Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
ONDE ESTÁ O WALLY? - Esta pergunta, que deu fama a uma série de livros ilustrados, bem pode ser reformulada como “onde está o consumidor?”. O grande problema da comunicação publicitária hoje em dia, face à enorme fragmentação da mídia, é conseguir fazer uma campanha que permita ter a melhor possibilidade de impactar o consumidor certo para o produto ou serviço que se publicita. Em relação à TV temos os três canais comerciais generalistas (RTP1, SIC e TVI), e no cabo, entre mais de cem opções disponíveis, há pelo menos dezena e meia de canais que são suportes publicitários interessantes e bem segmentados para diversos tipos de consumidor. Depois, por ordem decrescente de captação de investimento publicitário, temos os meios digitais e as suas numerosas possibilidades, a publicidade de rua em outdoors, a rádio, os jornais e revistas e, por fim, a publicidade em salas de cinema. A mudança é constante - por estes dias, por exemplo, a Marktest lança um serviço de avaliação de podcasts, cuja utilização está a aumentar. Durante alguns anos os padrões de consumo de media não sofreram grandes alterações mas, sobretudo a partir do início deste século, a modificação de hábitos dos consumidores tem sido constante. Confesso que gosto de seguir a evolução destes comportamentos - um vício adquirido, primeiro, quando dirigi o canal 2 da RTP há uns anos, e depois durante a década e meia em que fui diretor-geral de uma agência de meios, a Nova Expressão, onde aprendi muito. Nesses 15 anos de enormes transformações enfrentámos várias crises de mercado e, também, a pandemia. Conseguimos ultrapassar as dificuldades por termos adoptado muito cedo o digital e aperfeiçoado a análise sistemática de dados, o que permite perceber rapidamente as mudanças de comportamentos no consumo de mídia. Ao contrário do que algumas pessoas ainda pensam, uma agência de meios não é uma mera bolsa de compra e venda de espaço publicitário. É cada vez mais uma sofisticada operação que analisa a forma como o consumidor age ao longo do dia, que utiliza dados e estudos rigorosos para traçar estratégias que melhor encontrem e toquem o cliente, no meio da imensa floresta de possibilidades. A criatividade de uma campanha, feita pelas agências de publicidade, é muito importante para cativar a atenção - mas ainda mais importante é definir, logo desde o início, qual ou quais os meios que se vão utilizar e como. Eu, por mim, continuo fascinado em encontrar o Wally.
SEMANADA - Segundo o Banco de Portugal os preços das casas estão “sobrevalorizados” desde 2017 e em dez anos aumentaram 80% em Portugal, quase o triplo do que se verificou em Espanha; 2,1 milhões de portugueses estão emigrados e um em cada três jovens quer sair do país; em 2023 saíram de Portugal 81 mil portugueses, o que representa um aumento de 13,5% face a 2022 e é o número mais alto desde 2020; mais de metade destes novos emigrantes são jovens até aos 35 anos (46 mil) e a maioria dos que saem (42%) tem curso superior; este ano já chegaram à Ordem dos Enfermeiros 1344 pedidos da declaração que permite exercer fora do país, o que dá uma média de quatro pedidos por dia e nos últimos 14 anos foram feitos 29 mil pedidos semelhantes; dois terços das vagas para colocar jovens médicos de família ficaram por ocupar; no debate na especialidade do Orçamento de Estado deste ano registou-se um novo recorde com a apresentação de 2151 propostas de alteração do OE por parte de todos os partidos; no espaço de dois anos, Portugal foi dos países onde a receita de IVA (em percentagem do PIB) mais cresceu, continuando a destacar-se entre as economias da zona euro onde os impostos indiretos mais pesam na receita fiscal total.
O ARCO DA VELHA - Em dois anos foram atropeladas 10 mil pessoas em Portugal.
A INTRIGANTE PERSONAGEM - “Beco das Flores, Canedo do Mato” é o título da nova exposição de José Loureiro na galeria Cristina Guerra Contemporary Art, um conjunto de 16 óleos sobre tela, a maioria de grandes dimensões (237x118 cms), como o que está na imagem. É um poderoso conjunto de pinturas ligadas por uma intrigante mas marcante personagem, criada por José Loureiro, que aparece repetidamente numa série de situações, como que reflectindo a evolução dos seus estados de espírito a cada momento do quotidiano que se adivinha, quase uma evocação de banda desenhada. No texto que acompanha a exposição, José Loureiro relata assim o que pintou: “A primeira gravata. A primeira unha. A unha cortada rente. Dedadas grandes e pequenas. O desabrochar do narciso e os atalhos que toma até adquirir as qualidade de homem devoto de grandes causas.” Estas são pinturas que deixam no ar uma história, com mais interrogações que afirmações, desafios à imaginação de quem olha, e que levam títulos como “ O Sibarita”, “Narciso enverga a primeira gravata”, “Modorra”, “A Descoberta da Pólvora” ou “A passagem dos cometas”, entre outros. Nesta exposição, mantendo o desenho quase geométrico que caracteriza muitas das suas obras, José Loureiro introduz uma figura que se desenvolve dentro das linhas rigorosas que constroem o seu corpo. Até 11 de Janeiro, Rua de Santo António à Estrela 33.
ROTEIRO - O destaque da semana vai para a reabertura do Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, coincidindo com os seus 30 anos de existência, após alguns meses de preparação desta nova exposição "331 Amoreiras em Metamorfose”, a primeira concebida pelo novo Director do Museu, Nuno Faria. São obras de cerca de três dezenas de artistas, além dos dois que dão o nome ao Museu, e podem ser vistas até final de 2025. A sensação que se tem ao visitar a exposição é que este é um museu novo. Destaque para a apresentação de muitas obras de Arpad Szenes pouco divulgadas, ou que até agora não haviam sido expostas neste espaço, e que permitem ter uma noção mais exacta da importância do seu trabalho. A montagem da exposição proporciona que se vejam em paralelo obras de Arpad e Vieira da Silva (na imagem, Arpad à esquerda, Vieira à direita), além das de outros artistas. Destaque ainda para o novo grafismo do Museu, desenvolvido por Pedro Falcão. O Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva fica na Praça das Amoreiras 56. O segundo destaque vai para a exposição “Histórias de Família”, de Ana Vidigal, patente até 27 de Abril no Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, com curadoria de Patrícia Reis. Trata-se de uma retrospectiva da obra de Ana Vidigal que abrange quatro décadas da sua produção artística e que utiliza como matéria prima a evocação das memórias, recorrendo a cartas, fotografias e outros elementos (Largo do Conde de Vila Flor).
A VIDA DE CALITA - Bruno Vieira do Amaral tem uma escrita ritmada, incisiva, cativante. Começa a ler-se e não se consegue parar. Os capítulos são curtos, a acção é rápida. “Toda a Gente Tem Um Plano” é o seu novo livro, um encadeado de histórias e personagens que habitam a margem sul, cenário habitual dos romances do autor. Este novo romance conta a história de Calita, um rapaz que cresceu sem pais, em casa da tia Lena, que o acolheu. Calita sabe o que quer e esforça-se por seguir o plano que traçou mas o azar bate-lhe constantemente à porta e dificulta que alcance os objetivos que traçou. Ele é um faz tudo, que conheceu a fama como dançarino e disc-jockey em Espanha. Mas voltas da vida e um sonho que o atormentou fizeram-no regressar ao bairro onde crescera. Passados muitos anos a realidade é diferente da que deixara, a tia Lena, que o criara, havia morrido, a pista de dança das discotecas acabou substituída pela cozinha de um hotel, onde Calita trabalhava para juntar o suficiente para comprar uma mesa de mistura. A escrita de Bruno Vieira do Amaral é um relato sentido dos subúrbios, onde vivem “homens e mulheres, cabisbaixos e de sacos na mão, de sapatos velhos e desprotegidos contra o frio pela roupa fina, experimentados na derrota e o vaivém contínuo entre os dois lados da cidade”. Calita não consegue cumprir o seu plano e vai-se perdendo. Não vou fazer spoiler. Leiam a história. É uma escrita fantástica. “Toda a gente tem um plano” é uma edição da Quetzal.
UM PIANO GALEGO - Alberto Vilas é um músico galego, de formação clássica, pianista , compositor e professor de piano no conservatório de Pontevedra. Apaixonado pela recriação de músicas populares, Alberto Vilas foi durante alguns anos membro do quarteto Tangata, que se dedicava à interpretação do tango. O seu novo disco, “Once Cancións e Unha Danza” é dedicada à reinterpretação da música popular galega. Vilas parte de temas tradicionais para, sózinho com o seu piano, recriá-los, mantendo a sua essência, mas modificando-as à sua maneira. Na realidade são músicas novas, reinventadas com respeito pela tradição, numa viagem pelas memórias que temos quando nos confrontamos com as músicas populares e tradicionais que ouvimos nos primeiros anos de vida. A intenção de Alberto Vilas com este disco é possibilitar que as gerações que quase desconhecem estas músicas tradicionais as possam redescobrir em temas como “A Rianxeira”, “Danza das Espadas”, “Ven Bailar Carmiña” “La Portela”, e até uma tradicional portuguesa, “A Saia da Carolina”. Disponível em CD e nas plataformas de streaming, edição AMG Music.
ALMANAQUE - Se forem a Roma poderão ver até 23 de Fevereiro, no Palazzo Barberini, que integra a Galerie Nazionale di Arte Antiqua, uma pintura atribuída a Caravaggio que faz parte de uma colecção particular e que não era exposta há mais de 60 anos. Trata-se do retrato de Maffeo Barberini, antes de ter sido coroado como Papa Urbano VIII em 1623. Em Londres estão outras imagens: na Tate Britain até 5 de Maio a exposição “The 80’: Photographing Britain” mostra o trabalho de vários fotógrafos como Syd Shelton, Martin Parr e Brenda Prince naquela década, desde a greve dos mineiros até ao eclodir da SIDA, passando por manifestações contra medidas do governo de Margaret Thatcher. Na cidade de A Coruña, na Fundação MOP, pode ser vista até Maio uma exposição sobre a obra do fotógrafo norte-americano Irving Penn, organizada pelo Metropolitan Museum Of Art e que permite seguir a sua obra nas áreas da moda, naturezas mortas, nus e retrato ao longo de sete décadas.
DIXIT - “A resposta ao populismo não está na rendição a ele (…) está na virtude aristotélica de encontrar uma via média entre as preocupações das elites e as preocupações do povo. O resto é desastre” - João Pereira Coutinho
BACK TO BASICS - “É verdade que a inspiração existe, mas só se encontra quando se trabalha” - Pablo Picasso
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.