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PALAVRAS DE ORDEM - Em 1974, logo a seguir ao 25 de Abril, as palavras de ordem mais enunciadas eram “pão”, “saúde”, “educação” e “habitação” - e , também, “paz”, relativamente à guerra colonial. Hoje, em vez de paz, devia reivindicar-se melhor justiça, um dos cancros da nossa sociedade. O pão, a saúde, a educação e a habitação resumem aquilo que é a aspiração natural a uma vida melhor e mais digna. De uma forma ou outra, ao longo destes 49 anos, todos os partidos têm incluído nos seus programas eleitorais estas aspirações - mas muito está ainda por fazer. António Costa percebeu que a chave para conseguir vencer estava em garantir melhores salários, mas como o dinheiro não dá para tudo, ao mesmo tempo lançou mais taxas e impostos. Na realidade Costa aproveitou as medidas de austeridade provocadas pelo descalabro da governação de Sócrates e exigidas pela troika, para nalguns casos ir ainda mais além, com o seu eterno sorriso bonacheirão. E assim conseguiu receitas fiscais nunca antes vistas, o que lhe permitiu folga orçamental. Injectou dinheiro no sistema de Saúde, mas não melhorou a sua gestão e é claro que a ruptura começa a ficar à vista. O mesmo se passa na educação - com os professores a reclamarem a recuperação do poder de compra que tinham há alguns anos. De uma forma geral Costa seguiu o princípio de aumentar o salário mínimo e as pensões e de não mexer no resto. O resultado foi mais uma cacetada na classe média, que já vinha bem combalida dos anos anteriores e que tem empobrecido nas últimas duas décadas. Se a saúde e a educação são casos de má gestão, a questão da habitação é mais delicada. Centrando a recuperação da economia no turismo, o Governo abriu as portas à especulação imobiliária e à gentrificação das cidades. A questão volta sempre ao mesmo ponto: como fazer crescer a economia e garantir melhor qualidade de vida às pessoas? Não é com impostos altos sobre o trabalho e sobre a actividade das empresas que isso se consegue. As pessoas gostariam que a oposição explicasse como alcançar aquilo que Costa prometeu e não alcançou: maior qualidade de vida para os portugueses. Resta saber se a oposição que temos consegue fazê-lo. Depois dos primeiros ecos da rentrée política, tenho as maiores dúvidas.
SEMANADA - Os aumentos salariais verificados nos últimos dois anos ainda não compensam a subida de preços verificada no mesmo espaço de tempo; as exportações de alta tecnologia portuguesa atingiram em 2022 o valor mais alto desde 2013; o valor total das exportações portuguesas caíu em Junho pelo terceiro mês consecutivo; no total, entre janeiro e junho, os visitantes estrangeiros gastaram em Portugal cerca de três mil milhões de euros, mais 31,3% face ao ano anterior; em Junho o sector do alojamento turístico registou 2,9 milhões de hóspedes e 7,4 milhões de dormidas correspondendo a 622,1 milhões de euros de receita, mais 14% que no mesmo mês do ano anterior; segundo o INE os não nacionais representam 70% das receitas do Turismo e gastaram mais de dois mil milhões de euros no primeiro semestre; até final de Junho os aeroportos portugueses registaram 31 milhões de passageiros, um aumento de 28,4% face ao ano anterior; a economia paralela atingiu em 2022 um novo recorde histórico alcançando 34% do PIB e especialistas fiscais indicam que a carga fiscal alta é a principal razão; a violência doméstica já fez 12 mortes este ano; nos últimos cinco anos 154 menores mudaram de nome e de género; quase 17% dos bebés nascidos em Portugal em 2022 são filhos de mães estrangeiras; quase 20% das freguesias do país estão a ficar despovoadas, com popuação envelhecida e sem oportunidades de trabalho para os mais novos; num ano Portugal perdeu 128 mil trabalhadores com ensino superior e o aumento de emprego no segundo trimestre deste ano foi feito com trabalhadores menos qualificados.
O ARCO DA VELHA - Portugal foi o único país da União Europeia que aumentou o custo do registo de patentes de invenções e inovações industriais.
PINTURA, DESENHO E FOTOGRAFIA - Se estiver em Chaves não perca a exposição de Pedro Calapez, no Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso. Intitulada “Deste Espaço Luminoso e Obscuro”, tem curadoria de Joana Valsassina e apresenta até 28 de Janeiro, um conjunto de obras de Pedro Calapez da colecção de Serralves e da colecção do artista, mostrando a relação entre a pintura e o desenho, desde final da década de 70 (na imagem). Neste sábado 19 decorre uma visita orientada pelo próprio artista e pelo historiador de arte e curador Oscar Faria. Outros destaques: dia 19 de Agosto assinala-se o Dia Mundial da Fotografia e o Centro Português de Fotografia, no Porto, inaugura “Mãe d´Água", a partir de imagens da sua colecção. E no Carvalhal, no âmbito das primeiras iniciativas da Terra Foundation, lançada por Guta Moura Guedes, pode ver o projecto fotográfico “O Dia Abre Os Meus Olhos”, resultante de uma residência do fotógrafo Rafael de Oliveira e da sua visão do ecossistema da região da Comporta, com curadoria de José Cabaço. Ao todo são apresentadas 345 fotografias em formato postal e 24 nos tamanhos A1 e A2. A exposição, com uma bem pensada montagem, decorre no espaço de um antigo café, na Avenida 18 de Dezembro nº5, no Carvalhal, até 27 de Agosto.
PERGUNTAS DIFÍCEIS - Sou fascinado por pessoas que conseguem transmitir conhecimentos complexos de forma fácil. Por cá temos entre outros, Carlos Fiolhais e Jorge Calado. Saber comunicar bem temas científicos é importante e Sabine Hossenfelder, uma cientista, na área da Física, investigadora no Instituto de Estudos Avançados de Frankfurt, sabe fazê-lo. O seu novo livro, “A Física E As Grandes Questões da Vida” é disso um bom exemplo. Ela coloca perguntas como: “Existem cópias de nós mesmos? O Universo pensa? A consciência é computável? Afinal, qual é o propósito do que quer que seja?”. “A Física e as Grandes Questões da Vida” baseia-se nas mais recentes pesquisas em mecânica quântica, buracos negros, teoria das cordas e física de partículas e Sabine Hossenfelder explica o que a física moderna nos pode dizer acerca das grandes questões da humanidade: De onde viemos? Para onde vamos? O que está ao nosso alcance conhecermos? O livro inclui entrevistas com outros cientistas de renome e Sabine Hossenfelder mostra o caminho que falta percorrer para que os físicos consigam responder àquelas questões, indica os limites atuais do conhecimento e aponta as perguntas que podem ficar sem resposta para sempre. «Sim, somos uns sacos de átomos rastejando sobre um ponto azul-pálido no braço espiral externo de uma galáxia notavelmente pouco digna de nota. E ainda assim, somos muito mais do que isso.» Fascinante, sobretudo por um apaixonado por física, como eu.
GUITARRA MÁGICA - Pat Metheny agarrou em algumas gravações suas a solo, dispersas e inéditas, efetuadas nos intervalos de uma série de digressões, em quartos de hotel, ou durante ensaios. A partir daí fez um novo álbum, intitulado “Dream Box”. Aos 68 anos Pat Metheny continua uma referência para todos que gostam de ouvir uma guitarra tocada a solo e aqui ao longo de quase uma hora estão nove temas que mostram a capacidade criativa do músico, que apresenta versões de clássicos como “Never Was Love”, expurgando-os das palavras que integravam as canções e deixando só a voz da guitarra eléctrica. O disco combina versões de canções, de standards de jazz, mas também novas composições que lhe surgiam no momento em torno de melodias que ía construindo. Metheny é sempre surpreendente pelos caminhos que escolhe e este disco permite perceber o seu processo criativo. Aqui está um álbum que nasceu por acaso, a partir de retalhos, improvisações, devaneios melódicos tardios. Cruzam-se géneros, como a evocação das sonoridades dos blues em “From The Mountains” ou da bossa nova em “Morning Of The Carnival”, um clássico de 1959, composto por Luis Bonfá e António Maria e que se tornou popular por exemplo nas versões de Astrud Gilberto e de Nara Leão e de músicos de jazz como Gerry Mulligan. Mas esta interpretação de Metheny é ao mesmo tempo saudosista e inovadora. O disco está disponível nas plataformas de streaming.
EXPERIÊNCIA SADINA - Uma das coisas que qualquer restaurante deseja é ser reconhecido. Se o reconhecimento vier do BIB Gourmand, o patamar de entrada na constelação das estrelas do Guia Michelin, melhor ainda. Há uns anos atrás Rute Marques decidiu que o seu objectivo era criar um restaurante diferente em Setúbal e inventou o Xtoria. Chamou para o seu lado um jovem Chef, Rafael Portasio, que já tinha experiência em alguns bons restaurantes. Localizado em Setúbal, junto ao Porto de Pesca, o Xtoria é referenciado na lista do BIB Gourmand de Portugal pelo segundo ano consecutivo. Nota-se o empenho do proprietário, do Chef, e da equipa de sala em seguir à risca os preceitos que são capazes de seduzir o célebre guia, desde a atenção aos produtos locais, a novas técnicas gastronómicas. A decoração é confortável, o serviço é exemplar, os preços são honestos e há até um menu de almoço simpático. No menu normal, nas entradas deixei para uma próxima visita as moelas glaciadas com sésamo e aneto e as enguias fritas de Alcácer. Mas a minha escolha foi para as ostras da região - que podem vir ao natural ou criativas, estas temperadas ao sabor da inspiração do Chef no momento. Arrependi-me de não ter escolhido as ostras ao natural. Na lista há peixe da lota de Setúbal e um bacalhau em tempura mas eu fiquei pelas lulas recheadas com arroz, cogumelos, toucinho e coentros. Não me arrependi. Nas carnes havia pato em brioche e vaca Mertolenga. Do outro lado da mesa a opção foi por duas entradas: a primeira foi choco, ponzu, batata negra, maionese de Sriracha, e caviar de lumpo, que foi apreciada. A seguir veio ovo panado com creme de ervilhas e hortelã pimenta, espargos marinados, e chouriço frito. A sobremesa, dividida, e que agradou, foi cremoso de cardamomo com cookie de gengibre. A acompanhar o repasto uma vinho surpreendente, pela relação qualidade-preço, o branco da Quinta da Invejosa, de Palmela, feito a partir das castas Fernão Pires e Verdelho. O Xtoria fica na Rua Guilherme Gomes Fernandes 17, Setúbal, telefone 961284144.
DIXIT - “Portugal não pode ser só o país das casas para estrangeiros e dos hotéis para turistas” - Sónia Sapage.
BACK TO BASICS - “Tenham sempre presente que querer obter sucesso é mais importante que qualquer outra coisa para efectivamente terem êxito” - Abraham Lincoln.
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