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UM ARTISTA DE VARIEDADES - A curiosidade é uma coisa tramada. Dizem até que os gatos correm risco de vida quando são demasiado curiosos. Os portugueses, pelo contrário, têm a sua curiosidade estancada pelas autoridades, e cada vez com maior frequência. Os gatos, por estas bandas, correm risco de vida quando andam nas cercanias dos governantes. Tomemos quatro casos recentes neste rectângulo à beira-mar plantado: a anulação dos debates quinzenais com o Primeiro Ministro na Assembleia da República, cozinhada a meias entre Rui Rio e António Costa com o pretexto de deixar tempo ao Governo para trabalhar; as manobras do Governo para considerar ilegítimo o relatório da Ordem dos Médicos sobre o Lar de Reguengos que criticava as autoridade de saúde locais; a tentativa de esconder o relatório e as recomendações da Direcção Geral da Saúde sobre a festa do Avante!; e, finalmente, o caso da auditoria ao Novo Banco, que foi considerada confidencial. Cada vez que existe um tema quente a primeira reacção deste Governo é esconder os detalhes, negar seja o que fôr, procurar atirar as culpas para cima de quem estiver à mão. Por vezes os protestos são eficazes, outras vezes nem tanto. No caso do Novo Banco a auditoria retoma aquela imagem da montanha que pariu um rato: afinal estava tudo bem. Lê-se o que nos deixam ler, procura-se um culpado e chega-se à conclusão de que afinal havia outro, como numa célebre canção de Ágata. O Governo está a assemelhar-se a uma estação de rádio especializada em música pimba, para iludir a multidão e distrair as consciências. Costa é um grande artista de variedades, troca de papel com rapidez e à vontade e aparece sempre sorridente em palco. E quando não é aplaudido, lança ele próprio os foguetes - veja-se a sua recente entrevista a um jornal, cheia de fogo de artifício...
SEMANADA - O Fisco abriu uma página no Facebook mas ainda não se sabe se é para ter seguidores ou para ir seguindo contribuintes; o Portal das Finanças recebeu 4383 queixas; entrou em vigor o novo regimento da Assembleia da República que contém o acordo de Rio e Costa para acabar com os debates quinzenais entre deputados e o Primeiro Ministro; segundo o Instituto de Conservação da Natureza e Floresta um terço dos incêndios tem mão criminosa; nas últimas três décadas o valor investido em obras na linha ferroviária que liga Lisboa ao Porto foi de 1,5 mil milhões de euros, o mesmo valor que teria custado fazer uma linha de alta velocidade; as vítimas mortais de acidentes rodoviários em Julho deste ano aumentaram 50% em relação ao mesmo mês do ano passado; mais de metade das estradas portuguesas têm má ou muito má qualidade, revela um estudo do Programa Europeu de Avaliação de Estradas; entre Abril e Junho deste ano o gasto das famílias em produtos alimentares foi de 6,2 milhões de euros, o valor mais alto de sempre num trimestre; as famílias portuguesas gastaram menos 52 milhões de euros por dia na compra de bens e serviços durante o segundo semestre deste ano, em comparação com igual período do ano passado; o desemprego entre jovens até aos 24 anos cresceu 37% este ano; um estudo da Marktest indica que este ano descobrir o país é uma das actividades de que os portugueses mais gostam e 2,5 milhões revelaram essa preferência; cerca de mil parques infantis estão em risco de falência num sector que emprega mais de 3 mil pessoas; a mortalidade em Agosto voltou a ser superior ao normal mas só um em cada cinco mortes em excesso foi devida ao Covid-19, sendo estimado que a redução de assistência médica e de cuidados sociais é a causa mais provável das restantes mortes.
ARCO DA VELHA - O PCP continuou a vender bilhetes para a festa do Avante! mesmo depois de já ter ultrapassado a lotação permitida pelas autoridades de saúde.
CONFINAMENTO EXPOSTO - Isabel Garcia desenvolveu o projecto da sua exposição “Seed”, que inaugura dia 5 de Setembro na galeria Arte Periférica (CCB) , durante o período do confinamento. No texto que escreveu para a exposição, Filomena Serra sublinha que os trabalhos apresentados são “um convite urgente a pensar a negociação entre a natureza e o ambiente”. A exposição apresenta pequenos objectos em bronze patinado que são simultaneamente pequenos cofres e sementes e também pinturas sobre tela em duas séries - “Floating Seeds” e “Another Green World”, na imagem, esta última criada a partir da evocação de uma composição de Brian Eno. Em Lisboa a Galeria Vera Cortês prossegue o ciclo de exposições de curta duração que coloca em diálogo obras de dois artistas. Até 9 de Setembro poderão ver os trabalhos de José Pedro Croft e Catarina Dias (Rua João Saraiva 16-1º). No Espaço Exibicionista (Av. Casal Ribeiro 18) Valentim Quaresma apresenta entre 4 e 28 de Setembro a exposição “Once Upon A Time”, feita com base no conceito de criação de peças novas a partir da reutilização de materiais. E para terminar Paulo Brighenti apresentou esta semana um projecto a que devotou muito trabalho, a RAMA - Residências Artísticas da Maceira, localizada na Aldeia da Maceira em Torres Vedras. A RAMA destina-se a artistas, investigadores e curadores nacionais e internacionais e quer nomeadamente organizar residências artísticas, oficinas, exposições e palestras, de forma a fomentar a relação com a comunidade local, a cultura, os ofícios e os saberes tradicionais, a história e a paisagem rural, aprofundando o conhecimento da região. Mais informações em www.ramastudios.pt .
UMA VOZ À PARTE - Há uma dezena de anos Gregory Porter era um ilustre desconhecido. Agora a sua voz de barítono e o seu visual tornaram-se uma imagem de marca entre os cantores de jazz contemporâneos. Em 2017 lançou um álbum basicamente de versões de temas celebrizados por Nat King Cole e o seu último disco de originais datava de 2016. Quatro anos depois regressa às suas próprias composições com o novo álbum “All Rise”, agora editado. Aqui ele mostra de novo os seus talentos de compositor, destacando-se a forma como escreve tendo em conta as suas próprias características vocais e aproveitando-as ao máximo. A sua voz é notável, mas o seu talento de compositor também. Dos 16 temas deste disco destacam-se “Phoenix”, “Merry Go Round”, “Long List Of Troubles” ( e se puderem vejam como neste tema a voz se harmoniza com o som do orgão Hammond tocado por Ondrej Pivec, “Thank You”, “Revival Song” e a balada “If Love Is Overrated”. Neste seu sexto álbum Gregory Porter vai do jazz à soul, passando pelo gospel. Fez-se acompanhar por uma secção de metais, um côro de 10 vozes e pela secção de cordas da London Symphony Orchestra. O trabalho de produção de Troy Miller ( que entre outros trabalhou com Amy Winehouse), abriu toda a sonoridade do álbum. Disponível no Spotify.
UM MISTÉRIO PESSOANO - Em Portugal há escritores que trabalham angustiados a pensar no prémio Nobel. Foi coisa que nunca passou pela cabeça a Fernando Pessoa. Mas, e se tivesse acontecido? Este é o ponto de partida para “A Segunda Vida de Fernando Pessoa”, de João Céu e Silva. Editado originalmente durante o confinamento sob a forma de folhetim no “Diário de Notícias”, esta foi a maneira que o jornal escolheu para evocar os 150 anos da publicação de um outro folhetim que ficou célebre, “O Mistério da Estrada De Sintra”, de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. “A Segunda Vida de Fernando Pessoa” conta a história de um homem que, através de experiências esotéricas, encarna um dos heterónimos de Fernando Pessoa e continua a obra do poeta rumo ao Nobel. O livro conta-nos a história de um misterioso especialista em estudos pessoanos que atrai um professor para a sua investigação sobre a relação de Pessoa com Aleister Crowley. Revive-se uma viagem ao passado, desde as primeiras correspondências até ao ponto em que o poeta português ajudou o ocultista britânico a forjar o suicídio na Boca do Inferno. Sem se aperceber, e através de experiências esotéricas e descobertas perturbadoras, o professor vai sendo moldado física e espiritualmente para encarnar Vicente Guedes, o heterónimo a quem inicialmente foi atribuído “O Livro do Desassossego”, e continuar a obra do poeta, rumo ao Nobel. O romance de João Céu e Silva reata a tradição do folhetim, e mantém o seu elemento de suspense entre capítulos, criando uma atmosfera de mistério até ao final. Edição Guerra & Paz.
A ARTE DO FILETE - Tudo começou quando me gabaram os filetes de um restaurante na estrada de Birre, a Caminho do Guincho, mais precisamente numa localidade chamada Areia. Disseram-me que “O Correio” era um restaurante simples, com decoração antiga, mas bom serviço, boa confecção e boa matéria prima. A recomendação mostrou-se certeira e numa mesa alargada provou-se de tudo um pouco - os filetes de pescada, acompanhados de arroz de tomate no ponto, eram suculentos, o peixe era fresco e bem cortado, a fritura impecável e foram unanimemente elogiados: noutra ponta da mesa era gabada a carne de porco à alentejana e, no meio, uma massada de peixe com gambas e um arroz de bacalhau com amêijoa também obtiveram sucesso, assim como uns belos carapaus de bom porte. A lista de vinhos tem sugestões correntes sem grandes desvarios, na mesa do lado foram muito gabados os mexilhões à espanhola acompanhados de batatas fritas caseiras. Confirmo pois o que me disseram: a comida é muito boa, o serviço é atencioso e a conta não é pesada. “O Correio” fica na Rua da Areia 1406, com o telefone 214 860 039.
DIXIT - “A arte mais exigente da saúde pública é percorrer o estreito caminho entre proteger a saúde das pessoas (...) e evitar excessos na natureza e oportunidade das medidas a adoptar” - Constantino Sakellarides e Francisco George.
BACK TO BASICS - “É verdade que o conhecimento pode criar problemas, mas não é permanecendo ignorantes que os evitaremos” - Isaac Asimov
(A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE NO SUPLEMENTO WEEKEND, QUE SAI COM O JORNAL DE NEGÓCIOS DE SEXTA-FEIRA)
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