Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O CIRCO APODRECIDO - As eleições são um bom momento para avaliar aquilo que os partidos fazem - seja no Governo, seja na oposição. O que fizeram, o que não fizeram, o que propuseram, o que não propuseram. Estamos num compasso de espera para o início da campanha eleitoral, dominado pelas eleições internas do PS, que servirão para indicar quem será, pelo lado dos socialistas e da esquerda, o candidato a Primeiro Ministro. Uma das coisas que me deixa perplexo nos dois candidatos principais e nos seus apoiantes é a forma como falam, parecendo que não estiveram no poder ao longo de oito anos. Ambos agem como se não tivessem tido poder, como se não tivessem sido governantes, como se não tivessem tido oportunidade para concretizar mudanças. Em abono da verdade se diga que de um lado está o homem que foi o guardião da geringonça, do outro o que respirou a maioria absoluta. Um, Pedro Nuno dos Santos, tem do seu lado os descamisados do PS, o outro, José Luís Carneiro, tem a acompanhá-lo os guardiões do templo. Pedro Nuno dos Santos aparentemente é o favorito, apesar do que fez na TAP e no processo do aeroporto de Lisboa e do que não fez na ferrovia e na habitação, áreas que eram da sua tutela. Na realidade há dois PS, o que quis a geringonça por necessidade para conquistar o poder e o que quis a geringonça por convicção ideológica. José Luís Carneiro representa os necessitados, Pedro Nuno dos Santos representa os convictos. Bem pode Pedro Nuno dos Santos camuflar-se de moderado, com Álvaro Beleza e Francisco Assis a servirem de alfaiates do uniforme de combate, mas a verdade é que ele só está a fazer o papel de fera amestrada num circo apodrecido. Nestes dias recomendo a leitura de dois livros - “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, e “Como Mentem As Sondagens”, de Luís Paixão Martins.
SEMANADA - Dois ex-autarcas socialistas, das câmaras de Barcelos e Santo Tirso, foram acusados de corrupção, tráfico de influências, peculato e participação económica em negócio; a PSP tem guardadas desde 2017 cerca de duas centenas e meia de bodycams oferecidas num contrato de ajuste directo com o Ministério da Administração Interna para a compra de três centenas de tasers, uma arma de eletrochoque usada para incapacitar temporariamente os alvos; segundo a Netsonda 19% dos portugueses admitem poder consumir carne produzida em laboratório; os vencimentos reais das empresas privadas cresceram 15% desde 2014, enquanto que no Estado aumentaram apenas 4% mas as remunerações médias no sector público continuam superiores às do privado; a renda média dos contratos de arrendamento antigos é de 166,54 euros e 80% desses arrendatários tem mais de 70 anos; quem sofrer um AVC na região de Beja terá de percorrer quase 200 quilómetros de ambulância para poder ser assistido no hospital de Almada, o mais próximo com condições para tratar essa situação; pediatria e obstetrícia são as valências mais afectadas pelas limitações em 36 urgências do SNS; há mais de 400 vagas por preencher no concurso para médicos especialistas e houve pouco interesse em áreas cruciais para o SNS como medicina interna e medicina geral e familiar; segundo dados da Deco Proteste, o preço do cabaz essencial (com 63 produtos) aumentou 9,6% desde setembro, muito acima da inflação; segundo o INE o número de pessoas em risco de pobreza aumentou este ano para os 20%, o que significa mais de 2 milhões de pessoas em todos os grupos etários e afectou mais significativamente as mulheres e a região de Lisboa; nas autoestradas portuguesas registou-se um aumento de circulação automóvel de mais de 10% nos primeiros nove meses do ano.
O ARCO DA VELHA -A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, na gestão de Edmundo Martinho, nomeado por António Costa, gastou 8,4 milhões na preparação de apostas sobre corridas de cavalo que nunca foram concretizadas e continua a gastar milhares de euros para pagar a armazenagem de material para essas apostas, que nunca foi utilizado e provavelmente não o será tão cedo.
DESEJOS PINTADOS - Até 6 de Janeiro Fernão Cruz mostra as suas obras mais recentes na exposição “Insone”, que está na Cristina Guerra Contemporary Art (Rua de Santo António à Estrela, 33, Lisboa). Aos 28 anos, Fernão Cruz “explora imaginativamente as suas próprias experiências de vida para comentar a condição Humana” - sublinha Paul Laster no texto de apresentação da exposição. Laster sublinha que nos cinco últimos anos Fernão Cruz “criou um corpo de trabalho complexo” em “pinturas poéticas, esculturas e instalações que exploram questões pessoais, traumas e desejos”. Depois de duas primeiras exposições, na Balcony e na Gulbenkian, esta nova mostra, “Insone”, apresenta vinte e uma pinturas abstratas e uma escultura figurativa que representa o corpo do artista e está colocada entre as telas que produziu (na imagem). Outro destaque vai para “Stringing the disconnection”, a exposição de Rui Soares Costa escolhida para inaugurar o novo espaço da galeria Salgadeiras, que passou do Bairro Alto para Alvalade, na Avenida Estados Unidos da América 53B. Finalmente, na Galeria de Santa Maria Maior, continua a desenvolver-se um trabalho exemplar de aposta na fotografia por uma Junta de Freguesia de Lisboa. Ali está presente a nova apresentação de “Edição Limitada”, uma parceria com a Associação C11, que inclui 67 imagens de outros tantos fotógrafos,explorando a fotografia documental e que pode ser vista até 6 de Janeiro.
VOZ E PIANO - Foi por acaso que descobri “Rainbow Revisited”, o novo disco de uma pianista e vocalista sul-africana, Thandi Ntuli, com Carlos Niño, um músico multi-instrumentista de Los Angeles, que aqui deixa marca na percussão e na produção. Thandi Ntuli gravou o seu primeiro disco em 2014 e depois regressou com um segundo disco em 2018 e um terceiro em 2022, tornando-se uma das mais interessantes protagonistas do jazz sul-africano. O seu novo disco é centrado no piano e na voz, com alguns apontamentos de percussão. É particularmente interessante ver como Ntuli toca o piano e usa a voz para o complementar de forma discreta ao longo dos dez temas que desenham este álbum. A forma como usa o piano faz por vezes lembrar um outro músico de jazz sul-africano, também pianista, Abdullah Ibrahim. O trabalho de Carlos Niño tem uma dimensão especial em “Voice and Tongo Experiment” enquanto o melhor exemplo da capacidade de improvisação de Ntuli é nas duas parte do tema “The One”, porventura o ponto alto do disco, com súbitas variações de ritmo do piano, uma voz que percorre sonoridades mas não usa palavras e sublinha a intensidade da música. Ntuli gravou este “Rainbow Revisited” numa única tarde, com a colaboração de Carlos Niño, numa gravação ao vivo em estúdio. Disponível nas plataformas de streaming.
A LENDA DE MAO - Ao longo deste século a China foi assumindo uma posição cada vez mais proeminente na economia mundial e no jogo de força entre as maiores nações, estendendo a sua influência política por todo o planeta. “Mao - A História desconhecida” é uma extensa obra que nos permite seguir as décadas em que Mao Tsé-Tung conquistou e ocupou o poder e estabeleceu a China como superpotência. Nascido em 1893, Mao teve ao longo dos seus 82 anos de vida e sobretudo a partir do final da década de 20 do século passado, um papel determinante na organização da República Popular da China. Este livro, editado originalmente em língua inglesa em 2005 teve a sua primeira edição em Portugal em 2013 e tem agora a sua segunda edição. O livro, com mais de 600 páginas, foi escrito por Jung Chang, autora de “Cisnes Selvagens” e por Jon Halliday, um historiador britânico que lecciona no King’s College. Jung Chang nasceu na China, na província de Sichuan, em 1952. Na sua juventude pertenceu ao Exército Vermelho, foi camponesa, depois operária, até se tornar estudante de inglês e, mais tarde, assistente na Universidade de Sichuan. A partir de 1978 passou a viver em Inglaterra e foi a primeira pessoa chinesa a doutorar-se numa universidade britânica. Esta biografia de Mao resulta de mais de uma década de pesquisa e de numerosas entrevistas com muitos que privaram com Mao na China e que com ele tiveram contactos relevantes no estrangeiro. Este é um impressionante documento, tanto no conteúdo e na pertinência das revelações, como na abordagem e numa visão totalmente nova do papel de Mao na história do seu país. Considerado um livro maldito e totalmente banido na China, “Mao - A História Desconhecida” põe em causa vários mitos como o da Longa Marcha, por exemplo, mostrando a forma como Mao Tsé-tung ascendeu ao poder e liderou a China num regime de coação, intriga e chantagem, ao mesmo tempo que revisita a história do comunismo. O livro explora a personalidade de Mao na sua atuação pública e política e revela as histórias desconhecidas (e por vezes verdadeiramente cruéis) da sua vida privada e íntima – com os filhos, as mulheres e as amantes. Edição Quetzal, tradução de Inês Castro.
FRUTA DOS DEUSES - Esta é a época do ano em que me delicio com uma das minhas sobremesas favoritas: dióspiros bem maduros, com a polpa abundantemente polvilhada de canela e comida à colher. O nome dióspiro vem do grego dyospiros, que apropriadamente significa alimento de Zeus, o pai dos deuses que exercia autoridade sobre o Olimpo. O dióspiro é uma fruta de outono, rica em vitamina A e minerais, com propriedades anti-oxidantes. A variedade mais dura do dióspiro pode ser assada e temperado com canela, mas a forma como o prefiro é em salada. Há quem aproveite o sabor adstringente do dióspiro para o usar em vez de tomate numa salada caprese, com mozzarella fatiada, polvilhada de pimenta e sal. Também gosto dele, cortado em fatias finas, numa salada de salmão fumado, misturado com rúcula e alcaparras e, eventualmente temperada com iogurte, tudo salpicado com bagos de romãs, outra fruta do outono. Seja como for o dióspiro é um dos frutos mais versáteis, que tanto pode ser aproveitado em doces e compotas como em saladas ou simplesmente comido sozinho como sobremesa. E já que estamos no Outono, por falar em romãs,uns bagos nas saladas podem fazer milagres e fazer explodir as papilas gustativas misturados no iogurte matinal.
DIXIT - “Em 20 anos Santos Silva não mexeu uma palha para melhorar o sistema de justiça, mas nunca parou de ver conspirações do Ministério Público contra o PS” - João Miguel Tavares.
BACK TO BASICS - “Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir - Winston Churchill
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.