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BOAS INTENÇÕES - Como já deito o Galambagate pelos olhos, esta semana quero falar de outra coisa. E vou falar da Lei Pizarro - admito que cheguei a pensar que esta lei anti-tabaco, de tão absurda que é, foi uma tentativa governamental de desviar as atenções de Galamba. Pego nesta lei para falar de como decisões, aparentemente para o bem comum, podem ter um ricochete negativo. Já nem falo do abuso de poder que se quer exercer, outros disseram sobre isso o que havia a dizer. Mas, a propósito da forma atabalhoada como as coisas são feitas, e dos locais onde se quer proibir a venda de tabaco, cito um parágrafo de Ana Cristina Leonardo, na sua coluna de opinião do “Ípsilon”. Ela vive desde há algum tempo numa pequena aldeia algarvia e eis a descrição que faz do absurdo que se pretende criar: “o café aqui do monte, único local que ainda contribui para manter viva a fraca chama comunitária, se o novo delírio higienista e proibitivo for avante - relembro: interdita a venda de tabaco em restaurantes, cafés, bombas de gasolina e etc.; proibido fumar em esplanadas com algum tipo de cobertura, assim como à porta dos estabelecimentos… – será um entre os quase todos cafés que fecharão as portas. E se já em nenhum local do concelho se vende jornais ou revistas (livros nem se fala…), é só acrescentar que em nenhum local do concelho se venderá tabaco (a tabacaria mais próxima fica a cerca de 40 quilómetros tanto para norte como para sul, sendo que para norte não há transportes e para sul só durante o período escolar). Os velhos e os loucos, estes últimos todos fumadores, morrerão fechados em casa por certo cheios de saúde!”. Um outro exemplo, em menor escala, de boas intenções com mau resultado é o que se passa quando se tomam medidas sem ter em conta as realidades locais. Não chega proclamar a defesa do comércio tradicional e local. Pego no exemplo da Rua José Falcão, em Santo Amaro de Oeiras, onde a colocação de pilaretes contra a invasão dos passeios por automóvel, sem alternativa de estacionamento, está a dar cabo do comércio local e de rua, com lojas já a fechar portas. A intenção é boa, o resultado imediato, não.
SEMANADA - A execução do PDR nas medidas de prevenção de incêndios é de 45% do total previsto; os lucros do Banco de Portugal em 2022, dirigido por Mário Centeno, caíram 42%; de acordo com as previsões da União Europeia Portugal será dos piores países com pior desempenho no próximo ano em termos de crescimento da economia; no actual regime fiscal estudantes que queiram ter um part time legal para trabalhar acabam por ser penalizados pelo Estado em impostos e até em matéria de bolsas; apenas 40% das 900 vagas abertas para médicos de família tiveram candidatos; os juros dos depósitos bancários em Portugal têm um valor médio de 0,88%, que compara com 2,05% que é o valor médio na zona Euro; a taxa do crédito à habitação em Portugal é de 3,86% que compara com os 3,44% que é o valor médio da zona Euro; Portugal é o país da OCDE cuja dívida pública é mais dependente do Banco Central Europeu, que detém mais de 50% da dívida pública portuguesa; quase 500 leitões são abatidos em média por dia para abastecer os restaurantes da Mealhada; os concertos dos Coldplay juntaram em Coimbra o equivalente a 2% da população portuguesa; os oficiais de justiça anunciaram uma greve de zelo a partir de Junho; foi detectada uma falha no portal do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras que permite efectuar legalizações sem ter todos os documentos necessários; o portal do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para a atribuição de autorizações de residência aos cidadãos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa concedeu mais de 113 mil destes títulos em dois meses, sendo que os imigrantes brasileiros representam 83%.
O ARCO DA VELHA - Mais de um mês após o anúncio, continua por criar a comissão independente para averiguar denúncias de assédio sexual e moral no Centro de Estudos Sociais envolvendo Boaventura de Sousa Santos.
A MEMÓRIA COMO MATÉRIA PRIMA - Na sua nova exposição Patrícia Garrido evoca as muitas casas em que viveu em criança, devido às mudanças de casa sucessivas dos seus pais, que, como ela conta, “andavam de um lado para o outro”. Como Patrícia Garrido também diz, “esta espécie de não pertencer a nenhum sítio, estar sempre em mudança” faz parte das suas memórias. “Doze quartos e famílias felizes”, patente até 29 de Julho na Galeria Miguel Nabinho, é inspirada pelas memórias desses locais onde passou e viveu. A exposição divide-se em duas partes: uma série de pinturas e desenhos sobre papel, a óleo e aguarela, e uma série de 12 esculturas de madeira que evocam outras tantas divisões de uma casa imaginada a partir das memórias da artista(na foto) . Patrícia Garrido utiliza como matéria prima, nesta série, madeiras provenientes de móveis que desmanchou e trabalhou para construir as doze peças que são outras tantas memórias, uma sugestão de “quartos de pessoas diferentes, experiências de vida diferentes”. Estas obras são, afinal, um exercício de reflexão sobre como se formam as memórias ao longo de uma vida. Uma outra exposição onde a madeira é a matéria prima das obras apresentadas, a partir de citações de livros que também são mostrados, é a instalação “Em bruto: relações comoventes”, até 10 de Setembro no Museu CCB, criada em 2022 por Fernanda Fragateiro, em resposta a um convite da Fundación Cerezales Antonino y Cinia, em Espanha e que agora é pela primeira vez apresentada em Portugal.
ART WEEK LISBOA - Por estes dias a arte contemporânea está no centro das actividades culturais em Lisboa. Além da ARCO Lisboa, também se realiza a Just LX. A ARCO Lisboa, agora na sua sexta edição, é uma extensão da ARCO Madrid, centrada nas mais importantes galerias e com um extenso leque de actividades. Integra nomeadamente o programa “África em Foco”, com curadoria de Paula Nascimento e que contará com a participação de galerias do continente africano, e a “Opening Lisboa”, com curadoria de Chus Martínez e Luiza Teixeira de Freitas, uma secção que irá investigar as novas linguagens e espaços artísticos com o objetivo de atrair novos conteúdos e investigações para o certame. Até Domingo, na nave central da Cordoaria, oito dezenas de galerias mostrarão obras de quase cinco centenas de artistas de 22 países. Também inserida na ARCO Lisboa, mas no Torreão nascente da Cordoaria, e com entrada gratuita, decorre a ArtsLibris, uma feira de livros e revistas de arte com três dezenas de expositores. Por iniciativa da EGEAC, no mesmo local é apresentada uma exposição com as mais recentes aquisições de obras de artistas portugueses feitas pela Câmara Municipal de Lisboa a 47 artistas portugueses em 2021 e 2022. Já a Just LX, uma extensão da Just MAD, realizada em Madrid, vai agora na sua quarta edição lisboeta e decorre igualmente até Domingo, no Centro de Congressos de Lisboa (antiga FIL) e é focada em novas galerias e artistas emergentes com o objectivo de apresentar obras acessíveis a uma nova geração de colecionadores. Na Just LX estarão três dezenas de galerias de diversos países, com obras de uma centena de artistas. Ao mesmo tempo uma série das mais importantes galerias de Lisboa apresentam novas exposições, da mesma forma alguns artistas abrem também o seus ateliês a visitas incluídas na programação paralela destes eventos. Por último, entre as recentes inaugurações, há uma que merece destaque especial, uma das melhores exposições dos últimos tempos em Lisboa: “Hello Are You There?” de Luísa Cunha, no MAAT e a ela voltarei nestas páginas na próxima semana.
UM ALERTA - Henry Kissinger, que esteve recentemente em Portugal, completará 100 anos no dia 27 e há um ano editou um livro de leitura obrigatória para quem se interessa sobre política e relações internacionais - “Liderança”. Kissinger chefiava a diplomacia americana em 74 e 75, tem acompanhado a evolução do mundo há mais de meio século. “Liderança” estuda exemplos de governação e de liderança através de seis personalidades marcantes do século XX: Konrad Adenauer e a estratégia da humildade; Charles De Gaulle e a estratégia da vontade; Richard Nixon e a estratégia do equilíbrio; Anwar Sadat e a estratégia da transcendência: Lee Kuan Yew e a estratégia da excelência que projetou Singapura; e Margaret Thatcher e a sua estratégia da convicção. O livro sublinha a importância da meritocracia e analisa o perigo do declínio da meritocracia e o seu efeito no futuro da liderança. São de Kissinger estas palavras: “O patriotismo cívico que em tempos emprestou prestígio ao serviço público parece ter perdido terreno em relação a um facciosismo identitário e a um cosmopolitismo concomitante”. Kissinger manifesta a opinião de que as escolas de hoje são muito boas na formação de técnicos e activistas, mas alheiam-se de formar cidadãos - o que, na sua opinião, leva a que as as elites de hoje falem menos de obrigações do que de expressão individual ou progresso pessoal. Cito-o mais uma vez: “Assim como a transição da cultura oral para a cultura escrita proporcionou os benefícios da literacia, mas diminuiu as artes da poesia falada e dos contadores de histórias, também a actual mudança de uma cultura impressa para a cultura visual traz perdas e ganhos (...) e a mudança da cultura impressa para a cultura visual continua com a afirmação contemporânea da internet e redes sociais, que trazem consigo quatro enviesamentos que tornam agora mais difícil do que na era da imprensa que os líderes desenvolvam as suas capacidades: imediatismo, intensidade, polaridade e conformidade. “Liderança” foi editado agora em Portugal pela D. Quixote.
BOM - O artigo de Luís Marques, “A Flórida da Europa” traça o retrato de um Portugal excluído da reindustrialização, encarado pelo centro e norte da Europa como um parque de diversões para reformados.
MAU - As trotinetas eléctricas são cada vez mais um perigo para quem anda na rua.
DIXIT - “Raramente, nestas décadas que levamos de democracia, se atingiu um ponto tão baixo de miséria moral, de atentado político, de vilania, de imoralidade e de sem vergonha! Há gente que, por bem menos, reside actualmente na penitenciária, em Custóias ou em Pêro Pinheiro. Raramente como agora a justiça portuguesa esteve tanto em causa. Raramente como agora o Estado de direito esteve tão ameaçado” - António Barreto
BACK TO BASICS - “Não podemos escolher as nossas circunstâncias externas, mas podemos sempre escolher como reagir a elas” - Epicteto, filósofo grego clássico.
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