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As estatísticas são o que são e podem ter sempre várias leituras, mas é difícil convencerem-me que este número pode ter várias interpretações: 43% dos crimes por corrupção envolvem câmaras municipais – e as muitas centenas de investigações realizadas vão desde turismo sexual patrocinado, até ao lançamento de concurso público depois de uma obra já estar feita. É certo que o justo não pode ser confundido com o pecador, mas a verdade é que o peso das autarquias no esbanjamento do dinheiro público, como também várias estatísticas demonstram, é enorme. Todos conhecemos os casos das rotundas, e é raro o mês que não ouço falar de um equipamento que foi construído algures mas que está vazio porque a ânsia de fazer obra foi maior que a de acautelar o seu uso futuro.
Nos últimos dias tenho visto boas reportagens sobre o estado da nação, sobre a forma como as autarquias são geridas – e chego à conclusão que muitas Câmaras são um problema que vai de funcionários a mais a eficiência a menos, passando por dívida incomportável. Aquilo que se fez no país em matéria de esbanjamento, replicou-se a nível local e esse fardo ainda o vamos carregar durante anos. Mas ao mesmo tempo que vejo o inacreditável acontecer em muitos municípios, percebo que nas juntas de freguesia a realidade é bem diferente. As juntas fazem um trabalho de proximidade, muitas funcionam exemplarmente, desempenham funções e apoios à população para além daquilo que era esperado. Sobretudo nas zonas rurais prestam serviços que mais ninguém fornece e são tanto mais importantes quanto a desertificação do interior aumenta. Quanto mais penso no assunto, mais acho que a reforma do Estado tem que passar por aumentar a proximidade e não cavar novas distâncias.
(publicado na edição de hoje do diário Metro)
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