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APARTHEID - A frente de esquerda, a que alguns por carinho oficinal chamam geringonça, está a fazer tudo para criar um apartheid na sociedade portuguesa, ao colocar de um lado quem trabalha para a administração e empresas públicas e, do outro, quem trabalha fora do braço protector do Estado como patrão. O resultado é simples: jogar uns contra os outros, Estado contra o que não é Estado. Aquilo a que assistimos por estes dias é à defesa da criação de duas castas - a dos que têm benefícios automáticos e a dos que só progridem se derem provas de que o merecem. Os clamores pela igualdade para todos escondem sempre a parte que não cabe no todos e que, neste caso, já é a maior parte. Se formos ao segmento abaixo dos 35 anos ainda é mais evidente a clivagem: nesse escalão há muito mais gente a trabalhar fora do Estado que em qualquer outro segmento etário. Os que trabalham fora do Estado sabem o que é terem de competir com empresas rivais da sua, terem que desenvolver produtos que sejam vendáveis, dever prestar serviços de forma eficaz, sob pena de as suas empresas serem preteridas por outras. Mas Estado há só um e não há como lhe fugir. Ainda vivemos numa época em que a maioria dos políticos passou a vida a trabalhar para o Estado - na Administração central, local ou em empresas públicas. Cresceram com a certeza de que os votos vinham daí e que esse colégio eleitoral tinha que ser protegido. Mas com o andar dos tempos há menos gente a receber ordenado do Estado. Um dia destes os eleitores que não trabalham para o Estado vão revoltar-se contra os políticos que defendem o apartheid social.

 

SEMANADA - Os partidos que apoiam o Governo apresentarem 492 propostas de alteração ao Orçamento de Estado com reflexos no aumento da despesa pública; a Comissão Europeia diz que o Orçamento português arrisca violar as regras europeias de ajustamento orçamental e em causa está uma redução estrutural do défice inferior à recomendada e um aumento da despesa considerado excessivo; peritos de Bruxelas dizem que a despesa com salários da função Pública vai custar mais 385 milhões de euros do que o Governo previu no Orçamento, sem contar com novos encargos pendentes de negociações com os sindicatos; a Comissão de Protecção de Dados considera que o Orçamento de Estado propõe demasiadas interconexões entre bases de dados da administração pública; o sector empresarial do Estado registou no ano passado prejuízos de cerca de 408 milhões de euros e a Parpública foi a que registou maior aumento de perdas nesse período; nos últimos quatro meses, em Portugal, foram feitos 3500 furos de água; cada português gasta por dia 220 litros de água, o dobro do considerado suficiente pelas Nações Unidas; o tempo médio de espera para o início de tratamento de alcoólicos já ultrapassa os dois meses; ficaram por ocupar cerca de meia centena de vagas para médicos de família por falta de candidatos; 91% dos trabalhadores do Infarmed estão contra a mudança para o Porto.

 

ARCO DA VELHA - A base de dados de pedófilos condenados, que tem mais de cinco mil nomes e que foi criada há dois anos com o objectivo de ser usada pelos orgãos de investigação criminal, nunca foi consultada por PSP, GNR ou PJ, apesar de crescente número de casos de abuso de menores.

 

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FOLHEAR - A “Monocle” já não surpreende com frequência, mas neste mês conseguiu dar nas vistas: fez uma entrevista com o ex-presidente brasileiro Lula, a que dá chamada de capa com o título “O Regresso de Lula”,  com direito a três páginas, no essencial laudatórias. Para o ex-presidente nas malhas da Lei esta foi a possibilidade de se reposicionar numa revista de difusão internacional e dirigida a um segmento influente. Lula curiosamente afirma na entrevista que “a solução para a crise económica é a credibilidade”. Quase me apetece dizer que a peça sobre Lula podia ser considerada conteúdo patrocinado.... Surpresas à parte, esta edição de Dezembro da “Monocle” inclui o já tradicional relatório anual sobre os países que melhor exercem o seu “soft power”, um misto de diplomacia com encanto e comunicação. Portugal aparece na posição 12, em subida comparativamente com o ano passado, logo atrás da Itália e Dinamarca e à frente da Nova Zelândia, Espanha e Noruega. O ranking de 25 países é liderado pelo Canadá, Alemanha e França. Sobre Portugal a revista deixa no entanto um aviso: “à medida que cresce o número de visitantes é importante o país focar-se na salvaguarda da sua autenticidade”. Um outro destaque português surge na lista “Travel Top 50” com o Hotel Ritz (“Top untouched modernist hotel”) e com as tripulações da TAP (“Most handsome crew”). Finalmente na secção de comidas e bebidas surge em destaque o restaurante Jncquoi, na Avenida da Liberdade. Por fim, uma notícia: efeito colateral do Brexit, a “Monocle” vai mudar o seu quartel general de Londres para Zurique. Já me esquecia - esta é  a edição com sugestões de prendas de Natal. Nada austeras.

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VER - A nova exposição de Pedro Calapez surge como uma surpresa, rasgando horizontes em relação ao que tem sido a evolução da sua obra nos anos mais recentes. São pinturas sobre papel e alumínio (na imagem), criadas em várias dimensões, rasgando a escala habitual, e sugerindo diversas formas de ver e de poderem ser vistas. Integralmente composta por obras inéditas, feitas para esta mostra que assinala o 5º aniversário da Galeria Belo-Galsterer, a exposição evidencia a forma como Calapez optou por trabalhar sobre formatos inesperados. O nome escolhido - “Tracção e Compressão simples entre limites elásticos” - é particularmente indicado para mostrar as diferentes abordagens, de material de suporte e de concepção da sua forma. Vai ficar na na Belo Galsterer, Rua Castilho 71, r/c esq, até 20 de Janeiro. Outro destaque vai para a exposição “2 desenhos e 2 esculturas”, de José Pedro Croft, na Galeria Vera Cortês. Croft, que representou Portugal este ano na Bienal de Veneza, apresenta quatro trabalhos inéditos. Permito-me chamar  a atenção para os desenhos, que vão para além da aparência do traço, numa construção minuciosa feita sobre papel, manipulado e trabalhado de forma a permitir diversas leituras. Na Rua João Saraiva 16-1º, até 13 de Janeiro. N´A Pequena Galeria, (avenida 24 de Julho 4C),  Luiz Carvalho apresenta “O Resto É Paisagem”, uma exposição de fotografias feitas ao longo da sua vida e a que aqui regressaremos para a semana.

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OUVIR - A carreira de Seal começou no início dos anos 90, ao longo do tempo editou dez álbuns e afirmou-se como uma das vozes mais interessantes, muitas vezes na fronteira entre a pop e o soft jazz, com influências dos blues e da soul music e de nomes como Tony Bennett ou Nat King Cole. O seu  mais recente CD acaba de ser publicado e o nome corresponde exactamente ao seu conteúdo: “Standards”. Trata-se de um conjunto de canções que ganharam fama, originalmente feitas entre os anos 30 e 60 do século passado. Neste álbum Seal é acompanhado por uma orquestra de 65 elementos, com arranjos de Chris Walden, num registo que muitas vezes se aproxima de uma gravação ao vivo. O começo do disco é arrasador: “Luck Be A Lady”, “Autumn Leaves” e “I Put A Spell On You”. Ao todo são 14 temas, entre os quais podemos ainda encontrar “They Can’t Take That Away From Me”, “Love For Sale”, “My Funny Valentine”, “I’ve Got You Under My Skin”, “The Nearness Of You” e, claro, “Christmas Song”, entre outros. Seal é um vocalista de créditos firmados, com uma capacidade de interpretação invulgar. É justo dizer o que o disco é marcado por um espírito de risco na sua abordagem a “I Put A Spell On You”, uma interpretação arrebatadora onde Seal é acompanhado de um coro gospel. O mesmo desejo de fazer  a diferença ouve-se em “I Got You Under My Skin”, onde descola da abordagem que Nelson Riddle  fez para a marcante interpretação de Sinatra. CD Decca /Universal já disponível em Portugal.

 

PROVAR - Há cerca de duas décadas Manuel Martins ganhou fama com os seus petiscos alentejanos num pequeno estabelecimento na Rua Coelho da Rocha, em Campo de Ourique, a que chamou “A Charcutaria”. Alguns anos depois resolveu mudar-se para uma casa bem maior, na Rua do Alecrim. Continuou a ganhar fama mas a certa altura as coisas começaram a correr menos bem e este ano, há uns meses, decidiu voltar a Campo de Ourique, à Rua Francisco Metrass. É bem visível o peso da idade, mas o talento nos sabores alentejanos continua igual. As suas empadas de galinha têm uma massa finíssima e um recheio leve e continuam a ser uma iguaria. O pão, obviamente alentejano, é fatiado finíssimo. Na ementa introduziu umas saladas (como por exemplo de pêra, canónigos, pinhões e parmesão), mas mantém bons clássicos - como os seus pastéis de massa tenra acompanhados por arroz de coentros que continuam soberbos. E claro que na lista ao longo do ano surgem pratos como os pezinhos de coentrada, perdiz estufada, perdiz de escabeche,  empada de perdiz ou a lebre com feijão..Lá estão ainda nos queijos um serpa curado e um de cabra, também curado, muito saboroso e, nas sobremesas, um belo bolo de chocolate e doces conventuais. O vinho servido a copo é o alentejano Nunes Barata, tanto tinto como branco, e ambos cumprem com honestidade a sua função. Manuel Martins continua sempre simpático, focado nos clientes e a fazer boa cozinha alentejana, simples, com qualidade, e aqui com preços muito convidativos. A sala é pequena, como na casa original, tem uma dúzia de lugares e está aberta ao almoço e jantar todos os dias excepto ao domingo. A Charcutaria, Rua Francisco Metrass 64, telefone 215 842 827. Aceita encomendas para fora.

 

DIXIT - “Mudar sedes da Administração Central é desconcentrar. Descentralizar é transferir competências da Administração Central para Entidades Regionais ou Locais” - Luis Paixão Martins, no Facebook.

 

GOSTO - The Presidential, o comboio turístico de luxo do Douro, que usa as carruagens utilizadas por Presidentes da República recuperadas pelo Museu Nacional Ferroviário, ganhou o Best Event Awards de 2017.

 

NÃO GOSTO - Mais de 200 mil utentes foram afectados pela greve dos técnicos de diagnóstico e terapêutica.

 

BACK TO BASICS - Vale mais um exército de ovelhas comandado por um leão, que um exército de leões comandados por uma ovelha - Damião de Goes

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publicado às 13:15

 

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CARNIDE - No meio das celebrações nacionais dos êxitos da geringonça, em Lisboa, Fernando Medina resolveu eleger como seu inimigo principal uma junta de freguesia que é um dos maiores redutos eleitorais do PCP, Carnide. O episódio dos parquímetros não é um fait-divers, é uma demonstração de poder. António Costa não hostilizaria os seus aliados no Governo, mas Medina teve prazer em humilhar os eleitores de Carnide, mostrando que não se verga. Vai ser curioso ver o reflexo que esta utilização da EMEL tem no desenrolar da campanha autárquica. Eu aposto que vai deixar algumas marcas - até porque a maioria dos lisboetas odeiam a EMEL, a forma como os seus agentes funcionam e a prepotência que a própria empresa simboliza. A EMEL a tratar os lisboetas parece a United Airlines a tratar os seus passageiros. O episódio de Carnide é um sinal da maneira que Medina tem de estar na política e que Lisboa tem conhecido: “quero, posso e mando, faço o que me apetece”. Medina julga-se auto-suficiente e à sua volta alimenta clones de si próprio, É um presidente em regime de substituição que adia anunciar-se candidato para poder fazer campanha todos os dias no exercício das funções. Tenho, para Medina, uma sugestão: proponho que anuncie a sua candidatura à Câmara no jardim de Carnide, junto aos parquímetros que ali impôs - seria um curioso momento, a photo-opportunity ideal para dar sal à desenxabida campanha que se avizinha

 

SEMANADA - A dívida dos hospitais públicos às empresas farmacêuticas cresce ao ritmo de um milhão de euros por dia; 400 mil portugueses entre os 18 e 65 anos sofrem de depressão; a venda de antidepressivos cresceu 32% em cinco anos; mais de 44 mil doentes foram mais de quatro vezes às urgências hospitalares no espaço de um ano; o PS arrisca processos crime por irregularidades nas primárias do partido e António Costa e António José Seguro podem ser constituídos arguidos por financiamento proibido; o propagandeado défice mais pequeno da democracia, 2%, esconde a maior dívida da democracia, de 130% do PIB, que é também a segunda maior da União Europeia e ainda a segunda que mais cresceu na Europa em 2016;  em Fevereiro, face ao mesmo mês do ano passado,  as exportações aumentaram 9% e as importações aumentaram 8,9%, enquanto o défice da balança comercial agravou para 746 milhões de euros; segundo a OCDE a atividade económica em Portugal arrisca uma inversão negativa nos próximos 6 a 9 meses; na resolução das queixas dos consumidores Portugal tem uma demora de cerca de dois anos que não tem par em nenhum outro país europeu; o programa de televisão mais visto na semana passada é o “Pesadelo na Cozinha”, do chef Ljubomir Stanisic, um jugoslavo que veio há anos para Portugal e criou alguns restaurantes de sucesso; segundo o estudo TGI da Marktest em 2016 existiam 4,5 milhões de pessoas que declaravam ter animais de estimação em casa

 

ARCO DA VELHA - Domingo passado a RTP2 emitiu um bom documentário sobre a arte Indonésia, com o título original "For Arts Sake", e que foi traduzido por "A Arte do Saké".

 

 

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FOLHEAR - Fèlix Cucurull, romancista, poeta, ensaísta e tradutor catalão viveu em Portugal, com uma bolsa da Fundação Gulbenkian, entre 1963 e 1965, tendo colaborado em jornais como o Diário de Notícias e o Diário de Lisboa. Traduziu também diversos autores portugueses para catalão e foi sempre um embaixador e grande defensor da cultura da sua Catalunha. Em 1967, já em Barcelona,  editou uma série de ensaios que escreveu sobre a relação entre Portugal e a Catalunha. Só sete anos depois, em 1974, foi feita a primeira edição em língua portuguesa desta obra, “Dois Povos Ibéricos”. Fèlix Cucurull aborda o que une e separa portugueses e catalães numa série de reflexões em torno das identidades regionais e nacionais. É muito curioso o capítulo dedicado à comparação entre a saudade portuguesa e a enyorança catalã, evocando a propósito o pensamento poético de Teixeira de Pascoais. Na obra Cucurull debruça-se sobre a relação de autores catalães com Portugal, sobre a edição catalã de Os Lusíadas e sobre o sebastianismo e a sua influência no pensamento português. A presente edição da Guerra e Paz reproduz a versão portuguesa de 1975, que inclui o texto “Anotações sobre Portugal”, escrito já depois de 1974 e que traça um retrato sobre Portugal, as suas regiões, cidades, tradições e gentes. É um texto que só por si justifica esta reedição de “Dois Povos Ibéricos”.

 

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VER - Alexandre Conefrey é um artista discreto que deixa a marca do seu talento em desenhos nos quais conjuga uma enorme minúcia com um impacto visual impressionante. Depois de ter estudado no ARCO, em Lisboa, foi bolseiro no Royal College of Arts, em Londres, e o seu trabalho está presente em diversas colecções particulares  e de várias empresas e instituições. As suas obras organizam-se como peças de um puzzle: “uma imagem de nuvens vistas do espaço deu origem a esculturas de pequenas dimensões e estas. por sua vez, passaram a ser os desenhos que constituem a exposição” - escreve Carlos Correia no texto do catálogo de “Peso”, a mostra de novos trabalhos de Conefrey que está na Galeria Belo Galsterer até 25 de Julho e de que aqui se mostra um exemplo (a galeria fica na Rua Castilho 71 r/c). Na Fundação Portuguesa das Comunicações, a Fundação Carmona e Costa apresenta “Terra Incógnita”, a nova exposição de Inez Teixeira, com curadoria de João Silvério. A mostra combina o desenho com a pintura, em três momentos distintos - um de pequenos e inquietantes desenhos de crânios, outra de 23 pinturas de pequenas dimensões sobre papel e uma outra série, de pinturas maiores, também sobre papel, série que dá aliás o título à exposição e revela a artista a explorar uma nova dimensão, porventura mais sombria, do seu trabalho. Até 13 de Maio, na Rua do Instituto Industrial 16.

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OUVIR - “Triplicate”: como o nome indica, é uma dose tripla de música. Trata-se da maior edição de Bob Dylan na sua já longa carreira: um álbum de 3 CD’s, com 30 canções, mais uma vez  amostras do cancioneiro popular norte-americano, revisitações do repertório de Frank Sinatra, saídas do talento de nomes como Irving Berlin, Jerome Kern, Hoagy Carmichael, Richard Rodgers ou Oscar Hammerstein. Depois de “Shadows In The Night” (2015) e de “Fallen Angles” (2016), este “Triplicate” consolida a maior série de edições da carreira de Dylan dedicadas a um mesmo género musical. Se Woody Guthrie foi o inspirador de Dylan quando ele se tornou conhecido, podemos dizer que Sinatra é a referência desta fase da carreira após meio século de música.Não deixa de ser paradoxal que no mesmo ano em que Dylan foi galardoado com o Nobel pelas canções que escreveu, o disco que ele lança, o mais extenso da sua carreira, tenha apenas versões de clássicos que outros escreveram. Como Dylan afirma numa entrevista disponível no seu site, nenhuma destas canções foi alguma vez gravada pelos seus autores originais - um dado que contrasta com aquilo que tornou Dylan conhecido, as suas próprias composições. Enquanto Sinatra trabalhou com arranjos grandiosos e orquestras com uma secção de cordas avassaladora, Dylan ataca todo este repertório com um quinteto onde as cordas da guitarra elétrica de Donnie Herron e o baixo de Tony Garnier se destacam, conseguindo obter a força das orquestrações de Sinatra, como se pode ouvir sobretudo em “September of My Years”. A selecção do repertório de Sinatra é cuidadosa e vai da faixa de abertura “I Guess I’ll Have To Change My Plans” para clássicos como “I Could Have Told You”, “Here’s That Rainy Day” ou ainda “Once Upon A Time”, “Stormy Weather”, “As Time Goes By”, “Sentimental Journey”, “It Gets Lonely Early” e a faixa que escolhe para terminar este triplo CD,  "Why Was I Born," escrita por Kern and Hammerstein in 1929 e que volta  a um tema que nos últimos anos se tornou central para Dylan:  "Why was I born?/Why am I living?/What do I get?/What am I giving?".

 

PROVAR -  Passeando entre as prateleiras de legumes do supermercado do El Corte Inglês descobri salicórnias da Ria Formosa, em pequenas embalagens. A salicórnia, conhecida por sal verde ou espargo do mar, fica muito bem quando é aplicada em saladas ou mesmo sozinha, como aperitivo ou então por cima de fatias de queijo fresco de ovelha acabado de fazer. Confesso que até ao ano passado, quando as descobri e provei pela primeira vez, na Bretanha, ignorava este sabor. A salicórnia nasce e cresce espontaneamente em sapais e salinas e em Portugal pode ser encontrada nos canais da Ria de Aveiro e na Ria Formosa, no Algarve. Dá um toque especial a saladas de tomate ou de alface. Experimentei misturá-la numa salada de alface e dióspiro duro e o resultado foi uma variedade de sabores contrastantes. A salada acompanhou uns estaladiços e saborosos Pastéis de Chaves. Como é Páscoa terminei com uma fatia de folar alentejano, uma massa bem temperada de canela e erva doce, feita em Alcáçovas sob a marca A Padaria do Ernesto e que está à venda na loja Prazeres da Terra, na Praça da Estefânia, de onde são também os Pastéis de Chaves.

 

DIXIT - “É complicado que esta seja uma cidade em que vivem pessoas com ideias fantásticas, e outras com enorme poder, todos a olhar enquanto Olisipo arde e uma paródia dela própria renasce das cinzas” - Lucy Pepper

 

GOSTO - Na comarca do Porto está em teste a substituição de juízes por psicólogos na audição de crianças vítimas de abusos.

 

NÃO GOSTO - A justiça portuguesa está entre as mais lentas da União Europeia e demora em média 710 dias para resolver processos cíveis, comerciais e administrativos nos tribunais de primeira instância.

 

BACK TO BASICS - Olhamos para o presente através de um espelho retrovisor, e assim vamos de marcha-atrás para o futuro - Marshall McLuhan

 

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publicado às 13:30

Esta semana as semelhanças entre o caos que a Cãmara Municipal se prepara para instalar em Lisboa e o caos instalado no Orçamento de Estado - com uma semelhança : nem Costa foi eleito Primeiro Ministro, nem Medina foi eleito Presidente da Câmara. Coincidências nascidas na interpretação que este PS faz do sentido de voto nas eleições.

 

HABILIDOSOS - No meio das desgraças que assolam Lisboa fiquei a saber que a grande preocupação do presidente não eleito da autarquia,  Fernando Medina, é descobrir o que fazer à Moda Lisboa, que vai estar na Praça do Município, no dia da tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa, o qual gostaria de patrocinar uma festa no local, nessa ocasião, para celebrar a sua investidura. Reparei agora que estamos perante uma conjugação interessantíssima de factores - em São Bento temos um Primeiro Ministro que não ganhou em eleições e que deixou na Câmara Municipal de Lisboa, para lhe suceder, um seu correlegionário que também não ganhou eleições para o cargo que ocupa. Deve ser uma coisa nova da malta do PS - conseguir estar no poder, de forma habilidosa, à revelia dos resultados eleitorais. Enfim, já se sabe que o mundo é feito de mudança. O pior é que Medina resolveu dar cabo do sossego aos lisboetas e começou uma série de obras que prometem o caos para durante a sua existência e depois da sua conclusão. Os vereadores Salgado e Medina estão a querer ser réplicas contemporâneas do Marquês do Pombal mas a verdade é que se assemelham mais a réplicas do terramoto. Já está à vista o resultado dos desvarios na Avenida da Liberdade - maior concentração de trânsito e maior poluição, ao contrário do que se apregoava. Vai ser assim no resto, sobretudo no tal eixo central. Mas o pior de tudo é que, para esta gente, a comodidade de quem vive na cidade não interessa para nada. Apenas interessa arranjar o jardim para os visitantes passearem. É sabido que nos anos de Costa o centro da cidade perdeu habitantes, que muito comércio tradicional foi encerrado, que os lisboetas perderam qualidade de vida. É muito engraçado, embora pouco realista, querer fazer-se uma cidade contra o automóvel, mas à autarquia sabe-lhe bem cobrar os impostos de circulação e os estacionamentos, mantendo transportes públicos ineficazes. Que nome dar a quem ocupa o poder para fazer obras em interesse próprio e  em desrespeito pelo interesse colectivo?

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SEMANADA - António Costa mandou os Ministros falar com o PS pelo país fora no fim de semana passada, a explicar o que o Governo anda a fazer; o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais desdobrou-se em entrevistas e assustou meio Portugal com o que disse sobre o imposto sucessório;  António Costa fez videos a explicar as contas do orçamento - não sei bem em qual das versões das contas se baseou; a ideia dos videos governamentais no YouTube é boa como conceito de propaganda, só que o actor é péssimo; fiquei a ver um dos videos convencido que estava a ver um daqueles canais de compras que passam de madrugada a vender bruxedos; um amigo meu diz que o Costa, nos videos, parece aqueles spots dos canais regionais de televisão norte americanos com vendedores de carros em segunda mão a fazerem contas provando que vendem mais barato que os outros; os videos fizeram-me pensar se António Costa não estaria a querer ser o Chavez da Europa em versão tecnológica; no resto da pátria está tudo tranquilo;  Passos Coelho inaugurou uma escola - de repente pensei que era notícia antiga mas não, foi mesmo desta semana; Mário Centeno anunciou que vai injectar mais 567 milhões de euros no defunto BPN; um amigo meu diz que Mário Centeno é parecido com Zé Colmeia, uma figura de banda desenhada que gosta de ir ao pote do mel; outro diz que, com as confusões do Orçamento, António Costa parece um daqueles condutores que entram em sentido contrário numa auto.estrada e começam a barafustar contra quem vem contra ele.

 

ARCO DA VELHA - Este orçamento já vai em três versões - uma que foi para Bruxelas, outra que foi feita depois para cá corrigindo o que Bruxelas achou excessivo, um rol de erratas que corrigia diversas coisas e finalmente mais umas rectificaçõezitas sobre uns mapas que estavam com numeros um bocadinho errados.

 

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FOLHEAR - Quando leio um livro como “M Train”, de Patti Smith, interrogo-me sobre o sentido da vida e sobre o que algumas pessoas, cuja obra admiramos, dela fazem. O livro anterior de Patti Smith, “Just Kids”, apesar de relatar os anos 70 em New York e a relação de Patti com Robert Mapplethorpe, parece uma reportagem num jardim escola quando comparado com este “M Train” - o relato da vida e da cumplicidade que ela desenvolveu com Fred “Sonic” Smith, o guitarrista dos MC5, um dos génios da guitarra eléctrica, desaparecido prematuramente em 1994. Patti Smith E Fred viveram, tiveram filhos, fizeram música e viagens. Este livro é o relato de uma paixão e de uma cumplicidade, do que fizeram e do que ficou por fazer, das viagens que ela ainda faz pensando em Fred, das suas obsessões, dos seus hábitos e rotinas, mas é sobretudo uma viagem ao processo criativo de uma artista marcante da sua geração. Não é nem uma biografia nem uma memória - é um ensaio sobre o dia-a-dia. E é um dos melhores livros que se pode ler para perceber o que vai dentro da cabeça de uma artista cheio de talento. (Edição Bloomsbury, na Amazon).

 

 

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VER - Recomendações para esta semana: na Galeria Belo-Galsterer a exposição colectiva “PAPERWORKS III - Paisagem sem Paisagem”, com C. B. Aragão, Claudia Fischer, João Grama e Marta Alvim (Rua Castilho 71, r/c esq); na Pequena Galeria (Av 24 de Julho 4c), a exposição RETRATOS, dos fotógrafos Marilene Bittencourt e Fernando Ricardo; “AS PALAVRAS”, assemblages de José Pinto Correia, na Corclínica, Campo Grande 28 - 2º-C; mas o meu destaque, embora tardio, vai para  a belíssima exposição “MÃOS”, de Teresa Dias Coelho, na Galeria Monumental, que encerra já neste sábado dia 20 - a partir das 16h00 desse dia tem uma finissage, aproveite para ir ao Campo dos Mártires da Pátria 101 ver outras obras como esta que aqui se reproduz.

 

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OUVIR - Este segundo disco do saxofonista Charles LLoyd para a Blue Note tem o feeling dos blues, a descoberta de temas originais do próprio Lloyd, o encanto de algumas versões e a perenidade de tradicionais folk. Se o saxofone é a imagem de marca do disco, o retoque da diferença é dado pelas guitarras de Bill Frisell e Greg Leisz, sobretudo a do primeiro. Nas versões destaco “Masters Of War”, de Dylan, onde as guitarras estão em primeiro plano, a versão de “Last Night I Had The Stangest Dream”, um original de Ed McCurdy que aqui conta com a participação especial de Willie Nelson e de “You Are So Beautiful”, de Billy Preston, aqui interpretado por Norah Jones. Se escolher um dos originais vou para o tema final, “Barche Lamsel” e se escolher um dos tradicionais vou para “Shenandoah”, onde Frisell mostra todo o seu talento na guitarra. Este é daqueles discos onde se percebe que todos os participantes tiveram mesmo gôzo em tocar. Uma belíssima supresa este “I Long To See You”- Charles Lloyd & The Marvels, edição Blue Note/Universal - claro que com uma mãozinha de Don Was na produção.

 

PROVAR -  Frequentemente gosto de comer sózinho, ao almoço, sentado, na calma, a ler uma revista e ás vezes, hoje em dia, a folhear no iPhone o Flipboard ou outra aplicação do género. Mas o que mais gosto mesmo nesses momentos é ficar a olhar à minha volta . o movimento da sala, os clientes, os empregados. Tenho, deste ponto de vista, saudades das Galerias Ritz, onde se podia ficar sentado ao balcão em algumas posições estratégicas que dominavam a entrada e permitiam ter uma boa visão das coisas. E, para o género, a comida era boa. A única sala que ainda permite isto hoje em dia é o Galeto, um bastião da tradição do snack bar e talvez o restaurante lisboeta que junta maior numero de clientes solitários regulares, sobretudo à noite - e continua a servir até tarde. Hoje vou lá pouco nesse horário, mas volta e meia gosto de lá ir ao almoço. A comida é mediana, mas sem sobressaltos, o balcão é confortável - um bom balcão sentado como há poucos hoje em dia em Lisboa. O bife à Galeto não engana com as suas batatas fritas semi sintéticas, o ovo a acavalo bem estrelado e um esparregado com uns torneados incomparáveis. Continua a ter combinados, que convivem com alheiras e outros petiscos como iscas à portuguesa. Pronto - isto é mesmo vício de ficar a devanear enquanto se petisca e se faz uma viagem ao passado - às vezes parece que de repente entrámos nos anos 70. Galeto - 213 544 544, Avenida da República 14, das 07h30 ás 03h30.

 

DIXIT - “Está toda a gente a querer fazer desaparecer Cavaco Silva, a fazer de conta que já não existe” - Joaquim Aguiar sobre as audiências que o presidente eleito, Marcelo Rebelo de Sousa, tem realizado com protagonistas governamentais e políticos.

 

GOSTO - Das lojas antigas de Lisboa

 

NÃO GOSTO - Da destruição das lojas antigas de Lisboa

 

BACK TO BASICS - “Estudem o passado se quiserem definir o futuro” - Confúcio

 

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publicado às 14:00


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