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O RELATÓRIO - Soube-se esta semana que o Governo não autorizou o reforço de meios humanos e materiais que lhe foi solicitado em tempo oportuno, e por diversas ocasiões, em relação ao combate aos incêndios, nomeadamente os de Outubro de 2017. Na semana passada, num dos seus habituais comícios parlamentares, o líder da frente de esquerda, António Costa, atirou para o ar que “um dos principais problemas do pais é a péssima qualidade da informação que só acorda para os problemas nas tragédias". Menos de uma semana depois o relatório mostra que afinal o problema está num Governo que nem nas tragédias acorda. Os peritos que elaboraram o relatório são claros: o Governo ordenou a desmobilização de meios, ignorou alertas que indicavam os perigos dessa desmobilização, não acedeu a pedidos de meios humanos e aéreos quando as chamas já lavravam. A razão de ser disto - assim como, por exemplo, dos sucessivos e graves problemas na saúde - é sempre a mesma: o dinheiro não chega para tudo e quando se trata de escolher entre pagar a presença do PCP e do Bloco no apoio parlamentar ou cuidar dos problemas do país, a escolha recai na manutenção da paz podre dentro da frente de esquerda, através da satisfação das reivindicações corporativas que passaram a ser o seu alimento. Nalgum momento o Presidente da República vai ter que dizer se prefere que existam mais vítimas de catástrofes ou de doenças, ou se quer continuar a permitir a chantagem dessas reivindicações em nome de uma falsa estabilidade.
SEMANADA - O relatório sobre os incêndios conhecido esta semana, afirma que entre março e outubro o executivo chumbou total ou parcialmente os sete pedidos apresentados pela Autoridade Nacional de Proteção Civil para que houvesse mais aviões e bombeiros no combate a incêndios; o relatório da comissão técnica independente nomeada pelo Parlamento para avaliar o que aconteceu nos incêndios de outubro arrasou as novas regras publicadas em fevereiro pelo Governo para limpar a floresta perto das casas; numa conferência de imprensa o ministro da Administração Interna recusou pronunciar-se sobre as falhas apontadas ao Estado no relatório independente; as exportações portuguesas para Luanda caíram 11% desde as eleições em Angola; o arrendamento em Lisboa custa o dobro do resto do país; as casas arrendadas representam apenas 1,4% do parque habitacional português; o novo secretário geral do PSD foi o coordenador do grupo de trabalho do financiamento partidário que andou a funcionar às escondidas da opinião pública; um estudo europeu divulgado esta semana indica que 42% dos jovens portugueses não se identifica com nenhuma religião.
ARCO DA VELHA - A Universidade de Coimbra convidou o primeiro-ministro que liderou dois governos cuja política económica nos levou à bancarrota a dar uma aula de economia.
FOLHEAR - “Um dos poucos divertimentos intelectuais que ainda restam ao que ainda resta de intelectual na humanidade é a leitura de romances policiais” - assim começa um dos escritos de Fernando Pessoa recolhido numa nova edição de uma antologia de textos seus intitulada “Absinto, Ópio, Tabaco e Outros Fumos - um livro de vícios”. Esta antologia foi originalmente organizada e editada por Manuel S. Fonseca para o livro “As Flores do Mal”, que incluía fotografias de Pedro Norton numa edição de luxo, especial e limitada, com capa em madeira. Agora, Manuel S. Fonseca publica apenas os textos, numa edição mais simples, que é a primeira de uma série de antologias de Pessoa que a Guerra & Paz vai fazer. À laia de introdução Manuel S. Fonseca escreveu “Álvaro do Desassossego” onde percorre os cinco momentos em que os textos estão organizados - Inocência, Êxtase, Confissões, Abandono e Decadência, ou seja, as etapas dos vícios: “Lido seja onde for, no meio da rua, no café ou no quarto, lidos onde se fuma e bebe, estes são poemas e textos que, pela sua natureza, terão de ser lidos em sobressalto”.
VER - Todas as fotografias podem ser banais mas é o olhar de quem captura as imagens que as torna diferentes umas das outras. Desde sempre a fotografia é encarada como a mais democrática das formas de expressão visual, exactamente pela sua acessibilidade, quer técnica quer formal. Se isto era assim quando a Kodak introduziu a Brownie em 1990 e tornou a fotografia acessível a quase toda a gente, hoje em dia os smartphones, e particularmente o iPhone, foram ainda mais longe e puseram no bolso de cada um de nós uma máquina fotográfica com assinalável qualidade, disponível em qualquer momento e em qualquer lugar. É por isso que me interesso pelas fotografias feitas com smartphones. Esta semana abriu em Lisboa, na Galeria Giefarte uma exposição de fotografias feitas com iPhone, da autoria de Alexandra C (na imagem). Escrevi no texto do catálogo da exposição, que Alexandra C. procura com as suas fotografias coleccionar o mundo e é isso que me fascina nesta exposição - a sinceridade e a diversidade do olhar. Até 30 de Abril na Rua da Arrábida 54, em Lisboa. Outro destaque: em Ponta Delgada, na Galeria Fonseca Macedo, até final de abril, Pauliana Valente Pimentel expõe “O Narcisismo das Pequenas Diferenças”, 27 fotografias realizadas em 2017 durante uma residência em São Miguel onde centra o seu olhar na observação de um grupo de jovens micaelenses e nas relações que estes mantêm com os locais, e com os costumes da ilha.
OUVIR - Este disco é uma verdadeira encomenda. No caso o Dublin National Concert Hall, o New York Carnegie Hall e outras instituições encomendaram ao pianista de jazz Brad Mehldau um disco que abordasse a sua interpretação de Bach. O pianista sublinha que este "After Bach" não é um exercício de jazzificação da música de Bach, antes a sua interpretação pessoal - dá-se o caso de as peças aqui tocadas serem parte da obra Das wohltemperierte Klavier (Well-Tempered Clavier) de Joahnn Sebastian Bach, composta em 1722, cuja aprendizagem foi um dos exercícios mais praticados por Mehldau. Os especialistas dizem que esse facto se reflectiu na forma de Brad Mehldau tocar e o próprio anuncia este disco como uma homenagem sua ao que aprendeu graças a esta obra de Bach. Esta está no entanto longe de ser uma versão conservadora, antes introduzindo muito do estilo pessoal do pianista, sobretudo a sua capacidade de improvisação. Aqui estão quatro prelúdios e uma fuga de Well Tempered Clavier, cada uma seguida de uma versão pessoal de Brad, sempre intitulada After Bach. O interessante é notar que os grandes compositores clássicos eram eles próprios, enquanto instrumentistas, grandes improvisadores e é esse espírito que de alguma forma aqui se evoca, para além do que ficou escrito nas pautas que atravessaram os tempos. Brad Mehldau, After Bach, CD Nonesuch, distribuição Warner.
PROVAR - Uma das mais interessantes experiências gastronómicas que se pode ter em Lisboa é também um dos casos de referência no acolhimento a refugiados. Trata-se do restaurante Mezze, onde a comida e o serviço são assegurados por refugiados sírios. Mezze quer dizer refeição com muitos pratos para serem partilhados e a ementa tem vários menus feitos precisamente para partilhar, com preços entre os 11 e os 15 euros. Escolhemos o menu de 15€, que começa com baba ganoush, um puré de beringela assada com tahini e especiarias, que na época da romã pode incluir uns bagos, e que é óptimo para comer à mão com o pão sírio que podemos ver a ser preparado numa banca do mercado ali mesmo ao lado. Depois, uma salada mista fatoush, com pão árabe estaladiço, antes das meshawi - umas espetadas de frango tenríssimo e muito bem temperado, tudo acompanhado por arroz fumado com pimentos a que o açafrão dá uma cor e sabor intensos. Sem fazer parte deste menu, ainda provámos a moussaka que é diferente daquela a que estamos habituados: beringelas no forno com tomate e especiarias, sem carne. Já não houve estômago para a sobremesa mas de outra vez já se tinha provado a baclava do Mezze, que já ganhou fama. O preço médio anda nos 20€ por pessoa. O Mezze não aceita reservas, é chegar e esperar que vague lugar. A esplanada tem aquecedores e o espaço interior tem uma mesa corrida enorme e algumas mesas para duas pessoas. Para beber há sumo de tamarindo, limonada com hortelã, vinho a copo branco e tinto e alguns vinhos do Alentejo. Resta dizer que o Mezze fica no Mercado de Arroios, rua Ângela Pinto 12, por trás da Almirante Reis, já perto da Alameda.
DIXIT - “Dei com uma esplanada inteira a comer os queijinhos frescos com uma colher de café, sem tirar a cinta de plástico, como quem despacha um iogurte” - Miguel Esteves Cardoso, sobre a forma como os turistas lidam com a comida portuguesa.
GOSTO - O Hot Clube comemorou 70 anos de existência, contados desde que Luís Villas Boas deu o pontapé de saída na instituição que mais tem feito pela divulgação do jazz.
NÃO GOSTO - Dois terços dos hospitais públicos levam mais de 90 dias a pagar as suas dívidas a fornecedores.
BACK TO BASICS - “Fiquem longe de pessoas negativas, elas são capazes de inventar um problema para cada solução” - Albert Einstein
REPIMPAMENTE - Tenho para mim que o estado de graça do Governo se deve a duas coisas: à habilidade de António Costa e à inabilidade da oposição. As duas coisas juntas, polvilhadas pelo tempero de afectos do Presidente da República, deram o que está à vista. Para que não surjam más interpretações devo dizer que a habilidade de António Costa inclui alguma eficácia negocial em Bruxelas, tácticas bem imaginadas e bem utilizadas em algumas situações mais explosivas e, acima de tudo, uma enorme capacidade de só dizer o que lhe interessa, construindo uma realidade própria e negando tudo o que ele entenda não caber dentro dessa realidade. Isto é uma arte - ou, melhor dizendo, estes pontos são parcelas dessa arte a que se chama política. Se existir um Óscar para a melhor ficção política, António Costa ganha-o de certeza absoluta. Nestes últimos dias, e a propósito do primeiro aniversário do seu Governo, o Primeiro Ministro esteve envolvido em duas manobras de comunicação política pura, ambas a tender (usando palavreado da moda) para uma versão pós-verdade das conversas em família. A primeira, era uma ideia engraçada, mas acabou por sair frouxa, e tinha a ver com uma produção ensaiada na Aula Magna da Reitoria de Lisboa em que um grupo de pessoas, seleccionadas pelo Instituto de Ciências Sociais, colocava perguntas ao chefe do governo e aos seus Ministros. A outra foi a entrevista concedida à RTP. Sobre a forma como António Costa se desempenhou das duas tarefas opto por citar um dos próprios entrevistadores, André Macedo, que, referindo-se ao espectáculo da Aula Magna, acabou por fazer o retrato geral da situação e escreveu o seguinte sobre a prestação do Primeiro Ministro: “transformou o debate numa imensa piscina olímpica aquecida, habilmente aproveitada por António Costa para se banhar repimpamente”. Tudo indica que, com a oposição adormecida, este Governo vai ter longa vida. Mais vale, a bem de nós todos, que isto não corra mal. Mas, temos sempre que ter presente, como dizia Galileu perante a inquisição, falando sobre o movimento da Terra, “e pur si muove!”. Quer dizer, a realidade acaba por se sobrepôr à fantasia. Às vezes com custos pesados.
SEMANADA - Num estudo internacional, realizado de três em três anos, que avalia a literacia dos alunos de 15 anos de idade em Ciências, Leitura e Matemática os jovens portugueses ficaram pela primeira vez à frente da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico; a segurança social fecha três lares ilegais por mês; O Tribunal de Contas acusa o Ministério das Finanças de “falta de controlo” na Caixa Geral de Depósitos (CGD) entre 2013 e 2015, salientando que o Estado aprovou documentos de prestação de contas sem ter a informação completa; nos últimos dois anos houve 33360 processos ligados à criminalidade económica e foram feitas 297 acusações por corrupção; 17 empresas portuguesas são fornecedoras da da agência espacial europeia e o Governo fala em criar uma agência espacial portuguesa; segundo a Marktest 3,6 milhões de portugueses já têm o hábito de ler notícias através do tablet ou do smartphone, o que significa que o número destes utilizadores quadriplicou desde 2013; nos últimos três anos foram multados três mil condutores por não obedecerem às novas regras de circulação em rotundas; 2015 foi o ano com menos greves desde 2010 - 95 verificadas no ano passado que comparam com as 199 registadas em no início da década; 2012 foi o ano com mais greves, 233; o congresso do PCP realizado este fim de semana caucionou o apoio comunista ao Governo de António Costa.
ARCO DA VELHA - O serviço de estrangeiros e fronteiras admite desconhecer a quantos imigrantes ilegais concedeu autorização de residência sem cumprirem a principal exigência da lei, terem entrado legalmente no espaço Schengen.
FOLHEAR - “Tabacaria” é um poema escrito por Fernando Pessoa, sob o heterónimo Álvaro de Campos, em Janeiro de 1928, publicado pela primeira vez na revista Presença em Julho de 1933. É considerado como um dos mais importantes poemas de Pessoa e o crítico e escritor italiano António Tabucchi considerava-o mesmo o poema mais importante do século XX. “Tabacaria” pertence à fase intimista do heterónimo Álvaro de Campos, onde os temas são a solidão interior, a incapacidade de amar, a descrença em relação a tudo e o conflito entre a realidade e o próprio poeta. Esta belíssima nova edição, da “Guerra & Paz”, inclui a versão original portuguesa e ainda traduções para inglês, francês, espanhol e italiano. É composta por um livro, de 176 páginas, muitíssimo bem paginado e impresso, onde além de Tabacaria nos cinco idiomas, estão recolhidos um conjunto de textos agrupados sob a designação “A Tabacaria vista de outra janela - das páginas íntimas de Fernando Pessoa”. Estes textos, que vários estudiosos do poeta consideram autobiográficos, são reproduzidos nas versões originais em que foram escritos - em português, inglês e francês. O livro inclui ainda um texto do editor, Manuel S. Fonseca, e 25 fotografias de Pedro Norton em que ele mostra a Baixa de Lisboa, digamos que o território natural do poeta. Numa pasta separada estão agrupadas estas 25 fotografias, em impressões de alta qualidade. O livro e a pasta com as fotografias estão guardados numa caixa de madeira de choupo e de maple, impressas a laser e UV e feita em Proença-A-Nova na empresa Ambiente d’Interni - a caixa só por si é uma obra. O grafismo e o design global foram de Ilídio Vasco. Trata-se de uma edição especial, de coleccionador, com uma tiragem numerada de 1500 exemplares.
VER - Até 26 de Fevereiro, na renovada sacristia da Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha, na Rua da Alfândega, em Lisboa, pode ser vista a exposição “Mater Dei”, que apresenta obras de 25 artistas contemporâneos portugueses, que foram desafiados a criarem peças inspiradas na figura de Maria (na imagem). A exposição inclui trabalhos de escultura, pintura, desenho e outras técnicas de artistas como Manuel Amado, Rui Chafes, Ilda David, João Queiroz, Pedro Calapez e Cristina Ataíde. O pároco de São Nicolau, Mário Rui Pedras, explica que não foi feito “qualquer tipo de limitação do ponto de vista nem da sua vida de fé, nem da sua orientação como artista”. Destaque ainda, para a exposição de Miguel Telles da Gama na Giefarte, até 13 de Janeiro (Rua da Arrábida 54B). O artista mostra a sua produção mais recente com um conjunto de obras a que deu o nome de “Vanishing Act”. Observador de detalhes, contador de histórias através de imagens, estas suas obras conjugam o hiper realismo da pintura com as palavras usadas para cada peça, a constituir uma narrativa ao longo da sala onde estão em exposição. Há aqui, até no título escolhido para a exposição, uma evocação quase cinematográfica do olhar, como se o artista fosse realizando planos e contra planos, numa cuidada edição de diálogos e de olhares.
OUVIR - Já lá vão 14 anos de Dead Combo, esse encontro musical de dois talentos - Tó Trips na guitarra e Pedro Gonçalves no baixo. O novo disco chama-se "Dead Combo e As Cordas Da Má Fama" - sendo que essas cordas são Carlos Tony Gomes, no Violoncelo, Bruno Silva, na Viola e Denys Stetsenko, no Violino. O objectivo era recriar com esta formação alargada 12 temas da história dos Dead Combo, como “Quando A Alma Não É Pequena”, “A Menina Dança”, “Lisboa Mulata”, “Rodada”, “Puto Que Cais Descalço”, “Welcome Simone” e “Anadamastor”, entre outros. Como se deseja nestas ocasiões as versões estão diferentes e para melhor - mas mantêm-se as melodias originais e o espírito de desafio que os Dead Combo sempre imprimem à sua música, algures entre a tradição portuguesa e as bandas sonoras de westerns. Por falar em filmes é curioso notar como a imagem em movimento acompanha a história dos Dead Combo - desde a banda sonora escolhida por Anthony Bourdain para o seu episódio de “No Reservations” sobre Lisboa até à música que compuseram para “Slightly Smaller Than Indiana” de Daniel Blaufuks, até ao facto de terem sido convidados a actuar na estreia, em Cannes, do filme “Cosmopolis”, de David Cronenberg, produzido por Paulo Branco. Este é o seu primeiro disco desde “A Bunch Of Meninos”, de 2014.
PROVAR - Apanhar com crianças num restaurante pode ser por vezes um pesadelo e muitos restaurantes não acolhem bem estes pequenos clientes. Outros recebem-nos de braços abertos e até têm espaços para eles brincarem. Que isto acontece em cadeias de fast-food já se sabia. Mas que isto aconteça num restaurante dedicado à cozinha tradicional portuguesa e onde se come verdadeiramente bem, já é mais raro. O 13% Restaurante fica no Porto, na zona da Foz, e além da sala tem uma esplanada coberta e um jardim onde, caso o tempo o permita, as crianças podem estar á vontade. Talvez por isso é procurado ao fim de semana para almoços de família ou de amigos. O serviço é muito simpático, sempre disponível e as mesas são amplas e confortáveis. Na cozinha as coisas correm muito bem e a casa tem várias especialidades: rosbife à inglesa, cabrito assado com arroz de forno, batatas e grelos, filetes de polvo com açorda de coentros, e, claro, dobrada. Boa garrafeira a preços sensatos. Nos doces destaque para o crumble de maçã com gelado e o leite creme. Durante a semana ao almoço há um menu especial. Fecha às terças, marcação recomendável especialmente ao fim de semana. O 13% Restaurante fica na Rua da Cerca 440, telefone 912 332 690.
DIXIT - “Quando se perde, não se finge que não aconteceu nada” - Matteo Renzi, primeiro-ministro italiano, após a derrota no referendo.
GOSTO - O sector da cortiça vai fechar 2016 com valor recorde nas exportações, cerca de 950 milhões de euros.
NÃO GOSTO - A Câmara Municipal de Lisboa escondeu no seu site os atrasos verificados nas obras com o expediente de mudar as datas inicialmente previstas de conclusão dos trabalhos.
BACK TO BASICS - “Dar dinheiro e poder ao governo é a mesma coisa que dar bebidas alcoólicas e as chaves de um carro a um adolescente” - P.J . O’Rourke
ZIG ZAG - Em Portugal o regime entrou na época do Zig Zag, Isto aplica-se, nomeadamente, à acção do Governo, que em apenas um mês já modificou várias medidas do anterior executivo, desde os feriados nacionais até privatizações na área dos transportes, passando por revogações e alterações na saúde, educação e justiça. O país entrou oficialmente na fase em que se desfaz o que se fez e em que se aumentam os gastos. A seu tempo virá o aumento das receitas pelo expediente do costume - o aumento da cobrança de impostos. Estou com alguma curiosidade de ver como isto evolui, do ponto de vista da despesa pública, da competitividade da economia, do PIB e, sobretudo, da melhoria efetiva das condições de vida que é o grande argumento para tudo o que o Governo está a fazer. Mas isto só se perceberá daqui a uns anos. Para já uma coisa é certa: mesmo que subjetivamente. há muita gente que se sente mais à vontade para fazer gastos, para contrair créditos. Há, como se viu nos números deste Natal, uma espécie de nova euforia consumista. Resta saber se foi uma atitude pontual ou se esta euforia vai virar epidémica. Mas o efeito Zig Zag não se passa só na acção do Governo. Aos poucos vai descendo pelo edifício do sistema partidário. O primeiro sinal veio de Paulo Portas, que decretou o fim, pelo menos temporário, da sua época - o que vai atirar o CDS/PP necessariamente para outros rumos. Resta ver como o PSD evoluirá e como se reposicionará face às alterações à sua direita. Tudo se conjuga para uma tempestade perfeita cujo resultado seja uma tranquila governação de Costa ao longo de uma legislatura. Constata-se agora ainda mais que o anterior governo não fez reformas de fundo - apenas usou maquilhagem estrategicamente aplicada. Ao usar desmaquilhador em quantidades apreciáveis, António Costa mostra também a superficialidade de muito do que foi feito. Vamos a ver como fica o rosto do país no fim destes tratamentos de beleza.
SEMANADA - Começaram os debates presidenciais, com três características: fraca audiência, falta de brilho e enorme previsibilidade e monotonia; começa a desenhar-se o espectro de uma abstenção assinalável; um inquérito recente mostrava que os novos votantes, entre os 18 e 25 anos, na maioria dos casos, não ligam sequer à campanha que está a decorrer; segundo o Instituto Nacional de Estatística cerca de 35% da população portuguesa, e nestes a maioria com mais de 65 anos, não tem acesso à internet; em 2015 foram registados mais de cinco mil nomes diferentes para recém nascidos; as receitas brutas de bilheteira de cinema a nível global ultrapassaram em 2015 os 34,8 mil milhões de euros, o maior valor de sempre; a venda de carros registou no ano passado um aumento de 24% e obteve o melhor resultado desde 2010; o investimento em imobiliário em 2015 atingiu o maior valor de sempre, 1,9 mil milhões de euros com os centros comerciais e lojas de rua a captarem a maior fatia do investimento estrangeiro na área; a banca portuguesa detecta por dia 15 operações suspeitas de lavagem de dinheiro; o Governo decidiu que quatro feriados civis e religiosos vão ser repostos já este ano, criando três “pontes” em 2016; as compras com multibanco subiram 270 milhões de euros no período do natal; o fisco reteve 486 milhões de euros em reembolsos de IVA a empresas em 2015; a dívida pública portuguesa subiu dois mil milhões de euros num mês; especialistas de planeamento urbano de vias circulares às cidades afirmam que a decisão de ajardinar e arborizar a segunda circular, tomada pela Câmara Municipal de Lisboa, coloca questões de segurança e poderá ter um impacto considerável no aumento do trânsito (e da poluição) dentro da cidade; 21 dias é o tempo médio que o Ministério da Educação demora a substituir um professor, por doença ou outros motivos, o que na prática significa um mês inteiro sem aulas; no fim de semana passado a espera em urgências hospitalares chegou a atingir as 12h00; o Governo fez 154 nomeações em 41 dias.
ARCO DA VELHA - Há um ano a eurodeputada Ana Gomes propôs ao PS que apoiasse a candidatura presidencial de Maria de Belém, sublinhando que era tempo de ter uma mulher na presidência; agora decidiu aceitar ser a mandatária de Sampaio da Nóvoa.
FOLHEAR - Neste Natal houve uma prenda que me tocou especialmente: a nova edição de “Lisboa - cidade triste e alegre”, de Victor Palla e Costa Martins, que foi publicada no último trimestre de 2015 pela Pierre Von Kleist, uma editora consagrada a livros de fotografia. Originalmente o livro foi editado em 1959, na sequência de uma exposição na Galeria Diário de Notícias. A edição original foi feita em fascículos, publicados entre Novembro de 1958 e Fevereiro de 1959. Mais tarde, em 1982, António Sena fez uma exposição chamada “Lisboa e Tejo e Tudo”, na sua galeria Ether, e recuperou e encadernou algumas das colecções integrais de fascículos - e vários exemplares tiveram circulação internacional. O livro agora reeditado reproduz exactamente o original e reúne cerca de 200 fotografias, em que os autores incluíram excertos de poesia Fernando Pessoa, António Botto, Almada Negreiros, Camilo Pessanha, Mário de Sá-Carneiro, Alberto de Serpa, Cesário Verde, Gil Vicente, e inéditos de Eugénio de Andrade, David Mourão-Ferreira, Alexandre O'Neill, Jorge de Sena, entre outros, com destaque também para o texto de abertura de José Rodrigues Miguéis. A reputação internacional do livro surgiria depois, associada à sua inclusão em 'The Photobook: A History, Vol. 1', de Gerry Badger e Martin Parr que o descrevem assim: "Lisboa, Cidade Triste e Alegre é particularmente notável pelo uso de ideias gráficas desenvolvidas por fotógrafos como William Klein ou Ed van der Elsken, criando um livro vibrante, com uma sequência cinemática". Em 2009, para assinalar o cinquentenário da edição original a Pierre Von Kleist fez uma reedição reproduzindo exactamente a original, edição que rapidamente esgotou. E no final do ano passado fez nova reedição, igualmente com uma impecável impressão, desta vez feita na Alemanha. E é esta que folheio regularmente com gosto, deliciando-me com os textos que, no indíce, os autores escreveram sobre a forma como cada imagem foi feita.
VER - Esta semana recomendo três exposições de fotografias. Começo por Lisboa onde “A Pequena Galeria” (Av 24 de Julho 4C, junto à Praça D. Luis), reabre com uma nova montagem da exposição “Sete Fotógrafas & Inéditos”, que apresenta trabalhos de Clara Azevedo, Cristina H.Melo, Diana Laires, Inês Cruz, Letícia Zica, Luísa Ferreira e Maria Simão. Em Cascais, na Fundação D. Luis I - Centro Cultural de Cascais, até 17 de Abril, está a exposição “Nicolás Muller.Obras-Primas” que integra a programação da MOSTRA ESPANHA 2015 e que fez parte do PhotoEspaña de 2015. Muller foi um fotógrafo húngaro que se fixou em Espanha, depois de ter passado por França – onde conheceu Brassaï e Robert Capa – e ainda por Portugal, onde permaneceu apenas uns meses e realizou um trabalho sobre a zona ribeirinha do Porto, que é parte integrante da exposição em Cascais (na imagem). Finalmente, em Braga, no Teatro Circo, uma exposição de fotografias de António Variações, parte de uma coleção de 300 imagens do cantor que ao longo dos anos foi recolhida por Teresa Couto Pinho , desde ensaios a concertos, passando pelas sessões para as capas de discos. Dentro em breve será editado um livro que reúne a colecção.
OUVIR - Frank Zappa foi um dos génios da música norte-americana da segunda metade do século passado. Percorreu vários géneros musicais, sozinho ou com os Mothers Of Invention, fez canções, encenou provocações, e escreveu peças de música contemporânea, muitas sob a influência de Edgard Varèse, algumas interpretadas por nomes como Pierre Boulez, desaparecido esta semana. Uma delas, a mais célebre, é a ópera “200 Motels”, inicialmente editada em 1971 numa versão rock, e que agora foi gravada pela orquestra Filarmónica e Côro de Los Angeles, dirigidos por Esa-Pekka Salonen. 22 anos depois da sua morte Zappa continua a surpreender, quando nos reencontramos com o seu talento musical nesta reinterpretação de uma das suas peças mais emblemáticas, escrita ao longo de cinco anos e que relata a passagem de uma banda rock por uma cidade imaginária, Centerville, pretexto para um retrato irónico sobre o quotidiano da América de então, desde os habitantes da cidade aos membros da banda, passando pelo próprio Zappa ou os jornalistas que escrevem sobre a digressão. A versão de Salonen fez algumas alterações na ordem de apresentação das diversas cenas e privilegiou a abordagem orquestral. Menos enérgica que a versão original, ela é no entanto mais coerente do ponto de vista da narrativa e, sobretudo, permite divulgar e dar nova vida a uma das maiores obras de Zappa, mostrando toda a sua genialidade, quer na escrita musical quer na ironia do libretto. A gravação foi efectuada em 2013, editada no final do ano passado e produzida por Frank Filipetti e Gail Zappa, a filha do compositor.(“200 Motels- The Suites”, duplo CD Zappa Records, Edição Universal Music, na FNAC e El Corte Ingles).
DIXIT - “Não estou a concorrer a líder partidário” - Marcelo Rebelo de Sousa
GOSTO - Das reflexões e opiniões que podem ser vistas no novo site www.clubedeimprensa.pt
NÃO GOSTO - Num debate televisivo o candidato do PCP, Edgar Silva, evitou responder frontalmente quando interrogado sobre se considerava a Coreia do Norte uma democracia.
BACK TO BASICS - “Numa disputa sem sentido não há qualquer espécie de valor” - William Shakespeare.
DESAFIO A ANTÓNIO COSTA - Já que não vejo razão para votar em Reboredo Seara, assumo desde já que estou disposto a votar António Costa se ele vier dar uma volta de moto comigo e uns amigos meus (pode vir escoltado pela Polícia Municipal desde que de moto), num trajecto urbano não superior a 25 kms, onde se vejam e sintam os perigos e incomodidades que os motociclistas sofrem em Lisboa, e se ele fizer um compromisso escrito de reparação de dez situações graves no espaço de um ano; reafirmo que voto Costa se, a José Sá Fernandes, fôr retirado o pelouro dos espaços públicos da cidade; voto António Costa se a EMEL admitir que cada cidadão residente e contribuinte em Lisboa pode ter direito a duas zonas de estacionamento não contínguas, com definição pelo próprio de qual a principal e qual a secundária, que poderá ter um pagamento anual equivalente ao valor actual de uma segunda viatura na mesma morada; voto António Costa se a EMEL garantir um tempo de resposta ao desbloqueamento não superior a 15 minutos após contacto telefónico, sob pena de não cobrança de custos de desbloqueamento nem de multa - o equivalente à tolerância que a empresa dá. A mim parecem-me propostas razoáveis. O desafio é público, espero a resposta do candidato, que não deixarei de divulgar se - e - quando surgir.
VERÃO QUENTE - Citando o que João Gonçalves escreveu no Facebook, “o apodrecimento do regime não tira férias”, constato que este ano voltámos aos verões quentes da política. Olho para o Ministério das Finanças e vejo uma sucessão de bonecas matrioshkas, daquelas que se encaixam umas nas outras, mas que têm “swaps” escrito na testa. A Ministra, que não é isenta de ocorrências em matéria de swaps, tem juntado à sua volta, com notável falta de bom senso, um clã de swapistas. Nunca hei-de perceber o que leva alguém a escolher para o Governo um cidadão, por mais honesto e boa pessoa que se assuma, que na sua vida, por um só momento que seja, tenha sido parte de uma venda de aldrabices aos contribuintes - e não me parece que o caso possa ser analisado por quem esteve envolvido na operação. O Ministério das Finanças continua a precisar de uma limpeza - e não será o Ministério Público, essa instituição de carácter humanitário que arquiva os processos todos, citando uma feliz expressão que também li no facebook, que poderá resolver o assunto. A questão de fundo é esta: Joaquim Pais Jorge será certamente um excelente profissional na área da banca e uma boa pessoa. Acontece que, certamente por razões profissionais, esteve, mesmo que indirectamente, ligado a uma operação que visava iludir os contribuintes portugueses - no montante do défice e em custos financeiros, a proveito da instituição para a qual trabalhava. Na posição que ocupava, era difícil não saber, e avalizar, os detalhes da operação. Mesmo que não tenha sido ele a escrever, tinha que saber o que foi escrito. Dou de barato que até pode não ter estado presente nalguns momentos. Mas, a menos que não cumprisse as suas funções, não pode negar conhecimento e co-responsabilidade nas propostas apresentadas. E é de responsabilidade que estamos a falar. Ao demitir-se demonstrou que tem carácter e, nos tempos que correm, reconheço que lhe sobra aquilo que a outros falta.
SEMANADA - As pensões do Estado acima dos 600 euros sofrem um corte de 10% a partir de 2014; a medida vai abranger 500 mil reformados; no entanto, juízes e diplomatas jubilados são considerados caso excepcional e escapam a este corte das pensões; Portugal é o quarto país mais envelhecido da União Europeia; o Governo anunciou querer aumentar a idade da reforma para 66 anos já em 2014; o Presidente da República tem o estatuto de reformado, assim como a Presidente da Assembleia da República é reformada, e também os presidentes de três bancos privados, que por acaso são reformados da Caixa Geral de Depósitos; os presos VIP da cadeia da Carregueira fizeram acções de protesto contra a greve dos guardas prisionais; em Amarante um casal em que ambos eram candidatos por listas diferentes entrou em divergência política e separou-se - rompeu-se a coligação que os unia; nos ultimos
três anos foram detectadas em casas particulares cinco jibóias e seis cobras pitão e foram apreendidos a particulares seis tigres, dois leões e um hipopótamo.
ARCO DA VELHA -O Presidente da Liga de Clubes de Futebol Profissional, Mário Figueredo, foi acusado de, num acesso de fúria, ter atirado um telemóvel a um funcionário da FNAC do Norte Shopping, provocando-lhe um hematoma.
VER - Nesta semana em que se tornou patente que existe uma ruptura sobre o sistema de financiamento da nova Lei do Cinema, é particularmente interessante ver “A Gaiola Dourada”, de Ruben Alves, um filme sobre portugueses, maioritariamente filmado em França, maioritariamente com financiamento francês. Hesito em dizer que se trata de uma comédia, porque aborda assuntos sérios - um olhar cáustico sobre Portugal, particularmente actual com o aumento que a nova emigração tem tido. Mas também certeiro porque mostra a nossa complacência e brandos costumes e revela a imagem que projectamos além fronteiras. Eu gostei do filme, tecnicamente escorreito, com boas interpretações - sobretudo de Rita Blanco e de Joaquim de Almeida - dois actores que não receiam sê-lo em vez de parecer, como infelizmemte se tornou prática, por ignorância ou arrogância. E, gostei da realização e da montagem. Se mais filmes assim existissem, com princípio, meio e fim e uma ideia bem comunicada, menos guerra existiria para que o financiamento do cinema português se concretizasse. Grave mesmo, é impôr cobrança sem definir para que serve o dinheiro cobrado - sobretudo garantindo um princípio básico: o primado do produtor e a adequação da obra ao meio que a financia.
OUVIR- Pega-se no disco e saltam nomes à vista: George Duke, Stanley Clarke, Kurt Elling, Dave Grusin, Marcus Miller, Chick Corea e Nathan East são apenas alguns dos mais de 20 músicos envolvidos nestas “Rhythm Sessions”, que se desenvolvem à volta de Lee Ritenour, um dos grandes nomes da guitarra eléctrica no jazz. Todo o disco é um exercício de virtuosismo dos diversos instrumentistas, qualquer deles pronto a figurar na lista dos melhores músicos que compreendem - e executam - a música contemporânea. Permito-me destacar uma das faixas cantadas, “River Man”, um original de Nick Drake, aqui numa extraordinária interpretação de Kurt Elling. Se por mais não fosse, este tema valia para guardar este disco na memória. (CD Concorde, na Amazon).
FOLHEAR - A revista NAU XXI passa para papel a conversa abundante sobre a vocação marítima que volta e meia assola o país. Oriunda de um destino atlântico, açoreana, consegue concretizar essa atracção pelo mar - nos conteúdos, bem servidos por um grafismo envolvente e a um ritmo de paginação que, infelizmente, hoje em dia é uma raridade. Gosto deste desafios, de revistas que nascem contra o tempo e a contra a lógica das coisas, que desafiam as ideias feitas e surgem como propostas inesperadas. Este número 2 da NAU XXI tem o peixe português como tema e muito que ler - e bastante por descobrir. Gosto disto, que mais vos posso dizer?
PROVAR - Nas noites em que escrevo esta coluna gosto de petiscar alguma coisa simples, em casa. Quis o acaso que esta semana me defrontasse num supermercado com esta belíssima caixa de conservas, filetes de chaputa em escabeche. Desde o tempo em que havia uns magníficos anúncios radiofónicos do peixe congelado, que apregoavam as qualidade da chaputa, que o raio do peixe me persegue. Assim, quando vi uma embalagem de chaputas em escabeche à mão de semear, não hesitei. A confecção vem das conservas La Gondola, que aqui assinam Luças, de Matosinhos, anunciando no grafismo irresistível que desde 1920 dão o seu melhor no preparo do peixe. Este escabeche é leve e deixa solto o bom sabor da chaputa. Acompanhei com uma salada e regalei-me com um branco D. Ermelinda bem fresquinho. Rematei com um pêssego, da região de Palmela. Fiquei satisfeito, vim escrever.
DIXIT - “Tubo de ensaio é pouco, fomos um esgoto de ensaio” - Helena Sacadura Cabral sobre a intervenção da troika em Portugal.
GOSTO - As listas apartidárias às autárquicas cresceram 35% em relação a 2009
NÃO GOSTO - As mulheres representam apenas 10% do total de candidatos a cargos dirigentes em autarquias.
BACK TO BASICS - Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo- provérbio popular
Tenho muita pena, mas não acredito em Passos Coelho. Olhando para os últimos dias, e procurando a causa das coisas, cada vez mais me convenço que foi ele quem esteve na origem de toda a crise que se passou: escondeu, conspirou, acirrou, recuou, andou e manobrou durante meses como bem quis, com a preciosa ajuda de Vitor Gaspar. Se alguem me levanta duvidas, é ele e não Paulo Portas, embora o líder do CDS tenha tido vários maus momentos neste processo.Mas, para o que interessa, quem começou a briga foi Passos Coelho, com a sua teimosia e a sua tendência para ignorar a realidade. Paulo Portas fez a mais arriscada das jogadas e perdeu uma boa parte do seu capital político - mas aparentemente ganhou o poder suficiente para desenhar outras políticas, nomeadamente nas negociações com a troika. Pode ser que um dia ainda lhe venhamos a agradecer o que agora tanta gente acha estranho.Os sinais de desagrado dentro de um Governo chegam com ma cristalina transparência através da quantidade de fugas de informação e, nas últimas semanas era evidente como elas surgiam de forma crescente. De há um mês para cá apodrecia o clima e aumentava a desconfiança. Se quem manda tivesse mais atenção aos sinais e à realidade, as coisas poderiam ter corrido de outro modo.A crise da semana passada provocou milhões de euros de prejuízo ao país, aos contribuintes e às empresas. Quem se responsabiliza por isto? Ou, posto de outra forma, se o prejuízo lhes saísse dos bolsos, se fossem eles sózinhos a pagar tudo o que os contribuintes vão pagar a mais por causa dos desvarios, isto não aconteceria. Se os administradores das empresas são responsabilizados quando iludem o Estado, os administradores do país também têm de o ser.(Publicado no Metro de 9 de Julho)
XADREZ - A única coisa que me ocorre é que os senhores políticos, além de escangalharem o país, tramaram a vida dos comentadores - uma opinião não se aguenta meia dúzia de horas e eu estou aqui quinta de manhã, sem saber que dizer. Poucos serão os que percebem o que se passou nos bastidores desde o fim de semana passado, mas há campo para fazer perguntas: Porque é que Passos Coelho persistiu no nome de Maria Luis Albuquerque, apesar de saber que o líder do outro partido da coligação discordava fortemente da escolha? Como é que o Presidente da República não usou os mecanismos à sua disposição para perguntar ao líder do segundo partido da coligação se estava confortável com a situação? Porque é que Paulo Portas agiu, aparentemente, sem falar com os seus mais próximos? Tenho várias teorias sobre o assunto e algumas delas não são novidade: a primeira é que inabilidade política, teimosia, desfasamento da realidade, arrogância e sobranceria têm sido linhas mestras de Passos Coelho e elas estiveram sempre presentes nestes dias; a segunda é que o Presidente da República já não sabe como há-de exercer o seu cargo - é caso para se perguntar onde está o Wally? ; e a terceira é que Paulo Portas decidiu jogar um jogo de xadrez em simultânea, abrindo vários tabuleiros ao mesmo tempo - o do Governo, o do seu partido e o de eventuais futuras coligações em caso de eleições antecipadas, nomeadamente com o PS. O tema das coligações - que tem a ver com o funcionamento do sistema partidário e político que temos - é aliás central em toda esta história. Temos uma fraca cultura política de negociação, indispensável em coligação. Os líderes partidários estão habituados a ser obedecidos e não a fazer compromissos - querem o poder, ponto. Não é preciso ser-se analista para perceber que desde há muitos meses o PSD anda a esticar a corda na relação com o CDS, e um dia ela havia de se partir - rebentou no pior momento possível. As jogadas politiqueiras sobrepõem-se a acordos políticos sérios e isso tem os elevados custos que estamos a ver - e devo dizer que, nesta matéria, Passos Coelho, num primeiro momento, e Paulo Portas, num segundo, estiveram-se nas tintas para as dificuldades do país e para as consequências dos seus actos. A verdade é que a direita e o centro direita não têm sido capazes de levar um Governo até ao fim - lembram-se de um conselho coordenador da coligação, anunciado a 20 de Setembro do ano passado e de que nunca mais se ouviu falar? A crise não vem de agora, foi-se agudizando, muito graças ao facto de o Governo ter sido conduzido, na prática, por Vitor Gaspar - a sua carta de demissão é clara sobre isso e é exemplar sobre a sua noção de política e compromisso nas referências que faz, de novo, ao Tribunal Constitucional. Não arrisco prever o que se irá passar, mas admito que Paulo Portas, com o seu xeque ao rei conseguirá cedências de Passos Coelho, reforçando o seu papel no Governo, ultrapassando dificuldades no seu partido e forçando uma remodelação maior do que se imaginava há uma semana. Por quanto tempo se aguentará esta situação? Não faço ideia das consequências dentro do PSD - mas não me custa imaginarRui Rio, no Porto, a afinar o motor de um carro de corrida antigo, daqueles de que tanto gosta, para fazer a antiga Nacional Um, rumo à sede do PSD em Lisboa, talvez com paragem prévia em Belém, vestido com a armadura de salvador da Pátria. Como um amigo meu dizia por estes dias, preocupo-me ainda mais quando me parece também ouvir o silvo de um jacto privado, com Sócrates lá dentro, a levantar vôo de Paris, rumo a Lisboa. João Quadros, com o seu humor corrosivo que todos conhecemos, quarta à noite, no twitter, imaginava Jack Bauer, a personagem central da série “24 Horas” a olhar para Portugal e a dizer “Isto já não faz sentido: não é possível acontecer tanta coisa em 24 horas!”.
SEMANADA - Segunda feira, o primeiro briefing do Governo falhou a demissão do Ministro Vitor Gaspar; Maria Luis Albuquerque foi nomeada Ministra das Finanças depois de ter desmentido o seu antecessor Vitor Gaspar no caso dos swaps; terça-feira, o segundo briefing do Governo, falhou a demissão do Ministro Paulo Portas; Cavaco Silva deu posse à nova Ministra das Finanças meia hora depois da demissão de Ministro do líder do segundo partido da coligação; quarta-feira Passos Coelho viajou para Berlim e já não houve briefing; foi neste dia, quarta feira, que curiosamente se assinalaram os 130 anos do nascimento de Franz Kafka; na mesma quarta-feira o CDS mandatou o Ministro irregovalmente demissionário, Paulo Portas, para negociar com Passos Coelho a viabilização do Governo; título de uma página de política do Correio da Manhã na quarta-feira: “Dois Ministros do CDS devem demitir-se hoje”; a Bolsa de Lisboa deu um trambolhão histórico; Jorge Sampaio falou sobre a crise a pedir eleições antecipadas a 29 de Setembro; Seguro foi a Belém pedir eleições antecipadas a 29 de Setembro; José Sócrates demitiu-se do cargo de engenheiro na Câmara da Covilhã, onde estava há 20 anos em regime de licença sem vencimento; Luis Filipe Vieira, presidente do Benfica, desmarcou quarta feira uma entrevista na TVI devido à grave crise do país, afirmando não ser “tempo de falar de futebol”; Vale a Azevedo foi condenado a mais dez anos de prisão; o Ministério Público contrariou o Presidente da República, que pretendia a manutenção do procedimento criminal contra Sousa Tavares no caso do palhaço.
ARCO DA VELHA - Em 2012 o fisco deixou prescrever mais de 900 milhões de euros de dividas fiscais e a divida à segurança social aumentou quase 1,3 mil milhões de euros. Fisco e segurança social têm 28 mil milhões de euros por cobrar, ou seja o equivalente a três defices orçamentais;
OUVIR- Estou rendido ao disco de estreia de Gisela João, deslumbrado por esta voz, encantado por estes arranjos, pelo atrevimento na escolha do repertório e pela deliciosa falta de reverência na interpretação. Gosto de iconoclastas e este é um belíssimo disco à margem dos bons costumes, coisa rara no que por aí se edita em nome do fado. Claramente este é o melhor disco de estreia da geração mais recente dos que cantam fado e arrisco dizer que esta é a única grande fadista a aparecer nos últimos anos, em que tantos imitadores têm feito carreira. Não por acaso a produção executiva é de Helder Moutinho - que confiou a produção musical a Frederico Pereira, que fez um belíssimo trabalho, com a ajuda de Ricardo Parreira na guitarra, Tiago Oliveira na viola, e Francisco Gaspar no baixo. Nascida em Barcelos, Gisela João oscila entre temas populares como “A Casa da Mariquinhas” ou “Malhões e Vira”, a clássicos como “Maldição”, “Sou Tua”, “Não Venhas Tarde” ou o extraordinário “Madrugada Sem Sono”, que abre o disco num arranjo excepcional. E há novidades, como “Primavera Triste” de Aldina Duarte ou a maior surpresa do disco, “Vieste do Fim do Mundo”, de João Loio. Nada aqui é gratuito, nem exibicionista. E é isso que faz ouvir este CD vez após vez. “Não é fadista quem quer/mas sim quem nasceu fadista” - por acaso são estas as últimas palavras cantadas deste disco. (CD Edições Valentim de Carvalho)
FOLHEAR - Gosto de romances de estrada e gosto ainda mais de romances de estrada com música. Gosto da escrita de Francisco Camacho e gosto deste seu novo romance, “A Última Canção da Noite”. Há uns anos Nick Hornby juntou três dezenas de ensaios sobre canções de que gostava e publicou “31 Songs”. Primeiro comprei o livro, depois comprei o disco, que juntava 18 dos temas de que ele falava. Se estivesse numa editora discográfica fazia uma compilação com as canções de Francisco Camacho, aquelas que ele seleccionou recentemente para um artigo ,no cada vez mais imprescindível carrosselmag.com sobre o seu livro, e juntava-lhes mais umas tantas de que ele se lembrasse. Lá estariam os Ramones, Clash, Long Ryders, Sonic Youth, mas também Radiohead, Go Betweens ou Madonna. Pela estrada fora e sempre a abrir ele havia de fazer uma bela compilação. Pelo menos tão envolvente como este “A Última Canção da Noite”, de Marrocos a Berlim, uma viagem de liberdade, paixão e imprevistos, acelerada ao som do rock’n’roll, como bem lembra o CarrosselMag.
DIXIT - “Foi a crise dos partidos (...) - prometendo o que o país não podia dar - que provocou a desconfiança generalizada na capacidade deles para resolverem os problemas do País” - Manuel Villaverde Cabral
GOSTO - Da Campanha da Associação Portuguesa de Produtores de Biocombustíveis: “Se não há petróleo em Portugal, planta-se”, apelando à plantação de soja e colza para a produção de biodiesel.
NÃO GOSTO - Da revogação pela Secretaria de Estado da Cultura da autorização de venda de uma pintura do século XV, de Crevelli, que é propriedade privada.
BACK TO BASICS - Uma observação atenta revela que a maior parte das situações de crise geram a oportunidade para que tudo fique na mesma - Maxwell Maltz
(Publicado no Jornal de Negócios de 5 de Julho)
O grande problema do Primeiro Ministro é que as suas palavras coincidem muito pouco com as acções. Ele promete uma coisa e faz outra, estabelece uns objectivos e alcança resultados bem diferentes e estes três anos são prova disso. Daí não viria mal ao mundo se ele aceitasse a realidade e não quisesse convencer toda a gente que se vive no melhor dos mundos.
Peguemos nas reformas: a da saúde está adoentada e não se sabe ainda o diagnóstico, a educação começa a ser duvidosa, a da diminuição da administração pública já se percebeu que apenas existe de forma muito marginal, a da justiça é por enquanto apenas um novo mapa judiciário. O Governo até pode ter vontade reformista, mas na realidade não tem conseguido concretizar reformas e obter resultados em questões como a criação de emprego.
Já repararam no que os cidadãos têm dado? - pagam mais impostos, têm diminuições nos sistemas sociais que existiam, vêem o poder de compra a baixar, sentem que Portugal se atrasa em relação à maioria dos outros países europeus. E, em troca que recebem?
Quando vão corridos três quartos do mandato deste Governo, a contabilidade do deve e haver não é favorável aos cidadãos. E isto passa-se, note-se, numa situação em que o eleitorado deu a um partido uma maioria absoluta, baseado em promessas e num programa eleitoral que tem sido cumprido de forma muito diminuta. A maioria absoluta foi pedida- e ganha – em nome da capacidade de fazer obra. A realidade é que a obra feita é insuficiente para o que foi prometido.
Mas enquanto o cumprimento das promessas eleitorais é insuficiente, o aumento do poder do Estado sobre os cidadãos é grande, as atitudes autoritárias tornaram-se mais frequentes, a forma como o fisco abusa dos seus poderes generalizou-se, e o Estado dá sinas de se querer começar a intrometer em questões do foro privado.
O quadro geral mostra que a maioria absoluta não resolveu os problemas, mas serviu para evitar debates e para fugir a preparar medidas de forma mais cuidada. O grande problema de José Sócrates é que tem um estilo autoritário, em vez de conseguir ganhar autoridade pelo acerto das posições que toma. Por isso, mais vale que a maioria absoluta não se repita. Esse é o único balanço que consigo fazer dos três anos deste Governo.
(publicado no «Jornal de Negócios» de 12 de Março)
O principal balanço que consigo fazer destes três anos de governação de José Sócrates é que se provou como a demagogia anda cada vez mais de mãos dadas com a política e que as maiorias absolutas podem encalhar, como aconteceu com esta. Sócrates chegou ao poder pelo descalabro em que o PSD caíu, com uma inegável e oportuna ajuda de Jorge Sampaio, mas também graças ao despudor com que fez promessas impossíveis de cumprir, como agora se vê. Quais eram as suas bandeiras pré-eleitorais? Reduzir o desemprego, fazer reformas profundas na administração pública, melhorar os sistemas de saúde, educação e justiça, combater o deficit e aumentar a competitividade do país. Como se sabe, de tudo isto, o único objectivo conseguido foi o da redução do deficit, não à custa de reformas estruturais na administração pública, mas sim do aumento dos impostos.
O posicionamento de Portugal entre os países comunitários piorou em quase todos os indicadores. Falta um ano para acabar esta legislatura e o que não se fez antes, muito dificilmente acontecerá agora. É provável que no decurso deste último ano da legislatura uma outra forma de demagogia, mais tradicional, seja adoptada – com distribuição de obras públicas convenientemente lançadas e benesses várias espalhadas a eito pelo país. Quanto a reformas estruturais quase nada, excepção feita a algumas medidas de simplificação de burocracias. Na saúde desfez-se sem se fazer nada, na educação criou-se o caos. Não faltam trapalhadas na acção do Executivo.
Pelo meio ficam algumas questões graves: o funcionamento da justiça piorou, a máquina judicial está cada vez mais utilizada para investigações políticas, o fisco despreza e viola os direitos dos cidadãos, as polícias voltaram a ser utilizadas para vigiar o direito de exprimir e manifestar opiniões contrárias ao Governo.
Tudo isto provoca um enorme descrédito nos mecanismos tradicionais da política e dos partidos. Não é por acaso que as manifestações regressam, que até o PS se prepara para promover uma jornada de rua de desagravo, por sinal muito à maneira de Hugo Chávez. Um dos mais preocupantes sinais da situação política que vivemos tem a ver com a total ineficácia do parlamento em regime de maioria absoluta, que fomentou a falta de diálogo, a arrogância e a sobranceria do Governo para com os cidadãos e para com a oposição.
Na minha opinião o actual quadro partidário já não é representativo e precisa urgentemente de mais intervenientes, à esquerda e à direita, o voto só ganha em ser mais fragmentado e as maiorias absolutas devem ser evitadas. Isso forçará qualquer Governo a ter em conta a realidade, a reconhecer a necessidade de consensos e acordos, e pode criar condições para devolver protagonismo ao Parlamento.
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