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SOBRE O SEPARAR DAS ÁGUAS

por falcao, em 30.11.17

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DIFERENÇAS - O PSD debate-se com uma escolha que no fundo tem a ver com reviver o passado e manter o sistema como está, ou ser parte de um processo de modernização do sistema político. Rui Rio, apoiado essencialmente pela velha guarda, surge como uma garantia de continuidade do status quo partidário; Pedro Santana Lopes, que tem defendido a necessidade de rever o funcionamento do sistema político, surge como a proposta de ruptura e conta com apoios entre as gerações mais novas do seu partido. Há várias diferenças evidentes entre Pedro Santana Lopes e Rui Rio, mas esta semana foi colocada em evidência uma das maiores: a capacidade política e táctica e a maneira como é encarada a imagem pública do partido. Rio recusou desde o princípio da disputa a realização de debates com Santana Lopes e este, há dias, escreveu ao seu opositor e recordou-lhe o óbvio:  como poderá o PSD no futuro, em eleições nacionais, reivindicar debates com o seu principal opositor se internamente os recusa? Rui Rio não teve outro remédio do que recuar e aceitar debater frente a frente. Chama-se a isto capacidade política e sentido táctico. O episódio mostra de forma cristalina os dois mundos que se confrontam dentro do mesmo partido: um, conservador, virado para dentro, sem rasgo nem visão; e outro, de mudança, virado para o exterior, que procura alargar o debate à sociedade, e  que gosta de desafios. As eleições internas do PSD não são apenas um contar de apoios e espingardas distritais. São um momento para reflectir como um partido deve funcionar hoje em dia na sociedade contemporânea.

 

SEMANADA - Só este ano os 175 assaltos já verificados a máquinas multibanco renderam dois milhões de euros; um regulamento previsto na lei desde 2013 com medidas para evitar roubos nas máquinas ATM esteve quase cinco anos sem ser publicado; segundo o INE perto de 80% das famílias portuguesas têm acesso à internet e um terço já a usou para encomendar bens ou serviços, mais do dobro do início da década; segundo a Marktest, 3,8 milhões de portugueses têm o hábito de ler notícias através do telemóvel ou tablet mas há 2,7 milhões de portugueses que contactam com a imprensa exclusivamente em papel; há ainda 588 freguesias portuguesas sem acesso a banda larga no telemóvel; a Marktest contabiliza 3 milhões e 291 mil lares com Tv paga (cabo), o que corresponde a 81.4% dos lares portugueses e a penetração deste serviço tem revelado uma tendência crescente ao longo dos últimos anos, passando de 46.4% em 2006 para os 81.4% agora observados; ao aprovar o Orçamento de Estado para 2018 a Assembleia da República assumiu compromissos de aumento da despesa e de perda da receita para 2019 num total de 593 milhões de euros; o Bloco de Esquerda acusou o PS de deslealdade por quebra de compromissos relativamente ao Orçamento de Estado; o Ministro da Saúde avisou a Presidente do Infarmed da decisão da Mudança para o Porto dia 21 de Novembro, às oito da manhã, depois de ter recebido instruções nesse sentido, na véspera, do Primeiro Ministro, logo após se ter sabido que a agência europeia do medicamento não iria para o Porto; o Presidente da República defendeu esta segunda-feira que “a política clássica, longe das pessoas, ignorando a sociedade, sem inovação, está condenada” e lançou um apelo aos responsáveis políticos para que inovem e façam progredir os sistemas políticos.

 

ARCO DA VELHA - A direcção da casa dos Rapazes de Viana do Castelo suspendeu duas funcionárias que denunciaram maus tratos infligidos a crianças na instituição e  manteve ao serviço os cinco acusados dessas práticas.

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FOLHEAR - Um dos maiores problemas com que hoje em dia as empresas se deparam é conseguirem manter os seus melhores colaboradores - não só mantê-los na empresa, mas conseguir que estejam empenhados. Há uma geração, saída das Universidades há pouco tempo, que já não vive no conceito do emprego para toda a vida e que gosta de apostar na sua própria evolução. Para além das questões salariais, há sinais de reconhecimento e de estímulo que muitas vezes são tão importantes como um aumento. “Era Uma Vez Um Talento“, de Dalila Pinto de Almeida, reflecte, a partir de uma história real, sobre o que fazer para reter as melhores pessoas numa organização. Desde o diagnóstico que permite perceber como se caracteriza um talento no seio de uma empresa, até um guia para fazer o seu enquadramento na organização, promover o seu desenvolvimento e fazer o controlo regular da sua prestação, este livro é simultaneamente um relato de uma situação real e um manual informal para a acção  de empresas que se preocupam com os seus quadros. Dalila Pinto de Almeida trabalha em Consultoria Organizacional há 25 anos, com especialização em Executive Search e Coaching de Executivos. Para além da sua empresa, DPA Consultoria, integra a THNK School Of Creative Leadership como Leadership Coach e vai escrevendo regularmente no seu blog Telescópio. Este livro, agora editado pela Vida Económica, acaba por pegar em temas que a autora foi abordando nos seus posts. Aqui chegado devo fazer uma declaração de interesse: acompanhei a preparação do livro desde o início. E continuo a achar que foi uma bela ideia. E uma bela história.

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VER - O Museu de Arte Popular acolhe até 27 de maio  a primeira grande exposição realizada em Portugal do artista gráfico holandês Escher. Mauritus Cornelis Escher tornou-se conhecido pela sua técnica de xilogravuras, litografias e meios-tons que mostram construções aparentemente impossíveis, utilizando padrões geométricos cruzados que evoluem para formas completamente diferentes, muitas vezes criando efeitos que exploram ilusões de óptica. No seu trabalho procurava representar o espaço, tridimensional, no plano bidimensional que cabe na folha de papel e neste processo criava imagens impossíveis e com o seu quê de surrealismo. Escher nasceu no final do século XIX e morreu em 1972, mas foi sobretudo nos anos 60 que a sua obra ganhou notoriedade e projecção, apesar de o seu trabalho ter sido muitas vezes rejeitado e menosprezado como uma forma menor de expressão artística. Foi um influente artista numa rara simbiose europeia entre o surrealismo, a pop art e o psicadelismo e a sua colaboração com músicos e grupos nos anos 60 é assinalável. A presente exposição conta, além das duas centenas de obras, com um conjunto de equipamentos didáticos e de experiências científicas, que possibilitam rever o percurso criativo de Escher Entre os trabalhos apresentados nesta exposição, encontram-se obras como este “Vínculo da União”, de 1956, aqui reproduzida. Museu de Arte Popular, Avenida Brasília, todos os dias das 10 às 20h00. Se estiver no Porto não perca “José de Almada Negreiros - Desenho em Movimento”, no Museu Nacional Soares dos Reis até 18 de Março do próximo ano. A exposição, que a Gulbenkian organizou em Lisboa há uns meses chega agora ao Porto.

 

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OUVIR - A primeira vez que fui a Los Angeles quis ir ver onde ficava o Hotel California. Conhecia-o de ser protagonista de uma canção dos Eagles a que volta e meia regresso . Localizado em Santa Monica, bem perto do mar, o Hotel mudou entretanto de designação e agora chama-se Sea Blue, um nome sem nenhuma graça - parece um detergente. Retenho ainda a imagem dele com o nome original e, claro, as nove canções do álbum homónimo dos Eagles, editado no fim de 1976 ou princípio de 1977, dependendo do local de lançamento. Seja como fôr lá vão passados 40 anos sobre a sua edição. Foi o quarto LP dos Eagles e o seu primeiro grande sucesso. Aqui estão temas como “Life In The Fast lane”, “There Is A New Kid In Town” e, claro “Hotel California”, a canção que deu o título ao álbum. Don Felder, Don Henley, Glen Frey, Joe Walsh e Randy Meisner são os nomes que fizeram dos Eagles uma banda de culto na década de 60, uma referência musical na costa oeste dos Estados Unidos, um bom bocado antes de ser Silicon Valley a brilhar ali em vez da música. Para assinalar os 40 anos da edição original foi agora publicado  um duplo CD em que, para além do LP original, se inclui um segundo CD com dez temas gravados ao vivo em diversos locais da digressão da banda em 1976 - e que incluem temas da fase anterior da carreira dos Eagles. A gravação e mistura respeitam o ar do tempo e dão uma boa ideia do que poderia ser um concerto da banda nesses anos. Bem sei que sou fã dos Eagles, mas esta edição é mesmo uma preciosidade.

 

PROVAR - O sítio existe já há uns anos, é discreto e confortável. Fica na Rua Bartolomeu Dias, entre os Jerónimos e a Torre de Belém e o seu nome - Descobre - tem a ver certamente com a evocação do local. Para além das salas, quando o tempo está de feição, há também uma esplanada. Na entrada fica uma mercearia e garrafeira com bons produtos portugueses, desde vinhos raros à ginginha de Lisboa. A ementa tem sugestões para picar, pratos vegetarianos, saladas e propostas de carne e peixe mais substanciais. Numa recente visita foram elogiadas as lulinhas, o caril de galinha. o arroz de legumes com ovo escalfado e a salada de garoupa (aqui lamentando-se que fosse aparentemente usada salada de pacote - mas a garoupa era boa). Quando se chega à mesa há várias ofertas de pão, azeite com balsâmico, uma pasta de azeitona e manteiga com flor de sal e redução de tinta roriz. Os acompanhamentos são escolhidos à parte e destacam-se os purés de castanha e de batata doce com aipo. Para além de se poder escolher um dos vinhos à venda, pode optar-se por uma boa seleção e vinhos a copo a preços sensatos. Nos doces o aplauso foi para com doce de ovos com sorbet de limão e um crumble de pêra. Vale a pena descobrir o Descobre - aberto todos os dias, Rua Bartolomeu Dias 65, telefone 218 056 461.

 

DIXIT - “Sinto que sou um pequeno arbusto na enorme floresta digital, e que só com um golpe genial – de talento, sorte, ou combinando ambos – alguém vai ligar ao que escrevo. Habituei-me a viver nesta recatada humildade, onde escrever não é mais do que um velho hábito que alimento” - Pedro Rolo Duarte, no seu blogue, no passado dia 8 de outubro.

 

GOSTO - Luis Newton, presidente da junta de freguesia da Estrela, afirmou que neste momento o PSD “não precisa de uma folha de excel a ditar o futuro”.

 

NÃO GOSTO - Da forma como alguns académicos se sujeitam a pretender dar um arremedo de cobertura científica a iniciativas de propaganda política.

 

BACK TO BASICS - “Desde que a palavra sobreviva, o homem sobrevive” - Fernando Sobral, em “O Silêncio dos Céus” .

 

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publicado às 13:30

SOBRE A IMPORTÂNCIA DA CURIOSIDADE

por falcao, em 17.11.17

 

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PARTIDOS  - Soube-se esta semana que dos 210.907 militantes do PSD apenas 28.739 (13,6%) têm as quotas em dia - condição necessária para poderem votar nas eleições directas de 13 de Janeiro. Estamos a falar de 12 euros por ano. No primeiro mês após o início da campanha interna para escolher, em eleições directas, quem será o líder, cerca de cinco mil militantes pagaram as suas quotas em atraso e a data limite para pôr as quotas em dia e poder votar nas Directas de Janeiro é dia 15 de Dezembro. A situação é um retrato do funcionamento dos partidos, mesmo quando têm um teórico número apreciável de militantes: a maioria está arredada da vida dos respectivos partidos, a participação política reduz-se a um pequeno núcleo central. Se fizermos bem as contas a quem está na Assembleia da República, em autarquias a diversos níveis e em orgãos internos, veremos que o total é uma parte significativa daqueles que têm as quotas em dia. Temos portanto duas figuras de relevo da política portuguesa a percorrer o país de lés a lés numa campanha eleitoral que tem um universo de votantes reduzido - e mesmo que, por milagre do destino e ajudas de duvidosa generosidade que se tornaram habituais nos aparelhos partidários, o número de militantes com capacidade eleitoral duplique em relação aos actuais, estaremos a falar de meia centena de milhar de pessoas. É a elas que caberá decidir quem será o líder da oposição. Quando as coisas chegam a este ponto alguma coisa está muito mal no sistema político e partidário - no fundo é um espelho do que se passa no país. O sistema que temos, a nível nacional e a nível partidário, levou a este paradoxo: é uma minoria que decide o futuro da maioria.

 

SEMANADA - Em Portugal estão em construção mais 80 hotéis, anunciou o Ministro da Economia; na via navegável do Douro há 60 operadores com 147 barcos, dos quais 20 são barcos-hotel; a zona do Douro espera atingir até ao final do ano o número recorde de um milhão de turistas;  as receitas do sector hoteleiro subiram 14% durante a época alta (Junho a Setembro), equivalente a 200 milhões, chegando aos 1688 milhões de euros; em Portugal são detectados mais de 200 novos casos de diabetes por dia; o Bastonário da Ordem dos Médicos afirmou que grande parte dos equipamentos e materiais do Serviço Nacional de Saúde está fora do prazo de validade; em Portugal 800 mil pessoas tomam calmantes todos os dias; segundo a Marktest um em cada dez portugueses utiliza regularmente anúncios on line; o Ministério Público recebeu entre 1 de Setembro de 2016 e 31 de Agosto deste ano 5965 denúncias de operações suspeitas de lavagem de dinheiro, um aumento de 22% face ao período anterior; este ano os bancos portugueses estão a emprestar uma média de 21,8 milhões de euros por dia para compra de habitação, um aumento de 42,7% em relação ao ano passado; na função público o salário médio está 500 euros acima do sector privado;  a União Europeia alertou Portugal para a “elevada proporção de empregos criados em setores com baixas qualificações e salários abaixo da média”.

 

ARCO DA VELHA - Uma técnica de acção educativa de Vila do Conde andava a abastecer detidos da cadeia de Paços de Ferreira com haxixe a 200 euros a grama, e cocaina e heroina a 500 euros a grama.

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FOLHEAR - O fascínio pelo Oriente continua a dominar as obras de Fernando Sobral, como aconteceu em “ Os segredos do Hidroavião “ ou em “ As jóias de Goa”. Agora, com “O Silêncio dos Céus” continua a escrever sobre mistérios, mas de forma mais introspectiva. Esta é uma história passada em Macau, em meados do século XIX, o relato de uma conspiração urdida por personagens locais de proveniências diversas e passados distintos. Muitas vezes Fernando Sobral coloca no discurso dos conspiradores frases que vão mostrando as suas próprias reflexões. Por exemplo, logo no início, recorda que “a vida não pertence a nada, excepto ao vento,  porque a nossa alma é o ar”. Um pouco mais à frente afirma que “a maior interrogação com que se defrontam os seres humanos é a existência do mal” e defende noutro passo que “para encontrar as grandes verdades da vida temos de passar pelo silêncio”. “A curiosidade é a minha estrela polar”, disse Fernando Sobral esta semana na apresentação do livro, em Lisboa. Ao ler qualquer dos seus livros percebe-se o cuidado colocado na investigação sobre os locais, seus usos e costumes. Aqui vai mais além e coloca-se dentro das questões que norteiam desde há muitos séculos o pensamento filosófico oriental. Partindo de uma história de conspiração, “O Silêncio dos Céus” depressa se torna numa viagem pelas tradições do oriente, onde a aventura faz parte da vida e se mistura com a luta pelo poder. “Alguém dizia que quando olhas demasiado para um abismo, este também olha para ti” - descubram porquê em “O Silêncio dos Céus”, de Fernando Sobral, edição Livros do Oriente.

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VER - O destaque desta semana vai para a exposição colectiva que assinala os 25 anos de existência da Galeria Fernando Santos, no Porto, em boa parte responsável por se ter criado um pólo de arte na Rua Miguel Bombarda. Para assinalar o aniversário o galerista Fernando Santos mostra obras inéditas a  Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez (na imagem), João Louro, Priscilla Fernandes, Jorge Galindo, Nikias Skapinakis, Gerardo Burmester, António Olaio, além de obras pouco conhecidas de artistas como Alberto Carneiro e Álvaro Lapa. Até 5 de Janeiro. Em Coimbra não perca a sua bienal de arte contemporânea, “Ano Zero”, que com curadoria de Delfim Sardo apresenta obras de 34 artistas, 17 das quais feitas propositadamente para esta mostra e que estão em diversos locais da cidade. Outras sugestões: na Galeria Pedro Alfacinha (Rua de S. Mamede 25), “America”, um conjunto de seis novos trabalhos fotográficos de António Júlio Duarte. Na Galeria 111, Campo Grande, “História da Vida Privada”, um projeto de  Pedro Valdez Cardoso concebido, ao longo de um ano, especificamente para a esta galeria, reunindo um conjunto de mais de 100 obras, com peças inéditas, peças recentes e um conjunto de peças do arquivo do artista, as quais foram sendo realizadas ao longo de mais de 15 anos e nunca expostas, na sua grande maioria, anteriormente. Finalmente, no CCB Garagem Sul, um espaço dedicado à arquitectura, abriu esta semana “Neighbourhood”, sobre os pontos de encontro entre a arquitectura de Álvaro Siza e a de Aldo Rossi na forma de pensar a cidade.

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OUVIR - Basta ouvir “Conto de Fadas”, logo no início deste CD, para perceber como Aldina Duarte gosta de escrever, cantar e, fazendo as duas coisas, provocar e surpreender. Cantar um fado assim, o tradicional “”Fado Santa Luzia”,  acompanhada por uma caixinha de música é usar a heresia e viver o risco que faltam a tantas tentativas de fadistas de moda que andam por aí. Esta é a melhor coisa que se poderia fazer neste tempo de tradições copiadas e de falsas almas que fazem que cantam. Aldina Duarte chamou a este seu novo disco “Quando Se Ama Loucamente” e cada uma das letras que para ele escreveu é uma peça da explicação do que é o Amor. Aldina Duarte escreve como poucos outros fadistas e canta como muito poucas mulheres hoje em dia, em Portugal. Ouvi-la é uma lição de poesia. É muito curiosa a forma como  pegou em fados tradicionais e os recriou com novas letras - um desafio arriscado mas que funcionou bem como nestes versos: “Somos dois da mesma dança/ enlaçados na lembrança/ e perdidos no coração” . O disco assume-se como uma homenagem a Maria Gabriela Llansol, evocada num belíssimo texto de Hélia Correia que surge, no disco, ao lado de uma reprodução de um quadro de Pedro Cabrita Reis. E recordada, no final, pela voz de João Barrento, que diz as suas palavras. Este é um dos grandes discos portugueses do ano. CD Sony Music.


PROVAR - Situado nas Avenidas Novas, “O Funil” tem uma longa tradição que vem desde 1971. Há poucos anos, em 2014, foi totalmente remodelado e após um período inicial que se distinguiu, deixou cair a qualidade e o serviço. Há poucos meses passou para as mão de António Diogo, um profissional com vasta experiência na restauração e com um cuidado claro no serviço aos clientes. O bacalhau à Braz é um clássico que se tem mantido e que continua a ser uma referência segura e outra boa escolha são os filetes de peixe espada com arroz de lima. Os pratos do dia são normalmente abaixo dos 10 euros e os pratos da carta normal andam entre os 10 e 14 euros - e aí podemos encontrar alguns arrozes dignos de nota - nomeadamente o de vitela e cogumelos, o de polvo e o de garoupa e gambas. Nos petiscos da casa destaque para os pastéis de bacalhau. Na nova lista está por vezes uma novidade, trazida por António Diogo de aventuras anteriores, é o spaghetti a la forma - em que a massa acabada de cozer vai para dentro de um parmesão onde é envolvida, a quente, no queijo, ganhando todo o seu sabor. O vinho da casa é o Intensus, alentejano, que cumpre bem, sobretudo o tinto, e é servido a copo ou pequenos jarros Nas sobremesas o destaque vai para as farófias, bem feitas, à moda antiga, irresistíveis.  O restaurante destaca-se pela arte de bem receber, pela atenção dada aos clientes e tem como único ponto menos positivo o facto de por  vezes existir alguma demora. Av. Elias Garcia 82-A, tel. 210 968 912.

 

DIXIT - “Depois da centena de mortos, um país ardido, décadas de medidas políticas, dezenas de ministros, várias reformas estruturais, grupos de trabalho independentes e missões de estrutura, chegámos enfim à solução: caramba, o que nos faltava era uma empresa pública para a floresta” - Paulo Ferreira, no Facebook.

 

GOSTO - Marcelo Rebelo de Sousa voltou a sublinhar que os relatórios sobre o apuramento de responsabilidades nos casos da legionella e de Tancos devem ser tornados públicos.

 

NÃO GOSTO - Do esquema de corrupção nas messes da Força Aérea, que há uma década envolve 86 oficiais e empresários num esquema de sobrefacturação de fornecimentos.

 

BACK TO BASICS - “A melhor forma de prejudicar uma causa é defendê-la deliberadamente com argumentos falsos” - Friederich Nietzsche



 

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O DESTINO MARCA A HORA

por falcao, em 13.10.17

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TIC-TAC - O relógio da política, que estava parado há uns tempos, voltou a andar, as autárquicas deram mesmo um abanão ao estado das coisas. O PSD tem uma oportunidade de voltar a fazer oposição e o PCP já começou a mostrar que reactivou a política de rua - está visto que vamos ter mais greves nos próximos tempos. Cada um destes dois partidos procura recuperar a sua identidade, perdida no caso do PSD por uma incompreensão do que tinha mudado no país e, no do PCP, pelos travões que lhe foram impostos pela geringonça. No PSD a luta interna vai ser dura entre a ala de Rio, apoiado pela previsível velha guarda do partido e Pedro Santana Lopes, que quer uma renovação de pessoas e de ideias. Qualquer dos dois não está no Parlamento nem nos habituais poisos do regime - o que coloca em vantagem Santana Lopes, mais experiente a fazer comunicação fora do círculo institucional. Para além das pessoas o que está em causa tem a ver com o funcionamento dos partidos e do sistema político: quem quer dar mais voz aos cidadãos? Quem vai conseguir envolver e cativar simpatizantes, apoiantes, independentes, fazendo o partido crescer para além do seu aparelho? No fim do dia quem quer mesmo afirmar a diferença? Já se percebeu que de um lado está um candidato que prefere não aceitar perguntas de jornalistas, como Rio fez na apresentação da sua candidatura e, do outro, alguém que aprecia uma boa polémica e gosta de correr riscos, como Santana Lopes. Entre a pressão do PCP e o reviver do PSD António Costa vai ter um fim de legislatura mais agitado que esperava. Imaginou, talvez, que poderia ensaiar uns passos de dança com Rui Rio, pode ser que em vez disso lhe reste continuar a dançar o tango com Catarina Martins.

 

SEMANADA - O investimento público previsto no Orçamento de Estado de 2018 será inferior ao do último ano do governo de Passos Coelho e equivale a menos de 2% do PIB, que é o valor mais baixo da Europa; em 2016 o Estado concedeu cerca de 2500 milhões de euros em benefícios fiscais a entidades sujeitas a IRC; cem mil famílias não vão ter descida no IRS; nos últimos dois meses e meio verificaram se 29 assaltos à bomba a caixas multibanco; desde 2015 já ocorreram 215 insolvências de farmácias; a marca Elefante Branco, registada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial,  está à venda por um valor base de  cinco mil euros; em Portugal realizaram-se 850 transplantes de coração em 30 anos, e o país está no 12º lugar europeu neste tipo de cirurgias; há 1672 obesos à espera de cirurgia adequada, mais 10% que no ano passado; a entidade reguladora da saúde recebeu 49 mil queixas nos primeiros oito meses do ano; em Portugal a penetração das redes sociais aumentou quase três vezes e meia entre 2008 e 2017, passando de 17.1% para 59.1%, segundo a Marktest; um milhão e 807 mil os portugueses costumam jogar online, segundo os resultados do estudo Bareme Internet 2017; o número de alunos cresce há quatro anos seguidos nas universidades privadas que este ano registaram 20 600 novas entradas; temos 140 reclusos por cada 100 mil habitantes e a idade média dos detidos é de 39,7 anos; a nova lei de estrangeiros já legalizou cadastrados violentos em Portugal.

 

ARCO DA VELHA- A concessionária dos cacilheiros, Soflusa, reagiu aos protesto dos utentes sobre os enormes atrasos devido à greve que afecta os seus barcos, pedindo paciência aos passageiros que se deslocam para o trabalho e sugerindo que evitem as horas de ponta.

 

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FOLHEAR - O futebol não é coisa que me excite - não acho grande graça ao assunto. Mas fico sempre fascinado pelo entusiasmo que suscita, pela paixão que se sente, e pelas conversas infindáveis que proporciona. O que se passa nalguns canais de televisão do cabo é sintomático - há uns rapazes que analisam a bola como se estivessem a analisar um tratado filosófico, outros que se insultam como se estivessem ébrios numa taberna e outros ainda que vibram como se estivessem num Indiana Jones. Reconheço que o futebol é bom motivo de conversas -  mas há há muito que recomendei ao meu barbeiro que não me falasse de futebol e se um taxista tenta começar num relato sobre o Jesus ou o Vitória desato a falar da uber e lá me vou safando. Mas sei que o futebol é uma paixão - que vem de miúdo quando se joga na rua, numa praceta, em qualquer lugar. “Houve um tempo em que o futebol era um prazer barato que se jogava ao domingo. Não era difícil que alguém se apaixonasse por aquele jogo de regras simples, com artistas que fintavam os adversários e marcavam golos” - esta descrição está em “Futebol, o estádio global”, uma nova edição dos Ensaios da Fundação Francisco Manuel Dos Santos, escrita por Fernando Sobral (declaração de interesse: meu amigo e companheiro de muitas páginas). Fernando Sobral fala da evolução do jogo, com o saber de um conhecedor e a distância fleumática de um atento observador que o caracteriza - e que lhe permite falar das relações entre futebol, marcas, economia, mídia, poder e política, sempre com uma frase de fundo: “para os adeptos o futebol é quase tudo”. Até eu fiquei mais interessado pelo futebol depois de ler este livro. “O futebol não tem fronteiras, acaba com elas”, como diz Fernando Sobral.

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OUVIR - Alfredo Rodrigo Duarte, Alfredo Marceneiro para toda a vida, nasceu em 1891. Marceneiro de profissão, tornou-se fadista por vocação e assim ficou conhecido. Tive a felicidade de o ouvir cantar e até, eu miúdo ainda, de o ouvir a falar à volta de uma mesa. Era um homem fascinante, uma voz impressionante e, sobretudo, um sentir especial que transmitia a cantar o seu fado. Até hoje nunca tinha percebido as semelhanças que existem, de facto, entre Camané e Marceneiro - tão distantes no tempo um do outro. Mas ao fazer um disco de homenagem a Alfredo Marceneiro, Camané expôs essa semelhança. E o maior ponto dessa semelhança é na alma, no tal sentir do que se canta. Logo na faixa de entrada, “Cabaré”, Camané canta ao que vem - não é a um despique, é a uma homenagem feita com a voz que faz ouvir o coração. Sou dos que considera Camané o grande fadista português surgido na segunda metade do século XX - para mim não há outro como ele na intensidade, na capacidade de interpretação, na comunicação que estabelece - na emoção que transmite - será isto o Fado? Ouvir estas versões de “Olhos Fatais”, “Ironia”, “Empate Dois a Dois”, “Despedida”, “Lembro-me de Ti” e, sobretudo “O Remorso” é  uma experiência extraordinária. Simples mas intenso, criativo mas respeitador, inesperado mas tradicional, Camané fez desta homenagem a Marceneiro o grande disco de Fado dos últimos anos. Destaque ainda para  a produção exemplar de José Mário Branco, para a guitarra portuguesa de José Manuel Neto, a viola de Carlos Manuel Proença e o extraordinário trabalho de baixo de Carlos Bica. “Camané Canta Marceneiro”, CD Warner, disponível numa edição especial com CD e DVD ou apenas CD.

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VER - Lu Nan, fotógrafo chinês e correspondente da agência fotográfica Magnum mostra no Museu Berardo uma longa marcha, a preto e branco: "Trilogia - Fotografias (1989-2004)" inaugurou esta semana (na imagem) e é uma mostra parcial de um trabalho que Lu Nan realizou ao longo de 15 anos por toda a China. Dividida em três partes a exposição mostra a realidade dos hospitais psiquiátricos da China, segue depois a estrada da fé católica e termina com o dia a dia dos camponeses tibetanos. O curador desta exposição, João Miguel Barros, advogado português apaixonado pela fotografia (e pelos fotógrafos chineses em particular) escreveu que o inferno, o purgatório e o paraíso da "Divina Comédia" de Dante Alighieri não andam muito longe daqui."Lu Nan, Trilogia - Fotografias (1989-2004)" fica no Museu Coleção Berardo, CCB, em Lisboa, até 14 de janeiro, onde podem também ser comprados os três livros que compõem esta Trilogia: The Forgotten People: The Condition of China’s Psychiatric Patients; On The Road: The Catholic Faith in China e Four Seasons: Everyday Life of Tibetan Peasants. Passando para outra sugestão, ainda na fotografia, até 29 de Dezembro pode ser vista na Casa da América Latina uma exposição do trabalho de Daniel Mordzinski  que retratou dezenas de escritores ao longo da sua vida. Para mudar de registo o MAAT propõe uma exposição sonora - uma instalação áudio de Bill Fontana, “Shadow Surroundings”, baseada em gravações feitas no ambiente da ponte 25 de Abril.

 

PROVAR - Nesta altura do ano um fim de semana alargado no Douro é uma coisa verdadeiramente única. Há o Douro, as vinhas  de Outono que estão a mudar de côr, as quintas muito bem arranjadas, o acolhimento sempre simpático e descontraído em qualquer lugar. O norte, nessa matéria, é outro campeonato. Um pequeno exemplo: em Tonda, uma freguesia de Tondela, íamos à procura de um restaurante que nos tinham aconselhado, mas, por engano tínhamos antes entrado num pequeno café-restaurante a perguntar se era ali o local que procurávamos - que não, mas sorridentes disseram que este, simples, era melhor. Fugindo da recomendação fomos para o que o acaso nos tinha dado e encontrámos um espaço alegre e familiar onde nos serviram uma vitelinha de Lafões digna de nota - tudo isto se passou n’O Samarras,  Rua de Santo Amaro, Tonda. Mas o melhor dos dias estava para vir com a localização, em cima do rio Douro, da Quinta da Ermida, em Baião. Além do alojamento e dos fins de tarde à conversa em torno de um bom verde branco produzido na quinta, os jantares eram de cozinha antiga portuguesa - merece destaque a bôla servida como petisco de entrada, uns belos rissóis de carne , além de um frango do campo com batatas e arroz a trazer memórias de infância. Ali perto, também, ficou na memória A Casa do Almocreve, em Portela do Gôve, que proporcionou  um anho extraordinário de tempero e boa confecção. E mal ficaria se não evocasse aqui a prova de vinhos, tão bem explicada, na Quinta de Covela, em S. Tomé de Covelas. Destaque para o Rosé, para o Branco Escolha, e para a descoberta de um branco da casta local avesso, além dos tintos da Quinta das Tecedeiras. Se  a tudo isto somarmos uma noite de lua cheia reflectida no Douro ficam com uma boa ideia do que é um belo fim de semana.

 

DIXIT - “Neste momento os partidos têm todo o poder e os cidadãos nenhum” - Marina Costa Lobo

 

GOSTO - Segundo um estudo da ACEPI, mais de 91% da população portuguesa vai estar a utilizar a internet até 2025 e 59% farão compras online.

 

NÃO GOSTO - O consumo de antidepressivos em Portugal duplicou nos últimos quatro anos.

 

BACK TO BASICS - “Uma boa oportunidade é falhada pela maior parte das pessoas porque aparece vestida de fato macaco e é confundida com trabalho” - Thomas Edison.

(Publicado no Jornal de Negócios, Weekend, de 13 de Outubro de 2017)

http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/manuel-falcao/detalhe/20171013_1021_a-esquina-do-rio?ref=Opini%C3%A3o_grupo1

 

 

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