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SOBRE O ESSENCIAL E O ACESSÓRIO

por falcao, em 06.01.23

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LIBERDADE - Neste início de novo ano, dei comigo a pensar na relatividade das preocupações. Na maneira como Costa andou silencioso sobre a ruidosa guerra entre Pedro Nuno dos Santos e Fernando Medina; como o Ministro da Cultura segue o velho princípio do “quero, posso e mando”; de como Medina quer convencer o pagode que não sabia nada de uma pessoa que nomeou para sua Secretária de Estado. E olho para isto e tenho a sensação de estar no meio de uma comédia de muito mau gosto, com os governantes a desempenhar o papel de  actores que querem fazer de todos nós parvos. Todas estas aldrabices com que nos rodeiam são, afinal, pouca coisa comparado com o que se passa por esse mundo fora. Nós aqui temos uns fala-baratos que lá vão governando as suas vidinhas como podem à custa de não governarem o país. Vou aqui citar o que escrevi num depoimento que me pediram sobre 2023: “Num ano em que tanto se fala de revisão constitucional, o meu desejo é que ela facilite entrar no 50º aniversário do 25 de Abril com uma lei eleitoral mais justa, que não desperdice votos como a actual, que não beneficie uns partidos em detrimento de outros e que dê resultados que estão longe da proporcionalidade dos votos expressos, como aconteceu há um ano.” Olho à volta e vejo párias, que não conseguem fazer reformas, que preferem que a abstenção cresça a que as eleições possam reflectir melhor o sentido dos votos dos cidadãos. Mas, sobretudo, dou comigo a pensar que esta gente não é nada quando comparada com os heróis do nosso tempo na Ucrânia e no Irão, gente que resiste a uma invasão e que combate, arriscando a vida, pelos direitos básicos. Aqui gostaríamos apenas que tudo funcionasse melhor. Lá, lutam por poder falar, ter opinião, ser livres. São eles, na Ucrânia e no Irão, que defendem a fronteira da liberdade. Que o seu exemplo nos fortaleça para que possamos derrotar quem vive de nos enganar.

 

SEMANADA - Em 2023, com um país governado por Costa,  os salários reais vão valer menos que em 2014, quando Passos Coelho era primeiro ministro; os gastos com produtos alimentares sobem 22% em dez anos; desde 1995 três em cada quatro dias foram de governação do PS; mais de 600 mil euros foram roubados em assaltos a carrinhas de transporte de valores em dois anos; na prisão de Setúbal um drone que transportava um telemóvel, cartões de comunicações e carregadores foi detectado e apreendido pela GNR; em 2022 as queixas contra os serviços públicos aumentaram 41%; um estudo revelado na semana passada indica que a isenção de IVA nos alimentos essenciais permitira a uma família média poupar quase 400 euros por ano; Marcelo Rebelo de Sousa alertou para riscos de instabilidade da maioria absoluta;  diversos politólogos ouvidos pela imprensa atribuem remodelações sucessivas a uma falta de coordenação e controlo político do executivo;  João Galamba, envolto na área da energia em polémicas sobre a concessão da exploração de lítio e do projecto de hidrogénio verde em Sines, foi nomeado Ministro das Infra-Estruturas onde terá nas mãos o não menos polémico dossier da TAP; António Costa  justificou a nomeação de Galamba por ele não se embaraçar  “com as exigências da transparência e burocracia necessárias à boa contratação pública”; o Ministro da Cultura decidiu a extinção da fundação Colecção Berardo à revelia do respectivo Conselho de Administração e contra o parecer do Conselho Consultivo das Fundações; o mesmo Ministro da Cultura afirmou esta semana não ter informações sobre o desaparecimento de 94 obras da colecção de arte contemporânea do Estado.

 

O ARCO DA VELHA - Num acórdão recente os juízes do Tribunal Constitucional interrogaram-se sobre se as formigas podem ser consideradas animais de companhia.

 

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UMA CURIOSA MISTURA - Até 20 de Janeiro ainda pode ser vista no Espaço Fidelidade Arte, ao Chiado, a exposição “Mistifório”, o início do ciclo “Território”, que incluirá nove exposições coletivas, cada uma das quais concebida por um curador português convidado. Natxo Checa é o curador de "Mistifório", que inclui obras de Almada Negreiros, Anne Lefebvre, Ernesto Melo e Castro, Maria José Aguiar, Gonçalo Pena, Alexandre Estrela, Ana Hatherly, Mattia Denisse, António Areal, Pancho Guedes, Vespeira, Mané Pacheco, Malangatana, Salette Tavares, Fernando Calhau, Gabriel Abrantes ou Pedro Casqueiro,  entre outros, assim uma seleção de esculturas tradicionais, artefactos, mapas e objectos de proveniências diversas, de África à Ásia, passando pelas Américas. É uma mistura muito heterogénea de mais de uma centena de peças, montadas como um gabinete de curiosidades do século XIX, mas com a mira posta no presente e até no futuro que se abre à arte no universo digital. Natxo Checa é um dos fundadores da Galeria Zé dos Bois, onde continua a trabalhar e foi o comissário da representação portuguesa na Bienal de Veneza de 2009. Depois de estar no Espaço Fidelidade Arte (Largo do Chiado 8) até 20 de Janeiro, Mistifório seguirá para a Culturgest no Porto, de 11 de fevereiro a 14 de maio.

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OS ÁRABES NA PENÍNSULA - Em meados do ano 711, Tariq ibn Ziyad, governador do Magrebe, deu início a uma operação militar que, a partir de Ceuta, cruzando o estreito de Gibraltar, levou, até à baía de Algeciras, cerca de 12 000 soldados. Começava assim a invasão árabe da Península Ibérica, nessa altura dominada pelos visigodos, um povo que, desde o fim do Império Romano, se viu empurrado para a ocupação do único retalho imperial que restava dominar: a Hispânia. Marcos Santos, um especialista em História Militar, conta no seu livro  “Fath Al-Andalus – Os Muçulmanos na Península Ibérica (702-756)”, como foram os primeiros 45 anos de presença muçulmana no Ocidente.  O autor apresenta uma análise detalhada das operações militares, dos desenvolvimentos políticos, do armamento, da logística e do recrutamento, que permitiram a instalação de um povo, de uma cultura e de uma estrutura político‑militar que, ao longo de oito séculos, mudaram a face da Península Ibérica. O livro relata -nos também de que modo a máquina de guerra muçulmana se tornou poderosa, a importância da figura dos califas e, no período pós-ocupação, como foi consolidada a conquista dos territórios. A obra inclui mapas preparados propositadamente para esta edição e um glossário com termos maioritariamente árabes ou de origem árabe. Edição Guerra & Paz.

  

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UMA VOZ ÚNICA - Para o New York Times  o álbum “Ghost Song” , de  Cécile McLorin Salvant, é o melhor disco de jazz de 2022. Cécile McLorin Salvant é uma vocalista que escolheu o território do jazz que tem realizado versões inesperadas de temas conhecidos da música popular anglo-saxónica. Tem uma forma de cantar invulgar e um timbre vocal especial que a colocam num patamar à parte entre outros vocalistas. O seu estilo de reinterpretação é ousado, os arranjos que escolhe são inesperados. “Ghost Song” reúne 14 canções e começa por uma versão de “Wuthering Heights”, popularizada por Kate Bush em 1978. Mas a versão de Salvant é bem diferente, do ponto de vista vocal e musical, as palavras são cantadas de forma mais intensa, quase como se estivesse a enviar uma mensagem a alguém. Em “Optimist Voices/ No Love Dying” ela transita do tema que marcou o filme “The Wizard Of Oz” para uma das grandes baladas cantadas por Gregory Porter e editada em 2013. No tema “Until”, que Sting popularizou, Cécile entra num dueto com o pianista Sullivan Fortner, cruza-se com um solo de flauta de Alexa Tarantino, acompanhada por James Chirillo no banjo e Keita Ogawa na percussão e este tema é um exemplo do espírito aventureiro de Salvant. Mas ouçam-na também a cantar “The World Is Mean”, um original de Kurt Weil composto para a “Ópera dos Três Vinténs”, ou em canções como “The Moon Song”, “I Lost My Mind” ou ainda em “Dead Poplar”, inspirada numa carta do fotógrafo Alfred Stieglitz à pintora Georgia O'Keeffe. Em "Trail Mix” é Salvant que toca piano e em "Unquiet Grave” ela recupera uma canção tradicional inglesa numa versão a cappella, onde a sua voz se destaca e mostra todo o seu potencial. "Ghost Song” está disponível nas plataformas de streaming.

 

NA AVENIDA - O local é belíssimo, com uma iluminação indirecta vinda do tecto, confortável, a realçar a arquitectura do local, uma sala ampla com janelas rasgadas sobre a Avenida da Liberdade. Durante uns anos, no piso de entrada do Hotel Tivoli, em Lisboa, viveu a Brasserie Flo, substituída há já algum tempo pela actual Cervejaria Liberdade. Da lista anterior sobreviveu o bife tártaro, que continua a ser preparado junto ao cliente, com todo o preceito. A sala desenvolve-se em torno de um balcão central onde se podem apreciar alguns dos produtos frescos, como ostras de Setúbal ou do Algarve, lagosta ou lavagante. Nas carnes, além do já citado tártaro de novilho, pode provar um muito honesto pica-pau do lombo ou costeletas de borrego grelhadas. Nos peixes a escolha é vasta e vai de arroz de polvo ou de de garoupa e camarão até bacalhau à Brás. Numa recente visita, a assinalar o primeiro dia do ano, ao jantar, a casa estava cheia e o serviço de sala foi exemplar, em contraste com um mau serviço de acolhimento de uma recepcionista notoriamente pouco inclinada para dar atenção aos clientes. Nas entradas havia várias opções interessantes, desde croquetes de vitela a carpaccio de polvo mas a escolha recaiu numa casquinha de sapateira muito bem temperada, que veio acompanhada de fatias de bom pão levemente torrado. No prato principal brilharam os filetes de peixe galo acompanhado de arroz malandro de tomate com coentros - tudo belíssimo. A lista de vinhos é bem escolhida, preços acima da média mas mesmo assim com algumas boas opções ajustadas a não entrar em falência logo no início do ano. Há também uma lista de cervejas, boa companhia para o pica-pau ou o tártaro. Para quem quiser há opções vegetarianas e nas sobremesas brilham os crêpes Suzette, também feitos junto à mesa, no entanto sem o glamour de idêntico preparo no Gambrinus. Mas o facto não desmerece o serviço na sala que é atento, gentil e rápido.  A Cervejaria fica na Avenida da Liberdade 185,  telefone 933 001 457.

 

DIXIT - “ Este Governo não sabe governar: distribui o que pode. Arranja financiamentos europeus. Dá uns subsídios. Adia uns problemas. Cria mais umas comissões. Mas não sabe governar” - António Barreto.

 

BACK TO BASICS - “O que corre mal é frequentemente o resultado de mau planeamento” - Roald Amundsen



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