a biografia de Luiz Pacheco, escrita por António Cândido Franco, de forma rigorosa e sem preconceitos de linguagem. António Cândido Franco é autor de vários estudos sobre literatura e cultura portuguesas, nomeadamente biografias de Agostinho da Silva e Mário Cesariny. “O Firmamento É Negro E Não Azul” é uma edição da Quetzal.
UMA BOA EXPERIÊNCIA - Em 2012 Lex Blondin, um parisiense a viver em Londres, decidiu criar num armazém na zona de Hackney o Total Refreshment Centre, que incorporava um estúdio de gravação, uma sala para concertos e uma zona para workshops de artistas. A comunidade de criadores de diversas áreas, mas predominantemente de músicos, que ali se juntou, tornou-se no epicentro de uma explosão de talentos de jazz, como Moses Boyd ou The Comet Is Coming que depressa ganharam notoriedade e reconhecimento internacionais e que contribuíram também colocar o Total Refreshment Centre (TRC) na vanguarda da música que então se produzia na Europa. A valência da sala de espectáculos foi entretanto abandonada, mas o estúdio e a área de ensaios, workshops e de convívio entre várias expressões artísticas intensificou-se. Foi isto que levou a histórica etiqueta discográfica Blue Note a decidir dar palco à música que dali saía e assim nasceu o álbum “Transmissions From Total Refreshment Centre”. O disco mostra o trabalho de sete músicos e grupos que têm estado associados ao TRC. Alguns dos temas foram lá gravados, outros foram registados noutras localizações o que torna o álbum uma demonstração da estética envolvida pela comunidade que se desenvolveu no TRC. Nas notas de capa do disco Emma Warren, que escreveu um livro sobre o Total Refreshment Centre intitulado “Make Some Space”, sublinha que muito do espírito do local vem da influência de “Jazzmatazz”, o álbum que o rapper Guru gravou em 1993 e que juntava músicos de influências diversas como Donald Byrd ou Roy Ayers. E foi a esses cruzamentos de estilos e influências que a comunidade musical do TRC foi beber inspiração - basta ouvir a faixa 5 e ver como Miryam Solomon canta a acompanhar os Matters Unknown numa interpretação muito pessoal da bossa nova. Transmissions from Total Refreshment Centre inclui sete temas de outros tantos artistas e está disponível nas plataformas de streaming.
A SOPA - Diz a Wikipedia que a sopa é o alimento mais antigo do mundo, percorre civilizações, tem interpretações diferentes conforme as geografias onde é cozinhada, mas baseia-se sempre no mesmo princípio: uma comida de conforto, que prepara o estômago e garante alguns nutrientes básicos. No Oriente as sopas com noodles, vegetais e diversas proteínas recorrem a temperos como o gengibre, o cardamomo e o tamarindo, a ocidente preferem os legumes que vão da abóbora às couves de bruxelas e recorrem muitas vezes a carnes fumadas e a queijo. Podem ser quentes, como o nosso caldo verde ou a minestrone italiana, ou frias, como o gaspacho espanhol. Podem ser mais complexas, como a sopa rica de peixe, ou inesperadas como a canja de arroz, que em vez de galinha leva amêijoas. E já nem falo de duas criações bem portuguesas - a deliciosa sopa de beldroegas ou a lendária sopa de pedra, que mostra como com imaginação e descaramento se pode, a partir de uma pedra e contando com a boa vontade alheia, fazer um autêntica sopa de cozido. Seja como fôr, há poucas coisas que substituem uma boa sopa, que muitas vezes pode ser uma refeição completa. E a maior parte das sopas é de baixo custo, de confecção simples e de fácil digestão. Aqui podem espreitar as receitas das 20 mais famosas sopas do mundo - https://foodandroad.com/pt-br/melhores-sopas-do-mundo/
BOM - A prescrição de medicamentos genéricos permitiu poupar mais de 509 milhões de euros em 2022.
MAU - O Presidente da República manifestou baixas expectativas sobre a execução dos fundos do PRR
DIXIT - “Olhando para o pacote (de medidas sobre a habitação) não é possível ter uma ideia do que está lá dentro. O povo costuma dizer que só se sabe se o melão é bom depois de o abrir. É preciso abrir o melão” - Marcelo Rebelo de Sousa.
BACK TO BASICS - "É uma lástima que os loucos não tenham o direito de falar sensatamente das loucuras das pessoas sensatas” - William Shakespeare
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