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SOBRE A INSTABILIDADE NACIONAL

por falcao, em 02.05.25

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VOTO ÚTIL? - A instabilidade governativa não é uma novidade: desde as primeiras legislativas, de 1976, apenas seis dos 24 governos concluíram o mandato. Ao longo do tempo cresceram as distorções causadas pela Lei Eleitoral, um modelo criado há 50 anos. De acordo com um estudo elaborado pelo matemático Henrique Oliveira, do Instituto Superior Técnico, por causa dessa Lei, nas legislativas mais recentes, do ano passado, cerca de 1,2 milhões de votos (20,4% do total) não serviram para eleger qualquer deputado. São votos que se perdem nos círculos com menor número de deputados a eleger, como acontece numa boa parte do interior do país. Nos círculos eleitorais mais pequenos do território nacional - como Portalegre e Beja e nos círculos da emigração -, quase metade dos votos válidos não elegeram nenhum mandato. Em sentido oposto, cerca de 90% dos votos de Lisboa e de 84% no Porto servem para eleger deputados. O mesmo estudo mostra que o sistema eleitoral favorece os maiores partidos, que conseguem ver 90% dos seus votos convertidos em mandatos, enquanto os pequenos não conseguem passar dos 40% a 45%. Ou seja, a Lei Eleitoral está feita para facilitar maiorias políticas, mas apesar disso assiste-se à instabilidade governativa descrita acima. Em conjunto, o PS e os partidos que formam a AD recolheram mais de dois terços do total dos votos válidos em 14 das 17 eleições legislativas realizadas desde 1976. Um dirigente do Partido Socialista, Francisco Assis, reconhece que “este modelo funcionou durante muitos anos e está esgotado,  confere demasiado poder aos aparelhos partidários e a quem os controla”. Um estudo da Pordata que recolhe dados eleitorais  e resultados das legislativas desde 1976, mostra que desde que Portugal é uma democracia, o Partido Socialista formou governo por nove vezes, e sete destes governos ocorreram nas últimas três décadas. Assim, nos últimos 30 anos, apenas pouco mais de 8 anos corresponderam a um governo liderado pelo PSD. O PS esteve à frente do governo durante mais de 21 anos: entre 28 de outubro de 1995 e 5 de abril de 2002, entre 12 de março de 2005 e 20 de junho 2011 e, também, entre 26 de novembro de 2015 e 1 de abril de 2024. Aqui chegados, fica uma pergunta: para que serve afinal  o voto útil?

 

SEMANADA - Em semana do apagão vale a pena lembrar que no sector do fornecimento de energia eléctrica registaram-se nos três primeiros meses deste ano mais 12% de queixas que no mesmo período do ano passado; um milhão de portugueses nunca vai ao dentista, 300 mil dos quais porque não têm dinheiro para pagar e o SNS só tem seis serviços de saúde oral; devido ao encerramento das urgências de obstetrícia, desde abril de 2024 nasceram cerca de meia centena de crianças em ambulâncias, em trânsito para hospitais distantes do local de habitação; segundo o INE em 2023 nasceram fora de hospitais ou de casa 302 bebés; o abandono escolar dos jovens com deficiência é o triplo dos que a não têm;  em Portugal, em 2022, apenas 1,58% do PIB foi gasto com a protecção social das pessoas com deficiência, abaixo da média europeia, que é 1,87%; ao longo do último ano a Marinha portuguesa registou 437 acções de busca e salvamento, durante as quais foram salvas 388 pessoas; a comparência no Dia da Defesa Nacional é um dever de todos os portugueses quando completam os 18 anos, mas há mais de 10 mil cidadãos que faltam todos os anos e a maioria não justifica a ausência, nem regulariza a situação militar; no primeiro trimestre deste ano o número de pedidos de registo de invenções nacionais aumentou 19,3% para 241, segundo o Instituto Nacional da Propriedade Industrial. 

 

O ARCO DA VELHA - Um problema técnico atrasou de forma significativa a emissão de certificados de óbitos por via digital aos prestadores de saúde dos sectores social e privado, dificultando a realização atempada de funerais.

 

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MANUAL DA SAUDADE - Se querem ter uma ideia como Miguel Esteves Cardoso era e escrevia antes de ser o MEC, que ficou conhecido pelo que escreve em jornais, revistas e em livros, este novo e inédito “Cartas para a Vila Berta” é a melhor forma de o descobrir. Em Outubro de 1975, data da primeira carta escrita para o seu amigo Carlos Vilela, e Setembro de 1979, data da última, Miguel Esteves Cardoso viveu em Manchester e fez na respectiva universidade o curso de Estudos Políticos. As cartas relatam a sua vida nesses tempos, dos 20 aos 24 anos. Carlos Vilela vivia em Lisboa, na Vila Berta, e nunca respondeu às muitas dezenas de cartas que Miguel lhe enviava, quase diariamente. Nessas cartas estão as suas impressões pessoais sobre a cidade para onde foi, o que lá viveu, as saudades que descobriu ter de Portugal. O Editor deste livro, Rui Couceiro,  conta que “Miguel Esteves Cardoso escreveu e organizou estas cartas “já com o intuito de um dia as publicar” e sublinha que este livro “pode ser lido tanto com um primeiro volume da autobiografia do escritor, como enquanto romance de formação”. Por aqui passam as suas impressões sobre o que se passava à sua volta, as suas emoções e confissões, muitas pessoalíssimas. Em Dezembro de 1976, estava há pouco mais de um ano em Manchester, Miguel Esteves Cardoso conta a Carlos Vilela a sua aproximação à música que invadia a cidade e que se tornou numa das suas fontes de inspiração:“iniciei também a minha aprendizagem musical, leio livros, vou a concertos”. Pelo meio crescem as saudades e escreve:  “estou tão apaixonado por Portugal”. No fim do livro, já a poucos dias de regressar a Portugal, escreve uma carta à Vila Berta basicamente com  citações de Florbela Espanca, de Camões,de António Nobre, de Teresa Horta, de Bernardim Ribeiro, de Teixeira de Pascoaes e de Almeida Garrett. E deixa desenhado um fado que lhe vai crescendo na imaginação. (Edição Bertrand).

 

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O DESAFIO DA PINTURA -   Na Galeria Sá da Costa, ao Chiado, Pedro Chorão apresenta oito pinturas inéditas, acrílicos sobre tela, realizadas em 2024 e já este ano, sob o título “Diálogos Sensíveis”. São quadros que evocam memórias do artista e que resultam sempre de um longo processo de trabalho. No catálogo da exposição é publicada uma entrevista de Pedro Chorão a José Sousa Machado, o galerista da Sá da Costa. Nessa entrevista Pedro Chorão sublinha que “um quadro nasce pelo puro prazer da aventura e da atracção pelo desconhecido, imaginando e “sentindo” – mas também pela curiosidade e vontade forte de agarrar a ideia, seja ela a propósito de uma paisagem, um bicho ou uma ventania”. Pedro Chorão afirma que esta é uma das exposições “mais coesas que tem feito”. E sublinha: “Para mim o gozo todo está na procura do que ainda não experimentei. Pintar é resolver problemas. Os problemas são inúmeros e constantes. Tem que se ir resolvendo as questões que surgem, resolvendo problemas -  é isso que é o trabalho da pintura. Trabalho para resolver problemas e o gozo é esse, é ter problemas para resolver. Cada quadro é um desafio completamente novo, sempre”. A Galeria Sá da Costa fica na Rua Serpa Pinto 19, ao Chiado e está aberta de segunda a sábado entre as 14h30 e as 19h00.

 

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ROTEIRO - A Galeria Diferença (Rua de S. Filipe Neri 42) apresenta uma exposição de trabalhos pouco vistos e inéditos de Ana Hatherly, com edições póstumas certificadas,  sob o título ”A Minha Escrita Secreta” (na imagem). No dia 8 de Maio pelas 18h00 André Gomes realiza no espaço da galeria, e a propósito desta exposição, a performance “O Pavão Negro” . Na Galeria Monumental ( Campos dos Mártires da Pátria, 101) Maria Pinheiro mostra até 24 de Maio a sua nova exposição de pintura “do fogo e do mito”. Em Braga, na Zet Gallery (Rua do Raio 75) Fernão Cruz apresenta até 18 de Junho a exposição “Sentinela” que, com curadoria de Helena Mendes Pereira, reúne um conjunto de oito trabalhos pensados como uma instalação única. Nas Caldas da Rainha, no Museu Leopoldo de Almeida, Miguel Palma e João Paulo Feliciano apresentam até 2 de Junho a exposição “Olho por olho, lente por lente” As obras de João Paulo Feliciano abrangem um período de 1993 a 2015, enquanto as de Miguel Palma são essencialmente as suas mais recentes criações. E em Lisboa, no  MAC/CCB é apresentada até 28 de Setembro uma colecção de cartazes de propaganda política dos anos de 1974 e 1975 - “Cartazes sem Censura | 25 de Abril e a Revolução do «Verão Quente»” provenientes de colecções particulares.

 

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O SAXOFONE - Passei os últimos dias a ouvir “Homage”, o novo disco do saxofonista norte americano Joe Lovano, acompanhado pelo trio do pianista polaco Marcin Wasilewski e que inclui o contrabaixista Slawomir Kurkiewicz e o baterista Michal Miskiewicz . Os mesmos músicos já haviam gravado em 2020 o álbum “artic Riff”. Agora com 72 anos, Joe Lovano consegue combinar a sonoridade do jazz norte-americano tradicional, que caracteriza a sua forma de tocar saxofone, com um trio europeu inspirado pelo free jazz - o tema que dá o título ao álbum, “Homage”, é disso um bom exemplo.. O entendimento entre músicos com formações e práticas tão diversas é surpreendente, sobretudo nos diálogos entre saxofone e piano como logo na faixa de abertura, “Love In The Garden”. O disco foi gravado em estúdio no final de 2023 em Nova Iorque, no final de uma semana de actuações no Village Vanguard, é editado pela ECM e está disponível nas plataformas de streaming.



ALMANAQUE - Até 6 de Julho tem oportunidade de descobrir obras raramente vistas de Caravaggio, um dos grandes nomes do barroco, que estão expostas na Galeria Nacional de Arte Antiga, do Palazzo Barberini, em Roma. A mostra reúne, no edifício recentemente restaurado, 24 quadros que marcam a obra de Caravaggio. e inclui obras raras como “O Retrato de Maffeo Barberini”, que veio a público recentemente depois de 60 anos de sua descoberta e é um dos poucos retratos feitos pelo pintor. “Ecce Homo” é outra obra raramente vista que integra Caravaggio 2025. Redescoberta em 2021, a pintura faz parte da coleção do Museo Nacional del Prado, em Madrid. Outra obra há muito tempo não exibida na Europa é “Os Trapaceiros”, que pertence ao Kimball Art Museum de Forth Worth, nos Estados Unidos.

 

DIXIT  -  “Os sucessivos governos deixaram morrer a obstetrícia do SNS. Os hospitais públicos já não são para nascer” - Carmen Garcia

 

BACK TO BASICS -  “A tecnologia é um instrumento para proporcionar ligações entre as pessoas e não para as substituir” - Josh Fehnert.

 

A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS



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