Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



(QUASE) NADA SUBSTITUI UM BOM LIVRO

por falcao, em 25.10.24

IMG_5530.jpg

O LIVRO RESISTE AO DIGITAL - Em 2007 a Amazon lançou o seu primeiro Kindle, o e-reader mais popular de entre os vários que entretanto surgiram no mercado, como o Kobo, o seu rival mais directo, lançado em 2010. Muita gente pensou que com a introdução destes dispositivos digitais aconteceria aos livros o mesmo que aconteceu aos CDs, quando o iPhone e outros smartphones permitiram a massificação das plataformas de streaming de música. Mas, curiosamente, o que aconteceu aos discos não aconteceu nos livros. Vem tudo isto a propósito de um recente estudo promovido pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, desenvolvido pela GFK. Segundo esse estudo, o mercado total de livros em Portugal cresceu de 154 milhões de euros em 2019 para 187 milhões de euros em 2023. Segundo o mesmo estudo, a faixa etária dos 25 aos 34 anos é a que mais compra livros, 76% do total. E os livros em papel continuam a ser o formato preferido por 93% dos portugueses, em detrimento dos e-books. Finalmente, o estudo indica que a classe média é a que compra mais livros, 73% do total. O estudo indica ainda que os leitores portugueses continuam a ser movidos por três factores principais na hora de comprar um livro: o tipo de livro, o preço, e as recomendações. Por último, o romance é, de longe, o género mais consumido, com 50% das preferências seguido pelo policial e o thriller e, praticamente empatado,  o romance histórico, ambos com 30%,  seguido pelos livros infantis e juvenis. Este ano está a correr bem: no final de Setembro  o mercado nacional do livro já tinha crescido 6% na venda de unidades e 9,1% em valor. Um outro estudo da GFK com o comparativo de 16 países, mostra que  Portugal e Espanha são os dois países europeus com maior crescimento do mercado, quer em valor, quer em unidades vendidas. O mercado português é liderado pelas redes de livrarias ligadas a grupos editoriais e pelas grandes superfícies, mas a venda  online maioritariamente feita pela WOOK e as livrarias independentes, juntas, significam cerca de 20% do mercado que este ano poderá atingir os 200 milhões de euros, um novo recorde.

 

SEMANADA - Dos 37 heliportos de hospitais apenas cinco têm autorização da Autoridade Nacional da Aviação Civil para funcionar; as cativações previstas pelo Ministério das Finanças no orçamento de estado para 2025 são as mais altas de sempre; quase 94% das unidades de saúde familiar registaram faltas de material básico no último ano; 24 mil alunos continuam sem aulas desde o início do corrente ano lectivo; a GNR registou 103 crimes de bullying nas escolas no ano lectivo de 2023/2024, dos quais 12 de cyberbullying;  há cada vez mais crianças e jovens no sistema de acolhimento e protecção, que no ano passado registou 2415 novos acolhimentos, com especial incidência em crianças até aos nove anos;  um estudo da Pordata indica que 30,2% dos portugueses não tem capacidade para suportar uma despesa inesperada sem recorrer a empréstimo; em 2023 existiam em Portugal 2375 estações ou postos  de correio, menos 523 dos que funcionavam em 2005; a Ministra da Administração Interna disse que, entre Janeiro e Agosto deste ano, 1295 agentes da PSP e militares da GNR tinham sido agredidos em funções; um estudo recente indica que Portugal é o 17º país com mais patentes de origem académica na Europa e a Universidade do Porto, a NOVA de Lisboa, as Universidades de Lisboa e do Minho e o Instituto Superior Técnico são as principais instituições portuguesas titulares de patentes académicas.

 

O ARCO DA VELHA -Dos seis unicórnios (startups avaliadas em pelo menos mil milhões de dólares) com sangue português apenas uma, a Feedzai, ainda tem sede em Portugal, todas as outras, ao ganharem dimensão, acabaram por deixar o país.

2024 As aparições vãs da noite .jpeg

A FESTA DO DESENHO -   Nos últimos anos tem crescido o interesse por obras de arte no formato desenhos feitos sobre papel, quer a carvão, aguarela, acrílico ou outros materiais. Desde 2018 realiza-se em Lisboa a Drawing Room, dedicada precisamente a este segmento do mercado de arte. O  preço médio das obras é mais reduzido que o que acontece noutras feiras com outros suportes e outros materiais, o que significa uma boa oportunidade. A edição deste ano conta com 23 galerias, algumas das quais estrangeiras, e apresenta obras de sete dezenas de artistas, dos mais consagrados até principiantes.  Pedro Calapez, Cristina Ataíde, José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, José Loureiro, Rui Sanches ou Gabriel Abrantes são alguns dos nomes presentes. Como tem acontecido em anos anteriores a Drawing Room acolhe os 10 artistas finalistas do prémio de desenho da FLAD, cujo vencedor será conhecido no decorrer da Feira. Este ano há também uma nova secção, “Quarto de Visitas”, onde estão três galerias estrangeiras , de Viena, Haia e Marselha. A Drawing Room decorre na Sociedade Nacional de Belas Artes (Rua Barata Salgueiro 36) até domingo, dia 27. Na sexta e sábado está aberta das 11 às 21 horas e no domingo das 11 às 18. Na imagem está a obra “As Aparições Vãs da Noite”, um trabalho recente de Pedro Calapez, acrílico sobre papel, apresentado na Galeria Miguel Nabinho.

 

P1180442-1 - Cópia - Cópia.jpg

ROTEIRO - O destaque desta semana vai para a nova exposição de José Maçãs de Carvalho, “Tempo Dobrado”, que está em Coimbra, na Casa Museu Bissaya Barreto (Rua da Infantaria, 13) até 1 de Fevereiro. A exposição mostra na sala principal três fotografias e um tríptico, todas inéditas, de 2024 e 2022, entre as quais a que ilustra esta nota. José Maçãs de Carvalho foi buscar o título “O Tempo Dobrado” a um verso do poeta Luís Quintais e refere-se “aos múltiplos tempos da fotografia”, destacando  que “há sempre mais para ver além do que é óbvio”. A exposição ocupa também duas outras salas, mais pequenas, que mostram fotografias e um vídeo de 2005 e 2006. José Maçãs de Carvalho sublinha que “as fotografias encontradas para esta exposição fazem parte de uma longa reflexão sobre a natureza da fotografia e a sua prática.” Há muito que o que mais me interessa e instiga é fazer imagens que tragam uma promessa ou sensação de tempo”. Em Lisboa, no Museu Eugénio de Almeida (Rua Mouzinho da Silveira 4), Evelyn Kahn apresenta até 9 de Novembro uma série de 41 fotografias inéditas sob o título “Improvável”. Na Galeria Ratton, que celebra 37 anos, Sara Maia mostra novas obras em pintura e azulejo sob o título “Identidade da Memória” (Rua da Academia das Ciências 2C).

 

IMG_5539.jpg

CRIMES ISLANDESES - Nem de propósito, o meu livro desta semana é um policial, o género preferido por 30% dos leitores portugueses. Chama-se  “O Ruído na Escada” e é a estreia de Eva Björg Ægisdóttir , uma escritora islandesa que com esta obra ganhou o Blackbird Award, um prémio de ficção policial criado por dois dos mais conhecidos escritores islandeses , Yrsa Sigurdardóttir e Ragnar Jónasson. O livro conta a investigação desenvolvida por Elma, uma detective que regressou à sua terra natal, a cidade islandesa de Akranes, e que se defronta logo com a descoberta do corpo de uma mulher junto ao mar e ao antigo farol. A vítima, vem a descobrir-se, chamava-se Elísabet,  nascera  em Akranes mas fora viver para Reykjavík- tal como a própria detective. Quando Elma começa a investigar a vida de Elísabet descobre como este assassínio estava ligado ao desaparecimento e  morte de uma criança há muitos anos atrás e como todo o caso tinha sido abafado por uma teia de cumplicidades de pessoas de Akranes que estiveram envolvidas no abuso de crianças. O livro agarra do princípio ao fim  e conta como Elma e os seus colegas Sævar e Hördur fazem uma investigação que revela o segredo que existia no passado da vítima. A autora estudou sociologia,  especializou-se mais tarde em globalização e resolveu dedicar-se à escrita de policiais aos 30 anos. A tradução é de Anónio Sobler e a edição é da Quetzal.

 

IMG_5519.jpg

SOM PURO  - Comecei a seguir a fadista Carminho com outra atenção quando ouvi o álbum “Portuguesa”, de 2023. Nessa altura assisti a um espectáculo em que ela interpretou vários dos fados desse disco e fiquei surpreendido pela forma como Carminho não hesitava em percorrer caminhos musicais por onde o Fado, mesmo nas novas gerações, não costuma ir. Agora fiquei fascinado pelo disco “Carminho At Electrical Studio”, uma prova da vontade que ela tem de descobrir outros sons. Carminho, a meio de uma digressão nos Estados Unidos, no ano passado, quis gravar com Steve Albini, um engenheiro de som, também produtor e músico, que trabalhou com nomes como Pixies, Nirvana, P.J.Harvey ou The Stooges. Albini, que morreu em Maio deste ano, era conhecido por não manipular os sons e por registar da forma mais fiel possível, sem efeitos nem truques, o trabalho dos músicos. E foi essa forma de registo, limpo, sem interferências, que deu a estes quatro temas uma dimensão especial. Durante a digressão Carminho foi ensaiando novas músicas e quando conseguiu uma sessão de gravação no estúdio de Albini, o Electrical Audio, em Chicago, gravou quatro temas, de seguida,  num único dia. O  EP que reproduz essa sessão, inclui três composições inéditas -  “Não Olhes os Meus Olhos”,”Gota de Água” (baseada num poema de António Gedeão) e “Deixei a Minha Casa”. À última hora Carminho decidiu também gravar “Os Argonautas”, um dos temas mais marcantes da carreira de Caetano Veloso e que Carminho havia rearranjado para incluir a guitarra portuguesa, merecendo os elogios do músico brasileiro. Foi com base nessa nova gravação que Caetano, mais tarde, juntou a sua voz num dueto virtual emocionante. Este EP já está disponível nas plataformas de streaming.



ALMANAQUE  - Em Paris até 19 de Janeiro pode ser vista no Musée Picasso uma exposição dedicada aos primeiros anos do artista norte-americano Jason Pollack, com trabalhos realizados entre 1934 e 1947. Em Madrid  até 5 de Janeiro, na Fondácion Mapfre, sala Recoletos, está uma  retrospectiva da obra do fotógrafo norte-americano Arthur H. Fellig, que ficou conhecido como Weegee. E uma boa maneira de acabar o fim de semana é ver na RTP2, no domingo à noite, o programa “Alexandria”, onde António Pinto Ribeiro conversa com convidados bem escolhidos sobre diversos temas - neste domingo o tema é o Universo. Tentador…



DIXIT - “O Governo prometeu o paraíso à economia portuguesa, mas o que lhe está a dar é o inferno do crescimento medíocre” - Luís Marques



BACK TO BASICS - “Já que não podemos mudar a realidade, mudemos de conversa” - James Joyce

 

A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS



Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 12:00



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2005
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2004
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D
  274. 2003
  275. J
  276. F
  277. M
  278. A
  279. M
  280. J
  281. J
  282. A
  283. S
  284. O
  285. N
  286. D