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APARTHEID - A frente de esquerda, a que alguns por carinho oficinal chamam geringonça, está a fazer tudo para criar um apartheid na sociedade portuguesa, ao colocar de um lado quem trabalha para a administração e empresas públicas e, do outro, quem trabalha fora do braço protector do Estado como patrão. O resultado é simples: jogar uns contra os outros, Estado contra o que não é Estado. Aquilo a que assistimos por estes dias é à defesa da criação de duas castas - a dos que têm benefícios automáticos e a dos que só progridem se derem provas de que o merecem. Os clamores pela igualdade para todos escondem sempre a parte que não cabe no todos e que, neste caso, já é a maior parte. Se formos ao segmento abaixo dos 35 anos ainda é mais evidente a clivagem: nesse escalão há muito mais gente a trabalhar fora do Estado que em qualquer outro segmento etário. Os que trabalham fora do Estado sabem o que é terem de competir com empresas rivais da sua, terem que desenvolver produtos que sejam vendáveis, dever prestar serviços de forma eficaz, sob pena de as suas empresas serem preteridas por outras. Mas Estado há só um e não há como lhe fugir. Ainda vivemos numa época em que a maioria dos políticos passou a vida a trabalhar para o Estado - na Administração central, local ou em empresas públicas. Cresceram com a certeza de que os votos vinham daí e que esse colégio eleitoral tinha que ser protegido. Mas com o andar dos tempos há menos gente a receber ordenado do Estado. Um dia destes os eleitores que não trabalham para o Estado vão revoltar-se contra os políticos que defendem o apartheid social.

 

SEMANADA - Os partidos que apoiam o Governo apresentarem 492 propostas de alteração ao Orçamento de Estado com reflexos no aumento da despesa pública; a Comissão Europeia diz que o Orçamento português arrisca violar as regras europeias de ajustamento orçamental e em causa está uma redução estrutural do défice inferior à recomendada e um aumento da despesa considerado excessivo; peritos de Bruxelas dizem que a despesa com salários da função Pública vai custar mais 385 milhões de euros do que o Governo previu no Orçamento, sem contar com novos encargos pendentes de negociações com os sindicatos; a Comissão de Protecção de Dados considera que o Orçamento de Estado propõe demasiadas interconexões entre bases de dados da administração pública; o sector empresarial do Estado registou no ano passado prejuízos de cerca de 408 milhões de euros e a Parpública foi a que registou maior aumento de perdas nesse período; nos últimos quatro meses, em Portugal, foram feitos 3500 furos de água; cada português gasta por dia 220 litros de água, o dobro do considerado suficiente pelas Nações Unidas; o tempo médio de espera para o início de tratamento de alcoólicos já ultrapassa os dois meses; ficaram por ocupar cerca de meia centena de vagas para médicos de família por falta de candidatos; 91% dos trabalhadores do Infarmed estão contra a mudança para o Porto.

 

ARCO DA VELHA - A base de dados de pedófilos condenados, que tem mais de cinco mil nomes e que foi criada há dois anos com o objectivo de ser usada pelos orgãos de investigação criminal, nunca foi consultada por PSP, GNR ou PJ, apesar de crescente número de casos de abuso de menores.

 

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FOLHEAR - A “Monocle” já não surpreende com frequência, mas neste mês conseguiu dar nas vistas: fez uma entrevista com o ex-presidente brasileiro Lula, a que dá chamada de capa com o título “O Regresso de Lula”,  com direito a três páginas, no essencial laudatórias. Para o ex-presidente nas malhas da Lei esta foi a possibilidade de se reposicionar numa revista de difusão internacional e dirigida a um segmento influente. Lula curiosamente afirma na entrevista que “a solução para a crise económica é a credibilidade”. Quase me apetece dizer que a peça sobre Lula podia ser considerada conteúdo patrocinado.... Surpresas à parte, esta edição de Dezembro da “Monocle” inclui o já tradicional relatório anual sobre os países que melhor exercem o seu “soft power”, um misto de diplomacia com encanto e comunicação. Portugal aparece na posição 12, em subida comparativamente com o ano passado, logo atrás da Itália e Dinamarca e à frente da Nova Zelândia, Espanha e Noruega. O ranking de 25 países é liderado pelo Canadá, Alemanha e França. Sobre Portugal a revista deixa no entanto um aviso: “à medida que cresce o número de visitantes é importante o país focar-se na salvaguarda da sua autenticidade”. Um outro destaque português surge na lista “Travel Top 50” com o Hotel Ritz (“Top untouched modernist hotel”) e com as tripulações da TAP (“Most handsome crew”). Finalmente na secção de comidas e bebidas surge em destaque o restaurante Jncquoi, na Avenida da Liberdade. Por fim, uma notícia: efeito colateral do Brexit, a “Monocle” vai mudar o seu quartel general de Londres para Zurique. Já me esquecia - esta é  a edição com sugestões de prendas de Natal. Nada austeras.

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VER - A nova exposição de Pedro Calapez surge como uma surpresa, rasgando horizontes em relação ao que tem sido a evolução da sua obra nos anos mais recentes. São pinturas sobre papel e alumínio (na imagem), criadas em várias dimensões, rasgando a escala habitual, e sugerindo diversas formas de ver e de poderem ser vistas. Integralmente composta por obras inéditas, feitas para esta mostra que assinala o 5º aniversário da Galeria Belo-Galsterer, a exposição evidencia a forma como Calapez optou por trabalhar sobre formatos inesperados. O nome escolhido - “Tracção e Compressão simples entre limites elásticos” - é particularmente indicado para mostrar as diferentes abordagens, de material de suporte e de concepção da sua forma. Vai ficar na na Belo Galsterer, Rua Castilho 71, r/c esq, até 20 de Janeiro. Outro destaque vai para a exposição “2 desenhos e 2 esculturas”, de José Pedro Croft, na Galeria Vera Cortês. Croft, que representou Portugal este ano na Bienal de Veneza, apresenta quatro trabalhos inéditos. Permito-me chamar  a atenção para os desenhos, que vão para além da aparência do traço, numa construção minuciosa feita sobre papel, manipulado e trabalhado de forma a permitir diversas leituras. Na Rua João Saraiva 16-1º, até 13 de Janeiro. N´A Pequena Galeria, (avenida 24 de Julho 4C),  Luiz Carvalho apresenta “O Resto É Paisagem”, uma exposição de fotografias feitas ao longo da sua vida e a que aqui regressaremos para a semana.

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OUVIR - A carreira de Seal começou no início dos anos 90, ao longo do tempo editou dez álbuns e afirmou-se como uma das vozes mais interessantes, muitas vezes na fronteira entre a pop e o soft jazz, com influências dos blues e da soul music e de nomes como Tony Bennett ou Nat King Cole. O seu  mais recente CD acaba de ser publicado e o nome corresponde exactamente ao seu conteúdo: “Standards”. Trata-se de um conjunto de canções que ganharam fama, originalmente feitas entre os anos 30 e 60 do século passado. Neste álbum Seal é acompanhado por uma orquestra de 65 elementos, com arranjos de Chris Walden, num registo que muitas vezes se aproxima de uma gravação ao vivo. O começo do disco é arrasador: “Luck Be A Lady”, “Autumn Leaves” e “I Put A Spell On You”. Ao todo são 14 temas, entre os quais podemos ainda encontrar “They Can’t Take That Away From Me”, “Love For Sale”, “My Funny Valentine”, “I’ve Got You Under My Skin”, “The Nearness Of You” e, claro, “Christmas Song”, entre outros. Seal é um vocalista de créditos firmados, com uma capacidade de interpretação invulgar. É justo dizer o que o disco é marcado por um espírito de risco na sua abordagem a “I Put A Spell On You”, uma interpretação arrebatadora onde Seal é acompanhado de um coro gospel. O mesmo desejo de fazer  a diferença ouve-se em “I Got You Under My Skin”, onde descola da abordagem que Nelson Riddle  fez para a marcante interpretação de Sinatra. CD Decca /Universal já disponível em Portugal.

 

PROVAR - Há cerca de duas décadas Manuel Martins ganhou fama com os seus petiscos alentejanos num pequeno estabelecimento na Rua Coelho da Rocha, em Campo de Ourique, a que chamou “A Charcutaria”. Alguns anos depois resolveu mudar-se para uma casa bem maior, na Rua do Alecrim. Continuou a ganhar fama mas a certa altura as coisas começaram a correr menos bem e este ano, há uns meses, decidiu voltar a Campo de Ourique, à Rua Francisco Metrass. É bem visível o peso da idade, mas o talento nos sabores alentejanos continua igual. As suas empadas de galinha têm uma massa finíssima e um recheio leve e continuam a ser uma iguaria. O pão, obviamente alentejano, é fatiado finíssimo. Na ementa introduziu umas saladas (como por exemplo de pêra, canónigos, pinhões e parmesão), mas mantém bons clássicos - como os seus pastéis de massa tenra acompanhados por arroz de coentros que continuam soberbos. E claro que na lista ao longo do ano surgem pratos como os pezinhos de coentrada, perdiz estufada, perdiz de escabeche,  empada de perdiz ou a lebre com feijão..Lá estão ainda nos queijos um serpa curado e um de cabra, também curado, muito saboroso e, nas sobremesas, um belo bolo de chocolate e doces conventuais. O vinho servido a copo é o alentejano Nunes Barata, tanto tinto como branco, e ambos cumprem com honestidade a sua função. Manuel Martins continua sempre simpático, focado nos clientes e a fazer boa cozinha alentejana, simples, com qualidade, e aqui com preços muito convidativos. A sala é pequena, como na casa original, tem uma dúzia de lugares e está aberta ao almoço e jantar todos os dias excepto ao domingo. A Charcutaria, Rua Francisco Metrass 64, telefone 215 842 827. Aceita encomendas para fora.

 

DIXIT - “Mudar sedes da Administração Central é desconcentrar. Descentralizar é transferir competências da Administração Central para Entidades Regionais ou Locais” - Luis Paixão Martins, no Facebook.

 

GOSTO - The Presidential, o comboio turístico de luxo do Douro, que usa as carruagens utilizadas por Presidentes da República recuperadas pelo Museu Nacional Ferroviário, ganhou o Best Event Awards de 2017.

 

NÃO GOSTO - Mais de 200 mil utentes foram afectados pela greve dos técnicos de diagnóstico e terapêutica.

 

BACK TO BASICS - Vale mais um exército de ovelhas comandado por um leão, que um exército de leões comandados por uma ovelha - Damião de Goes

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