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SMS - Para a lenda há-de ficar esta história: na nossa crise destes dias, no meio das negociações entre os partidos, oscilando entre sedes partidárias, houve quem enviasse, via sms, a jornalistas, sinais do agudizar das divergências. Só me espanto de no twitter não surgirem relatos - já espero de tudo, vindo de todos. Estas negociações são em boa parte uma encenação apressada de uma dramaturgia estranha escrita em Belém e que deixou o fim em aberto - será mesmo um “happy end” aquilo que o Presidente, lá longe, nas Ilhas Selvagens, pretende? De qualquer maneira na quarta feira é certo que começaram os discursos preparatórios para não haver acordo algum de governação. Não me espanto muito, a única coisa que me surpreende é que à quarta a mesa continue em amena cavaqueira depois de se saber que, na quinta,  um dos presentes vai votar, numa moção de censura, contra os outros dois. O mundo está estranho, o país ainda mais e neste momento só me ocorre dizer, como um divertido comentador desportivo sublinhou há uns anos: prognósticos só no fim do jogo. Uma coisa tenho por certa: uma geração de eleitores vai olhar para isto com desprezo e pensar que quando um país está entregue, nos seus mais altos cargos, a reformados, alguma coisa vai mal. O resultado está à vista. O regime está a precisar de ume reforma, que comece por tirar os reformados do leme.

 

SEMANADA - O Presidente da República abriu a porta a uma próxima campanha eleitoral, a começar agora, e a terminar daqui a um ano;  o PS aceitou sentar-se à mesa de negociações com o PSD e CDS; o PS anunciou que vai votar uma moção de censura ao Governo; José Junqueiro, vice-presidente da bancada parlamentar do PS,  vê “com muita dificuldade” um acordo com PSD e CDS; PS manifestou abertura a reunir com o PCP e com o BE, que não quiseram reunir com o PSD e CDS; Mário Soares avisou que um acordo do PS com os dois partidos da coligação só aconteceria “se o PS fosse dirigido por alguém que não tivesse senso”; no final da reunião com o BE, o PS emitiu um comunicado no qual afirma que este Governo “tem os dias contados” ; Álvaro Santos Pereira está em visita oficial a Angola; Cavaco Silva foi em deslocação oficial às Ilhas Selvagens; o PS sublinhou que as negociações não envolvem nenhum representante do Governo, apesar da presença de vários secretários de Estado e de um Ministro; o eventual candidato do PSD à Câmara de Lisboa, Fernando Seara, anunciou que quem não chegar a acordo será “sancionado pelo eleitorado”; o gabinete de prevenção e investigação de acidentes com aeronaves está desde esta semana sem qualquer investigador ao seu serviço; os metropolitanos de Lisboa e Porto perderam 7,7 milhões de passageiros num ano; as dívidas fiscais aumentaram 7,7 milhões de euros com a troika; o emprego em Portugal recuou a níveis de 1995 e o consumo a níveis de 1999; o programa de ajustamento já destruíu 686 mil postos de trabalho.

 

ARCO DA VELHA - A CP vendeu quatro dezenas de bilhetes para lugares inexistentes num comboio Lisboa-Faro na passada segunda-feira, levando os passageiros a viajar de pé e no bar do comboio.

 

 

FICAR- Na semana passada descobri os Açores. Melhor dizendo, ajudaram-me a descobrir os Açores, insistindo comigo para que fosse.  Fiquei muito contente por ter ido: estive cinco dias em São Miguel e fiz quase setecentos quilómetros por estradas grandes e por estradas pequenas, indo a todos os recantos e parando nos mirantes que encontrei.  Comi bem em bombas de gasolina e em esplanadas em cima do mar; no Hotel onde fiquei e, em restaurantes onde fui e em casa de amigos que me acolheram. Na estrada, por todo o lado me ajudaram com indicações de caminhos e sugestões do que ver. Fiquei rendido a São Miguel e com vontade de descobrir o resto dos Açores. Tive a boa sorte de ficar no Hotel Terra Nostra, nas Furnas, e não podia ter ficado melhor. O Hotel está num parque natural, único, cuidadíssimo, onde é um prazer passear, e que mostra a diversidade da flora da ilha. Não é muito fácil para mim descrever a natureza, mas este é daqueles locais onde apetece ficar, ao qual se quer voltar. No meio do parque está um enorme tanque circular, de água termal, quente, onde se entra para perceber que o descanso não é uma palavra vã e o conforto é um conceito que não se esgota no óbvio. Hei-de voltar a este Terra Nostra - já me tinham dito que é um local que exerce fascínio. Comprovei ser completamente verdade.

 

PROVAR - Desta vez não vou falar de um só restaurante mas do que provei em vários sítios. Primeiro, falo do mar: de uma abrótea e de um veja que me acolheram no Terra Nostra e que reconfortaram das viagens. De umas lapas grelhadas das quais viciosamente abusei numa esplanada na Ribeira Grande, acompanhado por um branco seco, local, o Curral Atlantis com acidez adequada aos petiscos do mar. Mas, sobretudo, devo destacar um peixe que ignorava, de textura e sabor até então desconhecidos, e que mesa amiga me deu a provar - um rocaz, fantástico. Mas quero também falar do queijo de São Jorge, acompanhado de chutney de ananás e servido com o Czar, um vinho generoso do Pico e que deve o seu nome à preferência que os titulares da coroa imperial russa tinham por ele, ao ponto de comprarem toda a produção. E já tenho saudades da carne, bem cozinhada, bem temperada e sobretudo tenríssima, a puxar por um vinho tinto, do Pico, o Basalto, de uva americana, servido refrescado, a acompanhar bem estes petiscos carnívoros. E por falar nisso, remato com o célebre cozido das Furnas, que leva sete horas a fazer em buracos no chão vulcânico, com os enchidos da região - de que se destaca a morcela - com batata doce e inhame ao lado do entrecosto, da couve e do repolho. Imperdível, a gastronomia açoriana.


VER - De há uns anos a esta parte assistia à presença da Galeria Fonseca Macedo, de Ponta Delgada, na Arte Lisboa, na FIL, onde tem tido uma presença que chamava a atenção. No meio das minhas voltas micaleenses da semana passada, tive a sorte de coincidir com uma nova exposição - “Austeridade” de Ana Vidigal, e “Osso” de Paulo Brighenti, ambas possíveis graças à colaboração com a galeria Baginski, de Lisboa. Situada no centro de Ponta Delgada a “Fonseca Macedo” é uma lufada de ar fresco, dedicada à arte contemporânea, e que tem desenvolvido um núcleo de coleccionadores açorianos, alguns dos quais conheci naquela noite. Gostei de rever estes trabalhos recentes de Ana Vidigal e de Paulo Brighenti, de os sentir ali apreciados, a meio do Atlântico. Nada como uma noite de abertura de uma galeria de arte contemporânea para nos permitir tomar o pulso a uma sociedade - ver quem vai ser visto, quem vai por dever de ofício, ou quem vai porque gosta de descobrir. Felizmente foi uma noite, para muitos, de descoberta.

OUVIR- Sou suspeitíssimo nesta matéria: acho que J. P. Simões é um dos nossos músicos mais geniais, um dos autores de canções que vai ficar para a história destes anos terríveis. Letras provocatórias, observações certeiras, cuidado e originalidade nos arranjos - tudo faz dele um caso à parte. Mesmo que hoje em dia seja ainda ignorado por uns e marginalizado por outros, suspeito que este seu repertório, particularmente o deste novo CD “Roma”, ainda vai dar que falar ao longo dos anos. Ouço-o com cada vez maior prazer, descubro nele sempre alguma coisa de novo em cada audição. J P Simões é o mais tropical dos nossos músicos, tanto que às vezes pode parecer demais. Mas é bom, genuíno e dá que pensar. (CD “Roma”, JP Simões, na FNAC).

 

FOLHEAR - A edição de Julho do “British Journal Of Photography” mostra como os encontros de fotografia de Arles, depois de há uns anos largos terem mostrado a importância da côr, regressam este ano ao preto e branco. E, sobretudo, dá a conhecer um belíssimo portfolio de George Giorgiou e Vanessa Winship, intitulado “The Long Road” e que mostra a coexistência entre duas visões, mas também entre várias técnicas, evidenciando como se podem conjugar de forma harmónica os retratos, as paisagnes, as cores, o preto e branco. Sem os fundamentalismos que tantas vezes nos impedem de ver o que queremos observar. Uma bela edição anti-dogma.

 

DIXIT - “ Seguro prometeu-me que o PS não fazia cedências” - Manuel Alegre

 

GOSTO - Do canto das cagarras, pássaros abundantes na reserva das Ilhas Selvagens.

 

NÃO GOSTO - Que tenham ido incomodar as cagarras às Ilhas Selvagens.

BACK TO BASICS - “Os factos são o maior inimigo da verdade” - Miguel de Cervantes.


(Publicado no Jornal de Negócios de 19 de Julho)


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publicado às 13:45


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