Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



36DCE914-ABD2-4FC2-B3B6-6F328FD88208.JPG

UM RIO DE LAMA - Pode acontecer que um partido político decida mudar de estratégia no seguimento de um Congresso. O vencedor muitas vezes surge em oposição ao poder interno anterior ou então como a tábua de salvação num momento de falta de alternativa. Rui Rio venceu o PSD em oposição a Santana Lopes, mas fugiu sempre de explicitar estratégia e táctica política. Ficou sempre indefinido,  preferiu navegar ao sabor do vento. E em vez de uma oposição frontal a António Costa, ao PS e à geringonça, como Santana prometia, Rio decidiu-se por uma coexistência pacífica. Supõe-se que na sua mente estava poder ser a charneira que ressuscitasse um bloco central. Só que a vida não lhe correu de feição - e Costa, que é um político mais hábil de olhos fechados que Rio de olhos bem abertos debaixo de um duche frio, acabou por o acantonar. A isto juntou-se a deriva de um PP órfão de liderança,  que também pouco mais faz que tirar água do porão para não se afundar, e uma divisão do eleitorado urbano não centrista para a Iniciativa Liberal. E, para cúmulo, à direita de PSD e PP começou a crescer uma nova força política, populista, ideologicamente carregada, claramente em ruptura com o sistema, com um líder carismático - André Ventura. Rio foi o encenador do crescimento do Chega e agora, acossado, está disposto a tudo. O que Rui Rio está  a fazer é um exercício de sobrevivência de poder interno no PSD, sem mandato nem coerência, sem estratégia à vista que não seja tentar manter alguma relevância junto dos desesperados do aparelho pela falta de poder. De tudo isto vai sair um PSD mais fraco, uma direita menos credível e muito provavelmente umas eleições dadas de bandeja, de novo, ao PS. A única incógnita é saber o que Marcelo fará depois de ser reeleito: ou tolera Rio ou dá sinais de que o dispensa. Essa vai ser a parte interessante de seguir, ainda durante os ensaios das autárquicas, aposto. 

 

SEMANADA - Relativamente à pandemia, no início da semana, seis em cada dez municípios do país estavam em situação grave; 27 concelhos têm mais de 100 casos por 100 mil habitantes; os concelhos considerados de risco geram 90% da riqueza do país; no fim de semana passado foram detectadas pela GNR três festas no Algarve em que participavam 310 pessoas; o programa de apoio a pessoas carenciadas, financiado por fundos europeus, teve uma execução de apenas 32%; em 2018, segundo o Eurostat,  21,6% da população portuguesa vivia em risco de pobreza ou exclusão social; a pandemia provocou uma queda de 980 milhões de euros de receitas nos hotéis portugueses durante o verão; o investimento dos vistos gold caíu 52% em outubro; um inquérito da CIP aos seus associados  revela que 21%  das empresas admitem ter que reduzir os seus quadros de pessoal devido à situação provocada pela pandemia; no mês de setembro o recurso ao crédito pessoal, linhas a descoberto e aos cartões de crédito aumentou 16% relativamente ao mês anterior; no espaço de um ano encerraram 187 agências bancárias e saíram 1016 trabalhadores da banca; foram apresentadas na Assembleia da República 1542 propostas de alteração ao Orçamento de Estado, um novo recorde; segundo a Marktest 32% dos portugueses com menos de 35 anos tem o hábito de ver Tv online, face aos 3.2% dos indivíduos com mais de 64 anos que também o faz.

 

SINAIS DOS TEMPOS - Por causa da pandemia o negócio da venda de presuntos,salpicões e chouriças de Trás-os-Montes saltou das bancas das feiras para o online.

 

LP-Lazer18- 001.jpg

PAPEL FOTOGRÁFICO - Luís Pavão, conhecido pelas suas fotografias de Lisboa (sobretudo nos anos 80) e pelo seu trabalho na área da preservação da fotografia,  expõe uma série de trabalhos inéditos feitos com a técnica de sensibilização directa do papel fotográfico, sem intermediação de uma câmara. O título da exposição veio do papel usado - Record Rapid (na imagem). No caso foi uma antiga caixa de papel Agfa Record Rapid, um clássico entre os papéis fotográficos para impressão a preto e branco. Os fotogramas recuperam a técnica utilizada por William Fox Talbot nos seus “photogenic drawings” na primeira metade do século XIX.  Aqui o que conta é a capacidade de trabalhar a luz e a sombra, por vezes colocando objectos sobre o papel no momento da sensibilização. Luís Pavão apresenta nesta “Record Rapid” a sua interpretação da fotografia enquanto possibilidade de desenho, substituindo o lápis pela luz e por objectos do quotidiano. Luís Pavão exerce a sua atividade na área de fotografia, além de ter realizado livros e exposições em torno da fotografia documental, é especializado em conservação e digitalização de coleções de fotografia e desde 1991 é conservador das coleções de fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa. A exposição abriu n’A Pequena Galeria (Avenida 24 de Julho 4C) e estará patente até 19 de Dezembro e, depois, de 13 de Janeiro a 13 de Fevereiro. Continuando na fotografia, mas a norte, destaque para a exposição que assinala os 50 anos de carreira de Alfredo Cunha e que estará patente até Maio do próximo ano no Centro Português de Fotografia, alojado no edifício da Cadeia da Relação, Largo Amor de Perdição, Porto. Alfredo Cunha é um dos mais importantes fotojornalistas portugueses e ao longo do último meio século trabalhou para jornais portugueses e estrangeiros e também para agências noticiosas.

 

image.png

MÚSICA ALBANESA - Apesar da voz grave e cheia, o canto é suave, envolvente. Elina Duni nasceu em Tirana, na Albânia, no início da década de 80 e estudou música na Suíça, para onde foi residir na década de 90. Foi a partir do estudo do piano que descobriu o jazz - género que mais tarde se veio a tornar o seu principal foco de estudo, centrado no canto e composição, no Conservatório de Berna. Foi ainda enquanto estudava que criou o seu quinteto e que procurou uma fusão entre as suas raízes musicais - temas do folclore balcânico - e o jazz. Com o andar dos tempos o quinteto transformou-se em quarteto, com Elina Duni na voz, Rob Luft na guitarra (um elemento marcante da formação), Fred Thomas no piano e bateria e Matthieu Michel nos instrumentos de sopro. A maior parte dos 12 temas deste novo disco, “Lost Ships” são de Elina Duni e de Rob Luft que desde 2017 trabalham em conjunto. Mais tarde juntou-se Fred Thomas, cuja contribuição neste disco é muito sensível e por fim o flugelhorn de Matthieu contribui também para a sonoridade de todo o álbum. No disco coexistem temas de inspiração na música tradicional da Albânia, mas também versões de temas popularizados por Sinatra (“I’m A Fool To Want You”) ou Aznavour (“Hier Encore”). Permito-me destacar a cumplicidade entre a guitarra e a voz num disco inesperado. Edição ECM, disponível no Spotify.

 

Contos de Grimm_capa (1).jpg

HISTÓRIAS DE SEMPRE - No século XIX os irmãos Grimm dedicaram-se ao registo de fábulas infantis e a recolha que efectuaram tornou-se fonte de algumas das histórias infantis mais apreciadas, ainda hoje permanentemente contadas. Do trabalho que desenvolveram saíu a colectânea “Os Contos de Grimm”, cuja primeira edição, em 1812, tinha dois volumes e incluía duas centenas de contos, incluindo clássicos como  “O Rei Sapo”,  “Capuchinho Vermelho”, “Rapunzel”, “Cinderela”, “A Bela Adormecida”, “Hansel e Gretel” ou “Branca de Neve”. Philip Pullman, um escritor britânico que ganhou fama com a trilogia “Mundos Paralelos”, decidiu pegar nas recolhas dos Grimm, escolheu meia centena dos contos mais conhecidos e deu-lhes nova forma, chamando-lhes “Contos de Grimm Para Todas as Idades”, agora editado pela Bertrand. A obra, considerada como “Livro de Ficção do Ano” pelo Sunday Times, inclui em cada conto os comentários de Pullman sobre as versões originais, fazendo o enquadramento na época da primeira edição e a forma como as histórias chegaram ao conhecimento dos irmãos Grimm.

 

O REGRESSO DO CLARETE - Durante os últimos anos, à sombra do ressurgimento de bons brancos e do nascimento de bons rosés nacionais, o clarete infelizmente perdeu espaço e, quase existência. E isto apesar de ser um vinho tradicional, nascido há séculos pelas mãos de monges cistercienses, que assim procuravam um equilíbrio entre uma pequena percentagem dos tintos e os brancos mais nobres, fazendo um vinho rico em aromas e com tons abertos. Mas as coisas estão a mudar e há pouco tempo tive ocasião de provar um clarete surpreendente - um Vineadouro Clarete 2019, feito pelo saber do enólogo Virgílio Loureiro que em boa hora convenceu Teresa e Carlos Lacerda, os proprietários da Quinta de Vineadouro, a arriscarem produzir um clarete - por sinal o primeiro clarete a obter a certificação DOC do Douro. Localizada no Douro Superior, freguesia de Numão, concelho de Vila Nova de Foz Côa, com o rio por perto, a quinta de Vineadouro tem uma mistura de 22 castas tradicionais, bem preservadas, algumas cuja plantação data de há 100 e há 50 anos a uma altitude de 450 metros. É um vinho com mais sabor que cheiro, feito a partir das castas Rabigato, Bastardo, Rufete, Casculho, Marufo e Síria. Aromático, este é um vinho ideal para petiscar, por exemplo ao lado de um queijo de meia cura  e de bom presunto da região. Tive também ocasião de experimentar dos mesmos produtores um branco com a casta histórica do Douro, o Rabigato. É um monocasta, com o sabor intenso daquelas uvas, corpo médio, aromático, fresco. Muito bom, com personalidade vincada. Outro branco notável é o Vineadouro Vinhas Antigas, uma vinha plantada em socalcos há mais de um século, com, entre outras castas, Malvasia Fina, Trincadeira Branca, Gouveio e Carrega Branco. Aromático, sabor intenso, acidez marcante, fantástico para preparar o palato a acompanhar frutos secos torrados. Por último há um tinto - o Vineadouro Reserva de 2017, com Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, corpo e sabor marcantes com madeira de carvalho perceptível mas não dominante. A produção da Quinta ronda as  3000 garrafas e em Lisboa pode encontrar os seus vinhos na garrafeira Néctar das Avenidas, na Avenida Luis Bivar - ou então ir ao site vineadouro.com e fazer a encomenda aos produtores.

 

DIXIT - “Considero necessária a realização de um Congresso extraordinário do PSD para definição, bem antes das eleições autárquicas e legislativas, da política de coligações e entendimentos (do partido) “ - Jorge Moreira da Silva.

 

BACK TO BASICS - “O maior problema não é a falta de dinheiro, é a falta de ideias” - Ken Hakuta, inventor.



Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 11:00



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2005
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2004
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D
  274. 2003
  275. J
  276. F
  277. M
  278. A
  279. M
  280. J
  281. J
  282. A
  283. S
  284. O
  285. N
  286. D