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UM CONGRESSO VIRADO PARA O PASSADO - Na semana passado o PSD fez o seu primeiro Congresso após uma grave derrota eleitoral, num panorama de aumento da abstenção, de descrédito generalizado no sistema político e partidário. Quem tivesse ouvido os dirigentes actuais do PSD acharia no entanto que estava tudo bem. Poucas intervenções tiveram a coragem de olhar para a cúpula social-democrata para dizerem: o Rei vai nu (ou o Rio vai seco)... Ironia à parte, a verdade é que faltou uma reflexão séria e organizada pelos poderes vigentes sobre o que provocou a derrota e o que faz com que o PSD tenha cada vez menos votos nas grandes cidades e nos eleitores mais jovens. A intervenção mais incisiva sobre estas matérias foi de José Eduardo Martins que chamou a atenção para a incapacidade demonstrada pelo seu partido em compreender como os tempos têm mudado, quais as aspirações dos eleitores mais novos, o que fazer para conquistar abstencionistas. Dei por mim a ouvir a sua intervenção (curta, sete minutos, disponível no YouTube) e a pensar que José Eduardo Martins é na verdade o líder que o PSD precisava para, como ele afirmou, deixar de “estar entalado entre uma direita reaccionária e uma esquerda folclórica”, desenvolvendo um programa que combata na sociedade “as desigualdades que fazem as pessoas fugirem cada vez mais para os extremos”. José Eduardo Martins não é no entanto um conspirador aparelhístico, é um adepto do reformismo na sociedade e no sistema político e tem ideias claras que exprime de maneira frontal. Isto num partido onde o aparelhismo é premiado transforma-se num problema. Como ele disse, “as pessoas deixaram de votar no PSD porque deixámos de acompanhar os tempos”. Ou o sistema muda, ou tudo vai ter tendência a piorar.
SEMANADA - Os empréstimos para compra de casa concedidos em 2019 foram os maiores dos últimos 10 anos e totalizaram 11,6 mil milhões de euros; o preço das casas subiu em dez anos 4,5 vezes mais do que os salários; arrendar uma casa em Lisboa exige uma taxa de esforço na ordem dos 58%, mais do que em Barcelona ou Berlim; nos últimos quatro anos o Governo cumpriu apenas 11% do plano Ferrovia 2020; em Portugal foram importados no ano passado cerca de 80 mil veículos usados a diesel com uma média de idade de 5,5 anos; a idade média dos automóveis ligeiros era de 12,7 anos no final do ano passado; em 2019 ocorreram em Portugal mais mortes que nascimentos pelo 11º ano consecutivo; no ano passado foram recebidas 676 denúncias de pornografia infantil: o tribunal da relação de Coimbra permitiu o regresso ao activo de um comandante da GNR condenado por aliciar uma menor com mensagens eróticas; segundo a Marktest o número de utilizadores de Internet em Portugal é 6 milhões e 387 mil, o que corresponde a 74.6% da população e desde 1997 a percentagem de utilizadores de Internet aumentou quase 12 vezes; também segundo a Marktest há cerca de 5 milhões de ouvintes regulares de rádio, o que corresponde a um crescimento de 5% nos últimos dez anos e entre as classes sociais, foi na média alta que se observou maior incremento de ouvintes.
ARCO DA VELHA - Segundo especialistas da área dos transportes e aviação o comprimento mínimo de segurança da pista de um aeroporto deverá ser de 2450 metros e a pista prevista para o Montijo tem um máximo possível de 2140 metros não podendo ser aumentada.
IMAGENS DO FUTURO - Gabriel Abrantes é um caso raro entre os criadores portugueses: as suas raízes estão no cinema, mas faz coexistir as imagens em movimento com pinturas, ilustrações e aguarelas, explorando diversas técnicas. A sua carreira está marcada por curtas-metragens que mostraram um sentido de observação e humor pouco frequentes, várias delas premiadas internacionalmente. O seu trabalho cinematográfico caracteriza-se por se basear numa forma de narrativa inesperada que recorre ao absurdo, ao humor e à observação social e política. Ganhou notoriedade com o filme de longa-metragem “Diamantino”, de 2018, sobre uma das estrelas do futebol português, mas a sua carreira no cinema começou com uma curta-metragem em 2006, tinha 22 anos. Abrantes nasceu nos Estados Unidos em 1984, estudou arte em Nova Iorque e Paris. Esta semana abriu no MAAT “Melancolia Programada”, onde Abrantes faz coexistir os seus trabalhos enquanto artista plástico com os seus filmes. A exposição abre com uma série de aguarelas, intimistas e autobiográficas, e prossegue com seis ambientes distintos, cada um construído em torno de um dos seus filmes e ainda outra sala onde está a pintura “As Banhistas”. As novas pinturas do artista são realizadas a partir de imagens geradas por programas de animação digital, e mostram a forma como está a trabalhar na intersecção entre animação digital 3D, inteligência artificial e referências da história da arte. Na exposição do MAAT podem ser vistos vários filmes, desde logo o recente, “Les Extraordinaires Mésaventures de la Jeune Fille de Pierre” que, como voz amiga comentava, é um “nonsense que faz sentido” . Um dos pontos altos do percurso da exposição é a instalação criada para a exibição de “Visionary Iraq”, uma curta de 2008. Outro filme em exibição é Too Many Daddies, Mommies and Babies (2009), que lhe valeu o Prémio Novos Artistas da Fundação EDP. A exposição, com curadoria de Inês Grosso, fica até 18 de Maio e é uma das melhores mostras que o MAAT tem organizado. “Melancolia Programada” está na Central Tejo onde também poderá ver “Unharias Ratóricas” da dupla Von Calhau.
CORPOS IMPREVISTOS - Nádia Duvall tem-se afirmado como uma das mais interessantes novas artistas portuguesas e em 2019 foi uma das vencedoras do prémio internacional Jovem Criação Europeia. Expõe desde 2006 e tem desenvolvido uma linha de trabalho em constante evolução, mas mantendo uma coerência que a leva a desenvolver a exploração de novas técnicas no seu trabalho. Por estes dias apresenta “undressed machine” no Espaço Cultural das Mercês, Rua Cecílio de Sousa 94, junto ao jardim do Príncipe Real. Esta é uma exposição onde combina o desenho com a pintura, a escultura, a fotografia, a performance e o vídeo, em torno da ideia do corpo e das próteses a que pode recorrer para renascer - o corpo e a sua mutação têm sido um dos territórios recorrentes de trabalho de Nádia Duvall. Aqui a narrativa combina histórias de amor com histórias de guerra e as transformações a que ambas sujeitam o corpo, dando espaço à sua redenção e à sobrevivência. A obra de Nádia Duvall é carregada de referências míticas, de reflexões autobiográficas e da permanente afirmação de um percurso criativo de ruptura e provocação. Outras sugestões da semana: na Galeria Belo Galsterer (Rua Castilho 71 r/c esq) Rita Gaspar Vieira apresenta “Com A Mão Cheia de Pó” e Pedro Boese apresenta duas séries de gravura sob a designação “In A Row”.
EPISÓDIOS MARXISTAS - Livros que contem histórias de bastidores e relatos sobre o que é a vida interna do PCP não são muito frequentes. Domingos Lopes, advogado, membro do gabinete de Álvaro Cunhal quando o líder comunista foi Ministro de Estado nos governos pós 25 de Abril, publicou agora as suas “Memórias Escolhidas”, numa edição da Guerra & Paz. No livro relata as lutas académicas de Coimbra e Lisboa, o seu percurso na União dos Estudantes Comunistas, o trabalho no gabinete de Álvaro Cunhal, as suas responsabilidades políticas no Comité Central do partido até às divergências que o levaram a abandonar o PC em 2009. Ao longo de duas centenas de páginas relata vários episódios, a sua vida como funcionário partidário, visitas à Coreia do Norte, à Mongólia e a Nova Iorque no âmbito do seu trabalho na Secção Internacional do PC - “por todo o mundo andei com o ideal às costas”, como afirma. Há muitas pequenas histórias inéditas e uma das mais curiosas reporta-se aos incidentes na Faculdade de Direito de Lisboa que levaram ao saneamento de Cavaleiro Ferreira. Domingos Lopes conta com detalhe o clima de tensão entre os militantes do MRPP, que tinham peso na Faculdade, e os do PCP. Visto a esta distância, o relato do episódio faz sorrir mas é um bom retrato das diferenças existentes. Este capítulo do livro termina com a evocação de uma conversa entre o então estudante Domingos Lopes, da UEC , e o assistente Marcelo Rebelo de Sousa: “O que é que ele tinha para me dizer? uma coisa muito simples, ele estava totalmente do nosso lado, o que nos separava era o leninismo, considerava-se apenas marxista. Fiquei espantado com o desabafo e a rápida conversão de Marcelo ao marxismo”, conta Domingos Lopes. E remata: “Este pequeníssimo episódio diz muito acerca das capacidades de manobra do então futuro Presidente da República. Marcelo, já em 1974, tinha no seu ADN esta faceta de ser o que é preciso em cada momento para surfar sem ir ao fundo, mesmo renegando o que era”.
TENDÊNCIAS SONORAS - A revista The Economist analisou recentemente os dados do Spotify, o mais popular serviço de streaming de música sobre as preferências dos seus utilizadores. Actualmente o Spotify tem disponíveis 50 milhões de títulos para os seus 270 milhões de utilizadores em 70 países, a maior parte dos quais na Europa e no continente americano. O sistema tem um algoritmo que analisa a sensação de energia e disposição provocada pela música numa escala de um a cem. Por exemplo “Respect” de Aretha Franklin tem uma classificação de 97 e “Creep” dos Radiohead não passa dos 10. A Economist analisou os dados e chegou à conclusão que Fevereiro é o mês em que os utilizadores do Spotify procuram canções mais tristes e Julho o mês em que as canções mais enérgicas e dançáveis são as mais procuradas. O algoritmo considera por exemplo que “Make Me Feel My Love”, de Adele, está na zona mais tristonha, que “Bridge Over Troubled Water”, de Simon & Garfunkel, fica numa zona de melancolia e que “I Put A Spell On You”, de Nina Simone, está na transição para a energia. “Lucy In The Sky With Diamonds” é claramente vista de forma positiva, mas superada a grande distância em matéria de indução de boa disposição por “Shake It Off” , de Taylor Swift. Os países latinos são aqueles onde a música alegre é mais procurada em qualquer estação do ano e Hong Kong, Filipinas, Estados Unidos e Noruega lideram a música mais melancólica.
DIXIT - “A Irlanda votou contra a austeridade que deteriora os serviços públicos, principalmente a saúde. A surpresa que aconteceu lá pode repetir-se em Portugal. PS e PSD que se cuidem “ - André Abrantes do Amaral
BACK TO BASICS - Fazer coisas simples é muito complicado - Martin Scorsese
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