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SOBRE O RENDIMENTO MÍNIMO DA POLÍTICA

por falcao, em 25.06.21

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A MERCEARIA PARTIDÁRIA -  Desde há muitos anos que, dentro das minhas preferências políticas e ideológicas, vivo como independente no espectro partidário. Tenho votado de forma diversa nas várias eleições - presidenciais, legislativas e autárquicas - e mesmo aqui, por vezes, de forma diferente para a Câmara, a Assembleia Municipal ou a Junta de Freguesia. E muitas vezes votei até fora do que são as minhas opções mais recorrentes - dependendo de quem estava nas listas e da conjuntura. Vejo assim a política: isto não é um clube, não devo fidelidades se enquanto cidadão as não sentir da parte dos eleitos ou daqueles em quem votei. E já aconteceu mesmo aceitar ser candidato, como independente, numa eleição autárquica. E, recordando esse tempo, leio a carta que António Oliveira enviou explicando porque não se candidata afinal à Câmara de Gaia e devo dizer que o percebo perfeitamente. De certa forma sei do que fala, reconheço as pressões (embora o meu lugar fosse bem mais modesto), vejo os jogos de bastidores. Nessa altura senti que o papel dos independentes se esgota no dia das eleições, de flor na lapela passam rapidamente para ramos murchos descartáveis. Não conheço António Oliveira, não tenho opinião sobre ele, mas o que disse sobre o que se passou com as estruturas partidárias locais desde essa altura não me espanta. Infelizmente a política é dos aparelhos partidários, um monopólio protegido com unhas e dentes e que visa impedir novas ideias. Percebo bem o que António Oliveira escreveu quando disse, apesar de ser militante do PSD há muitos anos, que a sua atitude não era uma desistência, era uma questão de higiene: ”Ao longo de três meses fui sujeito a pressões, intimidações e ameaças. Tentaram impor-me o pior da “mercearia partidária” e tentaram envolver-me nas mais inacreditáveis negociatas de lugares. Enfim, quiseram obrigar-me a empregar os beneficiários do rendimento mínimo da política.” Rui Rio até agora não comentou. Há silêncios muito barulhentos.



SEMANADA - Sete em cada dez concursos para dirigentes do Estado são viciados; a Câmara der Lisboa entregou dados pessoais dos organizadores de 52 protestos e mnanifestações e a auditoria realizada mostra que na Câmara Municipal de Lisboa não existiram mecanismos de controlo interno, escrutínio e fiscalização do seu funcionamento, ou seja o Gabinete do Presidente da autarquia esteve em autogestão; Fernando Medina recusou-se a tirar consequências políticas do sucedido, mas encontrou rapidamente um bode expiatório que demitiu, demissão considerada ilegal pela Associação dos Profissionais de Protecção de Dados; mais de 40% das camas para estudantes universitários prometidas pelo Governo não têm ainda uma data prevista para poderem começar a ser usadas; no ano passado 61% dos portugueses não foram de férias para fora das suas residências habituais; em 2020 o número de portugueses que emigraram caíu para metade em relação ao ano anterior; o número de internados por Covid-19 mais que duplicou no espaço de um mês; Portugal é o 2º país com mais novos casos de covid-19, logo atrás do Reino Unido e  é o país da União Europeia com mais casos de Covid-19 por milhão de habitantes; já em matéria de finanças, Portugal perde para a Espanha e Grécia na comparação com o efeito no PIB dos fundos da bazuca europeia; como explicou João Miguel Tavares, o Primeiro Ministro António Costa definiu o projecto para Portugal, numa pergunta com apenas cinco palavras, que  dirigiu a Ursula von der Leyen: “Já posso ir ao banco?”; o rendimento médio anual dos portugueses caíu de 10.100 euros em 2019 para 9.100 em 2020.

 

O ARCO DA VELHA - A Segurança Social transferiu 788 mil euros, por engano, a título de subsídio de desemprego, o beneficiário alertou ele próprio para o erro e quis devolver o dinheiro, mas teve de responder à PJ por um alegado crime de abuso de confiança e branqueamento de capitais e ficou impedido de fazer operações bancárias.

 

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VER A QUATRO MÃOS - André Gomes e Pedro Calapez trabalham de forma bem diversa. Calapez com tintas e pincéis, Gomes com fotografia e digital. Em comum têm a capacidade de imaginar o que vão fazer com os seus instrumentos de trabalho e utilizá-los de forma criativa. Há uma relação de complementaridade bem evidente na exposição agora patente no Museu Berardo, da autoria de ambos, “Seja dia ou seja noite pouco importa”. De certa forma é como um recital de piano a quatro mãos. Pedro Calapez nos últimos tempos vem introduzindo na sua obra formas novas para mostrar o que vê e o que imagina. E André Gomes explora cada vez mais as possibilidades de encenação e de transformação que a imagem fotográfica digital permite - não para alterar a realidade, mas para visualizar o seu pensamento. No fundo prossegue o trabalho que iniciou com imagens em polaroid há alguns anos. No catálogo da exposição Alexandre Melo cita André Gomes sobre as possibilidades que as técnicas digitais lhe abrem: “permitem ir mais fundo dentro de mim, exteriorizar reminiscências que permitem uma especulação meditativa”. “As imagens visíveis-  diz Alexandre Melo  - que o artista connosco partilhou são o resultado de uma sofisticada negociação entre as imagens concretas - fotografias - que foi utilizando e as imagens abstratas do seu imaginário pessoal que, essas, o foram usando a ele.”  E, sobre o trabalho de Pedro Calapez, Alexandre Melo sublinha: “As pinturas (abstratas e informais, diríamos simplificando) que constituem o essencial do trabalho de Calapez no século XXI resultariam de uma radicalização do método de elisão da dimensão narrativa praticado desde o início da sua carreira, e que agora o liberta também da necessidade de explicitar qualquer enquadramento espacial ou referência objetual exteriores à materialidade da própria pintura.” A exposição, permanentemente colocando em diálogo a obra de ambos os artistas, começa por dois vídeos, um de André Gomes, outro de Calapez, que nos últimos tempos vem experimentando esta forma de expressão. 

 

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BOAS IDEIAS PARA PORTUGAL- Joaquim Miranda Sarmento é um economista, professor no ISEG, presidente do Conselho Estratégico Nacional do PSD. Nessa qualidade apresentou em 2020 um “Programa de Recuperação Económica”, na altura divulgado como uma alternativa dos social-democratas ao PRR do Governo. Como Luís Marques escreveu no “Expresso” da semana passada, esse plano “é das poucas coisas boas que Rio tem para apresentar como suposto líder da oposição”. Mas, sublinha ainda Luís Marques,  Rui Rio é “um político que não perde uma oportunidade de estragar, ou esquecer, uma boa ideia”. E assim como esse plano foi apresentado, desapareceu e nunca mais se ouviu falar dele. Felizmente Joaquim Miranda Sarmento juntou num livro, apresentado esta semana, “Portugal - Liberdade e Esperança”, a sua visão sobre o país e o que propõe fazer  para tentar resgatar Portugal de 20 anos de estagnação económica, com uma visão para Portugal no horizonte de 2023. O autor recorda que nos anos 70, 80 e 90, Portugal cresceu acima da média europeia mas, a partir do início do século XXI, estagnou e caiu para a cauda da Europa. Joaquim Miranda Sarmento defende que urge alterar este modelo económico, sob pena de virmos a ter mais 20 ou 30 anos com os mesmos resultados e defende uma atuação em quatro eixos: a reforma das instituições, a valorização do capital humano, a melhoria da competitividade da economia e o confronto com a questão demográfica. Pelo meio debruça-se sobre temas  como a necessidade de reformas estruturais na área fiscal, das finanças públicas, do sistema de justiça, dos serviços públicos, propondo, em resumo, uma nova visão para Portugal.

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SIMPLICIDADE EFICAZ - O nome de Francisco da Silva esconde-se por detrás da marca que criou para o seu projecto musical, o qual vem desenvolvendo desde 2002. O nome que escolheu, Old Jerusalem, vem de uma canção de Will Oldham, um músico americano que é uma das suas influências. Desde 2002 Francisco Silva tem trabalhado em várias etapas do seu projecto Old Jerusalem, a começar pela estreia discográfica em 2002, com “Old & Alla”. Depois foram publicados mais oito discos, o mais recente dos quais, agora lançado, é “Certain Rivers” - nome que Francisco Silva foi buscar a uma citação do poeta polaco Czeslaw Milosz, Nobel da literatura de 1980: “Quando sofremos, regressamos às margens de certos rios”. O conceito musical do projecto Old Jerusalem é geralmente minimalista, voz e guitarra como base segura, melodias delicadas, letras escolhidas e trabalhadas. Mas neste “Certain Rivers” a simplicidade é levada ao extremo - fazendo aliás viver as suas 10 canções com uma maior intensidade que o seu próprio despojamento amplifica. Numa entrevista recente Francisco Silva sublinhou que as suas canções “falam bastante sobre e sensação da passagem do tempo, e de regressarmos mentalmente aos pontos de tempo de conforto, as nossas referências, as memórias fundacionais, as coisas que são âncoras para a nossa existência”. Este é o retrato de “Certain Rivers” e de Old Jerusalem, um projecto que é dos melhores e mais consistentes da música portuguesa.

 

PETISCO PARA ESTES DIAS DE VERÃO - Oficialmente estamos no verão, de maneira que é boa altura de falar de um prato fácil de fazer e que combina tradições gastronómicas de várias geografias. A ideia é um couscous de carapau de conserva. Escusa de começar a franzir os olhos e leia mais um bocadinho. O início é sempre igual: começa-se por hidratar os couscous com água ou caldo aromático, depois adiciona-se hortelã picada, a laranja em gomos e tomate cherry cortado em quartos. Deve guardar a casca da laranja para utilizar a raspa respectiva que é então misturada no couscous já humedecido. Mexa duas ou três vezes para o couscous encorpar, verifique se necessita de mais caldo, tempere com sal, pimenta negra moída na altura, azeite e, se quiser, um pouco de vinagre de sidra. Por fim deixe repousar até absorver todo o líquido. Coloque um punhado de folhas de rúcula por cima e, no final, os filetes de carapau de conserva, tendo o cuidado prévio de escorrer bem o azeite em que vêm. Acompanhe com um rosé bem fresco.

 

DIXIT - “Não convergimos porque há pouca inovação. É de inovação que o país precisa para fazer produtos com maior valor acrescentado.” - Luís Valente de Oliveira

 

BACK TO BASICS - “A inovação é o que distingue um líder de um mero seguidor” - Steve Jobs

(Publicado no Weekend do Jornal de Negócios de 25 de Junho de 2021)







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