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RESUMO DA SEMANA – A Ministra da Saúde inaugurou um hospital em Seia mas as camas dos doentes da unidade de cuidados continuados foram retiradas no dia seguinte porque eram apenas cenário para a fotos e tv; o preço do petróleo varia sempre mais que o respectivo reflexo no preço dos combustíveis; a política fiscal do Governo continua a privilegiar aumentar impostos a quem trabalha por conta de outrem em vez de combater a grande evasão fiscal; multiplicam-se nos últimos dias incidentes de espancamentos violentos e assassinatos em diversos pontos do país; a investigação do caso Freeport foi suspensa até às eleições; o caso Casa Pia continua sem evoluir.
DEBATES - Alguma coisa está mal nos debates políticos pré-eleitorais na TV. As negociações são tão apertadas, os temas a abordar são tão escrutinados e acordados que se perde muita espontaneidade. Nem vou falar do facto de o cenário ser sempre igual em todos os cenários – por si só isso é uma coisa impositiva, autoritária – um «diktat» visual que formata tudo por igual – os canais perdem identidade e é sublinhado o estatuto de suprema autoridade dos partidos. Este é um mau método, que tem provocado debates tristes e pobres, pouco mais que maratonas de promessas e chicanas de argumentos, mas pouca discussão de ideias. Na verdade o processo que levou a estes debates é um espelho do mau funcionamento do actual sistema político e da distância dos partidos em relação à sociedade. Construíram um altar cercado por espelhos e só gostam de se ver nessa posição.
TVI - O que se passou na TVI mostra duas coisas: o Primeiro-Ministro gastou bastante tempo, durante os últimos meses, a atacar a informação da TVI e sobretudo o Jornal Nacional de sexta e as suas queixas acabaram por dar efeito. Quando a dona da estação, uma empresa espanhola historicamente conotada com o PSOE, interveio exactamente nos pontos que eram a queixa principal de José Sócrates, é legítimo pensar em condicionamento político grave da informação. O resto é paisagem e o facto de o PS se querer armar em vítima de conspirações neste caso pode apenas ser entendido como a repetição das justificações, métodos e argumentos de Hugo Chávez em relação à Comunicação na Venezuela.
CITAÇÃO DA SEMANA - Mário Soares continua a manter, um pouco para além do normal prazo de validade que o bom senso recomenda existir, a sua prática de opinar sobre o país. A citação da semana pertence-lhe: «José Sócartes aprendeu muito com a crise, está mais socialista».
EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO - A um mês de eleições autárquicas o executivo de António Costa agendou uma maratona de votações sobre questões estratégicas para o futuro da cidade, do Parque Mayer a Alcântara. Das 32 propostas apresentadas 19 eram assinadas por Manuel Salgado, e, destas, 15, continham alterações urbanísticas importantes. Chegar a um mês de eleições com tantos projectos para apreciar e votar à pressa é muito mau sinal, numa altura em que o bom senso ético recomendaria que o executivo camarário se remetesse à gestão corrente dos assuntos da autarquia. Mas dois anos sem obra feita acabam por levar a que este episódio tenha uma sensação de desesperada procura do tempo perdido.
ESTACIONAR - A EMEL, a empresa que persegue os lisboetas sem conseguir resolver os estacionamentos em segunda fila, e que se tornou um caso relevante de arrogância e ineficácia na relação com os munícipes, resolveu fazer uma campanha publicitária para assinalar os seus 15 anos de vida. O slogan, certamente criado por um humorista frustrado, é: «há 15 anos que a EMEL trabalha para que ninguém estacione a sua vida». Qualquer habitante de Lisboa, automobilista, sabe que isto não é verdade. E deixo aqui um desafio à EMEL: que consiga atingir um padrão de qualidade que garanta que no prazo máximo de 30 minutos sobre a recepção do pedido de desbloqueamento, o consiga concretizar ou indicar a hora a que poderá ser feito. É que casos de duas e mais horas de espera são vários, com um call-center ineficaz que não dá respostas aos utentes e equipas de rua que são o espelho da empresa: prepotentes e arrogantes.
VISITAR - Já aqui tenho sido crítico de muitas actuações do Ministério da Cultura, mas esta semana destaco uma boa medida – a criação do Portal da Cultura (www.culturaonline.pt). Espero que mantenha a qualidade dos dias de estreia, que mantenha a informação diversificada e actualizada e, já agora, espero que os seus responsáveis saibam que não basta fazer um portal assim – é preciso fazer a sua divulgação, publicitá-lo, garantir que existam links noutros sites, e, sobretudo, utilizar a publicidade digital para chegar aos potenciais utilizadores desta boa fonte de informação. Se assim não fôr ficará pelas notícias de inauguração e perderá a oportunidade de se tornar num sítio de referência da internet em relação à agenda e notícias da área cultural.
AGITAR - O pintor João Vieira, um dos nomes grandes das artes plásticas portuguesas, morreu na semana passada. Chocou-me o pouco destaque dado à notícia da sua morte nos principais jornais. João Vieira integrou , em Paris, no final da década de 50 e início da de 60, o grupo KWY, que além de alguns outros portugueses como Lourdes Castro, René Bertholo, Gonçalo Duarte e José Escada, juntava Jan Voss e Christo, o artista que nas duas últimas décadas se distinguiu por algumas instalações gigantes um pouco por todo o mundo. Mas João Vieira tinha uma outra faceta escondida que felizmente registou em 2008 – apreciador de música gravou o disco «La Vida Es Un Bolero», uma deliciosa e divertida gravação que auto-editou e distribuía pelos amigos. Há uns anos tive ocasião de o conhecer melhor e entrevistar para um documentário, «Pinto Quadros Por Letras», que dirigi e que a RTP 2 re-exibiu no dia da sua morte. Desde aí íamos mantendo algum contacto, às vezes com amigos comuns. Há uns três meses fomos almoçar, ele ofereceu-me um desses discos e, no meio de algum desgosto por não conseguir montar em Lisboa uma retrospectiva da sua obra, deu-me conta de um projecto em que andava a matutar: lançar pelas águas, aqui em Lisboa, as três letras, gigantes, da palavra MAR, que tinha em tempos feito. Como sempre, o João queria continuar a agitar as águas e permanecia deliciosamente irrequieto.
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