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A FALTA - Prometi a mim mesmo não falar das teorias e teses sobre os incêndios e o que se passou. Mas depois de já quase duas semanas de duelos florentinos, da erupção palavrosa de especialistas de meia tigela e de conspirações diversas, não consigo deixar de dizer uma coisa: fazer política partidária sobre o tema das mortes numa situação de catástrofe é de péssimo gosto, é um macabro exercício de oportunismo político. Nas últimas décadas todos os partidos que passaram pelo poder têm culpas no cartório da política florestal, da prevenção e da segurança. Por isso mesmo penso que o dever elementar de todos, do governo à oposição, seria terem pedido desculpa aos portugueses. Não fizeram tudo o que podiam, infelizmente as evidências provam-no. E ninguém apareceu nos primeiros dias a dizer o que era evidente: “Desculpem, os partidos, os líderes dos governos e dos partidos falharam! Desculpem, o Estado falhou e não protegeu os cidadãos.” Era simples dizer isto e significava muito, mais que mil despachos e relatórios feitos a quente e à pressa. É claro que é fundamental vir a compreender as causas e as culpas, e sobretudo as soluções para o futuro, mais do que andar à procura de causadores e culpados da situação concreta do dia 17 de Junho - mas um pedido de desculpas ficou a faltar e era devido. A reacção da classe política à catástrofe mostra um regime que ardeu, que primeiro faliu e que agora está a matar. Aqueles que têm tido poder podiam perceber a dimensão da besta que deixaram crescer. Parece que o bom-senso, a humildade e a responsabilidade desapareceram da política.
SEMANADA - A segurança social tem 21 mil pagamentos em atraso a grávidas e doentes; as despesas familiares com saúde cresceram para 438 euros por ano por pessoa um valor superior ao da maioria dos europeus; o Observatório da saúde indica que utentes com menores rendimentos têm mais dificuldade em aceder ao Serviço Nacional de Saúde; Fernando Medina anunciou esta semana ser o candidato do PS à Câmara de Lisboa - é a primeira vez que lidera uma lista eleitoral; os outros candidatos andam em modo invisível; apesar dos incentivos apenas 81 médicos se disponibilizaram a ir para zonas mais periféricas e do interior; domingo é o dia da semana em que nascem menos bebés e um estudo recente aponta como causa possível o aumento da percentagem de cesarianas nos partos totais; em todo o país, na rede do Estado, só há 41 examinadores para as provas da carta de condução e os candidatos estão meses à espera de realizarem o exame enquanto que no sistema privado o tempo médio de espera é de cinco dias; nos meses de férias a GNR regista 38 queixas por dia de casos de violência doméstica; o mecanismo que penaliza o SIRESP por eventuais falhas nunca foi accionado pelo Estado, que é o seu único cliente; durante o período crítico do incêndio em Pedrogão cinco estações do sistema estiveram em baixo e 22% das chamadas falharam; comentário da semana no facebook: “numa crise o sirep falha; desligado, funciona”.
ARCO DA VELHA - Dois reclusos da cadeia de Matosinhos queriam organizar uma festa na véspera de São João e foram apanhados na prisão com três chouriços, três garrafas de alcool, uma barra de haxixe, dois balões de São João e três telemóveis, tudo recebido ilegalmente.
FOLHEAR - Todos os anos, na edição dupla de Verão, que cobre os meses de Julho e de Agosto, a revista “Monocle” faz um levantamento das 25 cidades que considera os locais ideais para se viver. Depois de anos a subir neste ranking, Lisboa este ano ficou com a mesma posição de 2016 - a 16ª. No ano passado a revista já tinha chamado a atenção para o trânsito caótico na cidade e este ano a “Monocle” deixa um recado directo: “A Câmara Municipal deve encontrar o equilíbrio entre atrair investidores e visitantes estrangeiros e corresponder às necessidades dos habitantes nacionais da cidade - salários baixos combinados com o aumento do custo de vida significa que os residentes mais antigos podem ser marginalizados”. A cidade vencedora foi Tóquio, seguida por Viena, Berlim (que recebeu um destaque graças aos espaços públicos), Munique e Copenhaga. Madrid aparece na 10ª posição, Barcelona na 17ª. Lisboa está ainda em destaque com um artigo sobre a nova sede da EDP e os seus vários espaços, sublinhando que o investimento em boa arquitectura se reflecte de forma positiva na cidade. Outros destaques desta edição: uma visita à cidade espanhola de Valencia, uma conversa sobre gastronomia peruana com o fotógrafo Mário Testino, uma entrevista com o mayor de Los Angeles. O portfolio fotográfico, fresco e delicioso, é dedicado aos gelados, em várias formas, feitios e circunstâncias…
VER - O ponto ideal ao equilíbrio alcança-se quando a obra de um artista se identifica tanto com o local onde é exposta que parece ter chegado a casa. Foi essa a sensação que tive ao ver “Voltar De Vez Em Quando”, de Cristina Ataíde, que está na Ermida, uma pequena e atraente galeria em Belém, na Travessa do Marta Pinto. O espaço é o da Ermida de Nossa Senhora da Conceição, uma capela do século XVIII, muitos anos abandonada. Foi trazida para a sua nova função por um médico, Eduardo Fernandes, apaixonado pelas artes plásticas, que em 2008 recuperou o espaço e aí começou a promover exposições regulares com artistas contemporâneos. As peças de Cristina Ataíde, na imagem, mostram como a escultura continua a ser o seu território de eleição, numa demonstração de equilíbrio visual e espacial. Como é frequente na obra da artista a apresentação das peças principais conjuga-se com o cuidado posto na sua instalação e nas frases que circundam, manuscritas numa fita, as paredes do espaço, como este fragmento, que afinal conta quase tudo o que esta exposição revela: “volto a voar para longe”. Até 19 de Agosto, com curadoria de Ana Cristina Cachola. Outros destaques - prossegue o projecto “A Arte Chegou ao Colombo” , desta vez com obras de Paula Rego até 27 de Setembro, na praça central do centro comercial; na Galeria Módulo, Calçada dos Mestres 34, Ana Mata mostra “Árvores” e n’a Pequena Galeria está “f8 - do retrato ao infinito” uma mostra de fotografia com trabalhos de Alice WR, Carvalho, Isabel Costa, Carlos Almeida, Jackson Távora, Jorge Coimbra André Ricardo e Joaquim Young.
OUVIR - Chuck Berry morreu em Março deste ano, com 90 anos. Até bem pouco tempo antes da morte andou a trabalhar num álbum de originais que recuperava material escrito entre 1991 e 2014, em muitos casos refazendo gravações - já que os originais foram destruídos num incêndio no seu estúdio pessoal. Há 38 anos que não havia um novo disco de Chuck Berry, o homem que criou êxitos como “Maybelline” ou “Come On” e que até aos 88 anos, nos 21 anos anteriores, continuou a tocar uma vez por mês, ao vivo, num bar da sua cidade, St. Louis, o Blueberry Hill. “Chuck”, o novo disco, não é uma colectânea de êxitos passados - é de facto um somatório de novas canções, com algumas brincadeiras pelo meio - como uma versão de “Johnny B. Goode”, de 1955, refeita para ser “Lady B. Goode” ou ainda a transformação de “Havana Moon” em “Jamaica Moon”. “Chuck” não tem covers, nem duetos, nem produtores de luxo convidados como se tornou habitual nos discos de fim de carreira - é fiel às origens de Berry nos blues, à sua paixão pela guitarra e à seu interminável dedicação ao rock’n’roll, como o segundo tema do CD, “Big Boys” bem demonstra. O disco abre com “Wonderful Woman”, uma declaração de amor a Themetta Berry, a sua mulher. Há outros momentos marcantes como “Darlin”, “She Still Loves You”, “Dutchman” ou “Eyes Of A Man” - no fundo um testamento de dois minutos com as opiniões de Chuck Berry sobre o sentido da vida. Ele, que poderia ter gravado um disco de despedida com os maiores nomes do rock (que para o efeito se teriam deslocado a correr a St. Louis), escolheu gravar com a família - o filho e o neto nas guitarras e a filha Ingrid na voz. Foi uma boa despedida. Obrigado Chuck.
PROVAR - Quando o regresso a um restaurante, passados uns anos, corre ainda melhor que a estreia, é caso para bater palmas. Foi o que aconteceu com nova visita à Padaria, em Sesimbra. Embora ali haja peixe para grelhar da melhor qualidade e a grelha seja competente, é nos pratos mais elaborados que está a diferença desta Padaria em relação a muitos outros locais de Sesimbra. Mas sobre o peixe deixem dizer que aqui só há peixe do mar, pescado na região e só há bivalves quando são garantidamente bons - de maneira que não esperem encontrar pré-fabricados à bulhão pato. Por detrás das operações está José Rasteiro, homem da terra, apaixonado pelo que faz - isso nota-se na forma como fala dos pratos que propõe. A localização do restaurante é numa das pequenas ruas que desce até à marginal. A esplanada tem vista sobre o mar e é protegida dos ventos - a visita anterior tinha sido no Inverno e não deu para aproveitar a boa localização. Passemos ao que interessa: o pão de Sesimbra fatiado fino vem acompanhado com azeitonas e azeite, saboroso e intenso. O amuse-bouche oferecido pelo Chef é um achado: requeijão texturizado e enformado como se fosse um pequeno mozarella, com cubos de tomate e pão de especiarias. Nas entradas provaram-se uns filetes de cavala fresca, enrolados, simpáticos, e um excepcional tártaro de atum com coco fresco e salicórnia. A seguir, de um lado da mesa ficou um filete de salmonete com puré de aipo e, do outro, espadarte rosa fumado a quente com ervas da serra da Arrábida, puré de couve flor e molho de caldeirada. Ambos estavam excepcionais na qualidade dos produtos e na preparação. A acompanhar esteve um vinho branco de Colares, feito nas vinhas da Fundação Oriente a partir da casta Malvasia. Excelente. A Padaria fica na Rua da Paz nº5, em Sesimbra, e tem o telefone 212 280 381.
DIXIT - “Como é bom ler bom” - Ferreira Fernandes
GOSTO - O Centro Português de Fotografia completou 20 anos durante os quais realizou 500 exposições e guarda 575 mil imagens em arquivo.
NÃO GOSTO - Das explicações do SIRESP e da teia de contradições criadas.
BACK TO BASICS - O Presidente não é mais que um privilegiado relações públicas, que passa o seu tempo a elogiar, beijar e a abanar as pessoas para que elas façam aquilo que é a sua obrigação - Harry S. Truman
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