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O PESO DA ARTE NA ECONOMIA - Até Domingo 22 decorrem em Lisboa duas feiras dedicadas à Arte Contemporânea - a ARCO Lisboa e a JUSTLX. Os dois eventos não são concorrentes entre si, antes complementares - e por acaso ambos nascem de organizadores espanhóis. A ARCO Lisboa, que assinala o seu quinto aniversário, é organizada pelos mesmos promotores da ARCO Madrid, uma das mais prestigiadas feiras de arte europeia, e a JUSTLX , na sua terceira edição, é promovida pela entidade que em Madrid criou a JUSTMAD. A ARCO Lisboa decorre na Cordoaria, engloba 65 galerias de 14 países, tem uma secção dedicada a novas galerias e outra à arte africana, além de um espaço de divulgação e venda de edições sobre arte. A JUST LX, na sua terceira edição, realiza-se no Centro de Congressos de Lisboa, em Belém (antiga FIL) e tem a presença de 28 expositores de vários países. Com estes dois eventos em paralelo e uma série de exposições relevantes em museus e galerias privadas, Lisboa tem uma semana dedicada às artes. E qual o peso da arte contemporânea e das galerias na economia? Por ocasião da LAAF (Lisbon Art and Antiques Fair), que decorreu recentemente, foi divulgado um estudo sobre o mercado de arte em Portugal, realizado sob a direcção de Adelaide Duarte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. O estudo aponta para a existência de mais de 70 galerias de arte em Portugal, a maioria dedicada à arte contemporânea, que no seu conjunto realizam mais de 250 exposições por ano com vendas totais estimadas de cerca de 47 milhões de euros e com um crescimento acentuado nos últimos anos de vendas online. Interrogadas sobre as principais medidas que gostariam de ver implementadas, as galerias inquiridas estabeleceram estes pontos como principais: promover incentivos fiscais para colecionadores, deduzindo aquisições em sede de IRS e IRC, melhorar a Lei do Mecenato, permitindo que a Arte possa ser um investimento para as empresas, promover políticas públicas de incentivo à compra de obras de arte, motivar o coleccionismo privado e institucional, aumentar o orçamento para museus no domínio da aquisição de obras de arte e da programação, criar uma rede intermunicipal de organização de exposições, investir na cultura e na educação, intensificar parcerias entre instituições museológicas com colecções privadas a fim de colmatar lapsos existentes nas colecções públicas, divulgar conteúdos ligados à arte contemporânea na RTP1, promover visitas a museus e a galerias, promover o gosto e o interesse pela arte e, em suma, democratizar o acesso à arte. Como vêem, não pedem subsídios, reivindicam apenas que o Ministério da Cultura tenha uma política que facilite e não dificulte o crescimento de hábitos culturais - uma raridade, como se sabe. Talvez o novo Ministro possa ter força política suficiente para convencer o seu colega nas Finanças de que uma política fiscal adequada pode ser fundamental para desenvolver sectores da economia, também na área da Cultura. Será que Pedro Adão e Silva vai conseguir fazer com Medina o que nenhum dos seus antecessores conseguiu?
SEMANADA - Dos quase 90 mil militantes inscritos no PSD apenas cerca de 45 mil têm as quotas em dia para poderem escolher o futuro líder do partido, entre Montenegro e Moreira da Silva; o cancro do pulmão é o que mais mata em Portugal e em 2020 foram diagnosticados 5415 novos casos; 80% das construtoras não conseguem preencher vagas para as obras e os baixos salários associados à exigência de qualificações são as principais razões para a situação existente; em dez anos o Estado não conseguiu vender uma única propriedade da Bolsa das Terras, criada para combater o abandono agrícola; a Lei dos metadados é ilegal desde 2009 e existem 163 mil pedidos de dados pessoais das tribunais às operadoras de telecomunicações feitos com base nessa lei; as bases de metadados das operadoras de telecomunicações estão sem fiscalização há cinco anos; no primeiro trimestre deste ano verificou-se uma perda média de poder de compra de 2,5%; os acidentes vasculares cerebrais foram em 2021 a primeira causa de morte em Portugal com cerca de 11.439 casos, seguido das mortes por Covid-19, com 7.125 óbitos; o Estado emprega agora 741.288 pessoas, mais 15.821 que no primeiro trimestre do ano passado, com um salário médio mensal de 1815,60 euros; no ano passado, deram entrada na Polícia Judiciária 705 novos processos de suspeitas de corrupção, um aumento de 42% em relação ao ano anterior; com o número de casos de COVID-19 a subir a linha SMS 24 atendeu mais chamadas até Maio do que em todo o ano de 2021; em média a Google acede aos dados de cada seu utilizador português 65 vezes por dia.
O ARCO DA VELHA - António Almeida Costa, membro do Conselho Superior do Ministério Público, e putativo candidato a juiz do Tribunal Constitucional, escreveu um texto contra o aborto em que apelida as experiências nazis de “investigações médicas”.
O CONTRASTE ENTRE DOIS ARTISTAS - Uma das novas exposições que podem ser vistas em Lisboa está na Galeria Belo Galsterer (Rua Castilho 71 RC) e mostra o trabalho de dois artistas: Pedro Quintas com um conjunto de acrílicos sobre tela com o título genérico “Vinco”, e Gwendolyn van der Velden, uma holandesa que vive e trabalha em Portugal há vários anos e que apresenta “Faces of Others”, um conjunto de retratos a aguarela de grandes dimensões. Bem diferentes entre si, estas duas exposições mostram a diversidade de estilos e propósitos dos dois artistas. Pedro Quintas explora formas geométricas compostas por linhas, riscos e vincos, com uma técnica nascida de trabalho e paciência, em diversos formatos - e para mim, de entre os dez trabalhos que Pedro Quintas expôs, os de menor dimensão são os mais aliciantes porque apelam a uma observação mais detalhada e obrigam a ser vistos de perto (como o da imagem). Já Gwendolyn van der Velden faz da força das expressões que transmite nos retratos o seu principal argumento, introduzindo um dramatismo intrigante. Pedro Quintas estudou no Arco, tem exposto regularmente desde 2002 e está representado em diversas colecções. Gwendolyn estudou na Academia de Belas Artes na Holanda, e trabalha e expõe em Lisboa desde 2009, explorando sobretudo o desenho sobre papel - estas aguarelas são claramente fruto da sua prática de desenho. Outras exposições a descobrir: Suzanne Themlitz na Galeria Vera Cortês, David Graham na Galeria Filomena Soares, Rui Calçada Bastos na Galeria Bruno Múrias, Isaque Pinheiro na galeria Insofar.
MEMÓRIAS DO NOSSO TEMPO - No princípio deste livro está uma citação de Francisco Salgado Zenha: “Ninguém sabe o que é a Justiça, mas todos sabem o que é a injustiça”. O livro em causa é “Justiça, Política e Comunicação Social”, onde Daniel Proença de Carvalho relata as suas memórias enquanto advogado. A sua vida profissional é um cruzamento constante entre o trabalho enquanto advogado e os cargos que desempenhou no sector da comunicação: director do Jornal Novo, presidente da RTP e do Global Media Group, fundador do “Semanário”, proponente no início da década de 90 de um dos concorrentes à concessão de canais privados de televisão e ainda Ministro da Comunicação Social, anos antes, no IV Governo Constitucional. Ao longo de cerca de 370 páginas, Daniel Proença de Carvalho recorda ainda alguns dos casos a que esteve ligado enquanto advogado: a herança Sommer e António Champalimaud e os processos em que defendeu Manuel Rui Nabeiro, Leonor Beleza e Roberto Carneiro, entre outros. Mas escreve também sobre a relação que manteve com outros advogados que admirou, como Manuel João da Palma Carlos ou Salgado Zenha, “um homem de uma cultura superior” que “escrevia à primeira, sem precisar de corrigir”. O livro relata também os tempos que se seguiram em, 1974 e 1975, ao 25 de Abril e a intervenção que teve em diversos casos. Já no final Proença de Carvalho recorda o seu último combate político, contra a regionalização na altura do referendo de 1998. E, a terminar, relata o conflito que teve com o Procurador Geral da República, Cunha Rodrigues. O livro proporciona uma viagem, na escolha de temas e nas palavras do próprio, por períodos marcantes da nossa história recente- na justiça, na comunicação, na política. O texto final, “E o futuro?” bem pode ser lido como um programa para que Portugal progrida. Edição Bertrand.
O TANGO - Astor Piazzolla nasceu na Argentina em 1921, filho de pais italianos que foram viver para Nova Iorque, tinha ele quatro anos. Com apenas oito anos teve o seu primeiro bandonéon, oferecido pelo pai, e foi nos Estados Unidos que estudou música. Foi também em Nova Iorque que conheceu Carlos Gardel, o grande nome do Tango, quando Piazzolla, ainda miúdo, desempenhou o papel de um ardina que levava jornais a Gardel no filme “El Dia Que Me Quieras”. Piazzolla, que faleceu em Buenos Aires em 1992, é considerado o compositor de tango mais importante da segunda metade do século XX mas, quando começou a fazer inovações no tango, no ritmo, no timbre e na harmonia, foi muito criticado pelos tradicionalistas. Em 1986 Astor Piazzolla aceitou o desafio de Hip Hanrahan, fundador da editora American Clavé, e gravou em Nova Iorque três discos com o Quarteto Tango Nuevo - onde o seu bandóneon era acompanhado por um baixo, violino, piano e guitarra. “Tango: Zero Hour” foi o primeiro desses três álbuns, os outros foram “The Solitude of Passionate Provocation” e “The Rough Dancer and the Cyclical Night (Tango Apasionado)”, este último construído como banda sonora para uma peça teatral baseada em textos de Jorge Luis Borges. Os três constituem a sua discografia na American Clavé. A Nonesuch, que herdou esse catálogo, reuniu agora os três discos numa edição especial onde se pode ouvir toda essa obra, um total de 28 temas, cerca de duas horas e meia de grande música - The American Clavé Recordings. Quer ouvidos de forma separada ou em conjunto estas três obras mostram bem a dimensão da revolução musical protagonizada por Astor Piazzolla. Disponível nas plataformas de streaming.
DIXIT - "Na nossa elite política, ninguém acredita que a cultura e o conhecimento continuam a ser importantes para a sociedade em geral e para se perceber a política global" - Fernando Sobral
BACK TO BASICS - “Um quadro exposto nas paredes de um museu é alvo de mais opiniões ridículas que qualquer outra coisa no mundo” - Edmond de Goncourt
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