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MUDE - O Museu do Design e da Moda, MUDE, tem tido uma actividade assinalável, fruto da equipa dirigida por Bárbara Coutinho, que soube bem exponenciar o núcleo inicial da Colecção Capelo, assegurado ainda antes de António Costa ser Presidente da Câmara. A António Costa coube a instalação do MUDE no antigo edifício sede do Banco Nacional Ultramarino, na Rua Augusta - o edifício estava em péssimas condições e foi assumidamente usado “em bruto” pelo MUDE, com intervenções mínimas, fruto de um acordo entre a Câmara e a CGD, que detinha o imóvel. Por estes dias António Costa anunciou ir investir dez milhões de euros na reabilitação do edifício, num projeto que irá ampliar a área do Museu para os oito pisos do edifício, num total de 15 mil metros quadrados. Eu percebo que António Costa queira desenvolver o que começou, em plena baixa da cidade. Mas não deixo de sentir alguma estranheza por não se ter aproveitado esta oportunidade - e este investimento - para resolver a questão do Pavilhão de Portugal - questão que ainda fica mais saliente agora que passam 15 anos sobre a realização da EXPO. Faz pena que o edifício de Siza Vieira, concebido para ser um local de acolhimento de exposições, com características ideais para isso, e com infra estruturas de armazenamento de obras de arte, esteja praticamente abandonado e a degradar-se. A questão que se põe é a de ter abertura de espírito suficiente para equacionar fazer reviver o edifício com uma colecção e actividade como a do MUDE, fomentando as ligações à indústria e à universidade, e enriquecendo o pólo oriental da cidade. Os dez milhões para recuperar o edifício do BNU não poderiam ser melhor utilizados para dar uma utilidade consentânea com o projecto inicial do pavilhão de Portugal? Nunca é tarde para mudar de rumo. Bem sei que o problema central da não utilização do pavilhão de Portugal é saber quem assume o custo do edifício - mas será que um problema de engenharia financeira do Estado vai condenar à degradação e inutilidade aquele espaço?
SEMANADA - O Conselho de Estado, convocado para debater o futuro, esteve sete horas reunido e produziu um comunicado que é uma lista de tarefas para o presente; o pós-troika no pós-Conselho de Estado resume-se a análises sobre timing de remodelação no Governo, saída de Vitor Gaspar para Comissário Europeu e prazo para a ruptura da coligação; o conteúdo da reunião do Conselho de Estado foi tornado público nos jornais no espaço de 24 horas, e contribuíu, muito mais do que o vago comunicado oficial, para se perceber o que foi discutido; o banco central alemão deu orientações sobre o Banco Central Europeu e sobre a política do Governo francês; entre a chegada da troika e a sua partida prevista, o desemprego deverá ter aumentado 60,9%, o PIB deverá encolher 5,8%, o investimento cairá 28,3% e o consumo privado cairá 6,7% - mas em compensação a dívida pública terá aumentado 24% e os juros da dívida terão um aujmento de 47,7%; Portugal está no top 5 europeu na compra de BMW, Mercedes e Audi; o ministro alemão das Finanças encontrou-se com Vitor Gaspar e teceu-lhe rasgados elogios; o Ministro Miguel Poiares Maduro encomendou um estudo sobre a melhoria das formas de comunicação do Governo e exortou “a comunidade política a contribuir para um discurso público mais construtivo e informado”.
ARCO DA VELHA - O Estoril teve 45 pontos na Liga e gastou três milhões de euros nesta época, enquanto o Sporting ficou atrás, com 42 pontos, e gastou 68 milhões - feitas as contas cada ponto custou ao Estoril 67 mil euros e cada ponto custou ao Sporting 1,6 milhões, o mais elevado custo por ponto de todos os clubes da I Liga.
VER - António Sena da Silva foi um homem visual - o prazer do olhar era o seu modo de vida e isso reflectiu-se, do design à fotografia. No Torreão Nascente da Cordoaria, estão cerca de duas centenas de imagens numa exposição criada por Sérgio Mah, intitulada “Uma Antologia Fotográfica”, que estará patente até 4 de Agosto. Tenho a tentação de dizer que Sena da Silva foi aquilo a que os americanos chamam “street photographer” - até porque, como a exposição mostra, ele dedicou-se a retratar a evolução de Lisboa entre os anos 50 e os anos 70. Aqui está o quotidiano da cidade, das pessoas que a habitam e, quase sempre, do rio que nessa altura era uma presença não vista, nem vivida. A exposição ocupa completamente os dois pisos da Cordoaria e mostra várias fases do trabalho de Sena da Silva - formatos de negativo diferentes, máquinas diversas, um uso impoluto do preto e branco e um uso discreto e contido da côr. O rigor do enquadramento é uma constante, quer fotografe paisagens urbanas, ou o campo, ou máquinas, ou fábricas ou objectos. Esta é uma exposição que nos ajuda a reter a memória do tempo - e o trabalho de Sérgio Mah é um exemplo de respeito pela obra, um exemplo do prazer de dar a descobrir o encanto da imagem fotográfica.
OUVIR- Até aqui “The Heart Of The Matter” era uma novela discreta de Graham Greene, escrita no final da década de 40. Agora é também um disco de Jane Monheit em que a sua versão da fusão de duas canções dos Beatles, “The Long And Winding Road” e “Golden Slumbers”, se torna fatalmente um ponto de atracção. Mas é em “Born To Be Blue” de Mel Tormé ,ou “When She Loved Me” de Randy Newman, que ela verdadeiramente mostra a sua versatilidade e capacidade de interpretação - que se faz ainda notar em dois temas de Ivan Lins, “Depende de Nós” e “A Gente Merece Ser Feliz”. Em “The Two Lonely People”, de Bill Evans, Monheit mostra como não receia mostrar a voz quase sem presença instrumental, uma voz às vezes tímida, outra à beira de um lamento. Os arranjos, no entanto, são parte importante deste álbum, assinados pelo teclista Gil Goldstein, que com o baterista Rick Montalbano e o guitarrista Romero Lubambo, asseguram um suporte musical digno de destaque. (CD Emarcy/Universal).
FOLHEAR - O jornal “Próximo Futuro” é uma das mais interessantes publicações de instituições culturais. É um jornal que a Gulbenkian edita para acompanhar o seu programa “Próximo Futuro”, coordenado por António Pinto Ribeiro. São 40 páginas, distribuídas na Fundação e disponíveis em versão electrónica em www.proximofuturo.gulbenkian.pt . A edição agora em distribuição, a nº 13, anuncia o novo ciclo de programação de Junho e Julho e tem na capa uma obra impressionante do artista sul-africano Conrad Botes. Lá dentro um belo texto de António Pinto Ribeiro com o provocador título : “Lamento dizer-vos mas somos todos africanos”, citando a frase de abertura da intervenção de Desmond Tutu na Gulbenkian, no ano passado. A nova programação tem em destaque uma festa da Literatura e do Pensamento do Sul da África, a exposição dos Encontros de fotografia de Bamako, um ciclo de cinema com uma dúzia de filmes e bailes na garagem com, por exemplo, o DJ Rui Miguel Abreu. Além disso estão previstos concertos com música da Tanzânia e uma espectáculo de dança baseado na marrabenta, entre muitas outras iniciativas, todas elas bem anunciadas neste jornal que tem um delicio espírito “fanzine” em technicolor.
PROVAR - A ementa de um bom restaurante deve ser uma obra em permanente transformação. No De Castro Elias é isso que acontece e agora há algumas novidades: começo por umas chamuças de massa filo, umas com queijo da beira e mel, outras com alheira e espinafres. Para fazer crescer água na boca há umas tostadas de cavala fumada com legumes salteados e uma açorda de cogumelos e enchidos. Nos pratos mais substanciais sugiro um entrecosto assado com arroz de forno ou uma perna de pato com canela e azeitona. Seguindo a recomendação da casa os petiscos foram acompanhados por um muito honesto vinho Santos Lima, o “Confidencial” Reserva, a bom preço. E claro que há sempre os clássicos da casa - moelas picantes e feijão manteiga com ameijoas. O De Castro Elias fica na Elias Garcia 180, e tem o telefone 217 979 214. Vale a pena reservar.
DIXIT - “Perante as sucessivas medidas da troika, que não dão resultado, eu, no mínimo, gritava” - Manuela Ferreira Leite
GOSTO - Do início da edição portuguesa da revista “Granta” - o tema “Eu” foi o escolhido para o primeiro número, que inclui textos de vários autores e um porfolio fotográfico de Daniel Blaufuks. A direcção é de Carlos Vaz Marques.
MAU – Uma provável suspensão da revista «Atlântico» é das piores notícias que podia surgir. Trata-se da única revista mensal assumidamente de debate social, político e cultural existente na sociedade portuguesa. Embora tendo por base um núcleo fundador essencialmente liberal, nela têm colaborado pessoas de muitos sectores e a revista, muito bem dirigida editorialmente por Paulo Pinto de Mascarenhas, tornou-se o veículo privilegiado para a intervenção política de muitas figuras que se retiraram da primeira linha da actividade partidária ou que pura e simplesmente hoje em dia não têm partido. Mas é também uma revista que procura ajudar a interpretar a História, nomeadamente a portuguesa, e ao mesmo tempo aborda temas de política internacional pouco tratados por cá. Provocadora, iconoclasta, a «Atlântico» é uma leitura mensal obrigatória. As dificuldades com que se debate para sobreviver são a prova da fragilidade de uma sociedade civil que gosta de dizer que existe, mas que tem muita dificuldade em agir e concretizar projectos fora da zona da actividade empresarial em que algumas das suas figuras principais se distinguiram. Noutros países os grandes líderes empresariais empenham-se em garantir possibilidades de fomentar o debate de ideias e a análise das situações, certos de que assim estão a contribuir para o progresso da sociedade e, em última análise, para o crescimento e consolidação dos mercados. Promovem «think tanks», são patrocinadores empenhados. Aqui está um exemplo de boas práticas que podia ser mais seguido.
PÉSSIMO – Já lá vai um mês e meio desde que Isabel Pires de Lima saíu do Ministério da Cultura e ainda não se ouviu uma palavra do seu sucessor sobre o que pretende fazer. Entretanto, para além das recorrentes notícias sobre falta de meios para salvaguardar o património e do encerramento das visitas em alguns monumentos, na semana passada foi divulgada a posição de 28 directores de museus e palácios nacionais, que, dizem, estão sob risco de «iminente colapso». É certo que as culpas vêm do orçamento deixado por Isabel Pires de Lima e pela falta de atenção do Governo ao sector, mas a realidade é que a ausência de capacidade política e uma errática actuação pública são as características da actividade do Ministério da Cultura de Sócrates. Será este Ministro capaz de ganhar carta de alforria?
OUVIR – Pierre-Laurent Aimard é um pianista francês com uma carreira curiosa, que oscila entre o contemporâneo e a música antiga. No início da sua carreira foi convidado por Pierre Boulez para integrar o núcleo fundador do Ensemble InterContemporain. As suas interpretações da música de Boulez, Stockhausen e Ligeti são consideradas referências. Mas ao mesmo tempo tem desenvolvido uma actividade exemplar na música antiga, colaborando com nomes como Nikolaus Harnoncourt, com cuja Orquestra de Câmara Europeia gravou os cinco concertos para piano de Beethoven. O motivo desta nota é no entanto a sua mais recente gravação, a primeira para a Deuscthe Grammophon. Trata-se de «A Arte da Fuga» de Bach, uma peça inacabada cuja composição Bach começou cerca de 1742 e que demonstra o seu enorme domínio técnico de uma das mais complexas formas de expressão da música europeia desse tempo, conhecida como o contraponto. A interpretação agora gravada por Aimard mostra a sua técnica, a sua capacidade, mas também a inteligência e sensibilidade da sua interpretação.
LER – Durante alguns anos assinei – e li – religiosamente a «Granta», uma revista literária fundada em 1979 por estudantes de Cambridge e que deu a conhecer ao mundo, e a mim em particular, alguns dos novos escritores da época, como Martin Amis, Ian McEwan, Richard Ford e Angela Carter. Mas a «Granta» foi também o paraíso de deliciosas short-stories de proveniências diversas, de portfolios fotográficos inesperados e de numerosas peças de literatura de viagem que me fizeram dar mais atenção ao género. Pois a «Granta» chegou agora ao seu número 100 – são feitas quatro edições por ano, uma em cada estação, e debaixo do título lá continua a frase mágica «The Magazine Of New Writing». Esta edição (350 páginas) é verdadeiramente uma peça de colecção que inclui, por exemplo, um poema de Harold Pinter , um libretto de Ian mcEwan, uma short-strory de Hanif Kureishi, um ensaio ( «The Unknown Known») de Martin Amis e uma curiosa nota sobre a construção de personagens por Mário Vargas Llosa, além de um belíssimo ensaio fotográfico sobre Nova York de Bruce Frankel.
Por cá encontram a «Granta» 100 nas boas lojas de revistas e nalgumas livrarias com edições inglesas.
PETISCAR – A coisa não é bem sushi tradicional, digamos que é sushi tropical, Japão com influência do Brasil, há quem lhe chame sushi-fusão. O resultado pode desagradar aos puristas mas o final é bom. Experimentem o Hot Salmon ou o Spicy Tuna e vão ver que têm uma boa surpresa. O serviço é simpático mas às vezes é preciso combater a distracção e o olhar vago no horizonte dos empregados – a coisa percebe-se, a vista é deslumbrante, com o rio ali ao pé. O «Sushi no Rio» fica por cima da esplanada dos «Meninos do Rio», na zona de Santos, para lá da linha de comboio, na Rua da Cintura do Porto de Lisboa, armazém 255, edifício Steak House, telefone 213220070.
BACK TO BASICS – Abrir a porta da rua pode ser uma actividade perigosa – J.R.R. Tolkien
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