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NUNCA DIGAS NUNCA- Esta semana ouvi uma das melhores sugestões dos últimos tempos. Numa conversa sobre o pacote de medidas para a habitação, voz sábia alvitrou assim: mais valia terem entregue ao ChatGPT a incumbência de fazer uma proposta, de certeza que seria melhor que a confusão que o Governo apresentou. A certeira observação fez-me pensar na forma como algumas coisas são apresentadas pelo executivo - revelam muitas vezes desconhecimento, precipitação, enviesamento político na abordagem, muitas vezes incompreensíveis atrasos e frequentemente uma redacção confusa e até com pontos contraditórios. Mesmo sem recurso à Inteligência Artificial, se os senhores governantes fossem mais diligentes talvez grande parte dos problemas pudesse ser ultrapassado. No reino da utopia o Governo devia estar à frente dos problemas, a delinear o desenvolvimento futuro; na realidade lusitana o Governo corre sempre atrás do prejuízo, a tentar encontrar formas de remendar os problemas. Veja-se o que se passou esta semana: depois de juras de Costa e Medina, várias vezes repetidas, de que nunca existiria IVA zero para produtos alimentares, eis que ele foi anunciado com pompa e circunstância. Se olharmos bem para as coisas vemos que os resultados que o Governo apresenta de redução do défice são possíveis porque a cobrança de impostos aumentou. E a cobrança cresceu, e muito, porque os aumentos de preços provocaram um aumento da receita fiscal. O Estado não está a gerir melhor os recursos, não está mais eficiente - está a beneficiar de cobrar mais aos cidadãos. Na realidade, quando o Estado finalmente admite o IVA zero nalguns produtos a única coisa que acontece é o que José Manuel Fernandes esta semana escreveu: “trata-se de devolver só uma parte do que tem cobrado a mais”.
SEMANADA - Segundo o Eurostat Portugal está agora agora no 21º lugar no ranking do PIB per capita na UE, fomos ultrapassados pela Hungria, estamos empatados com a Roménia e atrás de nós apenas estão cinco países: Letónia, Croácia, Grécia, Eslováquia e Bulgária; segundo o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social mais de 50% dos trabalhadores receberam salários inferiores a mil euros em 2022, uma percentagem que sobe para os 65% quando falamos de jovens com menos de 30 anos; o número de trabalhadores com mais de 65 anos aumentou 88% nos últimos dez anos; 28,9% é a proporção de trabalhadores em regime de teletrabalho em Lisboa, a única região acima da média nacional que é de 14,4%; as greves dos oficiais de justiça já provocaram 20.874 adiamentos de julgamentos em todo o país; um estudo do SNS indica que nos primeiros 11 meses do ano passado 44,5% dos 5,7 milhões de atendimentos nas urgências hospitalares eram casos considerados pouco ou não urgentes; há 26 mil pedidos de habitações municipais em Lisboa e Porto mas há apenas 700 casas disponíveis;a idade média dos navios da frota da Marinha portuguesa é de 29 anos; nos três primeiros meses do ano já se suicidaram cinco agentes da PSP.
O ARCO DA VELHA - A faculdade de Belas Artes de Lisboa tem tectos a ruir, de onde já caíram esqueletos e dejectos de pombos para cima de alunos.
OUTRAS ARTES - No MAAT está patente até 11 de Setembro uma nova série de exposições e o destaque vai para “Da Calma Se Fez o Vento”, (na imagem) da açoreana Sandra Rocha, com curadoria de João Pinharanda, que está na Galeria 2. O trabalho de Sandra Rocha, que utiliza imagens fixas e em movimento, é baseado na fotografia e na exploração de encontros entre dois territórios: o do corpo e o da paisagem, em diferentes dimensões, que proporcionam várias leituras. São algumas dezenas de fotografias, agrupadas em núcleos que desenvolvem narrativas complementares. Também com curadoria de João Pinharanda esta série de três novas exposições do MAAT tem outro ponto alto em “Leaky Abstraction", de Ana Cardoso, que está na sala Cinzeiro 8 do edifício da Central Tejo. Ana Cardoso foi finalista do Prémio Novos Artistas Fundação EDP 2017, e esta exposição parte da investigação que a artista desenvolve em torno da pintura, explorando suportes e técnicas diversas, numa interessante evolução da sua carreira. A trilogia das novas exposições completa-se, na sala oval, com “Archipelago Hervé di Rosa” que apresenta obras do MIAM - Musée International des Arts Modeste, criado por Di Rosa em 2000 em Sète, França. Com curadoria de Noelig Le Roux esta enorme seleção de obras da coleção do MIAM mostra desde objectos de todo o género a banda desenhada. Uma outra exposição patente no MAAT é “Plástico- Reconstruir o Nosso Mundo”, criada pelo Vitra Design Museum e o Victoria & Albert. A exposição combina uma viagem pela utilização do plástico ao longo dos tempos com uma importante parte dedicada à reciclagem e à economia circular.
A NOVA CENSURA - Jorge Soley, economista espanhol é o autor de “Manual do Bom Cidadão, o Livro dos Cancelados”, um livro para compreender e resistir à cultura do cancelamento que está a pretender dominar as redes sociais e a nossa sociedade em nome de premissas apresentadas como politicamente correctas e que pretende cancelar ou alterar o que está escrito em livros, na História, ou obras de arte. O livro gira em torno desta questão: O que fazer perante o crescimento da política “woke”? São de Jorge Soley estas palavras:“É muito provável que não tenhamos vontade de nos vermos imersos num processo público de cancelamento, mas também é crescente a probabilidade de que, sem o desejarmos, tenhamos de enfrentar uma situação em que devemos escolher entre dizer a verdade e assumir as consequências, ou mentir, moldarmo‑nos ao politicamente correto e passarmos despercebidos (...) Mas a neutralidade já não é uma opção”. Todos os dias surgem novos exemplos da cultura do cancelamento, essa perigosíssima forma de censura - desde punir quem mostra a estátua de David, feita por Miguel Ângelo, até quem pretende reescrever livros ou impedir a divulgação de filmes de Walt Disney. Segundo Foley a controvérsia suscitada por esta cultura do cancelamento deriva e entronca no aumento da desinformação, usada inclusive por governos e movimentos políticos e ideológicos e que leva a que se considere normal a censura de certas mensagens. E Jorge Soley sublinha: “A desinformação sempre existiu, sempre houve propaganda. Mas sempre pensámos que as pessoas são suficientemente maduras para distinguir a informação viável da falsa”. Edição Leya/D.Quixote
FRASES SOLTAS - Nas canções do novo disco de Lana Del Rey Lana surgem desabafos, frases soltas como se fossem pedaços de uma carta nunca concluída, notas soltas que espelham estados de alma transformados em canções. “ Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd” é o nono álbum de originais da cantora, pontuado por frases duras, mais duras ainda do que é habitual nas suas canções. São 78 minutos divididos por 16 canções, onde o piano é musicalmente dominante, pontuado por uma secção de cordas e vozes variadas que complementam a de Del Rey, como na faixa de abertura “The Grants” - e Grant é o verdadeiro nome de família de Lana Del Rey. Numa dessas canções há esta frase: “I wrote you a note, but I didn’t send it”, a descrição do ambiente da música que ela nos oferece neste disco. Numa das faixas mais marcantes do disco, “A&W” ela canta “This is the experience of being an American whore”, depois de, logo na segunda faixa, a que dá o título ao álbum, ter proclamado “Fuck me to death, love me till I love myself”. Musicalmente o ambiente criado entre piano e secção de cordas contrasta com as palavras cruas cantadas de forma marcante por Lana Del Rey, que atravessa temas como o amor e a morte, a existência de um Deus, a eternidade para além da vida, o destino ou a vida familiar. Em “Fingertips” as suas preocupações ficam bem desenhadas com esta frase: “God, if you’re near me, send me three white butterflies.” Estas 16 canções são outras tantas crónicas sobre a forma como Lana Del Rey encara o mundo e a sua própria vida. Não deixa de ser curioso que neste disco, com as canções cuidadosamente alinhadas em sequência, a derradeira seja uma revisitação do seu velho tema “Venice Beach” com o recurso a percussões e a um ambiente que a transformam no “Taco Truck X VB” onde deixa o recado: “Blood on my feet, on the street I'm dancin' crazy”. “ Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd” está disponível nas plataformas de streaming.
ARROZADA - O consumo per capita de arroz em Portugal é de 16 kgs por ano, quatro vezes a média da União Europeia. Há boas razões para isto:desde o arroz com ovo e atum ao arroz de lampreia, passando pelo arroz de garoupa, arroz de marisco, arroz de pato, arroz de ervilhas, arroz de pimentos, e tantos por aí fora que são petiscos sempre bem acolhidos. Para a confecção, eu prefiro o arroz carolino nacional, é o que ganha mais sabor quando cozinhado com outros produtos. Na tradição portuguesa o arroz pode ser prato principal, acompanhamento ou essa incontornável sobremesa que é o arroz doce. No prato principal a minha preferência vai para o arroz de pato à antiga, bem pingado da gordura do marreco. No acompanhamento não há melhor que um arroz refogado em couve, linguiça e pimentos, que acompanha muito bem , por exemplo, uns pastéis de massa tenra. No terreno das memórias de infância poucas coisas sabem melhor que um frugal arroz com galinha desfiada, pincelado de gema de ovo por cima e que vai ao forno, no fim, a tostar. E já nem falo de um arroz de tomate, não muito caldoso, a acompanhar uns pastéis de bacalhau ou uns croquetes, autêntico menu todo o terreno, que suporta bem o transporte e conforta a existência. A gastronomia portuguesa tem muito por onde explorar em matéria de arroz, desde a incontornável cabidela até ao arroz de lascas de bacalhau e coentros ou o arroz de polvo. É verdade que os italianos têm muita variedade de risotos, mas não é menos verdade que aqui na península, desde a paella a um dos vários arrozes acima referidos, há um grande terreno para degustar.
BOM - Os desenhos da série “Ontem Vi O Futuro”, de António Jorge Gonçalves, nos painéis que rodeiam o que será o novo jardim da Gulbenkian, em Lisboa.
MAU - A criminalidade violenta e grave teve um aumento de 14,4% em 2022 e a polícia registou 924 crimes por dia.
DIXIT - “Medina, um homem que se caracteriza por fazer rolar todas as cabeças exceto a sua, coroada pelo chefe máximo do pessoal mínimo, António Costa” - Clara Ferreira Alves
BACK TO BASICS - “Os sabichões falam, mas os sábios ouvem” - Jimi Hendrix
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